Conhecido por ser um defensor completo, Domenico Criscito marcou época no futebol italiano e construiu uma história memorável no Genoa, time em que se formou e o qual representou em cinco diferentes passagens. Jogador de poucas casas, Mimmo foi ícone do Vecchio Balordo, sendo capaz de ser um de seus mais longevos capitães e um dos mais representativos atletas.
Natural de Cercola, na região metropolitana de Nápoles, Criscito deu seus primeiros passos no Sporting Volla, um clube de bairro da capital da Campânia, e se mudou para o norte da Itália aos 16 anos. Nessa época, foi notado por Claudio Onofri, então olheiro do Genoa. O defensor não só acertaria com os rossoblù como, já no time lígure, seguiria os passos do homem que o descobriu.
Criscito demorou muito pouco para estrear profissionalmente. O lateral-esquerdo ainda estava na base dos grifoni quando, em junho de 2003, ganhou alguns minutos na última rodada da Serie B. O garoto concluiu a sua formação no setor juvenil do Genoa sem ganhar mais oportunidades no time de cima e, em 2004, foi vendido em copropriedade à Juventus.
Mimmo foi integrado ao time sub-19 da Velha Senhora e conseguiu os títulos da Copa Viareggio de 2005 e do Campeonato Primavera de 2006 – marcando, inclusive, um gol na final contra a Fiorentina. No entanto, jamais chegou a ganhar uma chance de jogar pelos profissionais. Assim, no verão europeu de 2006, Juventus e Genoa renovaram o regime de copropriedade do atleta, mas definiram que ele retornaria à Ligúria para ganhar rodagem.
Tanto Juventus quanto Genoa disputariam a Serie B de 2006-07 – a Velha Senhora, punida com o rebaixamento por envolvimento de diretores no escândalo Calciopoli; o Vecchio Balordo, já distante da elite desde 1995. O garoto bem poderia ter sido aproveitado em Turim, mas a volta à Ligúria foi viabilizada por motivos táticos: Criscito se adaptava perfeitamente ao modelo de jogo de Gian Piero Gasperini.
O 3-4-3 do técnico rossoblù, que fora comandante da base da Juve pouco antes da contratação de Mimmo, era ideal para que o jovem mostrasse seus atributos como zagueiro ou ala pela esquerda, com muita contribuição nas duas fases do jogo. Com apenas 20 anos, o campano foi titular absoluto do Genoa, marcou quatro gols e foi destaque na campanha do Grifone, que voltou para a Serie A após mais de uma década de ausência. As suas atuações foram tão boas que a gigante de Turim o comprou já em janeiro, mantendo-o por empréstimo até o fim da temporada.
No verão europeu de 2007, Criscito participou da Euro Sub-21 – percurso natural para um jogador que atuara em todas as seleções de base da Itália a partir da sub-17. Logo após a queda da Nazionale na fase de grupos e merecidas férias, o lateral se juntou à Juventus, que havia faturado o título da Serie B. A equipe bianconera seria aquela pela qual Mimmo faria o seu primeiro jogo na elite do Campeonato Italiano: uma goleada por 5 a 1 sobre o Livorno, na rodada inaugural da competição.
No entanto, ele passou por um momento difícil no clube. Na quarta rodada da Serie A, Criscito foi escalado como zagueiro central na linha de Claudio Ranieri, que vinha lhe utilizando por ali, mas tudo mudou depois que Francesco Totti marcou duas vezes em seu setor. Mimmo foi substituído no intervalo e logo após o empate por 2 a 2 perdeu espaço no time titular: o técnico passou a montar a defesa com Nicola Legrottaglie e Giorgio Chiellini, que era lateral-esquerdo até então.
A Juventus queria que Criscito atuasse com mais frequência e o jogador, que também desejava ser titular, aceitou retornar ao Genoa por empréstimo, em janeiro. Se em Turim ele poderia ganhar mais, na Ligúria ele encontraria a felicidade de outras formas. E a decisão de voltar a vestir vermelho e azul seria a melhor possível para sua carreira.
Aos 21 anos, o lateral deu início a sua terceira passagem pelo Genoa e não decepcionou – ao contrário, alavancou sua carreira em nível internacional. Primeiro, Mimmo jogou quase sempre como zagueiro do time de Gasperini e, após ajudá-lo a ficar na décima posição da Serie A, ganhou uma vaga no grupo italiano que disputou a Olimpíada de 2008, em Pequim. Os azzurrini foram eliminados pela Bélgica, nas quartas de final.
