Não deve ser nada fácil para um meia ofensivo, que estreou nos profissionais como camisa 9, ouvir de seu treinador que será escalado como zagueiro. E não foi para Luigi De Agostini. Ele não gostou nada e sentiu ser “rebaixado” pelo treinador Massimo Giacomini, logo após estrear como profissional.
Mas, com o passar dos anos, sua evolução futebolística e os títulos conquistados pelas equipes que atuou – até chegar à seleção nacional – mostraram que o treinador friulano estava certo. Gigi foi um dos melhores laterais do futebol italiano da década de 1980, alcançando um patamar que jamais imaginaria. “Meu sonho era jogar na principal divisão. Mais do que isso, eu não acreditava ser possível”.
Nascido e criado em Údine, De Agostini começou na própria Udinese e debutou no time principal ainda aos 18 anos, na rodada final da Serie B 1978-79, logo após os bianconeri garantirem o acesso à elite italiana, após quase duas décadas de ausência. O jogador, que se inspirava em Gianni Rivera, fez algumas partidas na elite italiana ainda na condição de atacante, até ser emprestado para ganhar experiência.
Gigi passou primeiro pelo Trento, então no terceiro escalão do futebol nacional, fazendo 28 jogos e três gols. Depois, rumou do extremo norte ao sul da Itália e defendeu o Catanzaro. Foram 31 partidas e sete gols com a camisa dos giallorossi, que acabaram rebaixados para a segunda categoria na ocasião.
Após dois anos rodando pelo país, De Agostini retornou maduro o suficiente para fazer parte da equipe titular da Udinese, comandada pelo treinador Enzo Ferrari, e que tinha o brasileiro Zico como grande astro. Apesar de sua versatilidade, Gigi se destacou como lateral pelo flanco esquerdo, sendo um dos melhores da posição na Itália.
E foi justamente o treinador quem viu o potencial em De Agostini, apesar de certa reticência do jogador. “Ele me transformou em um zagueiro, mudou minha mentalidade. No começo eu não queria, mas ele estava certo, porque quando se é mais jovem, você sempre quer atacar. Senti a transição de meia-atacante para lateral como um rebaixamento. Mas, francamente, zagueiro ou meio-campista é a mesma coisa, basta que, depois de defender, tenha a chance de atacar”, declarou o polivalente jogador.
De Agostini fez 98 jogos e cinco gols em sua segunda passagem pela Udinese, sendo titular absoluto em três temporadas. Nesse período, recebeu sua primeira convocação para a seleção italiana, algo raro de acontecer para um jogador do clube do Friuli, ainda mais naqueles tempos.
Contudo, sua estreia com a camisa azzurra precisou ser postergada devido a um fato inusitado. “Minha primeira vez com a Nazionale foi no time experimental treinado por Enzo Bearzot, contra a Holanda de Ruud Gullit, na preparação para a Copa do Mundo de 1986. Estava emocionadíssimo. Recordo-me brevemente que estava para sair do túnel, mas essa emoção se transformou em ilusão, porque a partida foi cancelada porque o campo estava coberto pela neve. Minha estreia foi adiada por alguns meses…”, conta.
Ao final da temporada, o lateral foi contratado pelo Verona, que se reestruturava depois de uma pífia campanha pós-título. Sob o comando de Osvaldo Bagnoli, Luigi De Agostini atuou em 30 partidas e fez três gols na Serie A 1986-87, naquela que foi a última grande campanha dos veroneses na elite. Após ajudar a equipe a terminar o campeonato na quarta colocação, Gigi enfim vestiu a camisa da Squadra Azzurra, em maio de 1987, num amistoso contra a Noruega.
No verão de 1987, De Agostini foi negociado com a Juventus juntamente a Roberto Tricella, que também se destacava pelo Hellas. O lateral, então com 26 anos, via a transferência como a grande chance de sua carreira, mas não conquistou nenhum scudetto em sua passagem por Turim. Naquela época, a Velha Senhora se reestruturava após a década vitoriosa de Giovanni Trapattoni no Piemonte.
Se não foi campeão italiano, ao menos individualmente o jogador pode se consolidar de vez na seleção, com a qual participou da Eurocopa de 1988 e dos Jogos Olímpicos, meses depois. De Agostini também foi à Copa do Mundo de 1990 e, na condição de titular, ajudou a Itália a ser terceira colocada. Naquele mesmo ano, viveu seu auge: atuando em altíssimo nível, foi fundamental para os títulos da Juventus na Coppa Italia e na Copa Uefa.
Profissional exemplar, Luigi não se importou em ser deslocado para o meio-campo, já que a ala esquerda tinha um dono absoluto – Antonio Cabrini. “Queria demonstrar que poderia jogar com Antonio. Não queria ser apenas o jogador que corre pela esquerda e cruza para os atacantes”, disse. Em 1989, depois que o veterano se transferiu para o Bologna, De Agostini voltou a ser lateral. No total, fez 208 partidas e 28 gols pela Velha Senhora, se destacando pela habilidade nas bolas paradas (cobranças de faltas e pênaltis) e nos chutes de longa distância.
Em 1992, Gigi acertou transferência à Inter. O negócio gerou polêmica, já que a diretoria da Juve optou por liberar, sem qualquer dificuldade, seu grande coringa à principal rival. Em Milão, De Agostini ficou apenas uma temporada e conquistou o vice-campeonato com a Beneamata, sem exibir o mesmo nível de outrora.
As duas últimas campanhas do defensor como profissional aconteceram na modesta Reggiana, que havia acabado de subir pela primeira vez à Serie A no formato dos pontos corridos. De Agostini ajudou os grenás a conseguirem uma história permanência em 1994, mas se aposentou depois do rebaixamento, no ano seguinte, com apenas 34 anos. “No último jogo da minha carreira, pedi ao treinador para vestir a camisa 5. A única, além da do goleiro, que me faltava usar”, lembrou, comemorando a versatilidade adquirida nos anos de futebol.
De chuteiras penduradas, Gigi De Agostini passou alguns anos longe do futebol. Em 2007, porém, retornou ao esporte como diretor esportivo da Udinese. Ficou apenas seis meses no cargo. Em 2009, o ex-jogador se dedicou à organização de campeonatos e escolinhas de futebol para crianças e adolescentes, e se tornou o responsável por levar o acampamento de futebol do Real Madrid para a Itália.
Luigi De Agostini
Nascimento: 7 de abril de 1961, em Údine, Itália
Posição: lateral-esquerdo
Clubes como jogador: Udinese (1978-81 e 1983-86), Trento (1981-82), Catanzaro (1982-83), Verona (1986-87), Juventus (1987-92), Inter (1992-93) e Reggiana (1993-95)
Títulos conquistados: Serie B (1979), Copa Mitropa (1980), Coppa Italia (1990) e Copa Uefa (1990)
Seleção italiana: 36 jogos e 4 gols