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O zagueiro Daniele Adani encontrou o seu auge numa Fiorentina em crise

Conhecido pela compostura na marcação e com a bola nos pés, Daniele Adani foi um dos zagueiro de maior sucesso no futebol italiano das décadas de 1990 e 2000. Ainda que tenha recebido poucas oportunidades na seleção, devido à forte concorrência no setor, Lele cumpriu as expectativas que inspirou depois de surgir no Modena e teve uma carreira de sucesso, com destaque para suas passagens por Brescia, Fiorentina e Inter.

Daniele nasceu em Correggio, uma pequena cidade italiana na província de Reggio Emilia, em 1974. Cresceu na vizinha San Martino in Rio e lá começou a trajetória esportiva, na base da Sammartinese, antes de – ainda nos tempos de juvenil – passar ao Modena, um dos principais times das redondezas. Sua estreia como profissional ocorreu justamente pelos canarini, na Serie B 1991-92, quando tinha apenas 18 anos.

No Modena, Adani teve um grande professor: Giuseppe Baresi, que estava no fim de sua carreira. Depois de ser inserido pouco a pouco no time profissional em 1992-93, o zagueiro se tornou titular na temporada seguinte e foi um dos jogadores mais utilizados, juntamente a seu tutor e a Enrico Chiesa, artilheiro dos emilianos. Apesar das boas atuações do trio, os gialloblù foram rebaixados para a Serie C1.

No Modena, ainda garoto, Adani ganhou espaço entre os titulares e se destacou na segunda divisão (Arquivo/Modena)

Pela boa impressão deixada em 49 aparições pelo Modena, o defensor foi adquirido pela Lazio. Com 20 anos, Adani teve muitas dificuldades de encontrar espaço: jogou uma partida de Coppa Italia, justamente contra o time que o revelou, e ficou no banco numa rodada da Serie A. Em novembro, acabou se transferindo para o Brescia, que também estava na elite da Velha Bota.

Adani fez a sua estreia na Serie A num empate sem gols contra a Roma e rapidamente se consolidou como titular numa equipe que tinha nomes envelhecidos na defesa, como Sergio Battistini e Giovanni Francini. O zagueiro fez 20 jogos na competição, mas não conseguiu evitar uma marca vexatória: o Brescia somou apenas 12 pontos e se tornou o pior time da história do campeonato. Até hoje, nenhuma outra formação teve um desempenho tão negativo quanto o dos lombardos.

O jovem Lele continuou no clube para a disputa da Serie B e, consolidado como titular, ajudou os biancazzurri a se livrarem de um novo rebaixamento na última rodada da segundona. Em 1996-97, foi a vez da volta por cima: potencializado pelo técnico Edy Reja, Adani integrou uma das melhores defesas do campeonato e foi vital na campanha que culminou no título dos andorinhas. O beque foi o jogador com mais aparições pelo Brescia, sendo um dos destaques do time, juntamente a Andrea Pirlo e Cristiano Doni.

Ao longo de cinco anos pelo Brescia, Lele Adani mostrou solidez e conquistou um título (imago)

Envolvido em atritos nos bastidores e na instabilidade do presidente Gino Corioni, o Brescia retornou à segunda divisão de imediato – acabou rebaixado na penúltima rodada. Adani, mais uma vez, fez uma temporada de alto nível e chegou até a marcar quatro gols. Mesmo assim, permaneceu no clube e só saiu em 1999, após os lombardos não conseguirem um novo acesso à elite do futebol italiano. Lele não renovou o seu vínculo e, então, assinou com a Fiorentina a custo zero.

A Viola vinha de uma temporada relativamente frustrante, na qual chegou a liderar a Serie A por algumas rodadas, mas não conseguiu manter o ritmo e se tornar campeã italiana. Adani, então com 25 anos, faria parceria na zaga com Tomás Repka e Alessandro Pierini, ajudando a proteger a baliza defendida por Francesco Toldo e contribuindo para sustentar craques como Rui Costa, Abel Balbo, Gabriel Batistuta e Chiesa. Treinada por Giovanni Trapattoni, a equipe não repetiu o desempenho de 1998-99 e terminou na sétima posição do campeonato nacional, além de ter parado nas quartas da Coppa Italia e na segunda fase de grupos da Champions League.

No ano seguinte, a Fiorentina redimensionou as suas expectativas a partir das saídas de Batistuta e Trapattoni. Adani, consequentemente, também. O zagueiro se manteve como titular, mas passou a sentar mais vezes no banco devido aos rodízios implementados por Fatih Terim, primeiramente, e Roberto Mancini, na sequência. Mesmo assim, disputou os dois jogos das finais da Coppa Italia, que a equipe violeta conquistou sobre o Parma.

Na Fiorentina, o zagueiro viveu os melhores momentos da carreira, sob o aspecto técnico, e os piores no extracampo (Allsport)

Em 2001-02, Adani se viu no olho do furacão. A crise financeira que já acometia a Fiorentina se agravou e o presidente Vittorio Cecchi Gori – mesmo após ter vendido Batistuta, Toldo, Rui Costa e jogadores menos badalados – não conseguiu honrar com o pagamento regular dos salários dos atletas. A situação impactou negativamente nas prestações da equipe, que flertava com o rebaixamento.