Criscito permaneceu no Genoa em 2008-09 e, na verdade, jogaria no clube até 2011 – os rossoblù renovaram o empréstimo e, posteriormente, comprariam o seu passe. No restante de sua terceira passagem pelos grifoni, Mimmo atuou quase sempre como ala pela esquerda. Por ali, foi um dos pilares de um time que sempre terminou a Serie A entre os 10 e que chegou a sonhar com vaga na Champions League. Na própria temporada 2008-09, isso só não ocorreu por conta de dois pontinhos. O Vecchio Balordo, quinto colocado, terminou garantindo vaga na Liga Europa.
Depois das exibições naquela temporada, Criscito integrou o elenco da Itália na disputa de mais uma Euro Sub-21, na qual os azzurrini caíram para a Alemanha, nas semifinais. Com o ciclo completo nas seleções juvenis, o defensor estreou na equipe principal da Nazionale em agosto de 2009, num amistoso contra a Suíça, terminado em 0 a 0. Versátil, além de técnico e agressivo pelo flanco esquerdo, Mimmo ganhou terreno com o técnico Marcello Lippi e foi chamado para a Copa do Mundo de 2010 na África do Sul, sendo titular da lateral canhota na fracassada campanha italiana.
Criscito foi um dos garotos do plantel de 2010 que seguiram na seleção após a saída de Lippi e, inicialmente, manteve seu posto com Cesare Prandelli. Até que, em 2011, deixou o Genoa: recebeu uma proposta do futebol russo e se mudou para o tradicional Zenit, por 11 milhões de euros.
O contrato de cinco temporadas com o time russo acabaria por lhe afastar do grupo azzurro, que pouco frequentaria nos sete anos seguintes. Mimmo colecionaria apenas nove aparições pela Nazionale neste período, e chegou a não ser utilizado uma vez sequer entre março de 2014 e maio de 2018.
Parte desse exílio se deu pelo fato de Criscito ter sido investigado no âmbito do escândalo Scommessopoli, que emergiu às vésperas da Euro 20212. Quando ainda defendia o Genoa, ele foi flagrado numa reunião com ultras que seriam operadores do esquema de manipulação de resultados e apostas ilegais. Isso levou a sua exclusão da competição continental e também motivou críticas a Prandelli, que não ofereceu ao lateral o mesmo tratamento dado a Leonardo Bonucci, que também estava sob inquérito. Ambos seriam absolvidos posteriormente.
Àquela altura, Mimmo vivia um bom momento no Zenit, treinado por Luciano Spalletti. Se a transferência para a Rússia afastaria o defensor da seleção, por outro lado lhe proporcionaria os seus únicos títulos como profissional – começando pelo da Premier League, em 2012. Em seguida, uma lesão nos ligamentos cruzados do joelho seria apenas uma mácula em sua trajetória pelos celestes, que coroaria em julho de 2015, ao converter o pênalti decisivo para a conquista da Supercopa da Rússia sobre o Lokomotiv Moscou.
No Zenit, Criscito somou 224 aparições, 20 gols e 29 assistências. Pelo clube, ainda faturou mais uma Premier League Russa e uma Copa da Rússia, além de ter disputado cinco edições da Liga dos Campeões. Sua última temporada pelos celestes foi a de 2017-18, na qual foi treinado por Roberto Mancini. No verão europeu de 2018, ambos deixaram São Petersburgo: enquanto o técnico assumiria a seleção italiana, Mimmo, em fim de contrato, assinaria gratuitamente com o Genoa.
Experiente, beirando os 32 anos, Criscito voltou para a capital da Ligúria para assumir a braçadeira de capitão do Genoa. Líder do time, já precisou lidar com uma tragédia em agosto de 2018: o desabamento da Ponte Morandi, que causou 43 mortes e mexeu muito com a cidade e levou os clubes locais a promoverem iniciativas para arrecadação de fundos para os afetados. O próprio Mimmo quase foi um dos envolvidos no acidente, pois passara pela pista 10 minutos antes do colapso da estrutura.
Em campo, o capitão foi um dos jogadores que mais se dedicaram para evitar o descenso do Genoa – a permanência foi obtida no sufoco, graças a critérios de desempate, na derradeira rodada da Serie A. No ano seguinte, a desorganização do time rossoblù resultou em mais uma briga contra o rebaixamento, evitado graças a enorme sacrifício dos veteranos. Criscito foi fundamental mais uma vez e, em 2019-20, teve a temporada mais prolífica da carreira: transformado no batedor oficial de pênaltis dos grifoni, marcou 10 gols, sendo oito no Campeonato Italiano.
