É festa no Friuli: a Udinese volta à Liga dos Campeões e coroa temporada de trabalho brilhante de Guidolin e gols à rodo de Di Natale (Getty Images)
Na última rodada da Serie A 2010-11, pouca coisa estava em jogo – e mesmo o que estava em jogo, não estava tão em jogo assim. Com tudo praticamente definido, a Lega Serie A dividiu as equipes em dois grupos: o primeiro, daqueles que só cumpririam tabela, jogaria às 13h, no horário de Brasília, enquanto o segundo grupo, dos times que ainda tinham objetivos, jogariam às 15h45. O que se viu, na maior parte dos jogos, foram times mistos, espaço a jovens e também àqueles jogadores que tinham poucos minutos na temporada, bem como espaço para despedidas, como as de Pirlo, De Canio, Ficcadenti e Ballardini.
No entanto, o provável e profundo desinteresse pouco foi visto: o fim de semana no futebol italiano foi de futebol aberto, bem jogado e com média de 3,7 gols por partida. Uma espécie de homenagem à Udinese, “campeã” da rodada, ao se garantir na fase preliminar da próxima Liga dos Campeões depois de fazer um campeonato primoroso, com um estilo de jogo que prezava pelo bom futebol. Enquanto o campeonato italiano dá uma pausa, continuamos ativos no blog e, a partir da semana que vem, após a final da Coppa Italia, faremos uma retrospectiva de toda a temporada italiana. Aguardem!
Udinese 0-0 Milan Jogando em casa e interessadíssima por um resultado positivo, a Udinese foi para cima do Milan e só não marcou gols porque Amelia – que ganhou a chance de jogar como titular – estava inspirado e fez pelo menos cinco defesas importantes, incluindo uma cobrança de pênalti do artilheiro Di Natale, que fechou a Serie A com 28 gols. Inler, soberano no meio-campo, fez grande partida e, provavelmente negociado com o Napoli, poderia ter se despedido do clube com um golaço de fora da área, mas a bola explodiu no travessão e na trave.
O empate acabou servindo para a equipe de Údine voltar à Liga dos Campeões, seis anos depois do feito conseguido pelo técnico Luciano Spalletti. No entanto, a fase preliminar deve reservar à Udinese um adversário duro. A nota triste ficou por conta da lesão de Alexandre Pato, que caiu de mau jeito, deslocou o ombro e deve ficar de fora da Copa América. Mesmo com a lesão do atacante, o final do jogo reservou festa para os dois lados: Pirlo foi levantado por seus colegas e se despediu do Milan, enquanto do lado da Udinese, o técnico Francesco Guidolin cumpriu o prometido e se juntou a Isla, Cuadrado e Armero para dançar o Armeration.
Lecce 2-4 Lazio O ponto conquistado pela Udinese foi suficiente para tirar da Lazio a chance de jogar a Liga dos Campeões – o empate das duas equipes em 66 pontos era suficiente para os bianconeri, que tinham melhor saldo de gols. No Via del Mare, a partida teve clima de amistoso e foi jogada de maneira bastante aberta: no fim primeiro tempo, o placar era de 2 a 2 e poderia ser mais, pois Rocchi estava endiabrado, mas Zárate e Hernanes não faziam grande partida. 0 4 a 2 final foi apenas consequência da superioridade da Lazio frente a uma equipe que queria apenas fechar a temporada jogando bem e que estava em clima de despedida: ontem era a última partida do técnico Luigi De Canio e, hoje, a família Semeraro anunciou que irá vender o clube após 16 anos no comando.
Na Lazio, porém, não devem haver despedidas. A torcida pode espernear, mas Edy Reja deve permanecer no comando da equipe laziale para a próxima temporada. Merecidamente: a ultrapassagem da Udinese na segunda parte da temporada aconteceu de forma natural e conquistar uma vaga na Liga Europa já foi um grande feito para elenco tão limitado. Ficar na frente da rival Roma na classificação final é para se comemorar.
Roma 3-1 Sampdoria Clima de despedida também no Olímpico de Roma, que sediou a última partida da família Sensi no comando da Roma (veja vídeo da despedida) e a última da Sampdoria na Serie A – ao menos por uma temporada. O clima de velório foi ainda maior, levando em conta as pretensões de cada equipe na temporada. A Samp até assustou os romanistas ao abrir o placar, com Mannini, e deu esperanças para que a Juventus mantivesse chances de chegar à Liga Europa, o que seria ainda mais desastroso para a equipe da casa.
