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Gunnar Gren, o menos badalado do trio sueco que mudou a história do Milan

Diferenciado para sua época como poucos foram. A frieza dentro da área e a inteligência para criar jogadas fora dela o renderam o apelido de Il Professore na Itália, local onde estourou para o mundo sendo a primeira sílaba do lendário trio Gre-No-Li, que fez história no Milan. Falamos do sueco Gunnar Gren, um dos maiores jogadores da história de seu país e responsável por armar um dos times mais importantes da história rossonera. Inteligente e de técnica apurada, foi responsável por muitas alegrias aos torcedores milanistas na década de 1950, consagrando uma posição hoje tão comum: o trequartista.

O começo de sua carreira foi bastante precoce, em sua terra natal. Atuando desde os 16 anos pelo pequeno – e hoje quase inexistente – Garda BK, Gren não demorou para conseguir se firmar entre os titulares de uma equipe que disputava sempre as posições intermediárias do campeonato sueco. Não demorou também para despertar o interesse de times maiores e, em 1941, aos 21 anos, chegou ao IFK Gotemburgo, onde passou a ter destaque nacional.

O trio Gre-No-Li posa com Lajos Czeizler, técnico rossonero (Svensk Filmdatabas)

Colocado para atuar mais próximo do gol em sua primeira equipe grande, passou a mostrar faro apurado e muita frieza na hora de balançar as redes. Foi deste modo que passou a ser presença constante em convocações da seleção sueca, além de vencer o campeonato local uma vez e ser artilheiro do mesmo torneio em outra oportunidade.

O destaque internacional que surgira com os feitos na Suécia só aumentaria quando o jogador, ao lado de Gunnar Nordahl e Nils Liedholm levou os suecos ao até então inédito título olímpico em 1948, quando os Jogos foram disputados em Londres. Com a medalha olímpica no peito, Il Professore passou então a despertar os interesses dos gigantes europeus, sendo adquirido, junto com seus dois companheiros de seleção, pelo Milan em 1949. A ida para a Itália marcaria finalmente a consagração de Gren no futebol.

A chegada do trio sueco, então apelidado com a alcunha que lhes tornaria famosos em todo o mundo, foi cercada de tensão no San Siro. Sem conquistar o scudetto desde 1907, os rossoneri apostavam todas as suas fichas na chegada dos entrosados craques suecos. Atuando como um verdadeiro atacante, partindo sempre do lado direito – enquanto Nordahl atuava centralizado e Liedholm um pouco mais recuado, pela esquerda -, Gren anotou nada menos do que 18 gols em sua primeira Serie A, em 1949-50, número que apesar de chamativo não foi suficiente para dar o tão sonhado e esperado título ao Diavolo. Uma mudança tática que traria o jogador mais para o meio-campo, deixando em suas mãos a função de armar o time sem tantas preocupações de marcar gols, seria a chave para o sucesso rossonero na temporada seguinte.

Sempre com muita disposição, o meia sueco ajudou o Milan a sair de uma incômoda fila (Archivi Farabola)

Com Gren armando e seus dois companheiros marcando gols sem parar, o Milan finalmente conseguiria deixar para trás o incômodo jejum em 1951. Essencial para o título com seus passes precisos e jogadas muito bem pensadas, além de um senso tático acima da média, virou Il Professore e caiu de vez nas graças da torcida. A falta de sucesso da equipe nas duas temporadas seguintes, porém, seria crucial para que o sueco deixasse o rossonero e não tivesse a chance de levar mais um scudetto, conquistado pela equipe de Milão em 1955. Acumulando, em 1952, as funções de treinador e jogador, Gren não resistiu aos maus resultados e acabou sendo negociado com a Fiorentina.

Pela viola, já sem as mesmas condições do passado não tão distante, o sueco nunca mais voltou a ter o brilho que o consagrara no futebol. Passou a jogar cada vez mais longe do gol e com cada vez mais dificuldades para se movimentar, perdendo assim a habilidade de criar jogadas com a rapidez que lhe era característica. Após duas temporadas frustradas em Florença, foi negociado com o Genoa.

A chegada ao clube rossoblù não mudou em nada o panorama da carreira de Gren, que ao final da temporada 1955-56 deixaria o futebol italiano para atuar mais uma vez na Suécia. Sua ida para o pequeno Örgryte serviu para manter ritmo de jogo suficiente para continuar a ser convocado para a seleção sueca, que seria anfitriã na Copa do Mundo de 1958, e estava recheada de jogadores que atuavam na Itália – além de Liedholm e Gren, Hamrin (Padova), Gustavsson (Atalanta), Selmosson (Lazio) e Skoglund (Inter). Gren marcou um golaço na semifinal contra a Alemanha Ocidental, sagrando-se, aos 37 anos e 238 dias, o mais velho jogador a marcar em um Mundial – foi superado apenas em 1994, pelo camaronês Roger Milla -, mas juntamente a seus companheiros não conseguiu conter Pelé, Garrincha e tantos outros craques na final.

Desgrenhado na festa do scudetto: depois do sucesso pelo Milan, Gren ainda defendeu Fiorentina e Genoa (Göteborgs-Posten)

Fora das quatro linhas, porém, Gren esteve longe de ter a mesma sorte que teve dentro delas. Após rodar por cinco anos em muitos clubes suecos, recebeu em 1961 a chance de treinar a Juventus, juntamente a Július Korostelev, mas com o falecimento do pai de sua esposa, retornou à Suécia logo após a segunda rodada, deixando o comando para o ex-zagueiro Carlo Parola, que guiou a Juve na pior campanha de sua história. Peregrinou como técnico pela Suécia até 1976, quando se retirou do futebol. Afastado do esporte, Gren faleceu em 1991, na mesma Gotemburgo em que nasceu, aos 71 anos.

Gunnar Gren
Nascimento: 31 de outubro de 1920, em Gotemburgo, Suécia
Falecimento: 10 de novembro de 1991, em Gotemburgo, Suécia
Posição: meio-campista
Clubes: Garda FK (1937-1940), IFK Gotemburgo (1940-1949), Milan (1949-1952), Fiorentina (1952-1955), Genoa (1955-1956) e Örgyte (1956-1959)
Títulos: Campeonato Sueco (1942), Medalha de ouro olímpica (1948), Serie A (1951) e Copa Latina (1951)
Seleção sueca: 57 jogos e 32 gols

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