Com o passar do tempo e o avançar da idade, Mimmo foi perdendo minutagem. O percurso natural na carreira não retirou sua ascendência nos vestiários e mesmo em campo, quando jogava com a faixa de capitão no braço. Criscito ajudou o Genoa a ficar na 11ª posição da Serie A em 2021, mas a desorganização do clube pagaria o preço no ano seguinte, quando o rebaixamento para a segundona se concretizou.
Na campanha que resultou na volta do Genoa para a Serie B depois de 15 temporadas seguidas na elite, o defensor viveu momentos de forte emoção. Batedor de pênaltis do Vecchio Balordo, Criscito anotou seis vezes no certame e foi designado a tarefas muito estressantes.
Na 35ª rodada, em pleno clássico com a Sampdoria, os rossoblù – na zona de rebaixamento – perdiam por 1 a 0 e tiveram uma penalidade a favor nos acréscimos. Mimmo foi para a bola, parou no arqueiro Emil Audero e caiu no choro. Na jornada seguinte, os lígures empataram com a Juventus aos 87 e puderam ir à marca da cal novamente aos 96. O defensor não se amedrontou, tomou a cobrança para si e garantiu o triunfo no último lance da peleja. Tudo em vão, para sua infelicidade.
Com o rebaixamento, Criscito deixou o Genoa e acertou com o Toronto FC dias depois da confirmação da ida de Lorenzo Insigne para o clube canadense – Federico Bernardeschi se juntaria a eles em seguida. Mimmo recusou ofertas de outras agremiações italianas e, segundo ele próprio, não ter a chance de ser adversário do Vecchio Balordo foi uma de suas motivações para o acerto com o time da Major League Soccer. O defensor permaneceu na América do Norte por menos de seis meses e anunciou sua aposentadoria em novembro de 2022.
No entanto, a aposentadoria durou pouco. Antes da virada do ano, o Genoa anunciou que Criscito retornaria ao clube para ajudar na tentativa de retorno imediato à elite a partir de janeiro de 2023. Um baita presente para os torcedores, que já o tinham como bandeira. Capitão, Mimmo disputou 16 das últimas 19 partidas do time treinado por Alberto Gilardino, que conseguiria o acesso graças ao vice-campeonato.
Criscito pode encerrar de maneira mágica a sua quinta passagem pelo clube e a própria carreira – e não só pelo acesso. Na última aparição do defensor, o Grifone, já promovido, enfrentou o Bari, terceiro e confirmado nos playoffs de acesso. O jogo servia para cumprir tabela e os genoveses o venceriam por 4 a 3, graças a um gol de Mimmo. Ele entrou nos acréscimos do segundo tempo só para ser ovacionado pela torcida, mas teve a chance de cobrar um pênalti nos acréscimos, tal qual lhe fora solicitado no ano anterior. E não decepcionou: aos 96 minutos, converteu a penalidade e correu para comemorar com a massa rossoblù.
Criscito se despediu do futebol em grande estilo, aos 36 anos, e garantiu um lugar especial no hall de ídolos do Genoa mesmo que não tenha conquistado títulos ou participado das era gloriosas do clube. Mimmo somou 291 aparições pelos grifoni e entrou para a lista dos 10 jogadores que mais vestiram a camisa rossoblù – na Serie A, com 220 partidas, é o terceiro. Além disso, apenas Onofri, que lhe descobriu em Nápoles, Gianluca Signorini e Marco Rossi foram capitães do Vecchio Balordo por mais temporadas – seis contra cinco. Sem dúvidas, uma bandeira do time da Ligúria.
Domenico Criscito
Nascimento: 30 de dezembro de 1986, em Cercola, Itália
Posição: lateral-esquerdo e zagueiro
Clubes: Genoa (2002-04, 2006-07, 2008-11, 2018-22 e 2023), Juventus (2004-06 e 2007-08), Zenit (2011-18) e Toronto FC (2022)
Títulos: Copa Viareggio (2005), Campeonato Primavera (2006), Premier League Russa (2012 e 2015), Supercopa da Rússia (2015 e 2016) e Copa da Rússia (2016)
Seleção italiana: 26 jogos