Mercado Serie A

Acertos de Inter, Juve, Milan e Napoli contrapõem desastre da Roma no mercado de 2020-21

Os efeitos da pandemia de covid-19 impactaram o mercado de transferências global. Um estudo do site Calcio e Finanza mostra que, no calciomercato europeu de 2020-21, circularam 2 bilhões de euros a menos do que na sessão anterior. Esta foi a janela mais “pobre” desde 2015-16: o esporte retrocedeu a níveis prévios à contratação de Neymar pelo Paris Saint-Germain.

O futebol italiano, no entanto, cresceu: superou a Espanha e representa o segundo mercado que mais gastou com contratações. Essa ultrapassagem se deve principalmente às menores perdas dos clubes da Itália em relação aos espanhóis. Na Alemanha e na Espanha, por exemplo, cerca de 4,5 a cada 10 transferências foram gratuitas; na Itália, esse número foi de uma a cada quatro.

Nesse novo cenário, contratações com valores “pré-pandêmicos” foram raras. Algumas delas, na verdade, chegaram a ser acertadas antes de o coronavírus se espalhar. Como a de Arthur pela Juventus: o brasileiro estava avaliado em 72 milhões de euros, amortizados pelos 60 que levaram Pjanic a Barcelona. A Juve também pagará caro por Chiesa: são 60 milhões, mas divididos em parcelas que incluem o empréstimo e a obrigação de compra.

Por sua vez, o Napoli pagou 70 milhões para ter Osimhen, a Inter investiu 40 mi em Hakimi e o Milan gastou 35 por Tonali – o mesmo que a Velha Senhora desembolsou por Kulusevski. Grandes acertos numa janela em que nenhuma outra transação ultrapassou a casa dos 30 milhões. A Roma até poderia comemorar a barganha no negócio que levou Kumbulla a Trigoria (cerca de 25 mi), mas sua atuação no mercado foi tão errática que não há grandes motivos para festejos.

Como os elencos dos clubes da Itália estão completos desde o dia 5 de outubro, quando o calciomercato foi encerrado, já é possível avaliar detalhadamente a atuação de cada equipe da Serie A na janela de transferências de 2020-21. O faremos por ordem alfabética, logo abaixo, com direito a notas para cada time. Acesse nossa página de mercado e a consulte para ter uma melhor experiência de imersão no nosso resumo. Boa leitura!

Atalanta

Sam Lammers (Image Photo Agency)

Verdadeira caixa registradora da Itália, a Atalanta fez mais um mercado lucrativo e promissor. Entre valores fixos e bônus, a agremiação arrecadará cerca de 75 milhões de euros por dois jogadores que somaram 126 minutos como profissionais pelo clube – Kulusevski e Traorè – e ainda obteve mais 24 por Castagne, reserva de luxo que foi a única baixa de fato relevante na janela.

A rigor, a reposição do belga é o que faz a Dea ter uma nota menor na nossa avaliação. A diretoria optou por não adquirir peças tão versáteis quanto Castagne e trouxe três nomes para as alas. Por um lado, é interessante ter mais alternativas, mas há dúvidas sobre a adaptação dos já rodados Mojica (lateral-esquerdo), Depaoli e Piccini (laterais-direitos) ao sistema de Gasperini. As expectativas são melhores para a explosão do habilidoso atacante Lammers, enquanto Romero e Miranchuk já estão prontos para agregar muito ao time nerazzurro. Nota 7,5.

Benevento

Kamil Glik (Insidefoto)

Quando disputava a Serie B, o Benevento já tinha um elenco comparável ao de equipes mais modestas da elite. Os campeões da segunda categoria mantiveram essa base e conseguiram melhorar o plantel através de reforços que lhe deixaram em situação bem superior à dos outros promovidos. Glik é um zagueiro muito experiente e de altíssima qualidade, enquanto Ionita e Dabo também já foram colocados à prova na Itália e oferecem uma importante taxa de trabalho no meio-campo.

Por fim, o ataque – que era o setor mais modesto do time –, mudou bastante. Kragl e Coda foram liberados por opção de Pippo Inzaghi e abriram espaço para gente mais decisiva. Falque (se estiver bem fisicamente) e Caprari são ótimos nomes para uma equipe que visa a salvação, assim como o artilheiro Lapadula. Juntos, os três podem garantir uma cota de gols decisivos para a permanência dos stregoni. Nota 7.

