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Pouco conhecido no Brasil, Luís Vinício foi ídolo de várias torcidas na Itália

No futebol moderno, dedicação e raça são atributos vistos como no mínimo necessários para jogadores de grandes clubes, tendo em vista toda a estrutura por eles usufruída e os benefícios recebidos, tal como o salário. Mas aos apreciadores mais experientes do esporte, um jogador destemido era como um colírio, e não só quando este atleta fazia parte do sistema defensivo. Um atacante audaz, que ajudava na marcação e não tinha medo de enfrentar os botinudos em uma época em que o reconhecimento de suas qualidades não se dava em dinheiro, mas sim em glória, enchia de orgulho o torcedor. Assim era Luís Vinícius de Menezes, que não por acaso recebeu o apelido de Leão.

Nascido em Belo Horizonte, Luís começou sua carreira como jogador no Botafogo, onde ainda muito jovem jogou com gênios como Nilton Santos e Garrincha. Em 1955, após excursionar pela Europa algumas vezes, o clube carioca passou por um momento de dificuldades financeiras e teve de se desfazer de alguns valiosos atletas. Ao lado de Dino da Costa, Luís Vinícius teve como destino a Itália. Seu companheiro assinou com a Roma e Luís foi contratado pelo Napoli, aos 23 anos.

Vinício, segundo melhor jogador da Itália em 1966, ao lado de Haller e Sívori, o Bola de Ouro (LaPresse)

Já pelos partenopei, Luís, que recebeu a alcunha, em dialeto napolitano, de “’O lioni” devido a sua bravura e determinação, foi reconhecido como um dos melhores jogadores do futebol do Belpaese. Apesar de não levantar nenhum troféu, o atacante tornou-se ídolo da torcida desde sua primeira temporada – quando marcou 16 gols -, passando pela segunda, em que marcou 18 e foi vice-artilheiro da Serie A, até o quinto e último ano com a camisa azul. No total, o centroavante balançou as redes 69 vezes pelo clube em 152 partidas.

Contratado pelo Bologna, Luís Vinícius, que já havia tido seu nome “italianizado” e transformado em Luís Vinício teve uma boa temporada de estréia, com 11 tentos em 30 partidas. Nesse ano, acabou sagrando-se campeão da Copa Mitropa, competição que incluía times de países centro-europeus, como Itália, Hungria, Áustria e Tchecoslováquia.

Porém, o atacante dinamarquês Harald Nielsen, que tinha apenas 20 anos e se tornaria artilheiro da Serie A por duas vezes consecutivas e um dos maiores ídolos da história do clube, fez com que o brasileiro não atuasse tanto no ano seguinte: foram apenas 17 jogos entre a titularidade e o banco de reservas. Sentindo-se rejeitado, voltou ao Brasil, mas não teve tempo de assinar com um clube de sua terra natal. Luís Vinício transferiu-se para o Lanerossi Vicenza.

Craque brasileiro pouco lembrado, Vinício se transferiu para a Inter após fazer história no Vicenza (Archivi Farabola)

Pelo clube do norte da Itália, Vinício chegou ao seu auge. No primeiro ano com a camisa biancorossa marcou poucos gols, mas nas temporadas seguintes fez um caminhão deles. Em 1965-66 sagrou-se artilheiro da Serie A com 25 gols, recorde de uma edição até então – somente seria igualado em 1992, pelo holandês Marco van Basten -, levando a equipe vêneta à quinta posição, melhor posição de sua história até aquele momento.

O feito da equipe do brasileiro só seria quebrado quando, no final da década de 70, Paolo Rossi levasse o Lanerossi Vicenza ao vice-campeonato. Em alta pelo desempenho em 1965-66, Luís Vinício foi comprado pela gigante Internazionale, que havia sido bicampeã europeia e mundial anos antes.

