Num dos grandes jogos da temporada, Milito abriu o placar na grande vitória da Inter sobre o Milan, com um a menos desde o primeiro tempo, após expulsão de Sneijder (Reuters)
Em uma temporada na qual a Serie A ganhou contornos dramáticos até o fim, nada mais justo do que elencar os melhores jogos que fizeram desta edição uma das melhores dos últimos anos. Por isso, o Quattro Tratti traz, pra você, leitor, uma lista dos dez melhores confrontos ocorridos em 2009-10 no futebol da Itália. Na nossa lista, uma prévia do nosso tradicional review da temporada, tem de tudo: polêmicas arbitrais, goleadas históricas, empates suados e viradas nos acréscimos. Comece a relembrar a Serie A recém-terminada por aqui.
10) Inter 0-0 Sampdoria, 25ª rodada O primeiro jogo da nossa lista traz uma das grandes tônicas da temporada: as polêmicas com a arbitragem e com a imprensa, que envolveram sobretudo José Mourinho, técnico da Inter. Os donos da casa enfrentavam a Sampdoria, em período crescente, e tiveram Samuel e Cordoba expulsos pelo árbitro Paolo Tagliavento ainda no primeiro tempo. Entre a desmedida revolta interista, destacou-se a de José Mourinho que, depois do segundo vermelho, cruzou os pulsos em sinal de desaprovação, gesto que lhe rendeu uma suspensão de três jogos e um silêncio à imprensa que durou até o fim da Serie A.
Com nove e tendo de correr mais na partida que antecedia o jogo de ida das oitavas da Liga dos Campeões contra o Chelsea, a Inter foi melhor que uma Sampdoria sem Cassano, afastado naquele momento da temporada por Luigi Del Neri. O time da casa ainda esteve perto de vencer, mas Eto’o perdeu um gol incrível no fim do segundo tempo, após grande jogada de Pandev. A esterilidade ofensiva da Samp, aumentada após a expulsão de Pazzini, ainda esbarrava na ótima partida de Zanetti e Cambiasso, deixados de fora da Copa do Mundo por Maradona. Sem Mourinho no banco e atravessando um nervosismo acima da média, a Inter começava a atravessar sua fase menos prolífica no campeonato, permitindo que Roma e Milan se aproximassem. Já a Sampdoria mostrou que aquela foi uma de suas piores partidas no campeonato, encadeando uma ótima série e chegando à histórica classificação para a LC.
9) Cagliari 3-3 Napoli, 16ª rodada Em jogo que se destacou mais pela forma como foi construída o resultado, Cagliari e Napoli desfilaram também nesta ocasião o bom futebol de toda a temporada. Os rossoblù comandados por Massimiliano Allegri demonstraram, por algum tempo, o futebol mais vistoso de todo o campeonato, enquanto o Napoli de Walter Mazzarri se destacou por um jogo veloz e compacto no ataque. Na primeira etapa, Lavezzi deu um show e ainda fez um golaço. Depois, o Napoli pressionou muito, até aumentar com Pazienza, após escanteio. Mas o Cagliari reagiu, com um improável Larrivey e chegou ao empate com uma cabeçada do artilheiro Matri, 13 gols no campeonato e que chegou a seu sétimo gol em sete jogos seguidos, igualando o recorde de Riva, há 38 anos.
Larrivey, objeto misterioso do elenco sardo, ainda salvaria o time cortando uma bola em cima da linha, antes de Jeda virar o jogo aos 44 do segundo tempo. Lavezzi ainda foi expulso após chutar a bola propositalmente sobre Allegri e Bogliacino, aos 51 minutos, fez o heróico gol de empate, mandando a bola pras redes de qualquer jeito, após rebote de Marchetti. O jogo também fez parte da série invicta de 15 jogos (9 vitórias e 6 empates) de Mazzarri no comando dos azzurri, encerrada após sofrer dois gols nos acréscimos em um polêmico jogaço contra a Udinese, na 23ª rodada.
8) Lazio 1-2 Roma, 34ª rodada Quando a Roma havia assumido a ponta do campeonato, após a má fase da Inter, os nerazzurri consideravam o dérbi romano como a oportunidade em que Francesco Totti e companhia iriam tropeçar e deixar escapar a liderança. A Lazio entrou determinada e logo se mostrou em melhores condições na partida, quando Rocchi aproveitou falha de Burdisso para abrir o placar. Os laziali continuaram dominando a primeira etapa, que via Totti e De Rossi, capitão e vice, extremamente nervosos e a um passo da expulsão. A Roma contou com a sorte, quando Floccari desperdiçou pênalti logo após o intervalo e também com a ousadia de Claudio Ranieri que substituiu as bandeiras do time por Ménez e Taddei, ainda no intervalo. Méritos para o treinador, que viu suas apostas se destacarem em campo, sobretudo pela aplicação tática. O meia brasileiro sofreu o pênalti que permitiu a Vucinic marcar seu primeiro na partida.
