Diz um célebre ditado popular que “burro velho não aprende”. Relacionar teimoia a muares é comum, mas existem humanos tão teimosos que parece ser ofensivo aos pobres equídeos fazerem parte da comparação. Gian Piero Gasperini, atual técnico da Inter, é desses.
O treinador piemontês tem o 3-4-3 como seu esquema favorito e não abre mão dele. Experimentando o módulo desde quando treinava o pequeno Crotone, em 2003, Gasperini conseguiu ótimos resultados, como a promoção dos calabreses à Serie B e até um quinto lugar com o Genoa na Serie A, em 2008-09. Os louros da vitória, no entanto, só vieram quando ele teve jogadores adequados ao esquema. Em sua última temporada no Genoa, quando não tinha um elenco adaptado ao 3-4-3, morreu abraçado ao esquema e foi demitido por Enrico Preziosi na primeira metade do campeonato. Hoje, em situação semelhante na Inter, corre o mesmo risco.
A primeira polêmica com o novo treinador foi em relação ao posicionamento de Sneijder, que viraria um objeto misterioso na Inter de Gasperini, sem trequartista. O piemontês já testou o meia mais recuado na linha de quatro jogadores do meio-campo e também aberto pelo flanco esquerdo, como na partida de ontem contra o Palermo, mas o jogador não rendeu nem perto do que pode render. Ontem, quando passou a bola de forma primorosa para o gol de Forlán, Sneijder havia se deslocado para uma posição central, onde gosta de jogar e rende melhor. Para que a própria Inter cresça de produção, o treinador deve acomodar o holandês na faixa de campo em que se sente mais confortável. Mesmo que isso signifique abrir mão de seus ortodoxos ideais táticos.
Gasperini é um homem que preza a versatilidade. Por isso, ele gosta de experimentar jogadores em posições diferentes das convencionais, muitas vezes sem sucesso. Marco Rossi, capitão do Genoa, foi rara exceção em sua trajetória. Se Sneijder foi testado em diferentes funções pelo fato de a Inter não jogar atualmente com um meia atrás dos atacantes, ontem foi a vez de Gasperini utilizar Zanetti como zagueiro e Álvarez como volante, sem falar em Zárate perdido pelo lado direito do ataque – o argentino jogou tão mal que acabou substituído no primeiro tempo. Ao dar uma de Professor Pardal e fazer experimentos pouco ou nunca antes treinados, Gasperini tornou a equipe ainda mais vulnerável do que era com Leonardo. Desde 2004 a Inter não sofria quatro gols em uma partida da Serie A.
No entanto, o que se viu na derrota nerazzurra para o Palermo, por 4 a 3, não foi novidade: o time já demonstrava, desde a pré-temporada, pouca solidez defensiva, comum aos times de Gasperini, que marcam e sofrem muitos gols – a exceção foi o Genoa de 2008-09, que teve boa defesa. Além disso, o que mais chamou atenção foi a falta de comunicação entre os setores, muito maior que a da fase de testes, quando decepcionou contra Manchester City, Olympiacos e Chievo e, a bem da verdade, fez apenas um bom primeiro tempo contra o Milan, na Supercopa e uma TIM Cup na média. As duas derrotas nos jogos oficiais da temporada devem fazer Gasperini refletir, mas é improvável que a Inter estreie na Liga dos Campeões diante do Trabzonspor, nesta quarta, modificada taticamente. A equipe de Milão também não deve estar diferente na partida do fim de semana, contra a Roma, também em crise.
O esquema do treinador que, ao menos em Gênova, é comparado a Alex Ferguson, requer mais tempo para adaptação dos atletas do que outros módulos táticos, talvez por ser pouco utilizado mundialmente. Ivan Juric, atual auxiliar da Inter e bruxinho de Gasperini quando era jogador, lembra que, quando jogava no Crotone, o esquema demorou a dar certo, mas, quando passou a funcionar, a equipe venceu nove partidas consecutivas. Obviamente, a realidade da equipe calabresa é incomparável à da Inter, que tem pressão por resultados e títulos, além de um vestiário lotado de senadores que, doutrinados por José Mourinho, tem uma ideia bastante clara de que posições devem ocupar em campo.
A Inter já teve a última temporada comprometida pelo fato de Rafa Benítez ter tentado mudar radicalmente a forma de jogo da equipe e pode viver o mesmo drama com o ex-técnico do Genoa. Seu esquema tático já encontra oposição na torcida e até mesmo de figuras de dentro do clube, que através de Massimo Moratti e do capitão Javier Zanetti, já enviaram recados sutis ao treinador. Publicamente, o discurso é que Gasperini conta com o apoio de direção e jogadores, por ser um homem de “ideias claras e boa filosofia de jogo” e que saberá mudar o esquema, se necessário. Dessa vez, o presidente nerazzurro não deve ter a mesma paciência que demonstrou com o espanhol, muito pelo fato de não querer desestabilizar a equipe para a disputa do Mundial de Clubes da Fifa, em dezembro passado. Sem Mundial pela frente, se o time continuar jogando assim, Gasperini não comerá panetone neste Natal.
A Inter tem que passar por uma reformulação no elenco, coisa que já tá mais claro e dificil de adiar, já que muito dos seus principais jogadores já estão em fase decadente, mas está ficando cada vez mais claro que Gasperini não é a pessoa certa pra conduzir esse processo e muito provavelmente será mais uma temporada perdida da Inter. Sem resultados e nem com uma boa reformulação em seu elenco…