Jogos históricos

Os jogos mais importantes de Diego Maradona pelo Napoli

Mamãe, sabe por que me bate o coração? É porque vi Maradona e apaixonado estou. Estes versos acompanharam a trajetória de Diego Armando Maradona pelos campos da Itália, nos anos 1980 e 1990, e desde então fazem parte do folclore de Nápoles e da Campânia, onde o argentino se tornou uma divindade.

Ver Maradona jogar era mesmo apaixonante – e um privilégio. Por isso, como forma de homenagear o craque, que faleceu com apenas 60 anos, em novembro de 2020, contamos com a colaboração de Caio Bitencourt para escolher as atuações mais marcantes do argentino com a camisa do Napoli. Em ordem cronológica, apresentamos o “The Best Of” de Dieguito. Aproveite.

A primeira grande exibição de Maradona pelo Napoli foi contra a Udinese, num verdadeiro lamaçal (Sergio Siano)

Napoli 4-3 Udinese, pela 14ª rodada da Serie A 1984-85

Grande aquisição do presidente Corrado Ferlaino, Diego foi apresentado pelo Napoli em 5 de julho de 1984, diante a cerca de 80 mil pessoas que lotaram o estádio San Paolo. Porém, o verdadeiro Maradona só foi visto seis meses e um dia depois, em 6 de janeiro de 1985. O argentino ainda se recuperava totalmente da fortíssima entrada de Andoni Goikoetxea – que lhe causara uma fratura no tornozelo – e também passou os primeiros meses se adaptando ao futebol italiano, mais rápido e com marcações mais fechadas do que o espanhol. Isso obrigou o craque a acelerar os seus movimentos para se manter dominante. Ainda assim, o Pibe só tinha três gols marcados até então.

Treinado por Rino Marchesi, o Napoli também não vivia um momento brilhante quando encarou a Udinese, naquele início de janeiro: as duas equipes tinham apenas 9 pontos e dividiam a antepenúltima colocação da Serie A com a Lazio. O confronto direto entre as equipes ficou mais pobre porque Maradona não pode duelar com Zico – lesionado, o Galinho era um sério desfalque para o técnico Luís Vinício, ídolo napolitano.

O temporal que caiu em Nápoles transformou o gramado do San Paolo num verdadeiro lamaçal, como nas mais tradicionais canchas argentinas. Embora se prenunciasse um 0 a 0 naquele campo repleto de poças que retinham a bola, tivemos uma chuva de gols. Edinho inaugurou o placar para os visitantes, de pênalti, e Maradona respondeu, também da marca da cal – com cobrança perfeita. Daniel Bertoni virou com um golaço, após El Diez iniciar a jogada, e Paolo Miano devolveu na mesma moeda.

Dieguito teve outra penalidade para cobrar já no segundo tempo e nem se abalou com as tentativas de intimidação de Attilio Tesser: com frieza, fez 3 a 2. Nos últimos minutos, Bertoni também anotou sua doppietta e Marco Billia diminuiu, fechando o placar em 4 a 3. O triunfo foi suficiente para virar a chave na temporada do Napoli: dali em diante, os azzurri só perderam mais uma vez. [Veja aqui os melhores momentos da partida.]

Diego anota um dos gols de pênalti contra a Udinese, em 1985 (Sergio Siano)

Napoli 4-0 Lazio, pela 20ª rodada da Serie A 1984-85

Pode-se dizer que, em fevereiro, o processo de ambientação de Dieguito já estava completo. E o craque mostrou isso em partida contra a Lazio, numa das atuações mais maradonianas de sua estadia em Nápoles. El Diez fez jogadas primorosas com sua perna canhota (como dribles e um passe de bicicleta), mostrou malícia ao tentar marcar um gol de mão, mergulhando em dividida com o goleiro Fernando Orsi, e acabou com o jogo no segundo tempo: marcou sua única tripletta pelos partenopei, com direito a dois de seus mais lindos tentos, e ainda causou um gol contra. De quebra, calou o técnico Juan Carlos Lorenzo, seu compatriota, que havia lhe menosprezado após o empate do primeiro turno. O argentino acabou demitido após a goleada – e a Lazio foi rebaixada ao fim do campeonato.

O primeiro gol de Maradona aconteceu aos 58, depois que Arturo Vianello errou um recuo e “acionou” o craque. Aos 74, Daniele Filisetti tentou cortar um cruzamento de Diego e mandou contra o próprio patrimônio. Seis minutos depois, o mesmo Filisetti falhou ao dominar a bola fora da área e El Diez não pensou nem por um segundo: de primeira, encobriu Orsi, que ficou preso às redes. Aos 87, por fim, o Pibe d’Oro marcou um gol olímpico, e acabou ovacionado pela torcida, à qual mostrou imensa gratidão. “Percebi que a gente de Nápoles gosta de mim e isso me agrada”, disse, em entrevista à Rai. A idolatria se consolidava. [Veja aqui os melhores momentos da partida.]

Maradona e Zico se enfrentaram apenas uma vez na Itália – e justo no último jogo do brasileiro pela Udinese (imago)

Udinese 2-2 Napoli, pela 29ª rodada da Serie A 1984-85

Maradona e Zico se enfrentaram por Boca Juniors e Flamengo, e Argentina e Brasil – inclusive em Copa do Mundo –, mas faltava o encontro por Napoli e Udinese. Quis o destino que o confronto entre dois dos melhores camisas 10 da história acontecesse na penúltima rodada da Serie A 1984-85, na derradeira exibição do Galinho de Quintino pela equipe friulana.

