A vitória do Napoli contra o Siena, na sexta rodada, se fez mais por orgulho e nervos do que por esquemas e jogadas. Pouco depois do jogo, caiu o diretor geral Pierpaolo Marino. Na rodada seguinte, uma queda fácil demais para a Roma ainda em construção abalou demais as estruturas e, pronto, lá se foi também Donadoni, depois de 18 jogos e apenas quatro vitórias – aproveitamento de 33,3%. Em resumo, aquele bom clichê: o treinador não conseguiu fazer o Napoli ser mais do que um amontoado de jogadores que caberiam em qualquer outro clube italiano.
Fato é que Donadoni não pôde fazer muito. Foi o cara errado, na hora errada. O ex-treinador da Seleção Italiana e do Livono se notabilizou por trabalhos com equipes motivadas, pautadas no extracampo. Mas não se esperava que o ambiente partenopeo degringolasse de vez com a saída de Edoardo Reja. Incontrolável, o presidente Aurelio Di Laurentiis trouxe para si os holofotes desde a apresentação da atual temporada.
Quando comprou um Napoli alquebrado por cerca de 25 milhões de euros, há cinco anos, o produtor cinematográfico de alguns sucessos de Monicelli, Benigni, Lynch e Almodóvar admitia que o futebol não era seu mundo. Para isso, entregava o controle esportivo do clube às mãos de quem entendia do traçado. Como ao próprio Marino, campeão italiano com o Napoli nos tempos de Maradona e com três décadas de experiência. Ou a Edy Reja, ainda que seu pescoço tenha passado por uma dezena de cordas antes da degola. Com a dupla, o clube precisou de apenas quatro anos para sair da Serie C1 e retornar à Europa.
Com o sucesso napolitano, De Laurentiis resolveu que seu clube seria… seu. E passou a ser personagem frequente no noticiário esportivo, ainda que conheça muito pouco de futebol e “tenha muito o que aprender”, segundo Donadoni. Como bom homem de cinema, criou um protagonista que exigia sua condição, numa das melhores reedições dos folclóricos Zamparini (Palermo) e Spinelli (Livorno). De Laurentiis fez-se, então, presidente, diretor, treinador e até jornalista. Deu errado, é claro.
De Laurentiis: a Aurelio o que é de Aurelio (Sport Magazine)
A queda de Pierpaolo Marino, um dos melhores diretores esportivos do futebol italiano, é de difícil explicação. Com sua ajuda, o Napoli se valorizou mais de 1000% em apenas cinco anos e hoje é avaliado em pelo menos 300 milhões de euros. Muito disso por boas ações do ex-diesse do clube: contratações baratíssimas, como as de Santacroce, Gargano, Hamsík e Lavezzi se supervalorizaram em períodos mínimos. Pelos dois últimos, o clube teria inclusive recusado propostas cinco vezes maiores que seus preços de compra.
Na prática, a dupla argentina Navarro e Denis foi o maior tiro n’água de Marino nesses anos. Pode-se falar também de Dátolo, mas o meia continua com boas apresentações por sua seleção e foi claramente subutilizado na “era Donadoni”. A falha nas contratações desta temporada devem ser mais debitadas na conta do presidente, aliás. Por exemplo, a necessidade de um lateral-esquerdo era absurda, mas De Laurentiis avisou que, se o treinador quisesse, ele que comprasse. Enquanto isso, chegava o colombiano Zúñiga por módicos nove milhões de euros para disputar posição com Maggio ao mesmo tempo em que o clube liberava Mannini e Vitale.
Com um elenco desequilibrado, Donadoni não foi capaz de muita coisa. Zúñiga e Dátolo se revezaram (mal) pela esquerda do 3-5-2, enquanto o meio-campo excessivamente leve (com Cigarini de regista um pouco atrás de Gargano e Hamsík) dava pouco combate e sentia falta, quem diria, de Blasi. Na frente, Quagliarella jogou sempre fora de sintonia enquanto tenta se adaptar a uma posição que não é a sua. Walter Mazzarri, arquiteto da salvação da Reggina e bom artífice da Sampdoria em cinco anos de Serie A, tentará alavancar o time na melhor chance de sua carreira. Para isso, terá a seu lado Riccardo Bigon (jovem diretor esportivo, recém-chegado da Reggina) e Gian Paolo Montali (ex-treinador da seleção italiana de vôlei e novo responsável pela direção técnica do clube).
A questão para o Napoli é saber se será possível trabalhar com tranquilidade. Porque a onipotência não leva a nada no futebol. E De Laurentiis irá aprender isso, cedo ou tarde.