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Benoît Cauet não foi brilhante, mas ajudou a Inter a conquistar uma Copa Uefa

Coadjuvante em uma Inter de ataque estrelado, Benoît Cauet fez parte da equipe campeã da Copa Uefa de 1998. Com certa técnica e ajudando a dar ritmo ao jogo, o meio-campista central se destacava principalmente pela agressividade na marcação e seu ótimo tempo de bola, que lhe rendeu o apelido de Il Postino, ou em português, “o carteiro”. Sua passagem na Itália foi mais marcante do que em seu país natal, onde não teve muito sucesso nos grandes clubes, apesar dos títulos nacionais.

Francês, Cauet nasceu em Châtellerault, uma comuna do país que hoje em dia tem pouco mais de 30 mil habitantes. Ainda jovem, encarou um enorme desafio pela frente. Seu primeiro time foi o Olympique de Marseille. Chegou na base do clube com 16 anos, e sua estreia profissional aconteceu em 1988. Na 25ª rodada da primeira divisão, começou como titular em um jogo parelho contra o Racing Paris. E, apesar de não ser chegado aos gols, conseguiu deixar sua marca na vitória por 2 a 0. O outro tento foi marcado por Jean-Pierre Papin, ídolo do OM e que viria a ter uma passagem atribulada pelo lado rossonero de Milão.

Benoît seguiu na reta final de sua temporada alternando entre o banco de reservas e a titularidade, ficando na maioria dos jogos como substituto. Nos últimos três, foi titular durante 90 minutos. O Marseille não foi além do sexto lugar, porém, para a próxima campanha, a expectativa era de mais tempo em campo e de começar a construir o seu lugar no onze inicial. No entanto, o azar com problemas físicos atrapalhou o seu desenvolvimento.

Até outubro, Cauet ganhou oportunidades de titular. Depois de uma grave lesão, perdeu praticamente a temporada inteira seguinte, quando o OM foi campeão francês. Somado a esse problema, o presidente do clube à época, Bernard Tapie, estava interessado em montar um elenco com nomes caros e badalados. Praticamente sem espaço, fez parte do grupo que venceu o bicampeonato em 1989-90, mas atuou apenas nos acréscimos de uma partida da campanha.

Mudando para ares mais modestos, o jovem meio-campista francês, então com 21 anos, chegou como importante reforço ao Caen. O clube que brigou contra o rebaixamento, ficando em 16° lugar na temporada anterior, deu um salto de qualidade, indo para o oito lugar na primeira época com a novidade no elenco. Titular em praticamente todos os jogos, Cauet ajudou a equipe a se manter com tranquilidade na elite ao longo do biênio seguinte, ainda levando-a ao quinto lugar do campeonato nacional e também às quartas de final da Copa da França, quando foi eliminada pelo OM.

Reconhecido por sua diligência, Cauet se consolidou no meio-campo nerazzurro (Arquivo/Inter)

Seu bom desempenho não passou despercebido, e o Nantes garantiu a contratação de Cauet em 1994. Além dele, Christian Karembeu e Claude Makélélé fizeram parte do histórico time que conseguiu vencer o Campeonato Francês daquela temporada. Jean-Claude Suaudeau, treinador que levantou o caneco, chegou a elogiar Benoît, numa declaração à Gazzetta dello Sport. “Todos os elencos, sejam de clube ou seleção, precisam ter um Cauet. Isso não só pelas suas qualidades físicas e técnicas, mas também por ser um atleta que dá o melhor exemplo tanto dentro ou fora de campo”, afirmou.

A seleção francesa, aliás, era um assunto delicado para o meia, Cauet, mesmo tendo uma carreira de sucesso e sendo um bom jogador, não teve chances de representar seu país. Até porque seu setor tinha uma enorme concorrência: eram os tempos de Zinédine Zidane, Didier Deschamps, Youri Djorkaeff e também de Karembeu e Makélélé, seus companheiros de clube.

O Nantes, jogando a Champions League na temporada seguinte, acabou eliminado pela campeã da edição, a Juventus de Marcello Lippi, e ficou distante do bicampeonato nacional, com uma sexta colocação. Para Benoît, era o fim da linha e a última mudança para um clube nacional. Depois de uma breve passagem no Paris Saint-Germain, time pelo qual foi vice da Supercopa Uefa, finalmente Il Postino desembarcou naquela que seria sua casa.

O então técnico da Inter na época, Luigi Simoni, através de uma recomendação do espanhol Luis Suárez, ex-meia nerazzurro, encontrou o talento francês para se juntar a outras diversas contratações badaladas: Diego Simeone, Taribo West, Álvaro Recoba… e um tal de Ronaldo Fenômeno. Mais uma vez entre estrelas, Cauet não se deixou intimidar e conseguiu seus minutos ao longo das partidas.

Cauet defendeu a Inter por quatro temporadas completas, e conquistou apenas um título (Allsport)

Seu ano de debute em solo italiano também foi aquele em que marcou mais gols: quatro na Serie A e um na Copa Uefa. O tento na competição estrangeira, seu primeiro com a camisa nerazzurra, foi justamente na França. Enfrentando o Lyon na segunda fase eliminatória do torneio, Cauet anotou o segundo dos três tentos que ajudaram a Beneamata reverter o cenário no mata-mata e passar para a próxima fase.

Naquela campanha, aliás, a Inter voltaria à França outras duas vezes. Primeiro, perderia por 2 a 0 para o Strasbourg – mas faria 3 a 0 em casa e se classificaria. O bom time montado por Simoni chegaria até a decisão da Copa Uefa, que foi disputada em Paris. Cauet participou da final, ao sair do banco, e contribuiu para que os nerazzurri superassem a Lazio por um sonoro 3 a 0.