A partida não mexeria na classificação do campeonato, já que o Napoli estava condenado a uma posição no meio da tabela e a Udinese estava salva do rebaixamento, mas valeu pelo show. Logo aos 4 minutos, Maradona marcou um golaço de falta, sem oferecer qualquer chance a Fabio Brini. Zico participou dos dois gols da virada do time bianconero: levantou a bola na área, na jogada que acabou no tento de Dino Galparoli, e depois deu a assistência para Luigi De Agostini soltar uma bomba. Num tiro livre, o brasileiro ainda foi responsável por um dos quatro chutes que a Udinese acertou na trave.

Do outro lado, porém, estava Diego. Aos 88, o argentino aproveitou um rebote e antecipou Brini. E também antecipou a Mão de Deus, que aconteceria um ano depois, na Copa do Mundo: as imagens das câmeras não foram conclusivas quanto ao toque de mão e nem mesmo o árbitro Giancarlo Pirandola percebeu. Ao fim do jogo, Zico chamou o apitador de “incapaz” e acabou sendo suspenso – embora, como retornou ao Flamengo, nunca tenha cumprido o gancho. [Veja aqui os melhores momentos da partida.]

De forma antológica, Dieguito marca seu primeiro gol contra a Juve (LaPresse)

Napoli 5-0 Verona, pela 7ª rodada da Serie A 1985-86

Em setembro de 1984, Maradona teve uma péssima estreia na Itália. Sua trajetória na Velha Bota começava com uma derrota por 3 a 1 contra o Verona, numa partida embalada por cânticos xenófobos contra os napolitanos e conhecida como marco zero para o acirramento da hostilidade entre as torcidas dois clubes. A chegada de Diego e o fato de Hellas e Napoli passarem a disputar títulos coincidia com a popularização de organizadas mais violentas. O ambiente era inflamável.

Na medida em que aprendia a língua italiana e entendia o que cantavam nas arquibancadas, principalmente em partidas no norte da Itália, o politizado Maradona entendeu que representava uma parte do país que não era respeitada por parte de seus compatriotas. O Pibe se identificava com os pobres garotinhos napolitanos, que o remetiam à sua infância na periferia da Grande Buenos Aires, e sentia fortemente as ofensas direcionadas a seus iguais. A raiva se transformou em seu combustível.

O Verona surpreendeu e conquistou o título italiano em 1985. Na primeira vez que o Hellas visitou o Napoli com o scudetto no peito, em 1985-86, Dieguito fez de tudo para atacar os racistas através da destruição do alvo de sua paixão, deixando-os possessos com a derrota dos butei. Bruno Giordano abriu o placar no primeiro tempo e, logo no início da etapa complementar, El Diez começou o show com um levantamento perfeito para Salvatore Bagni ampliar. Dez minutos depois, marcou um dos gols mais bonitos da carreira: recebeu a 30 metros de meta adversária e, com um voleio incrível, encobriu Giuliano Giuliani. Ainda houve tempo para Claudio Garella defender um pênalti, Bertoni assinar uma pintura em cobrança de falta e Eraldo Pecci fechar a conta e passar a régua. [Veja aqui os melhores momentos da partida.]

El Diez marcou uma vez em sua primeira vitória em San Siro (Getty)

Napoli 1-0 Juventus, pela 9ª rodada da Serie A 1985-86

Três semanas depois do show contra o Verona, Maradona enfrentaria a Juventus (e Michel Platini) pela terceira vez na carreira, num dia de chuva em Nápoles. A Velha Senhora vinha de uma sequência de oito triunfos nas primeiras rodadas daquela edição da Serie A, enquanto os azzurri somavam três vitórias, quatro empates e uma derrota. Além disso, o Napoli não vencia a rival havia 15 jogos, desde uma goleada por 5 a 0 pela Coppa Italia 1977-78. Pelo Italianão, eram 24 partidas de jejum – o último triunfo ocorrera em 1973.

Apesar do aparente favoritismo dos visitantes, o técnico Ottavio Bianchi colocou Bagni e Costanzo Celestini – depois que o volante foi expulso, juntamente ao bianconero Sergio Brio – para anularem o francês e ganhou o duelo tático com Giovanni Trapattoni. Por fim, contou com El Diez para decidir a peleja. Maradona teve duas ótimas chances que pararam em Stefano Tacconi, mas resolveu a situação com um golaço aos 72 minutos: num tiro livre indireto, de dentro da área piemontesa, conseguiu desferir um chute de trajetória mirabolante, no qual encobriu a barreira e deixou o arqueiro vendido. [Veja aqui os melhores momentos da partida.]

Em 1986, Maradona fez o Napoli derrubar um tabu de uma década sem triunfos sobre a Roma no Olímpico (Getty)

Milan 1-2 Napoli, pela 28ª rodada da Serie A 1985-86

Diego foi protagonista em sua primeira vitória em San Siro. A bem da verdade, o craque teve sua situação um pouco facilitada naquele 13 de abril de 1986, visto que Nils Liedholm só pode escalar um jovem Paolo Maldini e Agostino Di Bartolomei para contê-lo – Franco Baresi, Mauro Tassotti e Filippo Galli desfalcavam os rossoneri.

Na tentativa de surpreender o Napoli, o técnico sueco mandou quatro atacantes a campo: Marco Macina, Paolo Rossi, Mark Hateley e Pietro Paolo Virdis. Contudo, o time visitante aproveitou para matar o jogo com rapidez. Giordano abriu o placar aos 12 e Maradona, aos 23, iludiu a marcação antes de finalizar no canto de Giuliano Terraneo. Os azzurri diminuíram o ritmo depois de construírem a vantagem, mas nem o gol feito por Di Bartolomei e as oportunidades que pararam em Garella foram suficientes para mudar o resultado. [Veja aqui os melhores momentos da partida.]

