O surto de coronavírus atingiu com força algumas regiões no norte da Itália. Todos os setores da sociedade foram afetados e o futebol, obviamente, não ficou de fora. Neste sábado, 29 de fevereiro, às vésperas do início da 26ª rodada do Italiano, a Liga da Serie A anunciou o adiamento de cinco partidas que seriam realizadas nas zonas afetadas pelo vírus. A decisão do órgão que rege a liga, porém, mostra incongruências que, no fim das contas, privilegiam a atual campeã Juventus.
Nessa sexta-feira, 28 de fevereiro, a própria Liga da Serie A havia confirmado que cinco jogos da 26ª jornada do campeonato seriam disputados sem torcida. São eles: Udinese-Fiorentina, Milan-Genoa, Parma-Spal, Sassuolo-Brescia e o grande Derby d’Italia entre Juventus e Inter. No entanto, a decisão caiu por terra após uma reunião entre o governo e as autoridades do futebol, realizada na manhã deste sábado.
O comunicado que a Lega Serie A publicou em seu site é muito raso, de modo a explicar, resumidamente, que as partidas foram adiadas em função da “sucessão de inúmeras intervenções regulatórias urgentes da parte do governo para responder a essa extraordinária emergência para proteger a saúde e a segurança pública”.
O ministro do Esporte, Vincenzo Spadafora, foi mais claro. “Com relação aos próximos jogos, a avaliação unânime dos líderes do mundo do esporte e do futebol foi preferir o adiamento do que jogar nos estádios vazios, levando também em conta as repercussões em termos de imagem para o nosso país e as dificuldades em organizar as rodadas suplementares em um calendário como o deste ano, cheio de eventos nacionais e internacionais”, afirmou o político, em nota.
Já o jornal Corriere della Sera relata que a “a Juve não queria jogar com portões fechados”. Segundo o periódico, o clube bianconero fez forte pressão sobre a Liga da Serie A. O Milan também exigiu o adiamento por causa do surto de coronavírus, enquanto a Fiorentina não aprovou a ideia, reportou a matéria do Corriere della Sera. Vale salientar que a delegação viola já estava no Friuli para o duelo contra a Udinese quando chegou a notícia do adiamento do embate.
Giuseppe Marotta, diretor esportivo da Inter, afirmou no fim da noite deste sábado que os clubes não foram sequer consultados. “O presidente [Paolo] Dal Pino decidiu sem consultar ninguém. Deveria ter sido marcada uma reunião extraordinária do conselho da liga. Chegou apenas uma ordem e pronto. Isso não está certo e é muito grave”, disse o cartola.
O Corriere della Sera informou, também, que a Juventus não queria abrir mão de mais de 5 milhões de euros em receitas obtidos por causa do Derby d’Italia. Curiosamente, o Milan, que, segundo o jornal, foi a favor do adiamento das partidas, começou a reembolsar, nessa sexta-feira, os torcedores que haviam comprado ingressos para o confronto diante do Genoa, em San Siro.
Outro ponto que dá margem a um possível favorecimento à Juve neste imbróglio é a realização do segundo jogo da semifinal da Coppa Italia. Juventus e Milan se enfrentam na próxima quarta-feira, 4 de março, no Allianz Stadium, após 1 a 1 no duelo de ida. Em função da pandemia de coronavírus, o prefeito de Turim, Claudio Palomba, determinou que a partida seja disputada com torcida, a menos que os torcedores venham das regiões mais afetadas pela doença: Lombardia, Vêneto e Emília-Romanha. Incongruente.
Parte não interessada na questão, Gennaro Gattuso, atual técnico do Napoli, se declarou perplexo pelo adiamento de parte das partidas. Após seu time vencer o Torino por 2 a 1, Rino foi claro em sua entrevista coletiva. “Se uma partida [da rodada] se joga, todas devem ser jogadas também. Mesmo de portões fechados. Jogar hoje ou em dois meses não é a mesma coisa, tudo muda”, disse.
Inter prejudicada?
Todos os cinco jogos adiados pela Liga da Serie A serão disputados no dia 13 de maio, uma quarta-feira. A final da Coppa Italia, programada para o mesmo dia, foi remarcada para uma semana depois, 20 de maio. A mudança das datas também impactou o palco da decisão do torneio. É que o Olímpico de Roma, estádio que sempre recebe a final da Coppa Italia, ficará à disposição da Uefa a partir do dia 18 de maio em função da Eurocopa de 2020.
A escolha da Liga da Serie A se mostra tão controversa que, caso a Inter alcance a decisão da Liga Europa ou Coppa Italia, não haverá espaço no calendário para os nerazzurri disputarem o jogo atrasado com a Sampdoria, em Milão. As duas equipes jogariam no dia 23 de fevereiro, valendo pela 25ª rodada do campeonato, mas o confronto acabou adiado por causa do coronavírus. “Eu me pergunto: com base em que critérios foi decidida a data de Juve-Inter antes da de Inter-Sampdoria?”, questionou Marotta.
Numa polêmica entrevista à Gazzetta dello Sport, Marotta foi capaz de proferir frases ainda mais duras. O dirigente afirmou que se parte da rodada foi adiada, mesmo com a solução de se jogar com portões fechados, entrar em campo sem público não é mais uma opção. “Estou preocupado com Inter-Sassuolo. Você não pode jogar com portões fechados, já que seria absurdo usar um instrumento que apenas uma semana antes não era considerado adequado para lidar com a emergência de saúde”.
Ao se expor à possibilidade de vir a usar dois pesos e duas medidas, a liga abriu um precedente grave: na falta de datas para realocação de partidas, alguns times podem se recusar a entrar em campo caso o surto de coronavírus na Itália não seja controlado em uma semana. “Há risco de o campeonato não ser concluído se outras partidas forem adiadas. A Serie A foi falseada, o equilíbrio foi alterado [pela liga]”, disparou Giuseppe Marotta.
Em suma, a Lega Serie A tomou decisões no mínimo polêmicas num curto intervalo de tempo e que colocam ainda mais dúvidas sobre a Juventus. Aliás, dias atrás, o próprio técnico juventino, Maurizio Sarri, afirmou que os pênaltis não marcados em cima de Cristiano Ronaldo e Paulo Dybala, na derrota para o Lyon pela Liga dos Campeões, seriam assinalados na Itália. Apenas coincidência?
Sem mais…
É sério que alguém do Calciopédia leu previamente “isso” e autorizou a publicação? Fico perplexo com tamanha falta de noção.. Aproveitar-se da grave e delicada situação de saúde pública do povo italiano para levantar uma malfadada teoria da conspiração, sem ao menos indicar um único argumento ou fato que denote o mínimo de expressividade. Lamentável..