Pato, o genro que todo sogro gostaria de ter: sob olhares de Barbara Berlusconi, o brasileiro marcou uma doppietta e puniu o “traidor” Leonardo (Getty Images)
A última vez que o Milan havia vencido os dois dérbis de Milão em uma mesma temporada já fazia quase uma década. Em 2003-04, o primeiro jogo entre os rivais foi decidido com um show de Kaká, enquanto Seedorf foi o artífice da virada no jogo de volta, concluído em 3 a 2 para o Diavolo após um golaço do meia. Neste sábado, o holandês, de 35 anos, voltou a ser decisivo e participou dos três gols rossoneri.
O clima de tensão que tomava conta do Giuseppe Meazza nos minutos antes da partida mais importante da Serie A 2010-11 se justificava por si só. Toda a atmosfera que rondava a briga pela liderança foi incrementado pela recepção da torcida do Milan à Leonardo, definido pelos ultrà da Curva Sud como “Judas”. A “traição” de Leonardo acabou punida por Seedorf, Pato e Allegri que, pelo menos por ora, cala as (merecidas) críticas que vinha recebendo, por não gerenciar bem psicologicamente a liderança rossonera.
A preferência de Leonardo por escalar Pandev no lugar de Stankovic, acrescentando mais uma peça ao ataque, também puniu o treinador brasileiro: a opção pelo 4-2-fantasia foi o principal erro que levou a Inter à derrota. Como treinador, seja no Milan ou na Inter, Leonardo perdeu as três partidas disputadas, sempre com o mesmo módulo tático.
“Judas interista”, dizia faixa da torcida milanista instalada na Curva Sud do Giuseppe Meazza. Recepção a Leonardo era esperada (Associated Press)
O primeiro gol de Pato na partida, logo aos 45 segundos de jogo, foi determinante para o resultado. Ligadíssimo no jogo, o Milan foi logo para cima e, contou com um erro de posicionamento da defesa nerazzurra, que não acompanhou Robinho e permitiu que a bola sobrasse para o namorado de Barbara Berlusconi. Daí em diante, a Inter teve de se reestruturar e ficou claro todo o cansaço psicológico pelo qual o time tem passado: desde que Leonardo assumiu e trouxe aos jogadores a esperança de recuperação, os jogadores tem atuado com o espírito de que não é permitido tropeçar. O gol no início derrubou o time, que teria de virar a partida justamente contra o adversário que estava perseguindo.
O apagão interista fez o Milan dominar a partida, aproveitando-se dos espaços que o 4-2-fantasia desbalanceado de Leonardo promovia. O treinador, que tem potencial, mas precisa de mais experiência, não atribui funções de combate aos atacantes, deixando a equipe muito exposta, como no dérbi de ontem. Em um contexto como este, a presença de Stankovic, seis gols na carreira contra o Milan, poderia ser fundamental para equilibrar as ações no centro do campo e, além disso, permitir que Eto’o jogasse mais próximo a área.
Com apenas dois marcadores do lado adversário, o domínio rossonero no meio-campo foi claro, reforçado pelas ótimas exibições de van Bommel e Gattuso na cobertura, auxiliados por um Seedorf em forma exuberante, ocupando espaços e iniciando jogadas. Boateng, recém-recuperado de lesão, também não foi incomodado por Cambiasso e Motta, que pouco poderiam fazer sem a ajuda da linha de três à sua frente.
A Inter ensaiou acordar a partir dos 30 do primeiro tempo e até equilibrou o jogo. Sneijder, peça-chave para o esquema de Leonardo, era um dos poucos interistas que corriam – e que correram durante todo o jogo. As três únicas chances criadas, porém, foram desperdiçadas. Na primeira, Pazzini ganhou de Zambrotta, com um pouco de sorte, mas chutou sobre Abbiati. Depois, o mesmo Abbiati salvou, com defesa incrível, cabeçada de Motta em cima da linha.
Mais incrível ainda foi o gol perdido por Eto’o, já com o goleiro do Milan batido, lembrando a chance desperdiçada pelo camaronês contra a Juventus, no último minuto do Derby d’Italia. Enquanto Sneijder participou muito do jogo, Eto’o teve dia de Ibrahimovic na Liga dos Campeões e se uniu a Maicon como as decepções da Inter no dérbi. Importantes para a fluência de jogo no esquema de Leonardo, ambos sumiram da partida e não chamaram a responsabilidade.
Por outro lado, seus “correspondentes” no Milan, foram fundamentais para a vitória rossonera. Alexandre Pato substituiu Ibrahimovic à altura e foi decisivo, com uma doppietta, cavando com inteligência a expulsão de Chivu e, além disso, cansando a defesa da Inter com sua velocidade. A escalação, um pouco à surpresa, de Zambrotta na lateral esquerda milanista não foi mais inesperada do que a ótima partida de Abate. Muito seguro defensivamente, o lateral direito venceu o duelo com Zanetti e ainda deu, meio sem querer, assistência para o segundo gol de Pato no jogo.
Depois do 2 a 0 milanista e com a Inter com dez em campo, o jogo já havia sido decidido. Psicologicamente derrotada, coube à Beneamata apenas observar a forma física de Milito, que será importante contra o Schalke 04 pela Liga dos Campeões, na terça – o atacante substituiu Pazzini e voltou aos gramados, depois de um mês e meio parado. O Milan “só” fez mais um, graças a Cassano, que marcou de pênalti antes de ser expulso, mas poderia ter feito mais. O domínio rossonero foi amplo e apenas Júlio César pode evitar um vexame maior, com quatro defesas difíceis, duas sobre Robinho – que teve um bom desempenho, mas continua perdendo muitos gols.
A vitória do Milan no confronto direto não faz com que o campeonato já esteja decidido, mesmo que clássicos interistas, com o ex-jogador Sandro Mazzola, tenham declarado que em caso de vitória do Diavolo, o título já teria dono. Faltam sete rodadas para o fim e a corrida é a três, entre Milan, Napoli e Inter.
Obviamente, os rossoneri são os favoritos, pois tem a vantagem de liderarem a competição, três pontos à frente dos parteonopei e cinco à frente dos nerazzurri, mas terão a tabela mais difícil – enfrentam Fiorentina, Roma e Udinese fora de casa, por exemplo, e não tem se imposto contra pequenos, como Brescia. Para interistas e napolitanos, é hora de jogar com o máximo de vontade, fazer contas e torcer contra o Milan. Ainda viva em todas as competições, é assim que a Inter pode se consolar para tentar evitar a hipoteca do scudetto ao Milan, favorito ao título e que terá a volta de Ibrahimovic na próxima rodada.
Brescia 3-1 Bologna Esvaziado em importância devido ao dérbi, que aconteceria horas depois, o confronto entre Brescia e Bologna teve um aspecto semelhante à partida entre Milan e Inter: o goleiro visitante evitou um placar mais elástico. Viviano, em foroma exuberante e titular da Nazionale de Cesare Prandelli, fez defesas importantíssimas no primeiro tempo, mas não evitou que seu ex-clube vencesse, com soberania. Já aos nove, Hetemaj e Zoboli já haviam praticamente definido a equipe vitorisa, embora Di Vaio tenha dado alguma esperança a um Bologna desatento, sobretudo nas jogadas aéreas, e que sentiu falta de Mudingayi. Mesmo com a vitória, definida após gol de pênalti de Caracciolo, os rondinelli continuam na zona de rebaixamento, com 29 pontos, dois a menos que o Lecce, primeiro fora da zona de degola.
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