Cabrini e Maradona: os capitães no dia em que o Napoli voltou a vencer a Juventus em Turim, após 29 anos de espera (imago)

Roma 0-1 Napoli, pela 7ª rodada da Serie A 1986-87

A temporada 1986-87 seria histórica para o Napoli e, logo em seu início, o clube da Campânia mostrou isso com o encerramento de um longo jejum: não vencia a Roma no Olímpico havia 10 anos, desde o returno da Serie A 1975-76. Um gol de Dieguito deixou essa escrita para trás.

O técnico Bianchi venceu o confronto com Sven-Göran Eriksson através do meio-campo: Bagni, Francesco Romano e Fernando De Napoli tiveram atuação abnegada e dificultaram as ações de Bruno Conti, Zbigniew Boniek, Klaus Berggreen, Stefano Desideri e Giuseppe Giannini. Logo na volta do intervalo, Maradona se desmarcou para receber um excelente lançamento de Giordano e não deu chances a Franco Tancredi. O gol solitário foi responsável por levar os partenopei ao topo da tabela, situação que se manteria até a última rodada. [Veja aqui os melhores momentos da partida.]

Um afago do Pibe em Le Roi: em Nápoles, na temporada 1986-87, Maradona voltou a levar a melhor sobre Platini (Wikipedia)

Juventus 1-3 Napoli, pela 9ª rodada da Serie A 1986-87

Duas rodadas depois de vencer a Roma e chegar à primeira posição, o Napoli tinha o confronto direto com a Juventus, com quem dividia a ponta da tabela. Maradona, então, conduziu os partenopei à liderança isolada e à história: havia 29 anos que os azzurri não venciam a rival em Turim. A última vitória havia ocorrido justamente com um 3 a 1, em 1957.

Dominante no primeiro tempo, o Napoli não conseguiu marcar no primeiro tempo, mas anulou Platini, Michael Laudrup e Aldo Serena. Logo no início da etapa final, porém, o atacante dinamarquês abriu o placar, numa das poucas chegadas dos bianconeri. A partida no Comunale se tornou um duelo entre Diego e Tacconi, mas o goleiro levava a melhor sobre o argentino, até que a virada veio num giro de apenas dois minutos, em bolas alçadas à área: primeiro, aos 73, Moreno Ferrario empatou; depois, aos 74, Giordano completou cruzamento do Pibe. Já no finalzinho, num contra-ataque, Giuseppe Volpecina deu o golpe de misericórdia na Velha Senhora. [Veja aqui os melhores momentos da partida.]

Em 1987, Dieguito venceu a marcação de Galli no San Paolo (Getty)

Napoli 2-1 Juventus, pela 24ª rodada da Serie A 1986-87

Na 24ª do campeonato de 1986-87, o Napoli se aproximou ainda mais do histórico scudetto, ao bater a Juventus e ampliar a sua vantagem para cinco pontos. Logo aos 14 minutos, os partenopei tiveram uma cobrança de falta perigosa e abriram o placar. Diego só rolou para Alessandro Renica encher o pé e contar com a complacência de Tacconi, que deixou a bola passar por entre suas pernas.

A Juventus chegou a acertar a trave com Serena, no fim da primeira etapa, e empatou aos 5 do segundo tempo, depois que o mesmo centroavante completou cruzamento de Platini. Aos 58, porém, Maradona apareceu de novo, colocando o trio Ma-Gi-Ca em evidência: cruzou com perfeição para Giordano raspar e Andrea Carnevale desviar para Romano, que anotou o tento que garantiu o triunfo. [Veja aqui os melhores momentos da partida.]

Maradona deixa Nuciari para trás e marca contra o Milan (Getty)

Napoli 2-1 Milan, pela 27ª rodada da Serie A 1986-87

Com a vitória sobre a Juventus, o Napoli abriu vantagem na liderança. Contudo, os tropeços ante Empoli e Verona, nas rodadas seguintes, impediram os azzurri de se destacarem definitivamente dos demais. Assim, a equipe de Bianchi chegou à 27ª jornada com a Inter perigosamente em seus calcanhares, com apenas dois pontos a menos. Nada que Maradona não pudesse resolver.

No Milan, um jovem Fabio Capello fazia apenas sua terceira partida como técnico profissional, mas seu time não teve como resistir à pressão de mais de 80 mil torcedores nas arquibancadas do San Paolo e aos truques do trio Ma-Gi-Ca. Primeiro, Giordano cruzou para que Carnevale abrisse o placar, aos 33, e, dez minutos depois, voltou a ser garçom. Dessa vez, Maradona dominou o lançamento com a canhota e tirou a pelota do goleiro Giulio Nuciari sem deixá-la tocar no solo: drible efetuado e mais um golaço na conta. Com a vantagem, o Napoli chegou a ficar perto do terceiro, com Giordano, e só viu Virdis diminuir no finalzinho. O sonhado scudetto estava cada vez mais próximo. [Veja aqui os melhores momentos da partida.]

Gelsi efetuou boa marcação sobre Maradona, mas o Napoli foi campeão italiano assim mesmo (FEP/PanoramiC)

Napoli 1-1 Fiorentina, pela 29ª rodada da Serie A 1986-87

No dia 10 de maio de 1987, o Napoli teve o primeiro match scudetto – a primeira vez que a matemática poderia lhe confirmar o título. E não desperdiçou a oportunidade. No geral, Maradona acabou sendo bem marcado pelo volante Michele Gelsi. Porém, num dos poucos momentos de liberdade que teve, no qual recuou para articular jogadas, conseguiu tirar o grito de gol da garganta dos torcedores do San Paolo. El Diez acionou Carnevale em profundidade e o atacante triangulou com Giordano antes de marcar.

Ainda no primeiro tempo, um jovem Roberto Baggio marcou o seu primeiro gol na Serie A, cobrando falta, mas a Inter perdia para a Atalanta, em Bérgamo. Os nerazzurri só continuariam com chances de levar a decisão para a última rodada se pontuassem mais do que o Napoli, o que parecia difícil – e, dessa forma, os azzurri apenas administraram o resultado até a festa explodir em Nápoles.

