Para os torcedores do Napoli, é sempre motivo de orgulho quando um filho da Campânia obtém sucesso no clube. O lateral-esquerdo Giuseppe Volpecina foi um deles: vestiu a camisa azzurra em uma pequena parte dos anos dourados do time, quando este era liderado por Diego Armando Maradona, e teve importância na trajetória que resultou na conquista do primeiro scudetto dos partenopei, em 1987. Graças a sua origem e a um gol marcado sobre a Juventus nesta campanha, Beppe desenvolveu uma tremenda identificação com a torcida napolitana.
Volpecina nasceu em Caserta, cidade localizada a menos de 40 quilômetros ao norte de Nápoles, em 1º de maio de 1961. E foi na própria terra natal que iniciou sua trajetória como jogador: ingressou nas categorias de base da Casertana e estreou pela equipe antes mesmo de completar 16 anos, na Serie D. Ali, foi descoberto pelo Napoli e rumou à capital da Campânia para concluir sua formação como atleta.
À época, o Napoli tinha grandes ambições para seus jovens, e disponibilizava uma estrutura de ponta para as categorias de base – algo bem diferente do cenário modesto da Casertana. O time azzurro faturara a Copa Viareggio pela única vez, em 1975, e manteve o bom momento entre os juvenis após a chegada de Volpecina: com o lateral-esquerdo no grupo, ganhou o Campeonato Primavera, também inédito, em 1979.
Na temporada seguinte, a de 1979-80, Beppe fez a sua estreia nos profissionais do Napoli quando recebeu uma chance do técnico ítalo-brasileiro Angelo Sormani, ante o Torino. Como o time já não tinha ambições no campeonato e estava no meio da tabela, Volpecina atuou como titular em três dos últimos quatro jogos dos azzurri na Serie A.
Mesmo sendo um dos jovens mais promissores do Napoli, o defensor foi comunicado que teria que aguardar mais para obter sucesso com a camisa partenopea: não fazia parte dos planos do novo treinador, Rino Marchesi, e foi emprestado para o Palermo, para ganhar rodagem nas divisões inferiores do futebol italiano. Volpecina passaria quatro temporadas no time da Sicília, sempre disputando a Serie B, numa época dura para os rosanero. Seu melhor desempenho se deu em 1983-84, quando somou 42 partidas e seis gols marcados – inclusive com uma doppietta na virada do Palermo sobre o Varese.
No entanto, o Palermo costumava rondar a parte inferior da tabela e foi rebaixado para a terceirona em 1984. Como era um dos pilares dos rosanero e havia obtido sucesso dentro de campo, se consolidando como um dos melhores laterais da categoria, Beppe encerrou a sua passagem pela Sicília depois de 148 aparições: o Napoli acertou o seu empréstimo para o Pisa, que acabara de ser rebaixado para a Serie B.
Volpecina também se destacou na Toscana. Conhecido por uma preparação física invejável, o lateral não atuou em apenas três compromissos dos nerazzurri ao longo de duas temporadas, totalizando 81 aparições na cidade da famosa torre inclinada. No primeiro ano pelo Pisa, Beppe ratificou o quão importante era na segundona e, com dois gols marcados, ajudou o time treinado por Luigi Simoni e comandado pelos estrangeiros Klaus Berggreen e Wim Kieft a garantir o título da Serie B – e, claro, o retorno à elite.
O campano seguiu emprestado ao Pisa em 1985-86 e finalmente teve uma chance real de mostrar o seu valor na primeira divisão italiana, aos 25 anos. Volpecina não decepcionou, apesar de os nerazzurri terem sido novamente rebaixados: foi um dos jogadores mais utilizados pelo técnico Vincenzo Guerini, atuando em 38 das 39 partidas possíveis. Antes da queda ter sido concretizada, os toscanos ao menos puderam celebrar o título da Copa Mitropa, uma das maiores honras de sua história.