Bologna

Emanuel Vignato (AFLO)

Pouquíssimo mudado em relação a 2019-20, o Bologna preferiu tender à inércia e não agradou muito os seus torcedores. A equipe rossoblù deverá continuar no meio da tabela por mais uma temporada, já que mesmo os principais movimentos de mercado foram bem modestos. No mais importante deles, a diretoria buscou, sem custos, o experiente lateral-direito De Silvestri para tentar sanar a inconsistência defensiva rossoblù – num movimento que leva Tomiyasu para o centro da zaga.

No mais, a diretoria se limitou a manter alguns jogadores que retornaram de empréstimo e confirmar a contratação de duas revelações que chegam para ter razoável quantidade de minutos na campanha: o lateral-esquerdo escocês Hickey e o meia-atacante ítalo-brasileiro Vignato, que já estava acertado desde janeiro. Apesar do bom olho para jovens, a saída do veloz e promissor Juwara, de 18 anos, foi bem esquisita. O gambiano acertou com o Boavista em empréstimo com opção de compra. Nota 5.

Cagliari

Diego Godín (Sportimage)

Torcida e diretoria do Cagliari tiveram uma grande decepção nesta janela: a falta de êxito em ter Nainggolan no grupo de 2020-21. A saída do belga – e a novela de sua frustrada repatriação – resumem o drama dos sardos no calciomercato. A equipe perdeu muitos jogadores em fim de contrato, sendo que alguns deles estavam apenas de passagem, por empréstimo. Casos, por exemplo, dos importantes Pellegrini e Olsen.

Visando não repetir essa incômoda dinâmica, a diretoria efetuou a reformulação no elenco de forma conservadora, ao reaproveitar jogadores de sua propriedade que estavam em outros times. Mas também houve espaço para criatividade e scouting. Os casteddu limitaram o número de empréstimos e aquisições de veteranos, abrindo espaço para apostas, como Tramoni, Luvumbo, Zappa, Tripaldelli e o mais rodado Marin, proveniente do Ajax. Ounas e Sottil – os únicos emprestados – darão amplitude e profundidade ao esquema de Di Francesco, enquanto Godín foi a cereja do bolo. O craque uruguaio não só irá agregar inestimável qualidade à defesa como também será líder e exemplo de um grupo repleto de garotos. Nota 6,5.

Crotone

Luca Cigarini (Image Photo Agency)

O Crotone surpreendeu ao ser vice-campeão da Serie B, porque tinha um grupo modesto para os padrões da categoria. Portanto, se não quisesse ser um saco de pancadas na elite, o time calabrês precisaria se reforçar bastante nesta janela de transferências, e foi o que fez: foram 15 novas contratações efetuadas no verão, sendo que 12 delas deverão receber muitas oportunidades em campo em 2020-21.

Os rossoblù apostaram em atletas vindos de mercados estrangeiros (Magallán, da Espanha; Eduardo Henrique, de; Vulic, da Sérvia; Rojas, do Chile; Dragus, da Bélgica), mas também adquiriram peças experientes e já adaptadas à Itália, como Rispoli, Rivière, Djidji, Luperto, Siligardi e Cigarini. O último citado, aliás, pode fazer uma interessante e criativa dupla de meio-campo com Petriccione, outra aquisição de bom nível feita neste verão. O Crotone dificilmente escapará, mas se esforçou para montar um plantel competitivo. Nota 6.

Fiorentina

Giacomo Bonaventura (imago)

Pradè, diretor esportivo da Fiorentina, disse que a venda de Chiesa à Juventus foi como “tirar um peso das costas”. De fato, nos últimos anos a equipe violeta ficou esperando uma oferta satisfatória pelo ponta, mas a proposta nunca chegava. Finalmente, aconteceu: o clube receberá um valor aproximado ao pedido anteriormente – queria 70 milhões de euros e terá 60; soma que deve ser comemorada em tempos de pandemia. Logicamente, a Fiorentina perde qualidade com a saída de Chiesa, mas o acerto de última hora e sem custos com Callejón, contemporâneo ao negócio que tirou o italiano de Florença, foi bastante inteligente.

Adaptado à Itália e com um bom número de gols, o veterano espanhol é um investimento seguro, que pode até oferecer uma regularidade que seu antecessor não entregava – apesar de costumeiros lances geniais. Também é inegável que o meio-campo (reforçado com Amrabat e Bonaventura, além do experiente Borja Valero) é mais forte do que o de 2019-20, assim como o flanco esquerdo, que teve o retorno de Biraghi e a aquisição de Barreca como seu reserva. Por fim, Martínez Quarta foi uma das grandes contratações da janela europeia e deixará a defesa gigliata muito mais forte. Caso tivesse acertado com um atacante de nível, a Fiorentina até poderia sonhar mais alto. Nota 7.