Diego conseguiu levar um povo inferiorizado e discriminado pelo resto da Itália ao topo do país. Uma emoção indescritível, que o próprio craque considerou como maior do que a vivida pela conquista do título mundial pela Argentina: “é a maior festa que já vi; em 1986 eu não estava no meu país”, disse à Rai, após o duelo contra a Fiorentina. Aquele título significou, para os napolitanos, a sua redenção moral e social através do esporte. A caminhada de um povo de mãos dadas a seu D10s. [Veja aqui os melhores momentos da partida.]

Depois do empate com a Fiorentina, que deu o scudetto ao Napoli, El Diez ainda levou os azzurri ao título da copa (Getty)

Napoli 3-0 Atalanta, pela ida das finais Coppa Italia 1986-87

A façanha do Napoli em 1986-87 foi ainda maior se considerarmos que o time competia fortemente em duas frentes – além da Serie A, disputou a Coppa Italia com afinco. E a campanha dos azzurri na competição foi tão longa quanto brilhante: ganhou as 13 partidas que disputou, marcou 32 gols e só teve sua defesa vazada quatro vezes. Com o terceiro título da copa, o time da Campânia fez uma dobradinha que até então só havia sido obtida pelo Grande Torino, em 1943, e pela Juventus, em 1960.

Na partida de ida da decisão, no San Paolo, o Napoli transformou o domínio absoluto sobre a Atalanta em vitória por 3 a 0, graças a um míssil de Renica, um bonito gol de Ciro Muro e uma cabeçada de Bagni. No segundo tento, Diego participou com maestria, dando um passe açucarado para que Muro superasse Ottorino Piotti. Em Bérgamo, Maradona ainda contribuiu com uma cobrança de falta curta e surpreendente, que possibilitou a Giordano determinar o sonoro placar agregado de 4 a 0. [Veja aqui os melhores momentos da partida.]

Maradona festeja com Carnevale: o scudetto é azzurro (Guerin Sportivo)

Napoli 2-1 Juventus, pela 11ª rodada da Serie A 1987-88

Durante o auge de Dieguito, o Napoli chegou a passar seis jogos invicto contra a Juventus, sua grande rival – sequência jamais obtida em qualquer outro momento da história azzurra. A sexta partida, disputada no San Paolo, foi decidida por proezas do argentino, que renovara seu contrato com os partenopei dias antes do jogaço.

O Napoli não tinha Romano e Bagni, fundamentais para seu meio-campo, mas mesmo assim foi superior à Velha Senhora. O triunfo começou a ser construído aos 26 minutos, quando a defesa bianconera afastou uma bola levantada para a área e Maradona percebeu Tacconi adiantado: El Diez tentou encobrir o goleiro, que espalmou. Porém, Ciro Ferrara apareceu no rebote e só rolou para De Napoli abrir o placar.

Em desvantagem, a Juventus contragolpeou e cresceu no jogo, mas parou em ótima atuação de Garella. O empate bianconero saiu aos 76 minutos, depois que o capitão Cabrini aproveitou uma cobrança de escanteio e cabeceou para as redes. Os donos da casa, porém, não desistiram. Maradona, muito menos. Aos 87, Diego usou o corpo e fez com que Luciano Favero tocasse com a mão na bola, causando pênalti. Infração que o próprio argentino cobrou e converteu, ratificando seu posto de carrasco de Tacconi. [Veja aqui os melhores momentos da partida.]

Ao lado de Ferrario e Bruscolotti, Maradona carrega a taça da Coppa Italia, conquistada ante a Atalanta (Wikipedia)

Napoli 8-2 Pescara, pela 3ª rodada da Serie A 1988-89

Maradona decidia jogos grandes, mas também fazia partidas menores serem memoráveis: a goleada contra o Pescara, por exemplo, foi a segunda vitória mais larga da história do Napoli. Depois de uma temporada em que, por pouco, não conseguiu faturar o bicampeonato italiano, os azzurri começaram 1988-89 com a faca nos dentes e atropelaram o time dos Abruzos na terceira rodada. Logo aos 7 minutos, Careca e Carnevale já haviam feito 2 a 0 – e Diego também tinha aparecido, com uma assistência de trivela para o tento do italiano. Ainda na etapa inicial, D10s acertou o ângulo numa das cobranças de falta que eram sua marca registrada e ainda passou para Alemão fazer o quarto.

O segundo tempo começou com mais uma lição do craque: lançamento milimétrico para Carnevale anotar o quinto. O próprio Carnevale fez o sexto e Careca marcou o sétimo, enquanto Gian Piero Gasperini e o brasileiro Edmar – ambos de pênalti – descontaram para o Pescara. A tarde infernal para o veterano Júnior, que jogou como volante e foi amplamento superado por Maradona, só acabaria depois que Careca cruzou perfeitamente para a cabeçada de Diego, aos 84 minutos. Com isso, o Barrilete Cósmico fechou a sua conta em dois gols e três assistências. [Veja aqui os melhores momentos da partida.]

Em 1988-89, Maradona também se destacou nos torneios continentais, como nas partidas contra o Bayern de Klaus Augenthaler (imago)

Juventus 3-5 Napoli, pela 6ª rodada da Serie A 1988-89

Apenas três rodadas após o chocolate contra o Pescara, o Napoli de Bianchi, Careca e Maradona voltou a protagonizar outro placar bailarino. Desde 1974, quando a Juventus aplicara um 6 a 2 no San Paolo, o clássico entre piemonteses e campanos não tinha tantos gols. No Comunale, os napolitanos ficaram quites e frustraram Gianni Agnelli, proprietário da agremiação bianconera presente na tribuna de honra, e os seus convidados ilustres: Luca Cordero di Montezemolo – empresário, político e presidente do comitê organizador da Copa do Mundo de 1990 – e Henry Kissinger, ex-secretário de estado dos Estados Unidos.

