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Fabrizio Cammarata: de joia da Juventus a eterna promessa

O futebol italiano é repleto de ex-jovens talentos, de grandes esperanças, que acabaram convertendo suas carreiras em verdadeira peregrinação por clubes e cidades diversas. O atacante Fabrizio Cammarata, que encerraria sua carreira na Sulmona, da pequena cidade homônima da província de L’Aquila, nos Abruzos, é um destes casos. Foi uma das tantas “aventuras” do jogador, ex-colega de ataque de Alessandro Del Piero, nas divisões mais humildes do futebol da Bota.

Nem sempre foi assim, evidentemente. Nascido em Caltanissetta, a 30 de agosto de 1975, Fabrizio Cammarata iniciou sua carreira entre os juniores da Juventus nos primeiros anos da década de 1990. Na temporada 1993-94, em dupla com Del Piero, fez parte da histórica equipe de primavera juventina que venceu o scudetto da categoria e o torneio de Viareggio. O siciliano, até então, era um jogador acostumado às convocações das seleções de base, e apontado como uma das boas revelações da base juventina.

A estreia de Cammarata entre os profissionais aconteceria uma temporada depois (1994-95), na Serie B, atuando pelo Hellas Verona. Foi uma temporada de transição para o clube de Verona, e, inicialmente, o atacante sentiu o peso da mudança de ares; na temporada seguinte, porém, Cammarata foi um dos grandes destaques da campanha que reconduziu o clube vêneto à Serie A. Seu primeiro jogo na máxima série também seria realizado pelo Hellas, em 1996, contra o Bologna. Neste mesmo ano, teve mais uma passagem pelas seleções de base da Itália.

Com seu corte de cabelo peculiar, Cammarata não se deu bem no Pescara, pela segundona italiana (Arquivo/Pescara Calcio)

O primeiro ciclo de Cammarata no Hellas Verona foi encerrado com 18 gols. Na mesma temporada (1996-97) ele retornaria à Serie B, desta vez para defender o Torino. Mas não conseguiria repetir a boa performance das temporadas passadas no clube granata, atrapalhado por constantes contusões: marcou apenas três gols. Em 1997-98, realizou a primeira de suas apagadas passagens pelo Pescara. Mais uma vez, as lesões atrapalharam os planos do atacante, que marcou pálidos cinco gols em 28 jogos.

Na temporada seguinte, Cammarata reencontrou o Verona em situação muito parecida com a de anos atrás e desmoralizado por uma permanência na Serie B que viera a poucas rodada do final de 1997-98. Mas cresceu na adversidade. Ajudado por bons companheiros de jogo, como Morfeo, e orientado por Cesare Prandelli, até então um técnico desconhecido, Fabrizio foi o verdadeiro condutor do ataque gialloblù no título da Serie B daquela temporada. Na seqüência, pela Serie A, Cammarata outra vez mostrou-se decisivo nos jogos-chave para a permanência do Hellas na categoria: seus gols tiraram a esperança do Milan de ganhar o scudetto (1 a 1) e formaram uma célebre doppietta contra a Juventus (2 a 0) todos jogos acontecidos em Verona – este último, que selou a permanência matemática do clube na Serie A.

Como um herói, com 24 gols em 61 jogos, Cammarata despediu-se de Verona e rumou para Cagliari, novamente trocando a Serie A pela B numa transação de milhões que não rendeu os resultados esperados. Embora tenha conquistado mais uma vez a Serie B, em 2003-04, ele precisou de quatro temporadas, repletas de contusões, para repetir os mesmos 24 gols que marcara em sua última passagem no Hellas. Ao fim das contas, o público sardo sentiu muito mais gratidão ao atacante Gianfranco Zola do que ao esforçado Fabrizio.

No Verona, Cammarata teve o único período de brilho de sua carreira e ganhou o carinho da torcida gialloblù (Arquivo/Hellas Verona FC)

O Parma, em 2004, foi o último clube pelo qual Cammarata disputou partidas na Serie A e na Europa, via Copa Uefa. Mas a passagem pela Emília-Romanha foi desastrosa e terminou sem um único gol. Desde então, Fabrizio foi sentenciado como uma “eterna promessa” e passou a fazer seguidas peregrinações entre a Serie B e a atual Lega Pro.