Genoa

Luca Pellegrini (Getty)

Como sempre, tivemos um Genoa muito ativo no mercado. Dessa vez, porém, a equipe lígure se destacou mais pelas boas aquisições do que por cessões que enfraqueceram o elenco – aliás, as únicas vendas, de Romero e Pinamonti a Juventus e Inter, respectivamente, já eram tidas como certas por causa de cláusulas contratuais. Ao suprir as 12 saídas, entre descartes e fins de empréstimos, Preziosi ainda recheou o plantel: foram 15 aquisições.

O Genoa mostrou força ao buscar Pellegrini e Zappacosta, laterais de seleção italiana, e os vice-campeões mundiais Pjaca e Badelj, além de outras peças de destaque em seleções menores: o habilidoso Zajc, da Eslovênia, e o goleador Shomurodov, do Uzbequistão. Sem falar na válida aposta em Scammacca, centroavante de sucesso nas equipes de base da Itália e que fez uma boa Serie B pelo Ascoli. O Grifone tem tudo para, no mínimo, não sofrer para garantir a permanência na elite – um merecido alívio para sua apaixonada torcida. Nota 7.

Inter

Achraf Hakimi e Arturo Vidal (Image Photo Agency)

A atuação da Inter no mercado, pensando em atingir objetivos no curto prazo, deixou a equipe pronta para lutar pelo scudetto com a Juventus. Saíram Berni, Godín, Moses, Candreva, Asamoah, Borja Valero, Agoumé e Esposito; chegaram Radu, Kolarov, Hakimi, Darmian, Perisic, Nainggolan, Vidal e Pinamonti. É uma nítida evolução no elenco, que se tornou um dos mais completos do país: conta com uma profusão de atletas experientes (cinco dos reforços têm mais de 30 anos) e de poder de decisão maior do que os que ocupavam seus postos em 2019-20. Como pediu – ou implorou – Conte.

Dentre as trocas citadas, só poderíamos observar declínio técnico numa delas, se considerarmos que Godín é superior a Kolarov. Porém, o uruguaio pediu para sair e também teve alguns momentos de dificuldade para se adaptar à linha de três zagueiros e aos preceitos do treinador – o sérvio, por sua vez, já os domina. A principal contratação efetuada por Marotta foi a surpreendente chegada de Hakimi, que é um dos melhores do mundo em sua posição e tem ao menos uma década de alto rendimento pela frente. Além disso, as dificuldades que os nerazzurri atravessaram para escalar seu meio-campo em momentos da última temporada devem ser coisa do passado, uma vez que Nainggolan e Perisic retornaram e Vidal se reuniu com Conte. Nota 9.

Juventus

Arthur (Image Photo Agency)

Enquanto a Inter buscou jogadores experientes e vencedores, a Juventus aposta em renovação e ajuste das contas. As aquisições de Kulusevski e Arthur (este, numa troca que levou Pjanic a Barcelona) estavam definidas havia meses, e a pandemia acabou acelerando um processo de reformulação pelo qual a Velha Senhora passaria, mais cedo ou mais tarde. A queda no faturamento obrigou a cúpula bianconera a trabalhar para se desfazer – ainda que longe das melhores condições – de jogadores que ganhavam salários muito altos. Foi o que ocorreu com Higuaín, Matuidi, De Sciglio, Douglas Costa e Rugani.

O processo de redução da folha salarial amortizou custos mensais e, embora tenha servido mais para corrigir erros de planejamento do que para gerar lucro, abriu espaço em caixa para que Agnelli investisse em promessas, como McKennie e, claro, alguns dos melhores jovens em circulação na Itália: o supracitado Kulusevski e Chiesa. Os pontas têm grande margem de crescimento, mas já são capazes de entregar futebol de altíssimo nível e tendem a brilhar por anos a fio em Turim. Morata, por fim, chega ao Piemonte na expectativa de reviver seus bons momentos na Itália, mas como plano C – uma vez que a Velha Senhora se interessara anteriormente por Milik e Dzeko. Nota 8.

Lazio

Mohamed Fares (imago)

O presidente Lotito e o diretor Tare foram ao mercado e compraram mais do que era necessário. Gato escaldado tem medo de água fria, afinal: em 2019-20, a Lazio se ressentiu de um elenco curto e, como jogará a Champions League nesta temporada, a diretoria preferiu pecar pelo excesso. Foram oito chegadas, sendo sete aquisições e um retorno de empréstimo, que aumentaram o plantel em três integrantes. O suficiente para ter peças disponíveis em todas as frentes de disputa.