Vucinic, um dos melhores romanistas da temporada, ainda virou o jogo com uma bomba em cobrança de falta. O resultado aproximava a Roma do scudetto, por mais que a Inter corresse atrás. Assim, no fim do jogo, a comemoração excessiva e polêmica de Totti provocou uma grande briga, que inflamou os ânimos da equipe rival. Os biancocelesti, praticamente salvos, se “vingariam” depois, quando a Roma havia perdido a liderança e dependia de um resultado positivo de sua maior rival contra a Inter.
7) Palermo 3-1 Milan, 35ª rodada Uma das partidas mais abertas de toda a Serie A. No Renzo Barbera, as duas equipes demonstraram um futebol que as caracterizou na maior parte do campeonato: o Palermo de Delio Rossi foi a campo com uma proposta de jogo orientada ao ataque, baseada em Pastore e Miccoli. Já o Milan de Leonardo, igualmente ofensivo, mas apresentando erros na defesa. Isso tudo foi demonstrado com menos de 20 minutos, quando os rosanero já haviam feito 2 a 0 com Bovo e Abel Hernandez, aproveitando a inconstância de uma defesa que tinha Oddo improvisado como central.
No segundo tempo, o Milan pressionou a defesa palermitana até diminuir com Seedorf e seguiu no ataque, buscando o empate, mas, em um contra-ataque, Miccoli fez um golaço que deu ainda mais moral ao time da casa, que marcaria mais, não fosse a boa atuação de Dida. Esta partida praticamente assegurou a classificação dos sicilianos para a Liga Europa e foi sua exibição de gala torneio. Destacam-se também as vitórias fora de casa contra Juventus e Milan (logo após a contratação de Rossi) e o empate contra o Genoa em 2 a 2, em jogo em que o Palermo levou o empate apenas aos 52 do segundo tempo.
6) Juventus 2-3 Napoli, 11ª rodada Dentre os muitos resultados importantes conseguidos pelo Napoli de Mazzarri nos últimos minutos de uma partida, destaca-se a grande vitória fora de casa contra a Juventus. A equipe azzurra também venceu a Velha Senhora no returno, em outra virada. Duas vitórias em um confronto direto que valeram uma vaga direta na Liga Europa, evitando um desgaste prematuro em julho. No jogo de Turim, a Juve quase saiu na frente no primeiro minuto, mas De Sanctis salvou o Napoli cara a cara com Giovinco. Embora os visitantes atacassem mais, foi Trezeguet que abriu o placar ainda no primeiro tempo, com linda cabeçada. Giovinco, em rara boa atuação na temporada, aproveitou erro de Contini para fazer o segundo.
O castigo a um Napoli que jogava bem seria corrigido logo após a entrada de Dátolo, em sua melhor participação vestindo azzurro. O ritmo do jogo subiu com sua ajuda a Hamsik no meio-campo, que ganhou em velocidade e criação. Aos 15 do segundo tempo, o argentino cruzou para Hamsik marcar o primeiro e, depois, se aproveitou de rebote de Buffon em uma das inúmeras cabeçadas de Denis. O mesmo Hamsik virou e deu números finais ao jogo com um golaço a partir de contra-ataque, no fim do jogo. Marca de uma equipe que, em todo o campeonato, fez a diferença ao obter 13 pontos a mais com gols marcados nos 10 minutos derradeiros das partidas (veja aqui a campanha), como, por exemplo, no épico empate por 2 a 2 com o Milan, logo após a chegada de Mazzarri.
5) Inter 4-3 Siena, 19ª rodada Entre as vitórias da campeã italiana durante toda a temporada, pode-se dizer que esta, em pleno inverno europeu, foi a mais complicada da campanha do pentacampeonato nerazzurro. Em partida mais dotada de emoções até mesmo do que a do último domingo, contra o próprio Siena, a Inter não jogou bem e quase permitiu que o então lanterninha aprontasse. No 4 a 3 cheio de viradas, Maccarone abriu o placar no primeiro tempo com um chute indefensável para Júlio César. Porém, a Inter contava com um Sneijder inspirado, que lançou para Milito cortar Cribari marcar o gol de empate. O holandês ainda cobrou falta com perfeição e virou o jogo, antes de uma desatenção da zaga interista que permitiu o empate do Siena, com Ekdal.
