Toda carreira mediana pode ter um momento de auge incontestável. A imprevisibilidade do futebol permitiu que Marco Baroni, um defensor absolutamente comum, pudesse ser uma figura central do segundo scudetto da história do Napoli. Por um curto momento em sua vida, Baroni ofuscou craques como Diego Armando Maradona e Careca, companheiros de clube, e os adversários milanistas Franco Baresi, Paolo Maldini, Marco van Basten, Frank Rijkaard e Ruud Gullit.
Toscano de Florença, Baroni entrou nas categorias de base da Fiorentina com apenas 10 anos e foi exatamente pela equipe viola que ele estreou profissionalmente, na Serie A 1981-82, quando estava perto de completar 19. Sem espaço no time de sua cidade natal, o zagueiro acabou sendo negociado com o Monza, então na segundona. Baroni defendeu os lombardos, passou ao Padova e, em 1985, voltou à primeira divisão: na Udinese, se destacou e começou a ser convocado para a seleção sub-21 italiana. Em 1986, foi vice-campeão europeu da categoria, desperdiçando pênalti decisivo na final contra a Espanha.
Após apenas um ano no Friuli, Baroni foi contratado para compor elenco na Roma – que seria uma das camisas pesadas que vestiria. Pouco utilizado na Cidade Eterna, o jogador se transferiu para o Lecce dirigido por Carlo Mazzone, para a passagem de maior brilho na carreira. De cara, se tornou um dos mais importantes jogadores dos giallorossi na campanha do acesso à elite e, em 1988-89, estreou na Serie A anotando um gol contra o Napoli. Justo o clube que defenderia com sucesso na temporada seguinte.
Foram dois anos para o toscano em Nápoles. Neste biênio, Baroni foi utilizado com certa frequência pelo técnico Alberto Bigon e fez história. Primeiro, teve a felicidade de anotar, contra o Bologna, o gol de número 3000 da história azzurra. Meses depois, na última rodada da Serie A, atingiu o ápice: diante da Lazio, foi o autor do tento que definiu a vitória e o scudetto dos partenopei, que relegaram o estelar Milan de Arrigo Sacchi ao vice-campeonato.
O auge não durou muito para o beque, que acabou se tornando um exemplo do famoso provérbio “quanto maior a subida, maior é a queda”. No ano seguinte ao do scudetto, Baroni foi o responsável por desperdiçar a cobrança de pênalti que fez o Napoli cair nas oitavas de final Copa dos Campeões, diante do Spartak Moscou, e inaugurou seu período de franco declínio.
Ao fim de 1990-91, o florentino foi disputar a Serie B com a camisa de um Bologna em apuros financeiros e, dois anos depois, viu a equipe ser rebaixada para a terceira divisão. Com a falência decretada pelos emilianos, Baroni chegou a descer mais um degrau e disputou a Serie C2 com o minúsculo Poggibonsi. Dali em diante, o balzaquiano Baroni rodaria o país e defenderia Ancona, Verona e Rondinella, até se aposentar, aos 37 anos.
Foi na mesma Rondinella, pequena agremiação da cidade de Florença, que Baroni começou sua carreira como técnico: imediatamente após pendurar as chuteiras, o ex-zagueiro assumiu o comando da equipe, então na quarta divisão italiana. Iniciaria ali uma série de curtas e inglórias passagens por clubes de divisões inferiores, até que o Siena aparecesse e lhe oferecesse o cargo de treinador da equipe sub-19, a Primavera.
A chegada ao Siena representou, bem ou mal, uma boa oportunidade na carreira de Baroni. Após dois anos como técnico da base, ele até teve sua primeira chance na Serie A: foi alçado interinamente ao comando do time principal, para o lugar de Marco Giampaolo. No entanto, conseguiu apenas um empate em três partidas e não foi efetivado. Voltou aos juvenis e, depois de uma temporada, ganhou uma vaga nos profissionais da Cremonese, clube no qual também não durou muito.