A partida, como bem ressalta a Trivela, foi um show de Careca, que anotou uma tripletta. Maradona, um pouco mais discreto, contribuiu com a assistência para Carnevale abrir o placar, aos 3 minutos, e com a ótima jogada que terminou no segundo tento do brasileiro – o do 3 a 0. A Juventus diminuiu na etapa complementar, com Roberto Galia e Oleksandr Zavarov, mas o grande parceiro de Dieguito respondeu rapidamente, encobrindo Tacconi e ampliando para 4 a 2.

Aos 77, De Agostini cobrou pênalti e voltou a reduzir a vantagem napolitana, o que levou Bianchi a sacar um cansado Diego e reforçar o sistema defensivo com Antonio Carannante. Pouco depois, Renica fechou a conta em 5 a 3, com a segunda penalidade do clássico. O argentino incentivava a equipe azzurra do banco de reservas desde que fora substituído: gritando e orientando seus colegas, ratificou a sua força como líder do elenco também sob o aspecto anímico. [Veja aqui os melhores momentos da partida.]

Diego foi o grande comandante do Napoli na Copa Uefa (imago/Kicker/Liedel)

Napoli 4-1 Milan, pela 7ª rodada da Serie A 1988-89

O sorteio da Serie A 1988-89 reservou ao Napoli o duelo contra o Milan, então campeão, logo após o clássico contra a Juventus. Para Maradona, isso não era problema algum: Diego simplesmente amassou o time treinado por Arrigo Sacchi ao se aproveitar de um dia ruim de Baresi e das famosas linhas de impedimento dos rossoneri.

Durante o primeiro tempo, o Milan superava as ausências de Ruud Gullit, Roberto Donadoni e Carlo Ancelotti, e equilibrava o jogo ao brecar Maradona com muitas faltas. A estratégia funcionou até o minuto 42, quando Em lance que mostrou como os jogadores de Bianchi estudaram bem o adversário, Diego arrancou do meio-campo e Massimo Crippa lançou em profundidade, pegando a defesa rossonera de calças curtas. Os defensores tentavam deixar os napolitanos em impedimento, mas falharam. El Diez, não: de fora da área, usou a cabeça para encobrir Giovanni Galli e pode festejar. Três minutos depois, Baresi errou duas vezes ao cortar um chutão e o Pibe só ajeitou para Careca ampliar.

Na segunda etapa, Maradona continuou desfilando qualidade, mas não se envolveu diretamente em mais nenhum gol. O Napoli ainda ampliou com Giovanni Francini e com Careca, após um belíssimo lançamento de Carannante, enquanto o Milan descontou com um pênalti cobrado por Virdis. Com o 4 a 1, o time da Campânia consumava a revanche sobre o Diavolo. Na Serie A anterior, a equipe de Milão havia ultrapassado os partenopei por conta do triunfo no confronto direto no San Paolo e encaminhado o seu 11º scudetto. [Veja aqui os melhores momentos da partida.]

Maradona teve desempenho fundamental contra o Bayern tanto na ida quanto na volta das semifinais da Copa Uefa (imago/Kicker/Liedel)

Napoli 3-0 Juventus, pela volta das quartas de final da Copa Uefa 1988-89

Em 1988-89, o Napoli não teve fôlego para faturar a Serie A e a Coppa Italia: foi vice-campeão das duas competições, mas ficou 11 pontos atrás da Inter no Italianão e perdeu a decisão do torneio de mata-mata para a Sampdoria, por um placar agregado de 4 a 1. Porém, os azzurri fizeram uma grande festa pelas ruas de Nápoles, já que conquistaram a Copa Uefa, único troféu continental de sua história. Muitos torcedores partenopei acreditam que o grande jogo daquela campanha vitoriosa tenha sido o da volta das quartas de final, que marcou uma épica reviravolta sobre a arquirrival Juventus.

O Napoli chegou a ter um pé fora da competição, uma vez que perdeu a partida de ida, em Turim, por 2 a 0, com gols de Pasquale Bruno e Giancarlo Corradini (contra). Logo aos 10 minutos, porém, a situação começou a mudar num San Paolo em reformas para a Copa de 1990, mas lotado, barulhento e enfumaçado por sinalizadores. Maradona iniciou uma jogada, na sequência, Renica deu um chutão para o ataque e Bruno cometeu um pênalti bastante desnecessário sobre Careca. Dieguito cobrou com perfeição e abriu o placar. No fim da primeira etapa, o Napoli deixou a eliminatória igual depois que Alemão roubou a bola de Massimo Mauro e ajeitou para Carnevale marcar um belo gol.

Maradona continuou a iluminar o time de Fuorigrotta na segunda etapa, mas as jogadas que criou não resultaram em gol. A partida foi para a prorrogação e El Diez pediu para ser substituído logo nos minutos iniciais, pois sentia dores musculares. Quando tudo parecia apontar para a decisão por pênaltis, o gol salvador saiu de onde menos se esperava: da cabeça de Renica. Aos 119, o zagueirão apareceu na área e, como atacante, levou o estádio ao êxtase com a virada. O Napoli era semifinalista europeu. [Veja aqui os melhores momentos da partida.]

No San Paolo, Maradona cumprimenta Guido Buchwald, capitão do Stuttgart (imago/Pressefoto Baumann)

Napoli 2-0 Bayern Munique, pela ida das semifinais da Copa Uefa 1988-89

Nas semifinais da Copa Uefa, o Napoli encarou o Bayern Munique, que era treinado por Jupp Heynckes e tinha no elenco jogadores como os defensores Klaus Augenthaler, Stefan Reuter e Erland Johnsen, os meio-campistas Olaf Thon e Hansi Flick e os atacantes Roland Wohlfarth e Johnny Ekström – este último, contratado junto ao Empoli. Seguramente, ainda era um time forte, mas enfraquecido em relação ao da temporada anterior. No verão de 1988, os bávaros haviam perdido o atacante Mark Hughes (voltava ao Barcelona em fim de empréstimo) e negociado o goleiro Jean-Marie Pfaff (Lierse), o meia-atacante Michael Rummenigge (Borussia Dortmund), o lateral-esquerdo Andreas Brehme e o craque Lothar Matthäus (ambos com a Inter).