No Campeonato Italiano, o troféu escapou por pouco. Em abril de 1998, a Inter enfrentou a Juventus em um dos jogos mais polêmicos da história da Serie A. Um pênalti claro não marcado a favor do time de Milão seguido por um assinalado a favor dos bianconeri enlouqueceu torcida, treinador e elenco. No fim das contas, os nerazzurri tiveram que contentar com o segundo lugar, cinco pontos atrás da Velha Senhora.

Depois da conquista do primeiro título da era Massimo Moratti, Cauet até ganhou mais minutos em campo, sendo titular com uma frequência maior. No entanto, o desempenho da Beneamata não se tornou brilhante como esperado: na temporada 1998-99, uma péssima oitava colocação na Serie A mostrou o quão abaixo do que poderia o time produziu. Na seguinte, uma super Inter, com um ataque badalado, incluindo Roberto Baggio, Christian Vieri, Iván Zamorano, Adrian Mutu, além de Ronaldo e Recoba, tropeçou na intempestividade de seu manda chuva e nas trocas de técnicos excessivas.

No Torino, seu segundo time no futebol italiano, Benoît não conseguiu grane destaque (Allsport)

A temporada 1999-2000 seria a último em que o camisa 15 atuaria com regularidade e ofereceria sua contribuição na organização do jogo da Inter e no quilômetros percorridos para bloquear rivais. O diligente francês perdeu espaço no início do novo milênio, sobretudo a partir do segundo turno da Serie A 2000-01, e disputou apenas 21 partidas na campanha.

Levando uma vida regrada e morando na pouco movimentada comuna de Arese, o meio-campista sempre se manteve em boa forma física e era tido como um atleta exemplar. Mesmo assim, já tinha 32 anos e terminou descartado pela Inter pouco após o início da temporada 2001-02: depois de 147 aparições e sete gols pelos nerazzurri, o carteiro foi vendido ao Torino, que retornava à elite italiana.

O veterano Cauet estreou pelo Toro em outubro de 2001, num histórico empate por 3 a 3 com a Juventus: os grenás perdiam por 3 a 0, mas conseguiram o empate e ainda viram Marcelo Salas desperdiçar um pênalti no finalzinho. A rival citadina seria justamente a única vítima do francês nos 17 jogos em que representou o Toro. Em fevereiro de 2002, anotou o tento da virada sobre a Juventus no Derby della Mole, mas Enzo Maresca deu o troco no fim e ainda provocou a torcida adversária após o 2 a 2.

Embora tenha começado a sua trajetória no Torino como titular, Cauet perdeu espaço na hierarquia do técnico Giancarlo Camolese e se tornou uma opção a Simone Vergassola, Riccardo Maspero e Diego De Ascentis. Dessa forma, foi negociado no verão seguinte, sendo um dos muitos veteranos adquiridos pelo Como do presidente Enrico Preziosi.

Pelo Como, Cauet foi titular absoluto, mas viveu realidade bem diferente da que atravessou nos tempos de Inter (Getty)

Os lariani, que retornavam à elite após 13 anos nas divisões inferiores, decidiram apostar em jogadores de experiência comprovada para tentarem permanecer na Serie A. Assim, além de Cauet, foram contratados, antes ou ao longo da campanha, os goleiros Fabrizio Ferron, os zagueiros Juarez e Pasquale Padalino, o meia Fabio Pecchia e os atacantes Benito Carbone, Daniel Fonseca, Nicola Amoruso e Nicola Caccia.

Vestindo o exótico número 51, o regista francês foi o atleta que mais entrou em campo pelos comascos (34 vezes), mas não conseguiu evitar o retumbante rebaixamento para a segundona. O Como somou apenas 24 pontos – 14 a menos do que os times mais próximos à zona de descenso – e só não teve desempenho inferior ao do Torino, que terminou a campanha com 21. Após a desilusão, Cauet deixou a Itália.

Na temporada seguinte, no Bastia, quase teve o mesmo destino do Como no verão de 2004. Em sua terra natal, Cauet e sua equipe conseguiram escapar da queda para a Ligue 2 por apenas um ponto. Depois disso, o meia ficou sem clube e, a partir de janeiro de 2005, passou por mercados alternativos: foi campeão búlgaro pelo CSKA Sofia, em 2005, e da Copa da Suíça pelo Sion em 2006, antes de se aposentar, aos 37 anos.

Benoît descansou por alguns anos e, depois disso, se tornou comentarista na Itália. O francês participou de programas de diversas emissoras da Velha Bota e também trabalhou para o Inter Channel, reforçando a sua ligação com os nerazzurri. Um relacionamento que ainda levou Cauet a iniciar sua carreira como treinador: ele comandou equipes de base da Beneamata ente 2010 e 2016 e, no biênio seguinte, foi olheiro do setor juvenil. O ex-meia também passou por Concarneau, da terceira divisão gaulesa, e Châteauroux.

Benoît Cauet
Nascimento: 2 de maio de 1969, em Châtellerault, França
Posição: meio-campista
Clubes: Marseille (1988-90), Caen (1990-94), Nantes (1994-96), Paris Saint-Germain (1996-97), Inter (1997-2001), Torino (2001-02), Como (2002-03), Bastia (2003-04), CSKA Sofia (2005) e Sion (2005-06)
Títulos: Campeonato Francês (1989, 1990 e 1995), Copa da França (1989), Copa Uefa (1998), Campeonato Búlgaro (2005) e Copa da Suíça (2006)
Clubes como treinador: Concarneau (2019-20) e Châteauroux (2021)

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