Mourinho deixou o banco antes mesmo do fim do primeiro tempo, irritado com a má performance de seu time e, com poucas opções no banco, colocou Samuel e os jovens Arnautovic e Stevanovic em campo, na segunda etapa. Porém, foi o Siena que se deu bem: em boa jogada de Reginaldo, Maccarone recebeu na entrada da área e virou para a Robur. Pouco efetiva, a Inter ia pra cima, e tudo parecia terminado quando, nos últimos cinco minutos, a terceira e última virada apareceu, após mais um golaço de falta de Sneijder e com Samuel, que apareceu de surpresa para vencer o goleiro Pegolo. Uma vitória-símbolo do ótimo primeiro turno da Beneamata, que algumas rodadas depois viria a tropeçar e permitiria uma incrível aproximação de suas rivais.
4) Juventus 1-2 Roma, 21ª rodada Se no primeiro turno, Diego e companhia fizeram boa partida e derrotaram a Roma no Olímpico, o que custou a cabeça do técnico Luciano Spalletti, a vitória romanista, pequena vingança de Claudio Ranieri contra sua ex-equipe, praticamente decretou a demissão de Ciro Ferrara, que seria substituído por Alberto Zaccheroni duas rodadas depois. Depois de primeiro tempo dominado pela Juventus, mas sem grandes emoções, foi mesmo o time da casa que abriu o placar, quando Del Piero acertou um lindo sem-pulo após bola espirrada por Juan. Após erro de Chellini, Pizarro tocou para Taddei, que foi derrubado por Grosso na grande área. Totti, que saiu do banco logo no começo do jogo para substituir Toni, respondeu com uma cobrança sem chances para Buffon.
Depois, com uma Juventus lançada alucinadamente ao ataque, a Roma matou o jogo com duas particiações fundamentais de Riise: primeiro, o lateral driblou Buffon e faria o gol da virada, caso o goleiro da Nazionale não “trocasse” o segundo por sua expulsão. Acabou não adiantando, já que o norueguês ainda apareceu de surpresa e superou Manninger com uma cabeçada após cruzamento perfeito de Pizarro, já nos acréscimos. Localizada na metade da série de 24 jogos em que a Roma ficou invicta, a vitória contra a Juventus foi um indício do que a Roma ainda faria no restante da Serie A.
3) Milan 0-4 Inter, 2ª rodada O primeiro dérbi da Serie A teve lugar logo na segunda rodada do campeonato e não reservou grandes surpresas, apesar do placar elástico. A Inter entrava em campo como franca favorita, já que mantinha o mesmo padrão tático e o mesmo treinador da temporada anterior, enquanto o Milan havia liberado Carlo Ancelotti para dar uma chance a Leonardo, que comandava uma equipe em formação. Além disso, o mercado dos dois clubes havia sido discrepante. Se a Inter, com um elenco mais sólido, havia acertado com Milito, Thiago Motta, Lúcio, Eto’o e Sneijder, o Milan não corrigiu todas as suas deficiências com Storari, Oddo, Onyewu e Huntelaar.
Falando em novas contratações, foram elas que decidiram o jogo a favor dos nerazzurri. Sneijder mal desceu no aeroporto de Malpensa e já estava em campo, comandando o meio-campo interista como se já estivesse no clube há anos. Milito, por sua vez, desfilou seu poder de decisão em grandes partidas: se atuando pelo Genoa ele era o homem-dérbi, ele estreou em clássicos vestindo a camisa nerazzurra sendo decisivo. Primeiro, deu o passe final de uma jogada inteligente para que Motta abrisse o placar, aos 29 minutos, e também foi o autor da assistência para o gol de Maicon, no fim do primeiro tempo. Nesta parte do jogo, o argentino também marcou um gol de pênalti sofrido por Eto’o, após falta de Gattuso, que viria a ser expulso logo depois. O golpe de misericórdia da Inter viria no segundo tempo, quando Stankovic acertou um petardo no ângulo de Storari, único milanista digno de nota na goleada histórica que valeu até postagem no nosso blog.