Em 1986, chegaria a hora de Volpecina voltar ao Napoli, após seis longas temporadas de empréstimo a outros clubes. Para que o lateral pudesse vestir azzurro novamente foi decisiva a vontade do técnico Ottavio Bianchi, que vislumbrava a possibilidade de gerar variações táticas com a escalação de Beppe no flanco esquerdo – em geral, como alternativa num rodízio que o treinador fazia entre os defensores Giuseppe Bruscolotti, Ciro Ferrara e Moreno Ferrario.
A reestreia do filho pródigo pelos partenopei ocorreu na rodada inaugural da Serie A 1986-87, quando o lateral entrou nos minutos finais da vitória por 1 a 0 sobre o Brescia, na Lombardia. Depois, Volpecina alternou momentos de titularidade com a utilização a partir do segundo tempo, mas ofereceu boa contribuição em ambos os cenários.
Na sexta rodada daquela Serie A, por exemplo, Beppe começou jogando contra a Atalanta e marcou o seu primeiro gol no campeonato ao abrir o placar sobre os bergamascos num empate por 2 a 2. O segundo, na nona jornada, foi bem mais emocionante – e ocupou o posto de mais importante de sua carreira.
Volpecina saiu do banco para ajudar a segurar a vitória de virada por 2 a 1 sobre a arquirrival Juventus, em Turim, mas se destacou mesmo no outro lado do campo. O jogo já caminhava para o final e a Velha Senhora se lançara ao ataque, na tentativa de empatar, quando os azzurri engataram um contragolpe. No fim da jogada, Andrea Carnevale só ajeitou para o lateral acertar um chute cruzado, a meia altura, sem chances para Stefano Tacconi. Beppe decretava, assim, o 3 a 1 que fez os partenopei acreditarem que seria possível brigar pelo scudetto.
Dali em diante, Volpecina não anotou mais gols. Entretanto, em 25 aparições de 30 possíveis, se dedicou incansavelmente para fazer o Napoli levantar o primeiro scudetto de sua história. Naquele mesmo ano, Beppe foi titular em sete dos oito jogos do mata-mata na Coppa Italia, que os azzurri faturaram sobre a Atalanta. A dobradinha nacional dava a dimensão do sucesso do time de Bianchi e do próprio defensor.
Apesar do sucesso, a segunda passagem de Volpecina por Nápoles foi curta e durou apenas uma temporada. No verão de 1987, seduzido pela possibilidade de ser titular num time relevante, o que não lhe era garantido na Campânia, optou por se transferir ao Verona, que fora quarto colocado na Serie A 1986-87 e campeão italiano dois anos antes. Beppe somou apenas 38 aparições pelos azzurri, mas pôs o seu nome na história do clube por ter participado da conquista de duas taças – uma delas, inédita – e ter marcado um gol icônico contra a sua grande rival.
Volpecina não teve dificuldades de se encaixar no esquema de Osvaldo Bagnoli, que gostava de seu futebol. O Verona, entretanto, não repetiu o sucesso dos anos anteriores. Na Serie A, fez duas campanhas medianas: 10º lugar em 1987-88 e 14º, com brusca queda de rendimento no returno, em 1988-89. Nesta segunda época, Beppe foi um dos pilares do Hellas e atuou em todos os minutos da trajetória, sendo fundamental para que o risco de rebaixamento não se agravasse. Nas competições de mata-mata, os gialloblù tiveram desempenho mais sólido: na primeira temporada, caíram nas quartas de final da Copa Uefa para o Werder Bremen; na outra, atingiram a mesma fase da Coppa Italia e foram eliminados pelo Pisa.
O lateral-esquerdo somou 78 aparições pelo Verona ao longo de duas temporadas e, no verão europeu de 1989, se transferiu para a Fiorentina. Em seu primeiro ano em Florença, Volpecina atuou ao lado de grandes nomes, como Dunga e Roberto Baggio, e foi titular absoluto nas gestões dos treinadores Bruno Giorgi e Francesco Graziani.