A primeira delas, em Catanzaro, pela Serie B (2004-05) acabou com apenas um gol e um clamoroso rebaixamento à extinta Serie C1 com quase seis rodadas de antecedência. Em 2005-06, uma nova oportunidade na Serie B, novamente com o Pescara, numa temporada em que conseguiu regularidade de jogo, mas não de gols: apenas sete bolas nas redes adversárias em 34 partidas.

Foi o estopim para que Cammarata descesse mais uma categoria, indo agora para Taranto, jogar na Serie C1, que seria rebatizada como Lega Pro Prima Divisione pouco depois. Na Apúlia, fez duas boas temporadas, novamente com poucos gols (apenas nove, no total), mas com um jogo coletivo que fez lembrar um pouco de sua boa forma. A recompensa foi a aquisição de seu passe por parte da Salernitana, que voava rumo à segundona. A má sorte, porém, voltou a dar as caras e em meio a muitas contusões, conseguiu apenas nove jogos disputados e nenhum gol marcado – muito embora tenha posto em seu currículo o título da ex-C1 de em 2007-08.

No Parma, de forma até inesperada, Cammarata fez seus últimos jogos no mais alto nível do futebol (AFP/Getty)

No começo da temporada 2008-09, Cammarata foi vendido à Pro Patria, que, à beira da falência, montou um time excelente (ainda que ilegalmente, de acordo com seus balanços) e lutou até a última rodada pela Serie B; lá, também, Fabrizio não encontrou espaço e nem os gols. No meio da mesma temporada, foi para a pequena San Benedetto del Trento, jogar pela Sambenedettese, onde voltou a marcar, mas não o suficiente para livrar o clube do rebaixamento – muito ajudado, também, pelos escândalos financeiros que decretariam sua falência e desfiliação.

Em 2009, Cammarata desceu mais um degrau das divisões do futebol italiano: foi para a Lega Pro Seconda Divisione defender a Pro Vasto, que lutava para permanecer na categoria. Fabrizio marcou nove gols e foi sido um jogador importante para evitar o descenso dos biancorossi – talvez não a ponto de lembrar seus melhores dias, mas, seguramente, sendo um toque de classe em uma categoria tão desprovida de técnica.

Depois, o atacante seguiu nos Abruzos, militando pela Renato Curi Angolana, na Serie D, e na Sulmona, já na Eccellenza, a sexta divisão nacional. Por lá, faturou a Coppa Italia regional dos amadores em seu ano de despedida dos gramados – e de estreia na prancheta. Após se dividir entre as funções na equipe biancorossa, voltou ao Pescara para ter vários cargos como técnico na base e, a partir de então, rodar o mundo: foi treinador do sub-17 do Terek Grozny, na Rússia; comandante do Dinamo Tirana e do Apolonia Fier na segundona albanesa; assistente do Melbourne Victory, da Austrália; e professor do sub-21 do Al-Nasr, dos Emirados Árabes Unidos, com breve período como interino do time principal.

Fabrizio Cammarata
Nascimento: 30 de agosto de 1975, em Caltanissetta, Itália
Posição: atacante
Clubes como jogador: Juventus (1993-94), Verona (1994-96 e 1998-2000), Torino (1996-97), Pescara (1997-98 e 2005-06), Cagliari (2000-04), Parma (2004), Catanzaro (2004-05), Taranto (2006-08), Salernitana (2008), Pro Patria (2008-09), Sambenedettese (2009), Pro Vasto (2009-10), Renato Curi Angolana (2010-11) e Sulmona (2011-12)
Títulos como jogador: Copa Viareggio (1994), Campeonato Primavera (1994), Serie B (1999 e 2004), Serie C1 (2008) e Coppa Italia da Eccellenza (Regional Abruzos, 2012)
Clubes como treinador: Sulmona (2011-12), Dinamo Tirana (2019-20), Apolonia Fier (2021) e Al-Nasr (interino; 2023)
Títulos como treinador: Coppa Italia da Eccellenza (Regional Abruzos, 2012)

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