O Napoli tinha mais time e tudo para se impor no San Paolo. Contudo, quem assustou primeiro foi o Bayern, quando Thon experimentou um chute violento e o goleiro Giuliani rebateu para longe. Dieguito, é claro, foi o responsável por tranquilizar a situação. Aos 40 minutos, tentou um passe em profundidade para Careca e Reuter não conseguiu efetuar o corte. O brasileiro aproveitou, carregou e fuzilou o arqueiro Raimond Aumann.

No início da segunda etapa, El Diez criou uma jogada que, por pouco, não resultou em golaço: enfiou para Careca, que cruzou para Carnevale, de peixinho, acertar a trave. Aos 59, o cruzamento foi do próprio Pibe e, dessa vez, o centroavante napolitano não falhou. Carnevale subiu mais alto do que a defesa dos Roten e deixou Aumann na saudade. No finalzinho, um corte providencial de Corradini numa infiltração de Hans Dorfner manteve o placar inalterado e deixou os napolitanos com uma ótima vantagem para desfrutar na viagem à Alemanha. [Veja aqui os melhores momentos da partida.]

De pênalti, Maradona inicia reação contra o Stuttgart (imago/Kicker/Liedel)

Bayern Munique 2-2 Napoli, pela volta das semifinais da Copa Uefa 1988-89

A ótima vitória no San Paolo, com toda a superioridade mostrada sobre o Bayern Munique, relaxou o Napoli. Isso era perceptível desde o aquecimento. O trabalho de Diego no Olympiastadion antes da semifinal de volta contra os alemães entrou para a história: Maradona, com cadarços das chuteiras desamarrados, faz embaixadinhas e dança ao som de Live Is Life, canção do grupo austríaco Opus.

Com a bola rolando, a tranquilidade napolitana se contrapunha à afobação bávara. Aos 61 minutos, então, Renica lançou Careca, que escorou de cabeça para Maradona. Augenthaler interceptou o passe e recuou para Norbert Nachtweih, mas o lateral-direito furou feio, e logo à frente de Dieguito. Imperdoável: o Pibe d’Oro recuperou a posse e só ajeitou para Careca empurrar para o gol de Aumann. O Bayern Munique precisaria fazer quatro gols para ir à final.

Os Roten chegaram a ter um breve sinal de esperança logo no ataque seguinte ao tento partenopeo, quando Giuliani saiu mal em cobrança de escanteio e Wohlfarth empatou a contagem. O Napoli acalmou um pouco o jogo e o matou aos 76, em novo erro crasso de Nachtweih. Com o time do Bayern quase todo na área italiana, o lateral entregou de graça para Crippa, que lançou Maradona. Diego e Careca estavam sendo vigiados apenas por Reuter, que não teve o que fazer quando o argentino passou para o brasileiro anotar sua doppietta. O próprio Reuter ainda empatou com um chute da meia-lua, mas o Napoli já era finalista da Copa Uefa. [Veja aqui os melhores momentos da partida.]

A dura marcação não foi capaz de parar Diego nas finais contra o Stuttgart (imago)

Napoli 2-1 Stuttgart, pela ida das finais da Copa Uefa 1988-89

O Napoli chegava à decisão europeia, contra o Stuttgart, com o posto de favorito. O elenco azzurro era mais forte do que o plantel dos suábios, cujos destaques eram o goleiro Eike Immel, o zagueiro (e capitão) Guido Buchwald, os meio-campistas Srecko Katanec, Karl Allgöwer, Ásgeir Sigurvinsson e Maurizio Gaudino, e os atacantes Fritz Walter e Jürgen Klinsmann. Seu técnico era o holandês Arie Haan, que disputara duas Copas do Mundo e uma Euro como atleta de uma fortíssima Oranje.

Porém, se teve vantagem durante quase todo o confronto com o Bayern, o Napoli sofreu um pouco contra o Stuttgart. Logo aos 17 minutos, Giuliani engoliu um frango ao deixar passar um chute de longa distância de Gaudino, o único adversário de origem não só italiana como também campana: os pais do meia-atacante haviam nascido em Caserta e… Nápoles.

Maradona era o centro da reação azzurra. O argentino criou todas as chances perigosas do time da casa até receber uma mãozinha – ou duas. El Diez aproveitou a sobra de uma bola cruzada na área, ajeitou no peito e usou seu braço para a pelota não escapar de seu raio de ação. Quando chutou, acertou a mão de Günther Schäfer e o árbitro Gerasimos Germanakos apontou para a marca da cal. Especialista, Dieguito apenas deslocou Immel para empatar.

Obviamente, o Pibe resolveria a peleja mais à frente. Aos 87, Carnevale agasalhou um lançamento de Renica para a área e ajeitou para Maradona dar um corte de cinema em Jürgen Hartmann e só ajeitar para Careca, que venceu a marcação de Buchwald e mandou para as redes: era a sexta assistência de Diego e o quinto gol do brasileiro na competição. Eles se completavam e estavam a apenas um jogo de comemorarem seu primeiro título juntos. [Veja aqui os melhores momentos da partida.]