O experiente goleiro Reina será útil para o descanso de Strakosha – que só não disputou três partidas na última campanha –, assim como o zagueiro Hoedt e os volantes Akpa Akpro e Escalante terão tal papel em seus setores. Mais à frente, o brasileiro Andreas Pereira também poderá ser usado como alternativa a Luis Alberto e Correa, enquanto o grandalhão Muriqi tende a revezar com Caicedo. Todos serão coadjuvantes, mas importantes na economia de minutos de Simone Inzaghi. O único reforço com status de protagonista será Fares: o argelino consiste em uma alternativa de apoio aguda pelo lado esquerdo, tornando o time menos previsível e menos dependente dos apoios de Lazzari no flanco oposto. Nota 6,5.

Milan

Sandro Tonali (LaPresse)

O Milan seguiu as orientações do diretor Gazidis e fez um mercado repleto de aquisições de jovens: com exceção de Tatarusanu, que chega para ser goleiro reserva, todos os outros contratados pelo Diavolo nesta janela têm 21 anos ou menos. O principal reforço, de longe, foi o de Tonali, jogador da seleção italiana e uma das maiores revelações do país nos últimos tempos. Os rossoneri aproveitaram a desistência da Inter para adquirir um atleta que poderá comandar o setor por mais de uma década e que, de imediato, se junta a Kessié e Bennacer para formar um dos melhores trios de meias centrais do país.

Além de fechar com Tonali, o clube rubro-negro aproveitou para dar oportunidade a Brahim e Dalot, jogadores promissores que não conseguiram vingar em outros gigantes europeus, e assegurou um reforço como se fazia nos velhos tempos: o norueguês Hauge impressionou ao encarar o Milan pelo Bodo/Glimt, na Liga Europa, e virou casaca. O Diavolo também encontrou um destino para Lucas Paquetá, que vinha perdendo espaço em San Siro, e assegurou as permanências de Ibrahimovic e Rebic. Havia quem esperasse a contratação de um zagueiro mais rodado para compor elenco, mas a confiança dada por Pioli ao garoto Gabbia é justificável. Nota 8.

Napoli

Victor Osimhen (Insidefoto)

O calciomercato do Napoli foi assertivo e planejado desde cedo. Começou em janeiro, quando a diretoria assegurou as importantes contratações de Rrahmani e Petagna para dar alternativas a Gattuso no centro da zaga e no comando do ataque – setores que deram dores de cabeça ao técnico em 2019-20. Além de adquirir dois atletas que se destacaram na Serie A, o clube partenopeo ficou de olho em outros países da Europa e, na França, efetuou a compra mais cara de sua história ao desembolsar 70 milhões de euros por Osimhen. O nigeriano teve um ano memorável pelo Lille e chega para oferecer ao time mais movimentação do que Milik e qualificar a conclusão das jogadas.

O polonês mereceu um capítulo à parte no verão napolitano, já que a diretoria tentou encontrar um destino para ele durante toda a janela e não conseguiu – o que o manterá encostado até a próxima sessão de mercado, junto a Llorente. Por outro lado, Callejón e Allan, que também gozavam de muita importância no elenco e não estavam mais nos planos de Gattuso, deixaram o San Paolo. O treinador optou por não solicitar um reforço para a ponta direita pois decidiu dar chances a Lozano, mas indicou um grande nome para o lugar do brasileiro: Bakayoko, com quem trabalhou (e teve sucesso) no Milan. Com essas movimentações, o Napoli fortaleceu o seu plantel. Nota 8,5.

Parma

Lautaro Valenti (imago)

Em processo de mudança de propriedade, o Parma passou grande parte da janela de transferências inativo, sem poder buscar substitutos para Kulusevski e Darmian – que já eram saídas inevitáveis. Apenas depois da primeira rodada da Serie A, quando o Krause Group adquiriu o clube, é que as compras começaram – e com boas expectativas. A holding norte-americana preferiu investir em promessas que podem render lucro em algum tempo e, por isso, só comprou dois atletas de 25 anos ou mais: o zagueiro Osorio (26), do Porto, e o meia Cyprien (25), do Nice. O meio-campista francês, aliás, foi uma das mais interessantes contratações de toda a sessão italiana. Além do pano de fundo econômico, essas movimentações se justificavam do ponto de vista competitivo: rejuvenescer um elenco cheio de veteranos era fundamental.

