Durante sua carreira, um jogador de futebol pode ter vários momentos de destaque e motivos para ser lembrado. Da mesma forma, também pode colecionar passagens negativas, que preferiria que fossem esquecidas. Acontece que, para uma boa parte dos atletas que entram em campos, um lugar discreto na história do esporte lhes é destinado: nem tanto ao mar nem tanto à terra. Assim pode ser definida a trajetória de Francesco Romano, que teve período positivo num Napoli campeão e atuações comedidas por outros clubes.
Nascido em Saviano, pequena cidade da região metropolitana de Nápoles, Francesco Romano logo se mudou da Campânia para Reggio Emilia, seguindo seus pais. Ao norte da Itália, começou a jogar pela equipe da cidade, a Reggiana. Foi lá que se desenvolveu nas categorias de base e que, aos 17 anos, fez sua estreia profissional, em 1977. Jogador defensivo de meio-campo, que por vezes também atuava pela ala, Romano teve destaque pelo seu clube na terceira divisão.
As atuações chamaram a atenção de Edmondo Fabbri. Numa conversa, o veterano treinador – que estava sem clube no momento – indicou o volante a Alessandro Vitali, diretor esportivo do Milan. Romano, então, rumou a Milão para defender os rossoneri. Em 1979, estreou na elite italiana e ganhou espaço considerável no primeiro ano de Diavolo: entrou em campo 27 vezes e marcou um gol. Em campo, o time lombardo ficou com a terceira posição.
O final da temporada, no entanto, foi caótico. O Milan se viu envolvido no que ficou conhecido como Totonero, um escândalo de apostas ilegais e manipulação de resultados. Entre punições a jogadores e dirigentes, também sobrou para a agremiação: além de ter Enrico Albertosi, Giorgio Morini e Stefano Chiodi suspensos, o clube rossonero teve a terceira posição retirada e o rebaixamento para a Serie B da temporada seguinte imediatamente decretado.
A campanha de 1980-81 foi marcada por uma disputa pouco técnica e bastante aguerrida, como é a característica geral da Serie B. Na complicada caminhada de volta à elite, Romano esteve em campo em 19 partidas, sem marcar gols ou anotar assistências, sempre variando entre titular e suplente. Nunca foi absoluto no onze inicial, mas era daqueles que sempre ajudaram a fazer a engrenagem do time girar.
A tão esperada volta à elite aconteceu, mas durou apenas uma temporada. Romano foi titular nesta campanha, mas os 24 pontos somados em 30 partidas fizeram com que o Milan retornasse ao segundo nível do futebol nacional, desta vez por deméritos esportivos – e a conquista da Copa Mitropa não aplacou a tristeza dos torcedores. Na nova jornada pela Serie B, o campano jogou menos vezes (18) e contribuiu menos para o título e a promoção do Diavolo.
A passagem pelo Milan, mesmo que longa, não foi das mais marcantes. Atrapalhado por algumas lesões, o garoto jamais conseguiu se firmar como titular em quatro temporadas e, por isso, a equipe decidiu se desfazer do jogador no verão de 1983. O destino foi o nordeste italiano, onde atuaria pela Triestina, então promovida à segundona.
Com a camisa dos alabardati, Romano decolou. Em Trieste, mostrou verve ofensiva e, nas três temporadas completas em que defendeu a agremiação, marcou 23 gols – nove em 1983-84, seis em 1984-85 e oito em 1985-86. Nas duas últimas campanhas, foi um dos destaques da Triestina na briga pelo acesso à elite: os julianos abocanharam a quinta posição em ambos os certames e só não subiram por poucos pontos. O meia ainda iniciou a época de 1986-87 no clube, mas, após alguns jogos, se transferiu ao Napoli em outubro de 1986.
O Napoli venceu a concorrência do Torino por um meio-campista que estava em forma e chegava para jogar. Em Trieste, Romano provara que as lesões que lhe atrapalharam eram coisa do passado e que o rendimento que o levara à seleção italiana sub-21, entre 1981-82, poderia ser reeditado. E, no clube de sua terra natal, Francesco não só atingiu o seu auge técnico como também conquistou os títulos mais importantes de sua carreira.