Entretanto, na equipe de Milão ele pouco foi utilizado, por sua idade avançada: o jogador de 35 anos fez apenas um gol em oito jogos de uma única temporada com os nerazurri. Em 1967, já com 36 anos, Vinício voltou a Vicenza para disputar sua última temporada como jogador. Lá, marcou sete gols, valiosos para o atacante bater a marca de 150 tentos marcados no futebol italiano. Apesar do bom retrospecto, o jogador nunca defendeu a seleção brasileira e recusou-se à naturalização italiana.

Vinício foi ídolo do Napoli como jogador e técnico (Repubblica)

O técnico
De chuteiras penduradas, o ex-atacante não demorou a decidir o que faria após largar as quatro linhas. Em 1968, assumiu o cargo de treinador do Internapoli, que disputava a Série C1A. No ano seguinte, comandou o Brindisi, clube que promoveria à Serie B em 1972. Dois anos depois, “’O Lioni” foi chamado para treinar a equipe que o acolhera em solo italiano quando jogador, o Napoli.

Na primeira temporada, uma surpreendente e festejada terceira colocação na Serie A, com destaques para o brasileiro Sérgio Clerici e para o meia Antonio “Totonno” Juliano. No ano seguinte, a equipe bateu na trave e terminou a Serie A na segunda posição, logo atrás da Juventus, e conquistou a Coppa Italia sobre o Verona – mas já sem Luís Vinício, que havia sido substituído por Alberto Delfrati.

Vinício chegou à Lazio com as dificuldades de assumir o time depois do ciclo vitorioso de Tommaso Maestrelli, que havia se sagrado campeão italiano dois anos antes. Com tempo e tranquilidade para trabalhar, conseguiu levar a equipe, sem muitas modificações, à quinta colocação da Serie A, que lhe dava o direito de disputar a Copa Uefa. Mesmo com os bons resultados, Vinício tinha um relacionamento complicado com o elenco, deixando com constância jogadores como Lionello Manfredonia e Bruno Giordano fora do time titular. Na temporada seguinte, a Lazio foi eliminada da competição continental após uma goleada por 6 a 0 para o Lens, balançando ainda mais o prestígio do comandante, que viria a deixar o cargo após uma derrota para o Foggia, pela Serie A.

Depois da Lazio, o brasileiro não conseguia repetir os trabalhos de qualidade realizados até então. Voltou ao Napoli, passou por Avellino, Pisa e, em 1984 chegou a Udinese. Em Údine, treinou os compatriotas Zico e Edinho, que apesar de serem estrelas de nível mundial, jogavam em uma equipe limitada e que terminou a Serie A na 12ª colocação.

O brasileiro teve bons momentos em clubes pequenos, como o Avellino (Getty)

Em 1986, em sua segunda passagem pelo Avellino, conduziu a modesta equipe a uma tranqüila oitava colocação na Serie A, à frente de clubes tradicionais como Fiorentina e Torino, mas na temporada seguinte a equipe foi mal e Luís Vinício resolveu abandonar a prancheta por um tempo. Quatro anos depois, teve uma curta experiência à frente da Juve Stabia, seu último clube.

Desde que voltou ao Avellino, Luís Vinício mora na Campânia, terra que adotou por causa de seu vínculo com o Napoli, não obstante também tenha feito história com o Vicenza. Hoje, aos 79 anos, o ex-jogador e ex-treinador vive em Nápoles e não exerce nenhuma função ligada ao futebol. Aposentado, um dos maiores goleadores da história da Serie A italiana escolheu o país para viver e mal consegue se comunicar em português.

Luís Vinícius de Menezes, o Luís Vinício
Nascimento: 28 de fevereiro de 1932, em Belo Horizonte, Brasil
Posição: atacante
Clubes como jogador: Botafogo (1954-55), Napoli (1955-60), Bologna (1960-62), Vicenza (1962-66), Inter (1966-67), Vicenza (1967-68).
Clubes como treinador: Internapoli (1968-69), Brindisi (1969-70), Ternana (1970-71), Brindisi (1971-73), Napoli (1973-76), Lazio (1976-78), Napoli (1978-80), Avellino (1980-82), Pisa (1982-84), Udinese (1984-86), Avellino (1986-88), Juve Stabia (1991-92).
Títulos: 1 Coppa Mitropa (1961)

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