A Itália jogou ontem, em Pescara, apenas para cumprir tabela contra a Irlanda do Norte. Já classificada para a Euro 2012, o jogo só valeu para Cesare Prandelli fazer pequenos testes, como falamos aqui. Tenho um amigo que está morando na bela Pescara e, quando soube que ele iria ao Adriatico para assistir a partida, pedi que ele, um literato, fizesse um texto sobre o jogo, o estádio, as pessoas. O resultado você pode conferir abaixo, nas palavras de Igor Albuquerque.
Noite clara em Pescara
O Gran Sasso vinha já há dois dias se esquentando. Daqui da varanda, eu acompanhava a descontração em crescendo da montanha, que na terça-feira já estava despojada do manto branco que pesava sobre si. Talvez para receber a Azzurra, o frio tenha ido embora e Pescara, se não estava quente, aconchegava, digamos, morna.
Morna também a partida. Como não valesse mais nada para ambas as equipes (uma já classificada, a outra sem esperanças), o certame não pedia muita ansiedade, como fosse em Pescara, nada de desmedida. Quem foi ao estádio (exceto aqueles da tripinha de assentos cedida à torcida norte-irlandesa) esperava não exatamente uma disputa, mas sim um desfile da Nazionale.
Pois sim, houve desfile. No alto, uma amarela e cheíssima lua com o coelho em pé sobre as patas traseiras – aqui eles veem um rosto, mas na verdade o coelho só mudou a pose; nas arquibancadas, a torcida entoando o trecho de Seven Nation Army, da Copa de 2006. E no gramado o prêmio pelos mais de cem jogos com a camisa da seleção para Cannavaro, Zoff, Maldini e Buffon. O mesmo Buffon que dali a meia hora faria bem diante de mim uma daquelas defesas milagrosas que tantas vezes me salvaram de vexames no vídeo-game.
Um outro que eu observava atentamente lembrando do Winning Eleven, agora ali de verdade, era Pirlo. O cabeludo sofria uma eficaz marcação homem a homem de um irlandês troncudo, mas com 20 minutos de jogo, um vacilo, Pirlo encontra espaço e acha De Rossi, que com um belo lançamento coloca a pelota na frente do fantástico Antonio Cassano. E, aí, o golaço de voleio. Cassano ainda marcaria no segundo tempo e quase derrubou o panino que eu soboreava no momento de glória do centroavante. E então a goleada, o terceiro gol, contra, bem verdade, mas somente possível devido à insistencia de um tal de Pirlo que pela terceira vez tentava enfiar a bola no lado esquerdo da area.
“Brasile, bella partita, ah?”, me disse no final o amigo Massimo, que dessa vez não falou em dialeto napolitano. “Bella partit, Massimo.” Cansadinhos do senta-levanta requerido pelas mais de vinte ‘ôlas’, saíam do estádio os confiantes e pragmáticos pescareses depois do drops de entretenimento. Caminhavam tranquilos, paravam numa pizzaria, olhavam pro céu…
Brilhava lá o coelho agora prateado. Mas o danado já tinha mudado de posição outra vez. Agora com o torso curvado quase voltado pro chão, parecia querer dar uma cambalhota pra gente.