Em 1989-90, a Fiorentina teve um desempenho modesto em nível nacional, já que foi eliminada na fase de grupos da Coppa Italia e obteve somente o 12º lugar na Serie A. Esse rendimento levou à demissão de Giorgi no fim de março, numa tentativa de salvar a temporada. Afinal, a Viola alcançara as semifinais da Copa Uefa àquela altura.
Na campanha europeia, Volpecina teve altos e baixos. No primeiro turno da competição, desperdiçou um pênalti contra o Atlético de Madrid, mas Baggio classificou a Fiorentina. O lateral, que foi titular ao longo de quase todo o torneio, a não ser quando perdeu jogos por lesão, se redimiu ao marcar o gol da vitória sobre o Auxerre, na ida das quartas de final. Na decisão, porém, a Viola não foi páreo para a Juventus e ficou com o vice.
A Fiorentina passou de mãos em 1990, graças à aquisição de Mario Cecchi Gori junto à família Pontello, e o novo presidente contratou o brasileiro Sebastião Lazaroni para treiná-la. Volpecina, porém, não agradou o novo técnico, que pouco o utilizou durante um ano de pura mediocridade dos gigliati – que repetiram a 12ª posição na Serie A e voltaram a ser precocemente eliminados na Coppa Italia. Já veterano, Beppe se despediu da Toscana após nove aparições em 1990-91 (e 51 jogos no total), e optou pelo retorno às origens e o acolhimento de casa.
Em 1991, a Casertana conseguiu um histórico acesso para a Serie B, que disputaria apenas pela segunda vez em sua existência. Ao receber a proposta para ajudar os falchetti num dos momentos mais agudos possíveis, Volpecina não pensou duas vezes e fez suas malas, rumando a sua cidade natal. Beppe foi titular na campanha dos rossoblù e ficou a um passo de salvar o seu time de infância.
A Serie B previa quatro descensos e teve um desfecho eletrizante: apenas quatro pontos separaram o Pisa, sexto colocado, dos rebaixados. Ao fim da última rodada, estavam condenados Messina e Avellino, enquanto Venezia, Taranto, Casertana e Palermo vinham logo acima, empatados em 35. Por conta dos confrontos diretos, os vênetos se safaram e os sicilianos caíram. Taranto e Casertana, então, definiram o derradeiro relegado: no campo neutro de Ascoli, com triunfo na prorrogação, os apulianos madaram os campanos à terceirona. Vivendo um drama, Volpecina encerrava a sua carreira, com apenas 31 anos.
Depois de pendurar as chuteiras, Beppe se dedicou a formar novos talentos, especialmente como dirigente do Mariano Keller e do Boys Caserta. No primeiro clube, viveu um episódio insólito: chegou a ser condenado com suspensão de dois anos por, supostamente, ter agredido um adversário. Contudo, recorreu da decisão e conseguiu provar que havia erro na súmula relatada pelo árbitro.
Fora dos gramados, Volpecina acabaria tendo uma carreira longe dos holofotes. Algo condizente com a sua trajetória como atleta, quando não foi um protagonista, mas sim um operário que fazia as máquinas funcionarem. Um coadjuvante que, entretanto, podia ser levado à ribalta de vez em quando, como bem mostrou aquela tarde inesquecível de novembro de 1986, em Turim.
Giuseppe Volpecina
Nascimento: 1º de maio de 1961, em Caserta, Itália
Posição: lateral-esquerdo
Clubes: Casertana (1976-77 e 1991-93), Napoli (1977-80 e 1986-87), Palermo (1980-84), Pisa (1984-86), Verona (1987-89) e Fiorentina (1989-91)
Títulos: Campeonato Primavera (1979), Serie B (1985), Copa Mitropa (1986), Serie A (1987) e Coppa Italia (1987)