Seu patamar mudaria, de fato, em uma praça improvável. Os muitos anos de Fiorentina e Napoli não foram obstáculo para que Baroni aceitasse trabalhar como treinador da Primavera da Juventus, em 2011. Em Turim, trabalhou com uma boa geração, que tinha jogadores como o brasileiro Gabriel Appelt, Leonardo Spinazzola e Raman Chibsah, com quem trabalharia novamente no Benevento. Também conquistou títulos: em 2012, faturou a Copa Viareggio e, na temporada seguinte, a Coppa Italia da categoria. O sucesso pelos bianconeri lhe incentivou a, mais uma vez, tentar a sorte fora das categorias de base.
Foram dois anos de trabalhos regulares por Lanciano e Pescara, na Serie B, até parar no Novara, também da categoria. Os piemonteses esbarraram no acesso para a primeira divisão, em 2016, mas acabaram eliminados nos playoffs justamente pelo Pescara. De forma inesperada, Baroni não permaneceu na equipe azzurra e acabou aceitando o convite do Benevento, estreante na segundona.
Ainda mais surpreendente que sua saída de Novara foi o trabalho pelo time do sul da Bota. Baroni substituiu Gaetano Auteri e, pouco a pouco, foi levando os stregoni à parte de cima da tabela da Serie B, até classificá-los para os playoffs. O desfecho foi um dos maiores feitos recentes do futebol do Belpaese: o segundo acesso consecutivo dos campanos, com um elenco absolutamente modesto até mesmo para a segundona.
O plantel do Benevento, entretanto, não teve fragilidades sanadas para a disputa da Serie A. Com nove derrotas nas nove primeiras rodadas, mais uma de lambuja pela Coppa Italia, Baroni foi demitido – e os sanniti terminaram rebaixados. No ano seguinte, foi chamado para ser bombeiro do Frosinone, também na elite, mas não conseguiu e amargou o descenso.
Posteriormente, o toscano assumiu outras equipes com a temporada em andamento, na Serie B: Cremonese e Reggina, sem empolgar em ambas. Sua carreira só voltou aos trilhos quando, na própria segundona, substituiu Eugenio Corini no Lecce.
Baroni levou os apulianos a seu segundo título da categoria e fez um trabalho muito sólido também na elite, com um time que sabia se defender de maneira consistente. Ao garantir uma permanência tranquila pelo Lecce, rumou ao Verona e, no clube em que se despediu da Serie A como atleta, protagonizou uma façanha ainda maior: uma salvezza obtida mesmo precisando lidar com uma revolução no elenco com o campeonato em andamento. Habilidoso, o ex-zagueiro recebeu a chance de sua vida. E, novamente, seu destino se cruzou com um elemento de seu passado.
Em seu ápice tardio como treinador, beirando os 61 anos, Baroni foi convidado para treinar a Lazio – que, tal qual o Verona, teve equipe reformulada devido ao fim de ciclo de vários pilares do elenco. A agremiação da capital foi a adversária contra a qual marcou o gol de número 3000 da história do Napoli e pode comemorar um scudetto. Se tornou, também, o ponto mais alto de sua carreira como técnico. Resta saber se o final será igualmente feliz.
Marco Baroni
Nascimento: 11 de setembro de 1963, em Florença, Itália
Posição: zagueiro
Clubes como jogador: Fiorentina (1981-82), Monza (1982-83), Padova (1983-85), Udinese (1985-86), Roma (1986-87), Lecce (1987-89), Napoli (1989-91), Bologna (1991-93), Poggibonsi (1993-94), Ancona (1994-95), Verona (1996-98) e Rondinella (1998-2000)
Títulos como jogador: Serie A (1990), Supercopa Italiana (1990) e Campeonato Dilettanti (1999)
Carreira como treinador: Rondinella (2000-01), Montevarchi (2001), Carrarese (2003-04), Südtirol (2005-06), Ancona (2006-07), Siena (juvenis; 2007-09 e 2009-10, profissionais; 2009), Cremonese (2010 e 2019-20), Juventus (juvenis; 2011-13), Lanciano (2013-14), Pescara (2014-15), Novara (2015-16), Benevento (2016-17), Frosinone (2018-19), Reggina (2020-21), Lecce (2021-23), Verona (2023-24) e Lazio (2024)
Títulos como treinador: Copa Viareggio (2012), Coppa Italia Primavera (2013) e Serie B (2022)