No entanto, Totti apareceu e, jogando para Montella o que não jogou para Ranieri, foi fundamental na virada: empatou o jogo no primeiro tempo e, após o intervalo, deu assistência para a virada de Vucinic e ainda fez com que Júnior Costa cedesse rebote em uma bomba de fora da área, que Borriello apenas completou para o gol. A nova Roma, de DiBenedetto e com técnico ainda indefinido, deve ser construída mais uma vez em torno de seu capitão.
Juventus 2-2 Napoli Pela primeira vez em 20 anos, a Juventus não consegue se classificar, em campo, para uma competição europeia. A desastrosa temporada juventina teve um breve resumo na partida de ontem: defesa falha, muito dependente da salvação de seu goleiro (ontem, Buffon), time desorganizado e pouco atento, como mostraram os dois gols de cabeça sofrido contra um Napoli sem o tridente Cavani-Lavezzi-Hamsík. Além disso, a Velha Senhora teve azar: dois belos chutes de Del Piero explodiram no travessão de De Sanctis e poderiam ter se juntado aos gols de Chiellini e Matri.
Na próxima temporada, sem Del Neri e com Antonio Conte, a Juventus irá começar praticamente do zero. No ambiente napolitano, ao contrário: depois de resolver algumas divergências com o presidente De Laurentiis, Mazzarri assinou novo contrato, de cinco anos, e deverá dar início a mais um quinquênio de sucesso azzurro.
Inter 3-1 Catania Na partida que sucede a final da Coppa Italia, contra o Palermo, a Inter jogou para o gasto e fez testes para o próximo domingo: sem Cambiasso e Sneijder, lesionados, e Maicon, suspenso na Coppa e em férias antecipadas, Leonardo propôs um meio-campo com Motta, Zanetti e Stankovic, com Kharja jogando como trequartista. Nagatomo na lateral direita, outro teste do brasileiro, se saiu bem e foi o melhor em campo, com muitos cruzamentos bem sucedidos e um gol. Os outros gols de uma Inter em ritmo de treino saíram dos pés de Pazzini, que chegou aos 11 em nerazzurro e 17 no campeonato.
O Catania, já satisfeito com seu recorde de pontos na Serie A (46), jogou relaxado. Na última partida de Simeone no comando dos rossoazzurri, nenhuma novidade: primeiro tempo não muito bom e crescimento na performance da equipe após a entrada de Lodi, um dos principais jogadores do time no torneio justamente por mudar os jogos após o intervalo. De seus pés saiu o gol de honra etnei, de Ledesma. Será que na próxima temporada, com um novo treinador, terá um papel mais importante na equipe?
Palermo 1-3 Chievo O rival da Inter na final da Coppa Italia deu vexame, na última partida antes da decisão. Jogando em casa, o Palermo parecia já estar com a cabeça na final de domingo e foi engolido pelo Chievo de Pioli – candidatíssimo a assumir a Roma. Os rosanero saíram na frente com Nocerino, mas sofreram defensivamente com Pellissier, autor do gol de empate, e Moscardelli, que perdeu pelo menos quatro chances claríssimas e que, para a sorte dos sicilianos, evitaram um vexame ainda maior. No segundo tempo, o ritmo do jogo caiu – devido ao temporal que caía e ao gramado encharcado -, mas a entrada de Constant no Chievo decidiu o jogo a favor dos visitantes: um gol e uma assistência do jogador de Guiné.
Para o Palermo, que tanto pensou na Inter, uma má notícia: o meio-campista Acquah, uma das revelações do campeonato, torceu o tornozelo e deve estar de fora do último jogo da temporada. Outro que pode não jogar é Migliaccio, com uma lesão muscular. O presidente Zamparini já advertiu a equipe que, se jogar como no domingo, o Palermo será goleado. E, se jogar da mesma forma e sem dois homens fortes no meio-campo, o resultado pode ser ainda pior.
Genoa 3-2 Cesena Em dia que a torcida rossoblù comemorou e realizou o cortejo da Sampdoria à Serie B, o Genoa também levou diversão para as arquibancadas, jogando um futebol belo e envolvente. Na última partida de Ballardini no comando da equipe, o Genoa abriu 3 a 0 no primeiro tempo contra um resistente Cesena, graças à ótima afinação da dupla de ataque formada por Palacio e Floro Flores, ambos em quase estado de graça.