Logo no primeiro jogo pelo Napoli, contra a Roma, o volante foi escalado por Ottavio Bianchi como titular do meio-campo azzurro, que ainda tinha Salvatore Bagni e Fernando De Napoli. A equipe da capital venceu aquele duelo, mas não fez diferença. Os partenopei fizeram uma campanha histórica e Romano foi fundamental nela: a partir de sua estreia, só não atuou em 19 minutos na Serie A 1986-87.
No total, o meio-campista participou de 24 rodadas e anotou dois gols, sendo um deles importantíssimo. Diego Maradona até brilhou no clássico do returno contra a Juventus, mas foi de Francesco o gol da vitória por 2 a 1. No final das contas, aquele triunfo encaminhou a conquista do primeiro scudetto da história do Napoli. O time campano ainda garantiu a dobradinha, já que também faturou a Coppa Italia.
Em 1987-88, o Napoli passou em branco. Romano, contudo, manteve o bom nível – ainda que algumas lesões tenham-no deixado de molho em parte da metade inicial da temporada. Naquele mesmo ano, o jogador ganhou oportunidades na seleção olímpica italiana, uma vez que, na época, ainda não havia limite de idade para representá-la. Francesco também foi convocado para a Euro 1988, mas não entrou em campo.
Logo após a competição continental, o volante viu a condição de titular absoluto no Napoli cair por terra. Aliás, se viu relegado a terceira opção no elenco, após as contratações do brasileiro Alemão, junto ao Atlético de Madrid, e do italiano Luca Fusi, cedido pela Sampdoria. Na condição de suplente, Romano ainda levantou uma Copa Uefa, em 1989. Em seguida, após 89 partidas e seis gols, trocou de clube.
O destino de Francesco foi o norte da Itália. E, curiosamente, o time contra o qual anotou o seu último tento pelo Napoli: o Torino, que ajudara a rebaixar. Romano foi titular e peça importante da equipe campeã da Serie B em 1989-90 e, no retorno à elite, manteve contribuindo em bom nível.
Na temporada 1990-91, o Toro terminou o campeonato em quinto lugar e se classificou para a Copa Uefa, o que gerou nova reformulação no elenco. Naquele verão, o time do Piemonte contratou o belga Enzo Scifo, que passaria a cumprir a função de Romano e levaria o jogador de 31 anos a buscar um novo clube, após 64 partidas e sete gols com a camisa grená.
Dali em diante, o discreto Romano não disputou mais qualquer partida pela Serie A. Entre 1991 e 1993, o volante teve passagem pelo Venezia, que se contentava em evitar a queda para a terceirona, e ainda representou novamente a Triestina: no terceiro nível do futebol italiano, Francesco conquistou uma Coppa Italia da Serie C. Em 1995, pendurou as chuteiras após uma única partida pelo Palazzolo, time da região de Brescia.
Atualmente, Francesco Romano é procurador esportivo e mantém a característica que apresentou nos campos: a discrição. O ex-volante faz parte da equipe da International Football Agency, firma tocada pelo empresário Giuseppe Bonetto. A corporação já cuidou dos interesses de atletas como Angelo Peruzzi, Michele Paramatti, Federico Balzaretti e Franco Semioli.
Francesco Romano
Nascimento: 25 de abril de 1960, em Saviano, Itália
Posição: meio-campista
Clubes como jogador: Reggiana (1977-79), Milan (1979-83), Triestina (1983-86 e 1993-94), Napoli (1986-89), Torino (1989-91), Venezia (1991-93) e Palazzolo (1994-95)
Títulos: Serie B (1981, 1983 e 1990), Copa Mitropa (1982 e 1991), Serie A (1987), Coppa Italia (1987), Copa Uefa (1989) e Coppa Italia da Serie C (1994)