Os jogos de ida das semifinais da Coppa Italia não podiam ser mais diferentes um do outro. Na quarta, a Fiorentina venceu a Cremonese por 2 a 0 e garantiu uma vantagem confortável para chegar à final da competição. Antes, na terça, Juventus e Inter ficaram no empate por 1 a 1, num clássico que pegou fogo no final, por bons e maus motivos. No que concerne à parte futebolística, os gols foram marcados no apagar das luzes, só que torcedores da equipe mandante cometeram atos de racismo contra o nerazzurro Lukaku e mancharam o espetáculo. Confira, abaixo, como foram os duelos.
Juventus 1-1 Inter
Se o Derby d’Italia da 27ª rodada do Campeonato Italiano foi recheado de polêmicas, principalmente em relação à arbitragem, o da Coppa não foi muito diferente: desde o apito inicial, os nervos estavam à flor da pele. E foi exatamente por causa da pele de Lukaku – ou melhor, da cor dela – que ocorreu mais um episódio que manchou o esporte, já na reta final da partida.
No geral, o jogo foi muito truncado, em especial no primeiro tempo. A Juventus foi melhor durante a etapa inicial, mas a Inter chegou a levar perigo em uma cobrança de falta de Dimarco, parada pelo goleiro Perin. A Beneamata ficou ainda mais perto do gol aos 33 minutos, quando Dzeko ajeitou para Brozovic finalizar bem e forçar o arqueiro bianconero a fazer uma boa defesa. Pelo lado da Velha Senhora, Vlahovic tentou cabecear para as redes, mas não obteve sucesso.
Já na segunda etapa, após Vlahovic e Mkhitaryan desperdiçarem chances, Milik teve uma oportunidade de ouro – também esbanjada. Cuadrado chutou cruzado e Milik, que tinha acabado de entrar, demorou para se movimentar e dar um toquinho na pelota. O tempo de bola perdido foi suficiente para fazer o desvio passar à direita do gol de Handanovic.
O primeiro gol saiu aos 83 minutos: Rabiot cruzou da esquerda e a pelota passou por todo mundo até chegar à segunda trave, onde Cuadrado, com muito espaço, finalizou cruzado para abrir o placar para os mandantes. Tudo parecia caminhar para a vitória da Juventus… até os últimos lances do jogo: em um lançamento para o ataque, Dumfries subiu mais alto do que Kostic e ajeitou para o meio da área, onde Bremer estava. No entanto, o brasileiro errou o tempo de bola e acabou tocando na redonda com a mão. Lukaku assumiu a responsabilidade pela cobrança do pênalti e deixou tudo igual, aos 95.
Na comemoração, o belga repetiu o gesto habitual de Doku, seu colega de seleção, que está machucado: tal qual na data Fifa, no jogo contra a Suécia, colocou a mão sobre os olhos e o dedo na boca. Em seguida, gritou para os torcedores da Juventus, que vinham lhe insultado desde uma falta cometida sobre o zagueiro Gatti. Só que não foram apenas xingamentos: vídeos mostram que ultras imitaram sons de macaco e proferiram ofensas racistas antes, durante e depois da penalidade.
A situação, que já estava tensa, piorou depois que jogadores da Juventus foram cobrar providências do árbitro Davide Massa pela suposta provocação de Lukaku aos torcedores. O apitador, que não tinha dado sinais de que vira algo de errado, cedeu à pressão e mostrou o cartão amarelo ao belga, o que causou a expulsão do atacante, já pendurado.
A decisão causou ainda mais bagunça e provocou uma confusão generalizada. Cuadrado, um dos mais exaltados, recebeu cartão amarelo e, como estava pendurado, também ficou fora da partida de volta. O jogo ainda foi reiniciado, mas a bola só rolou por mais alguns segundos até o apito final, quando os entreveros continuaram. Handanovic e Cuadrado até começaram a conversar de forma amigável, mas o papo terminou com uma discussão e um soco do juventino no interista – os dois foram expulsos por Massa. O bate-boca teve sequência no túnel para os vestiários e a segurança do estádio precisou trabalhar para impedir outros acontecimentos. Vale destacar que, pela Serie A, D’Ambrosio e Paredes já haviam sido punidos com o cartão vermelho após o encerramento do Derby d’Italia.
Após a partida, Lukaku se pronunciou através de seu Instagram, relembrando que não é a primeira vez na qual sofre discriminação racial na Itália. “A história se repete. Passei por isso em 2019… Em 2023 novamente. Eu espero que a liga tome ações de verdade desta vez porque este lindo jogo deve ser apreciado por todos. Obrigado por todas as mensagens de apoio. Foda-se o racismo”, escreveu ele, encerrando a postagem com um emoji em sinal de silêncio.
A Inter quer que o cartão vermelho seja revogado, o que provavelmente não deve acontecer. O clube também se posicionou, condenando a atitude racista ocorrida em Turim e defendeu Lukaku. Do outro lado, a Juventus postou uma nota em suas redes sociais afirmando que está colaborando com a polícia italiana para identificar os responsáveis pelas injúrias, e que irá aplicar o código de conduta do clube para proibi-los de frequentarem o Allianz Stadium futuramente. No entanto, a Velha Senhora não se desculpou com o belga e sequer o citou. O acolhimento do mundo esporte, por sua vez, foi maciço: Hamilton, Mbappé, Evra, Vinícius Júnior, Materazzi, Balotelli, Courtois, Lovren, Nainggolan, Hakimi e outros manifestaram apoio ao atacante.
Após tanta confusão e uma dolorida mancha na história do Derby d’Italia, as duas equipes voltam a se enfrentar em San Siro, sem Handanovic e Lukaku, pelo lado da Inter, e Cuardado, pela Juventus. O jogo de volta acontecerá no dia 26 de abril, às 16 horas, pelo horário de Brasília.
Cremonese 0-2 Fiorentina
Longe da confusão em Turim, a Fiorentina teve uma vida mais tranquila ao enfrentar a Cremonese, no estádio Giovanni Zini. Sem chegar à final da Coppa Italia desde 2014, quando ficou com o vice-campeonato, e sem vencer a competição há 22 anos, a Viola sonha em levantar o seu sétimo caneco e ficou mais perto de concretizar o desejo.
Desde o início, os gigliati se mostraram superiores e logo impuseram o seu ritmo de jogo, apesar de uma grande chance dos donos da casa, num chute venenoso de Tsadjout. No fim das contas, não demorou muito para o primeiro gol sair: aos 20 minutos, Arthur Cabral aproveitou o levantamento de Biraghi e desviou de cabeça, abrindo o placar para a Fiorentina. O resultado acalmou a equipe violeta, que diminuiu a intensidade e não chegava tanto ao ataque. Quando o fez, com González, o arqueiro Sarr se mostrou preparado.
Para o segundo tempo, parecia que tudo iria continuar da mesma forma. No entanto, a Cremonese fez boas alterações e passou a ameaçar mais a zaga da Viola. Os grigiorossi quase empataram duas vezes: Dessers e Buonaiuto forçaram o goleiro Terracciano a fazer boas defesas. A Fiorentina só conseguiu chegar com mais perigo no lance que definiu o placar, aos 73 minutos. Depois de uma boa defesa de Sarr, Aiwu interceptou o rebote com o braço, em cima da linha, e foi expulso pelo pênalti cometido. González converteu a cobrança e matou a partida para a equipe violeta.
Com o resultado confortável, a Fiorentina colocou um pé na final da Coppa Italia. A equipe de Vincenzo Italiano deve confirmar a vaga no dia 27 de abril, quando recebe a Cremonese de Davide Ballardini no estádio Artemio Franchi.