O clima tenso de Nápoles não se repetiu na Alemanha e Maradona pode celebrar seu único troféu internacional (imago)

Stuttgart 3-3 Napoli, pela volta das finais da Copa Uefa 1988-89

Num Neckarstadion invadido pela tifoseria azzurra, o Napoli não encontrou as mesmas dificuldades do jogo de ida e colocou uma mão e meia na taça da Copa Uefa ainda no primeiro tempo. Logo aos 17 minutos, Maradona iniciou uma jogada com Alemão no meio-campo – embora Katanec tenha efetuado uma entrada dura. O volante arrancou, tabelou com Careca e abriu o placar com maestria. A partida estava controlada até os 27 minutos, quando Giuliani cometeu mais um erro clamoroso: Sigurvinsson cobrou escanteio, o arqueiro perdeu o tempo de bola e Klinsmann empatou, de cabeça.

O Napoli retomou a tranquilidade aos 39 minutos, também numa jogada de escanteio. Após um primeiro corte da defsa suábia, Maradona descolou um incrível passe de cabeça, que surpreendeu os alemães e deixou Ferrara livre para fazer 2 a 1. O terceiro azzurro veio no segundo tempo, em mais um lance de sinergia entre Diego e Careca. O Stuttgart estava lançado ao ataque e um corte de Ferrara acabou acionando o atacante brasileiro: sua casquinha lançou El Diez em profundidade e aí ficou fácil. A marcação de Hartmann foi superada sem problemas e o argentino deu sua oitava assistência na Copa Uefa, liberando o campo para que Careca, de cavadinha, desse o golpe final.

Relaxadíssimo, ciente de que a taça seria sua, o time italiano se deu ao luxo de fazer Careca descansar mesmo depois que De Napoli marcou um gol contra bizarro e reduziu a vantagem. O meia ainda falhou num dos últimos lances da decisão, quando tentou recuar para Giuliani e deu um presente para Olaf Schmäler empatar. O 3 a 3 não refletia quão confortável havia sido a partida napolitana, mas não importava: o resultado deu ao Napoli sua primeira (e única) Copa Uefa, e também marcou o início da soberania italiana na competição, que durou até o fim da década seguinte. [Veja aqui os melhores momentos da partida.]

Diego e a taça que era sua mais do que de ninguém (imago)

Napoli 3-0 Milan, pela 7ª rodada da Serie A 1989-90

Apesar da conquista da Copa Uefa, a campanha do Napoli não terminou da melhor forma em 1988-89. O técnico Bianchi rompeu com o presidente Ferlaino e os rumores de sua partida começaram a circular nas rodadas finais da Serie A – disputadas um mês depois do título europeu. Maradona também estava em pé de guerra com o dirigente.

Havia, segundo o jogador, um acordo com o mandatário para negociá-lo após o título europeu, que encerraria o seu ciclo em Nápoles. Como sabemos, isso acabou não se concretizando, mas o torcedor partenopeo ficou ciente desse cenário antes mesmo do fim da temporada. O Diego Armando Maradona polêmico e problemático, com vida extracampo cada vez mais misturada com o mundo do futebol, nascia ali: aquela situação foi o estopim.

Em junho de 1989, o mundo soube que Maradona estava negociando com o Marseille, do ricaço Bernard Tapie. No mesmo mês, Diego chegou a ser acusado de corpo mole e foi vaiado ao ser substituído, por um estiramento, no empate por 0 a 0 com o Pisa. Furioso, o Pibe quase agrediu um policial e deixou o estádio antes mesmo de a partida terminar.

Durante o verão europeu de 1989, El Diez emitiu declarações sobre sua saída da Itália e evocou problemas pessoais para justificar o seu desejo de trocar de clube: o direito à privacidade (negada pela paixão obsessiva da cidade por seu ídolo), a vontade de passar mais tempo com os filhos e até ameaças à sua família. Eram situações que de fato o afligiam, mas é verdade que Diego também não estava satisfeito com a quebra do pacto feito com o presidente e com os rumos esportivos tomados pelo Napoli. A escolha de Albertino Bigon para substituir Bianchi, por exemplo, não o agradava.

A novela durou toda a estação, na qual Maradona esteve no Brasil (onde disputou a Copa América) e na Argentina (de férias), mas a decisão de Ferlaino já estava tomada: não liberaria o craque. Em 4 de setembro, Diego retornou a um país ainda chocado pela morte prematura de Gaetano Scirea, um dia antes. O fantasista não se acertou em definitivo com Ferlaino e o diretor Luciano Moggi, mas a trégua foi declarada e o jogador foi reintegrado ao grupo depois de se desculpar com os colegas por toda a celeuma e por fotos suas – feitas três anos antes, mas vazadas à imprensa à época de sua volta à Itália – na mansão dos chefões camorristas Carmine e Raffaele Giuliano.

Maradona perdeu as quatro primeiras rodadas da Serie A e as duas primeiras partidas da Coppa Italia. E, por duas ocasiões, também a camisa 10, dada provisoriamente a Massimo Mauro. Ainda sem condições ideais de jogo, Diego começou no banco na partida da Copa Uefa contra o Sporting, no dia 12 de setembro, em Portugal, e vestiu a 16 – o que só ocorreu em outras nove partidas pelo clube. No dia 17, também com a 16, reencontrou o público do San Paolo e foi ovacionado. O argentino saiu do banco quando a equipe perdia por 2 a 0 para a Fiorentina (com dois de Robi Baggio) e, ainda frio, perdeu um pênalti com apenas dois minutos em campo. Mas conduziu a virada com assistência para Corradini aos 89.

A paz com a torcida estava feita e foi tão ratificada quanto consolidada duas rodadas depois, em pleno San Paolo, com uma brilhante vitória sobre o Milan de Sacchi. Já no time titular, Maradona iluminou o seu time no jogaço aos 19 minutos, quando cruzou para Ferrara desviar e Carnevale abrir o marcador. Aos 45, El Diez encontrou o centroavante diretamente, em cobrança de falta no costado da zaga rossonera, e ajudou o Napoli a ampliar.