Os dois chegaram a um entrosamento quase perfeito e, pelo menos nas últimas dez rodadas, quase todos os gols do Genoa tem saído dos seus pés. No domingo, não poderia ser diferente: dois passes de Palacio e dois gols do centroavante, que chegou aos 13 no campeonato – dez pelo Genoa -, sua melhor marca na carreira. Palacio, que não é de fazer gols, marcou seu nono no torneio e foi, sem dúvidas, destaque dos grifoni na temporada. Outro nome que apareceu bem foi Perin, goleiro da seleção italiana sub-19, que fez ótima estreia, colocou alguma pressão sobre o titular Eduardo e pode ter garantido a estima do próximo treinador do Genoa – provavelmente Malesani – ou um empréstimo, a fim de amadurecer. O Cesena até encostou, com Jiménez e Bogdani, após pênalti cometido por Perin, mas passou longe de ter algum protagonismo.
Brescia 2-2 Fiorentina No duelo entre Brescia e Fiorentina, venceu a jovialidade. Na partida que mais teve jovens em campo nesta rodada, até mesmo o árbitro Gianpaolo Calvarese era estreante. As andorinhas se despediam de vários medalhões, como Caracciolo, Diamanti, Baiocco e Filippini, enquanto faziam estrear possíveis novos ídolos, como Nana e Tassi – este, fantasista de apenas 16 anos, comparado a Roberto Baggio. Na Fiorentina, a despedida era do capitão Montolivo, que não renovará seu contrato e deve ser negociado. A se julgar por sua omissão nos últimos jogos, pode não fazer falta.
Em um Rigamonti quase vazio, também sobraram críticas ao presidente Gino Corioni, pressionado a vender o clube. A Fiorentina acabou dominando a partida, graças a fórmula composta por Vargas e Cerci, autores dos gols de ontem, e únicos que tem feito partidas acima da média pela equipe de Florença. Mal em campo e muito abatido, o Brescia só conseguiu seus gols graças a um incrível erro defensivo dos visitantes ainda no primeiro tempo e por causa da soberania do Airone Caracciolo na área. A mensagem é clara: a equipe deve ser refundada, sobretudo a partir dos jovens.
Cagliari 1-1 Parma Na partida menos empolgante da rodada, o Cagliari tinha como objetivo fechar a temporada com um resultado positivo, depois de quatro derrotas consecutivas e quase dois meses sem vitórias. Já Colomba tinha a missão de comandar um Parma bastante desfalcado e deu chance a vários reservas, embora a estrela que brilharia seria a de sempre: Giovinco. A Formiga Atômica foi o melhor em campo, deu passe para o gol de Bojinov e deve permanecer no clube para a próxima temporada.
Para o Cagliari, o empate conseguido após gol contra de Feltscher foi suficiente para não fechar a temporada de forma tão feia. Donadoni está confirmado para a próxima temporada, mas começará 2011-12 com a necessidade de provar que pode voltar a fazer o time ter novamente o aproveitamento “de Champions” que teve logo depois que foi contratado, e não o das últimas rodadas. E, todos sabem, a paciência do presidente Massimo Cellino é curta.
Bologna 0-4 Bari O Bari se despediu da Serie A com sua melhor atuação na temporada e, de quebra, teve uma esperança para o futuro na série cadetta. O atacante Grandolfo, de 19 anos, autor de 18 gols no campeonato Primavera, marcou três gols e mostrou à torcida biancorossa que há esperança para a disputa da segundona, mesmo com um time em plena crise financeira e técnica. Outro que foi bem foi o norueguês Huseklepp, autor de um gol e duas assistências, confirmando seu crescimento na fase final do campeonato.
O atacante e outros jogadores importantes e custosos do elenco devem ser vendidos para que a reestruturação do clube tenha início e outro treinador, já que Mutti não foi confirmado para a próxima temporada, inicie um trabalho com vistas ao retorno imediato para a elite. A se destacar no Bologna, sonolento há quase dez rodadas, o adeus do técnico Alberto Malesani, que deve acertar com o Genoa, e do zagueiro Moras, provável reforço do Parma.
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Seleção da 38ª rodada Amelia (Milan); Maggio (Napoli), Lucio (Inter), André Dias (Lazio), Nagatomo (Inter); Constant (Chievo), Inler (Udinese); Palacio (Genoa), Totti (Roma), Rocchi (Lazio); Grandolfo (Bari). Técnico: Stefano Pioli (Chievo).