Lele, porém, mantinha um bom nível: o zagueiro, que estreara na seleção italiana por obra de Trapattoni, em amistoso realizado em novembro de 2000 (vitória por 1 a 0 sobre a Inglaterra), foi convocado para a Nazionale duas vezes durante a periclitante campanha violeta. A forte concorrência, com nomes como Fabio Cannavaro, Alessandro Nesta, Marco Materazzi, Paolo Maldini, Mark Iuliano e Christian Panucci, por exemplo, limitou as suas oportunidades com a camisa azzurra.

Ao fim da temporada, a Fiorentina terminou rebaixada, na penúltima posição. E, pior, falida. Neste cenário, os jogadores tiveram os seus vínculos automaticamente quebrados com a agremiação e Adani, após 103 partidas e sete gols pelo time de Florença, mudou de ares – novamente como agente livre. O seu destino foi a Inter, para onde se transferiu juntamente ao também ex-gigliato Domenico Morfeo. Em Milão, eles reencontraram Toldo e, depois, Batistuta.

Adani defendeu a seleção italiana, mas teve poucas oportunidades de se firmar com a camisa azul (Getty)

Treinada por Héctor Cúper, aquela equipe da Inter tinha um grande número de zagueiros no plantel, uma vez que o técnico costumava experimentar uma primeira linha formada por três homens. Enquanto Cannavaro, Materazzi e Iván Córdoba partiam com vantagem, Adani brigava por espaço com Carlos Gamarra. Quando assinou o contrato, o emiliano já sabia que começaria como reserva, mas certamente não imaginava que seria utilizado apenas 11 vezes em 2002-03. Nesta temporada, concluída com o vice-campeonato da Serie A e a eliminação nas semifinais da Champions League, acabou marcando um gol importante para a vitória por 4 a 3 sobre o Empoli.

Na temporada 2003-04, a Inter começou com muitos problemas: apesar de montar um time caro, obteve resultados ruins no campeonato nacional (duas vitórias, três empates e uma derrota no dérbi local), o que levou à demissão de Cúper. Alberto Zaccheroni foi nomeado como substituto e isso resultou em mais oportunidades para Adani. Lele atuou em 34 partidas e mostrou muita presença de área, já que balançou as redes em quatro ocasiões.

Pela Coppa Italia, o zagueiro teve o seu grande momento com a camisa nerazzurra. Na partida de volta das semifinais, a Inter perdia de virada para a Juventus quando Adani foi para o ataque como um centroavante e aproveitou o rebote do goleiro Antonio Chimenti para fazer 2 a 2, aos 95 minutos. A Beneamata perderia a vaga nos pênaltis, mas o tento reverberou fora dos gramados. Lele o dedicara a um torcedor interista de 15 anos chamado Francesco, que estava desaparecido havia uma semana. Após a dedicatória do jogador, o adolescente repensou a fuga para Gênova e voltou para sua casa, situada na província de Brescia, no dia seguinte.

Foi na Inter que Adani viveu os seus últimos bons momentos como atleta profissional (imago)

Brescia também foi o destino de Adani após o fim de mais um ano de resultados pouco expressivos numa Inter que sonhava com títulos. O zagueiro retornou ao clube em que estreara na elite no verão de 2004, mas rescindiu o seu contrato em março de 2005, depois de atritos com os torcedores. Os biancazzurri terminariam a Serie A rebaixados outra vez e Lele encerraria o seu percurso pela equipe com 178 aparições, somando as duas passagens.

Adani continuou na primeira categoria até 2008, representando Ascoli e Empoli, mas quase não entrou em campo: fez somente 25 partidas ao longo de três temporadas, sendo três pelo time bianconero e 22 pelos azzurri. Em cada um dos clubes, obteve a permanência na elite uma vez – com a formação toscana, acabou rebaixado na segunda época. Lele, então, encerrou a sua trajetória entre os profissionais e voltou a representar a Sammartinese, da oitava divisão, até se aposentar, aos 36 anos, em 2011.

À época, Lele já havia iniciado a sua trajetória numa nova profissão: a de comentarista esportivo. Com exceção de um breve período como auxiliar do Vicenza, em 2011, Adani passou a se dedicar inteiramente ao ofício e, em 2014, chegou a recusar a proposta de Mancini para se tornar seu assistente na Inter. O ex-zagueiro teve um grande começo com os microfones e foi tido como um dos principais analistas do país, mas sucessivas discussões como treinadores e frases consideradas arrogantes mancharam um pouco a sua imagem. Depois de passar por Sportitalia e Sky Sport, Daniele foi confirmado como uma das vozes na versão italiana do Fifa 22 e se tornou colaborador da Gazzetta dello Sport.

Daniele Adani
Nascimento: 10 de julho de 1974, em Correggio, Itália
Posição: zagueiro
Clubes: Modena (1991-94), Lazio (1994), Brescia (1994-99 e 2004-05) Fiorentina (1999-2002), Inter (2002-04), Ascoli (2005-06), Empoli (2006-08) e Sammartinese (2009-11)
Títulos: Serie B (1997) e Coppa Italia (2001)
Seleção italiana: 5 jogos

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