2) Roma 2-1 Inter, 31ª rodada Definido como “partida-scudetto”, o duelo entre Roma e Inter pegou fogo. Na capital, estádio cheio para acompanhar a vitória do time da casa, que crescia cada vez mais no campeonato e ficava um ponto atrás da líder, reabrindo de vez o campeonato, sete rodadas antes de seu fim. Ranieri, em mais um ponto a seu favor na temporada, foi feliz na visão tática do confronto ao recuar Ménez quando seu time estava sem a bola, para ajudar na marcação de Sneijder. Logo no início, quando a Roma já era melhor, Júlio César cometeu falha inacreditável para um goleiro de seu nível ao soltar fraca cabeçada de Burdisso nos pés de De Rossi, que abriu o placar. Se o nervosismo tomava conta de uma Inter que recebia amarelos a torto e a direito – a ponto de quatro titulares ficarem suspensos para o jogo posterior, contra o Bologna -, a Roma chegou perto do segundo duas vezes, em chutes perigosos de Vucinic e Riise. Num raro lance da Inter, Samuel acertou o travessão numa cabeçada, encerrando a primeira etapa.
Após o intervalo, a Inter enfim entrou de verdade no jogo e quase chegou ao empate, quando Milito acertou o travessão. Quinze minutos depois, a Inter empatou, atacando em bloco, como de costume: Sneijder tentou passe para Pandev (impedido), mas acabou ficando com a sobra para cruzar para Milito empurrar para as redes. O mesmo Milito quase virou para a campeã logo depois, mas a estrela que brilhou foi a de Toni: o chute errado de Taddei sobrou para ele, sozinho, vencer Júlio César com um chute rasteiro. A arbitragem poderia ter encerrado a partida caso desse pênalti do goleiro brasileiro sobre Brighi, mas Milito manteve a emoção até o fim e, aos 48, quase empatou a peleja novamente, com um chute forte que explodiu na trave de Júlio Sérgio. A sorte que sobrou aos romanistas para garantir três pontos fundamentais para a briga pelo scudetto faltou, três rodadas depois, quando o time levou a virada da Sampdoria e deixou o título escapar.
1) Inter 2-0 Milan, 21ª rodada Muito mais emocionante que o dérbi do primeiro turno, esta partida pode ser interpretada como o resumo da ópera da vitoriosa temporada da Inter: assim como em outros grandes jogos da equipe nerazzurra, os jogadores conseguiram se superar taticamente, mesmo em inferioridade numérica, e conseguiram resultados improváveis. Na ocasião, o Milan de Leonardo havia engatado uma série de ótimos resultados e, centrado nas boas exibições de Ronaldinho, aparecia como opção ao domínio interista, que se mantinha nos últimos jogos às custas de vitórias no sufoco. Samuel Eto’o ainda estava empenhado na Copa Africana de Nações, com o selecionado camaronês, o que garantiu a Pandev um posto de titular em um dos últimos jogos nos quais José Mourinho escalou a Inter no 4-3-1-2. Sneijder, assim como no primeiro turno, começou com todo o gás: em sete minutos, carimbou a trave milanista com um chutaço e também obrigou Dida a fazer uma defesa no reflexo. Pouco depois, a Inter saía na frente no placar: Pandev lançou Milito, que aproveitou indecisão de Abate e chutou forte, em diagonal, sem chances para o goleiro rossonero. A Inter era extremamente superior em campo, até que Gianluca Rocchi expulsou Sneijder, por protestos. Em dez, os nerazzurri se fecharam para segurar o resultado, em estratégia que só permitia ao Milan chutar de fora da área.
Após o intervalo, Leonardo colocou o Milan para frente, substituindo Gattuso com Seedorf. O holandês quase empatou em cabeçada após cobrança de escanteio, mas Júlio César fez grande defesa, afastando o perigo. Logo depois, Ronaldinho tentou de voleio, mas a bola passou a direita da meta interista. Porém, foi a Inter que chegou mais perto do gol. Em contra-ataque, Milito segurou toda a defesa rossonera antes de enfiar uma bola para Pandev deslocar Dida e acertar a trave. Pouco depois, o próprio macedônio comemoraria o segundo ao cobrar ótima falta e não oferecer chance para o goleiro rival. Mourinho sentiu o gol e, em uma de suas mais fortes demonstrações de empatia com os tifosi nerazzurri, os incentivou a apoiar mais o time. O Milan, por sua vez, também sentiu o baque, mas ainda tentava o empate, até os últimos minutos. Já nos acréscimos, o árbitro marcou um toque de mão de Lúcio dentro da área. Na cobrança de pênalti, Júlio César defendeu o chute de Ronaldinho, levando a torcida da campeã ao êxtase. Explosão que não foi ainda maior porque Maicon perdeu gol feito no último suspiro da partida. Ao fim dela, restou a impressão de que esta Inter era intransponível, ao menos em solo italiano.