O Parma teve critério na renovação e buscou jogadores em mercados emergentes da Europa, como o lateral-direito belga Busi, o volante suíço Sohm e o atacante romeno Mihaila. Além de atuarem em clubes de seus países, todos tinham passagem por seleções de base – Sohm estreou pelo time de cima helvético nesta data Fifa. Os crociati ainda conseguiram boas aquisições no futebol argentino, ao acertarem com o zagueiro Valenti, do Lanús, e o meia-atacante Brunetta, do Godoy Cruz. Os reforços podem ter oscilações no presente, mas têm futuro. Nota 6,5.

Roma

Marash Kumbulla (Getty)

O cartão de visitas da gestão Friedkin não foi dos mais convincentes para o torcedor romanista. Apesar da excelente chegada de Kumbulla (contando com a desistência da Inter) e da contratação dos espanhóis Pedro e Mayoral – que deverão ser úteis para Fonseca –, toda a janela ficou concentrada em duas novelas, o que prejudicou a tomada de várias decisões importantes. Sem dúvidas, um caos que tem origem num fato que beira o absurdo: a Roma teve a coragem de passar o calciomercato sem diretor esportivo. Totalmente surreal.

O mercado giallorosso foi pautado pela indefinição do futuro de Dzeko, que permaneceu a despeito de ter ficado a um passo da Juventus, e por uma questionável e incessante busca pela repatriação de Smalling – afinal, quem está em questão é Smalling, apesar de uma ótima temporada em 2019-20. A Roma não contratou um reserva com as características similares às de seu camisa 9; a demora pelo retorno do inglês de 30 anos (com direito a erro em seu registro e risco de colapso do negócio no último dia da janela) impediu as saídas de Fazio e Juan Jesus, que – em acordo com o clube – sairiam neste verão. A Loba também não resolveu a situação no gol (Pau López perdeu a confiança de Fonseca e o titular é Mirante, de 37 anos); não encontrou laterais-direitos fisicamente mais confiáveis do que Bruno Peres e Karsdorp; e manteve Pastore, menos útil do que os negociados Ünder, Perotti e Kluivert. Nota 4.

Sampdoria

Antonio Candreva (Image Photo Agency)

A perda de Linetty para o Torino, no início do mercado, poderia insinuar que a Sampdoria teria um elenco enfraquecido em relação a 2019-20 e se contentaria com uma salvação tranquila. Porém, nos 10 últimos dias da janela, a diretoria fortaleceu o plantel com nomes de rendimento seguro: Candreva, Keita e Adrien Silva. Com três jogadores experientes e de qualidade, o torcedor bluerchiato pode esperar por uma campanha melhor do que a anterior, talvez com briga para entrar na parte alta da tabela.

A Samp também merece elogios por ter segurado Verre, que teve um desempenho excepcional em empréstimo ao Verona, e por ter buscado o promissor Damsgaard no futebol dinamarquês. Só que, ao mesmo tempo em que recebeu peças interessantes, Ranieri precisará dar uma nova cara ao time. Afinal, a equipe genovesa cedeu muitos jogadores que eram importantes para a rotação do elenco (Murru, Chabot, Vieira, Bonazzoli e Depaoli) e viu os coadjuvantes Barreto e Bertolacci saírem em fim de contrato. Não será um trabalho tão simples. Nota 6.

Sassuolo

Kaan Ayhan (Image Photo Agency)

Como as estrelas do plantel do Sassuolo descartaram qualquer mudança de ares neste verão, o estafe neroverde trabalhou quase que exclusivamente para negociar empréstimos de jovens ou de peças vinculadas ao clube que já estavam rodando pela Itália. A diretoria, porém, poderia ter feito mais força para segurar o centroavante Scammacca, que foi cedido ao Genoa ao invés de ser testado como uma das boas alternativas a Caputo.

O Sassuolo fez apenas três contratações para compor elenco – Ayhan, López e Schiappacasse – e efetivou o retorno de empréstimo de Ricci. Dentre eles, dois devem ser mais utilizados por De Zerbi: Ayhan, como elemento de rotação no centro da zaga, e López como reserva de Djuricic. A aposta dos emilianos é pela continuidade de um time que encantou na última temporada. Nota 6.