Além de sua visão de jogo incomparável, Dieguito pode mostrar a sua magia no fim da partida, quando recebeu de Mauro nas costas de Baresi e Alessandro Costacurta, e superou Galli com uma finta e uma cavadinha que definiram o triunfo por 3 a 0. O Pibe ainda saiu de campo vestindo a mítica camisa 6 de Baresi: um troféu e tanto. [Veja aqui os melhores momentos da partida.]

Sob o olhar de Careca, Maradona duela com Matthãus (Arquivo/Inter)

Napoli 2-0 Inter, pela 9ª rodada da Serie A 1989-90

Duas rodadas depois da vitória sobre o Milan, o Napoli recebeu a arquirrival rossonera. A Inter de Trapattoni, Matthäus, Klinsmann, Nicola Berti, Giuseppe Bergomi e tantos outros craques amarrou a partida, tida como uma das mais complicadas da campanha partenopea em 1989-90. Nem mesmo a lesão do goleiro Walter Zenga – e a entrada do folclórico Astutillo Malgioglio – facilitaram a vida dos donos da casa.

O placar ficou zerado até os 75 minutos, quando Maradona inventou um cruzamento com uma puxeta e desestabilizou a defesa nerazzurra. Alemão aproveitou a sobra e ajeitou para Careca fazer o primeiro da partida. Atrás no placar, a Inter foi em busca do empate e acabou tendo de parar os muitos contra-ataques que passou a sofrer com faltas – o que levou à expulsão do zagueiro Corrado Verdelli. Com espaço e a defesa adversária desarrumada, Dieguito não perdoou: aos 84, concluiu um contragolpe puxado por Alemão e só colocou no cantinho da baliza rival. [Veja aqui os melhores momentos da partida.]

Alemão foi um grande parceiro de Maradona, principalmente nas temporadas 1988-89 e 1989-90 (imago)

Napoli 3-1 Juventus, pela 30ª rodada da Serie A 1989-90

Em 1989-90, Maradona teve a sua temporada mais prolífica na Serie A, com 16 gols marcados. Doppiette, foram duas, e em jogos nada banais: vitórias por 3 a 1 sobre Roma e Juventus. Contra a Velha Senhora, a dobradinha de Diego foi fundamental para que o Napoli continuasse vivo na busca pelo segundo scudetto, já que manteve o time apenas um ponto atrás do Milan, que liderava a competição naquele momento, faltando apenas quatro partidas para o encerramento do certame.

A canhotinha de Dieguito estava calibradíssima naquele sábado de fim de março. Aos 13 minutos, o argentino aproveitou uma bola espirrada e, de dentro da área, pensou rápido para girar e abrir o placar. Aos 28, cobrou uma falta com perfeição e, pela última vez na carreira, deixou Tacconi furioso com um gol de sua autoria. Diante da melhor exibição do Napoli naquela temporada, a Juventus só conseguiu marcar de pênalti, com De Agostini.

Só que Maradona estava mesmo impossível. Lances geniais e arrancadas que deixavam a defesa bianconera em parafuso não se transformaram em gol, assim como um cruzamento perfeito para Marco Baroni. Aos 64 minutos, porém, o Pibe d’Oro cobrou escanteio, Careca deu prosseguimento à jogada e Francini marcou. O show azzurro poderia ter sido maior se o atacante brasileiro não tivesse acertado a trave após superar Tacconi, mas o placar era suficiente, de qualquer forma. Tanto que, antes do fim da partida, Bigon ainda concedeu a Diego a ovação do San Paolo, ao substitui-lo aos 84. [Veja aqui os melhores momentos da partida.]

A última alegria: após vencer a Lazio, Maradona celebrou o segundo scudetto napolitano (Liverani)

Napoli 1-0 Lazio, pela 34ª rodada da Serie A 1989-90

Um empate do Milan contra o Bologna, na 31ª rodada, e uma derrota para o Verona, na 33ª, permitiram ao Napoli assumir a liderança do campeonato. Para dar o troco nos rossoneri e consolidar a revanche da temporada 1987-88 – na qual o Diavolo venceu o confronto direto, ultrapassou os azzurri e ficou com o título –, o time da Campânia precisaria bater, na jornada derradeira, uma Lazio desinteressada e, assim, garantir o scudetto.

Na rodada anterior, Maradona marcou um dos gols na grande vitória por 4 a 2 sobre o Bologna, que valeu a ultrapassagem sobre o Milan. Contra a Lazio, o Pibe foi um pouquinho mais discreto: efetuou “apenas” um lançamento de 30 metros, em cobrança de falta, para Baroni marcar o gol do cotejo, aos 7 minutos. Depois do tento, o Napoli só administrou o resultado até o apito final e, então, festejou o bicampeonato e a paz selada entre o craque e o presidente. Incentivado pelo repórter Gian Piero Galeazzi, Dieguito encerrou 1989-90 entrevistando Ferlaino e trocando elogios com o cartola. [Veja aqui os melhores momentos da partida.]

Aquele seria o último grande momento do craque em Nápoles – ainda que a equipe tenha vencido a Juventus por 5 a 1 na Supercopa Italiana de 1990, meses depois. Em 1990-91, Diego até marcou 10 gols em 26 partidas, mas teve muitos problemas físicos e extracampo: as polêmicas só aumentavam. Depois que o exame antidoping realizado num jogo contra o Bari apontou a presença de cocaína em seu corpo, o Pibe realizou sua última partida pelo clube contra a Sampdoria, na qual marcou o gol de honra na derrota por 4 a 1. Suspenso por um ano e meio pela Fifa, foi vendido pelo Napoli ao Sevilla em setembro de 1992 e nunca teve uma partida de despedida pelos azzurri.

Compartilhe!

Deixe um comentário