Liga dos Campeões

Tem batata no forno

Gasperini, boquiaberto, vê seu cargo balançar após três derrotas em três partidas oficiais: Inter não vai tão mal desde o pré-Calciopoli (Associated Press)

Gasp. Hoje, a onomatopeia que indica que alguém engoliu em seco ou acabou engasgando, e o apelido de Gian Piero Gasperini, treinador da Inter, são, mais do que nunca, sinônimos perfeitos. Apesar de a direção interista negar que Gasperini esteja com o cargo ameaçado, após a estreia com derrota na Liga dos Campeões em casa, para o fraco Trabzonspor – a terceira derrota em três jogos oficiais -, e eximi-lo de culpa, não dá para considerar que seu emprego já subiu no telhado. A Inter não perdia três partidas seguidas em um início de temporada havia 90 anos.

Nesta terça, Gasperini deu o braço a torcer e cedeu às críticas a seu 3-4-3. A Inter começou a partida em um 4-3-3, mas logo nos primeiros minutos, Sneijder deixou o flanco esquerdo e se posionou atrás da dupla de atacantes, formada por Zárate e Pazzini. A Inter esteve mais organizada em campo e sofreu pouco na defesa, até porque o Trabzonspor pouco foi ao ataque. Na verdade, o único chute que foi no gol de Júlio César foi o do lateral Celustka, que acabou entrando e garantindo a primeira vitória turca em solo italiano na história da Champions. O goleiro brasileiro não fez nenhuma outra defesa ao longo do jogo e não conseguiu parar o chute defensável do tcheco, ex-Palermo. A queda técnica do goleiro da Seleção é brusca e quase incompreensível.

Ofensivamente, a produção da Inter foi baixa. O meio-campo se movimentou muito pouco e ofereceu poucas opções, mesmo contra uma equipe de nível técnico claramente inferior. Nas poucas chances criadas, tanto Pazzini quanto Milito foram inefetivos. O italiano, que tocou apenas oito vezes na bola em todo o primeiro tempo, furou cara a cara com o goleiro Tolgan, enquanto Milito, que jogou durante quase toda a segunda etapa, perdeu duas chances frente a frente com o goleiro – em uma delas, o turco fez grande defesa. Tolgan ainda apareceu bem mais duas vezes, quando desviou chutes de Zárate, mais uma vez um fantasma em campo, e Coutinho para escanteio.

Apesar da crise, Gasperini não é o único técnico da Inter a sofrer com o mau desempenho em casa na Liga dos Campeõs, nos últimos anos, especialmente na fase de grupos. Desde que a competição entrou em sua nova fase, a partir de 1992, a Inter tem nove derrotas em casa e cinco delas aconteceram nos últimos três anos. Sob o comando de Leonardo, perdeu por 2-5 contra o Schalke e por 0-1 contra o Bayern, em 2011; em 2008, com José Mourinho, perdeu por 0-3 para o Panathinaikos e, no início do mesmo ano, com Roberto Mancini, perdeu nas oitavas de final para o Liverpool, por 0-2, em resultado que provocou o pedido de demissão – depois retirado do treinador. Curiosamente, o único que não perdeu em casa foi Rafa Benítez e a única temporada entre 2007 e 2011 que não teve derrotas em casa foi a da Tríplice Coroa.

Se superstição conta, nunca uma equipe derrotada em uma estreia de LC venceu o torneio. Porém, com o futebol demonstrado pela equipe de Milão, até agora, é difícil imaginar que vejamos a Inter atingir uma fase tão distante da competição. Para manter seu emprego de pé, neste sábado, Gasperini terá um duro teste, no Giuseppe Meazza, contra a Roma. Um resultado ruim deve deixar a cozinha da Inter com um cheiro insuportável de batata queimada. Delio Rossi, Carlo Ancelotti e Claudio Ranieri já aparecem no retrovisor do piemontês.

A Itália que dá certo
Quando foi para a Inglaterra para enfrentar, nesta quarta-feira, o Manchester City, o Napoli tinha em mente um claro objetivo: não ser derrotado. E os partenopei cumpriram à risca sua meta, saindo da fria cidade inglesa com um empate precioso na bagagem. Se em qualquer circustância a igualdade no placar já seria boa graças à superioridade técnica do adversário, longe da Itália e em uma partida na qual foi amplamente dominado, o 1 a 1 final foi ótimo para os azzurri.

Com uma proposta de jogo bem clara, o Napoli foi dominado desde a primeira etapa pelo veloz e poderoso ataque do City. A linha de frente formada inicialmente por David Silva, Nasri, Agüero e Dzeko foi bem controlada pela defesa napolitana, principal setor da equipe na partida. A partir deste panorama, o que se viu foi uma partida de ataque contra defesa, com as poucas investidas dos partenopei partindo sempre de contra-ataques buscando o matador Cavani a partir da velocidade. E foi em uma dessas jogadas que os italianos criaram a melhor chance da partida, em bola no travessão Lavezzi.

Sem tomar gols e ainda contando com a melhor oportunidade do jogo até então, o Napoli sequer poderia imaginar que chegaria ao seu melhor momento na partida antes do City. Novamente em um contra-ataque, desta vez puxado com inteligência por Maggio, que o Napoli chegou ao primeiro gol do duelo. Após passe do meio-campista, Cavani se viu livre dentro da área e fez o que sabe de melhor: balançou as redes. Se havia chegado em Manchester com o claro objetivo de não sair derrotado, os partenopei, aos 22 minutos da segunda etapa, se encontravam com um placar muito melhor do que o esperado.

O problema, porém, ainda morava no ímpeto ofensivo do adversário. Com mais 25 minutos restantes para o final do jogo, restaria ao Napoli suportar a blitz dos Blues. Para não deixar o veloz adversário chegar com força, restou aos azzurri brecar as jogadas ofensivas com muitas faltas. E foi em um destes lances faltosos que os donos da casa chegaram ao empate. Após De Sanctis arrumar mal a barreira, Kolarov não perdoou, encheu o pé e igualou o marcador, aos 33 minutos do segundo tempo.

A igualdade no City of Manchester permaneceu até o final do duelo, mesmo com as entradas de atacantes em ambos os times no tempo restante – Pandev no Napoli e Tevez no City. Com o apito final, festa para os napolitanos, que apesar de terem sido amplamente dominados voltam para casa com um ponto precioso na bagagem. Com a derrota do Villarreal por 2 a 0 para o Bayern de Munique no outro jogo da chave, os partenopei comemoram duplamente: estrearam sem derrota, mesmo que fora de casa, e ainda largam na frente dos espanhóis para a disputa da vaga na Liga Europa, caso a classificação para a próxima fase da Liga dos Campeões não venha. Contra o Manchester City, na volta, o ambiente do San Paolo será um trunfo. (Leonardo Sacco)

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