Spezia

Jeroen Zoet (imago)

Se o Sassuolo mal se mexeu, o Spezia foi um dos times mais ativos no mercado. Estreante na Serie A, a formação da Ligúria teve sete perdas importantes em relação ao já modesto elenco que conseguiu o acesso e, por isso, teve de se reforçar muito – em quantidade e qualidade. O bilionário Volpi fez 17 aquisições para sua esquadra, sendo 12 delas por empréstimo. Quando usada em demasia, essa modalidade de contratação é uma faca de dois gumes. Por um lado, limita as possibilidades de um rombo no orçamento em caso de retorno para a segundona; por outro, obrigam a equipe a fazer uma nova reformulação em caso de permanência.

Entre os destaques do mercado do Spezia, estão as chegadas dos brasileiros Léo Sena (ex-Goias e Atlético-MG), Rafael e Diego Farias – estes últimos, muito rodados no futebol italiano. É verdade que as águias buscaram jogadores experientes (Zoet, sua contratação mais chamativa, é prova disso), mas também observaram revelações sem espaço em seus times de origem: Agudelo (Genoa), Agoumé (Inter), Pobega (Milan) e Piccoli (Atalanta) são nomes bastante interessantes. Os spezzini montaram um grupo competitivo. Nota 6,5.

Torino

Karol Linetty (LaPresse)

A janela do Torino teve um elemento bastante raro no futebol italiano: a atuação de um treinador quase como um manager à inglesa. Giampaolo escolheu reforços a dedo e recebeu vários atletas com quem já trabalhara anteriormente – Rodríguez, no Milan; Linetty, Murru e Bonazzoli, na Sampdoria. São quatro jogadores que agregam bastante ao grupo e que podem ajudar o Toro a efetuar mais rapidamente sua transição de filosofia, deixando estratégias reativas de lado para abraçar os métodos propositivos do técnico.

A revolução nas laterais deve ser positiva para a equipe de Turim, sobretudo pelo ganho na troca entre o fraco Aina (que jogava nas duas) e o veterano De Silvestri por Rodríguez, Vojvoda e Murru. A diretoria também se desfez de Djidji e Berenguer, que não vingaram no Piemonte e também não entravam nos planos de Giampaolo, para investir em Gojak. O controlador de jogo bósnio pode funcionar muito bem junto a Lukic, Rincón, Meïté e Baselli, que já faziam parte do elenco do Toro, e – sobretudo – ao lado do também neocontratado Linetty. Nota 7.

Udinese

Roberto Pereyra (imago)

Mais uma vez, a Udinese fez um mercado bem aquém dos realizados em seus tempos dourados – quando adquiria jovens promissores a preço de banana e arrecadava rios de dinheiro com vendas milionárias. Neste verão, o time do Friuli perdeu o ótimo Fofana por um valor abaixo do estimado e tentou, em vão, emplacar a venda de De Paul.

Além disso, a ponte com o Watford (o outro clube da família Pozzo) parece mais atrapalhar do que ajudar. Ekong e Sema, importantes na campanha bianconera de 2019-20, foram disputar a segundona da Inglaterra. Em troca, os hornets “devolveram” Pereyra e Pussetto à Udinese, e cederam o espanhol Deulofeu, ex-Milan. São bons nomes, mas não chegam a compensar os desfalques causados. Afinal, o lateral-esquerdo Ouwejan era apenas reserva do AZ e o zagueiro Bonifazi, apesar de promissor, cometeu muitos erros com a camisa da Spal. Nota 5,5.

Verona

Antonín Barák (imago)

Após uma ótima temporada em 2019-20, o Verona perdeu quase todos os seus protagonistas. Pessina e Verre (emprestados) já eram nomes certos na debandada, e a eles se seguiram Amrabat, Rrahmani e Kumbulla – vale lembrar que os experientes Pazzini e Borini também não renovaram contrato. Apesar das expressivas mudanças, o elenco do Hellas está mais forte e numeroso, o que possibilitará ao técnico Juric mais uma campanha tranquila no comando dos butei.

Sem dúvidas, as contratações de Kalinic e Benassi são as mais interessantes, pois ambos são capazes de elevar o nível de uma equipe que luta pela permanência: nesse contexto, são estrelas. Barák, que teve bons momentos no Lecce na segunda parte da última temporada, caminha para recuperar o alto nível já demonstrado na Udinese e também foi um reforço de peso. De resto, a diretoria gialloblù se preocupou em adquirir atletas que dão substância ao plantel (Çetin, Ceccherini, Magnani, Tameze, Vieira e Favilli) e promessas que podem explodir em 2020-21 (Pandur, Amione, Rüegg, Ilic e Colley). Olho no Hellas Verona. Nota 7,5.

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