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Importante na Inter e na Alemanha, Andreas Brehme foi sinônimo de versatilidade

O final da década de 1980 ficou marcado por dois trios que deram o que falar na Itália. Enquanto o Milan tinha o trio holandês formado por Ruud Gullit, Marco van Basten e Frank Rijkaard, a Inter apostava em um trio alemão que tinha Lothar Matthäus, Jürgen Klinsmann e Andreas Brehme.  Desses três, Brehme geralmente é o menos lembrado. Porém ele foi fundamental na conquista do scudetto da temporada 1988-89 e do título mundial conquistado pela Alemanha em 1990.

Brehme iniciou sua carreira no modesto Saarbrücken, na segunda divisão da Alemanha, mas bastou uma temporada para se destacar e chegar ao Kaiserslautern. Nas cinco temporadas que ficou nos Roten, Brehme se destacou por sua capacidade de chutar tão bem com o pé esquerdo, sua especialidade, quanto com o pé direito e por ser um excelente cruzador. Até hoje, Brehme é considerado, também, como um dos maiores cobradores de falta de todos os tempos. Todas essas características fizeram com que ele fosse um dos convocados pelo selecionado nacional para disputar a Eurocopa de 1984, estreando logo no primeiro jogo diante de Portugal, no dia 16 de junho.

A visibilidade da seleção nacional abriu portas para uma transferência para o gigante Bayern Munique, em 1986. Depois de dois anos no time bávaro, Brehme resolveu se aventurar na Itália juntamente a Matthaüs, seu companheiro de Bayern. O destino foi a Inter. Em Milão, Brehme se encaixou rapidamente no estilo de jogo de Giovanni Trapattoni, onde jogava como um falso lateral esquerdo. Como o time nerazzurro, conquistou o título da liga na sua primeira temporada, livrando a Inter de um jejum que já durava nove anos e de quebra faturou o Prêmio Guerin d’Oro, dado ao melhor jogador do ano na Serie A, pelo jornal italiano Guerin Sportivo. Até hoje, nenhum outro alemão conseguiu levar o título.

Apesar das características ofensivas, o alemão também contribuía com a defesa (imago/Kicker)

No início da temporada 1989-90, Brehme venceu a Supercoppa contra a Sampdoria de Roberto Mancini e Gianluca Vialli. Logo depois, também foi titular na vexatória campanha interista na Copa dos Campeões de 1989-90, quando o time foi eliminado logo na primeira fase pelo modesto Malmö, da Suécia. O fracasso na Copa dos Campeões deu lugar uma conquista inigualável pelo defensor alemão. Na Copa do Mundo de 1990, disputada na Itália, a Alemanha fazia uma campanha irrepreensível, disputando toda fase de grupos em Milão, no estádio onde Brehme já estava habituado a jogar, o Giuseppe Meazza. Na semifinal, Brehme marcou o gol do empate alemão contra a Inglaterra e ainda converteu o pênalti na disputa que levou a seleção germânica à final. Foi nesse jogo que Brehme entrou definitivamente para a história.

Faltando pouco mais de cinco minutos para o final da partida contra a Argentina, o zagueiro Roberto Sensini cometeu pênalti sobre Rudi Völler. A responsabilidade da cobrança caiu nos pés, ou melhor, no pé direito de Brehme, o pé que teoricamente não era o melhor, mas que era seu preferido para cobrar penalidades – as faltas, por sua vez, preferia cobrá-las com o esquerdo. O alemão foi para a cobrança e conseguiu superar Sergio Goycochea, grande pegador de pênaltis, para dar o terceiro título mundial à Alemanha. O grande desempenho entre 1989 e 1990 fez com que Brehme ainda ficasse na terceira colocação do prêmio Bola de Ouro, dado pela revista France Football. O vencedor foi Matthäus.

Após a Copa do Mundo, Andy, como era conhecido, não deixou de conquistar mais títulos com a Inter. Venceu ainda a antiga Copa Uefa da temporada 1990-91, competição na qual brilhou principalmente a estrela de Klinsmann, muito ajudado pelos cruzamentos e passes precisos de seu compatriota. A trupe alemã saiu em debandada da Inter em 1992, após uma temporada decepcionante, em que o time acabou a Serie A na oitava colocação, e Brehme decidiu ir para o Zaragoza, da Espanha, numa aventura que durou apenas uma temporada antes de voltar a seu antigo clube, o Kaiserslautern.

Brehme foi o dono da ala esquerda nerazzurra por alguns anos (Arquivo/Inter)

De volta a Alemanha, Brehme viveu emoções distintas. Venceu a Copa da Alemanha na temporada 1995-96, no mesmo ano em que seu time foi rebaixado. Em vez de mudar de time ou se aposentar, Brehme fez história mais uma vez. Jogou e venceu a segunda divisão e logo no ano em que retornara à elite, levantou também a salva de prata, tornando o Kaiserslautern o único time que conseguiu esse feito, de vencer as duas divisões em anos consecutivos. No time da Renânia, foi também um dos principais tutores de um jovem Michael Ballack.

Após o título da Bundesliga de 1997-98, Brehme decidiu que era hora de pendurar as chuteiras, aos 38 anos. Ao todo foram 608 jogos e 75 gols na carreira. Depois de encerrar a carreira nos gramados, Brehme se aventurou como técnico, mas não teve longa trajetória. Foram dois anos no Kaiserslautern e mais um ano no Unterhaching sem nada para comemorar.

Brehme trabalhou como embaixador da Associação Alemã de Futebol promovendo jogos como, por exemplo, a despedida de Oliver Kahn. Andy, entretanto, teve diversos problemas financeiros e chegou a falir, tendo até que trabalhar como faxineiro para pagar suas contas. Nesse período, sua saúde se deteriorou e o levou à morte precoce, aos 63 anos, devido a um ataque cardíaco. Ainda em vida, o ex-jogador foi homenageado diversas vezes pela Inter, e recebeu o carinho da torcida nerazzurra, para a qual será inesquecível.

Atualizado em 20 de fevereiro de 2024.

Andreas Brehme
Nascimento: 9 de novembro de 1960, em Hamburgo, Alemanha Ocidental
Morte: 20 de fevereiro de 2024, em Munique, Alemanha
Posições: zagueiro e lateral-esquerdo
Clubes como jogador: Saarbrücken (1980-81), Kaiserslautern (1981-86 e 1993-98), Bayern Munique (1986-88), Inter (1988-92) e Zaragoza
Títulos: Bundesliga (1987 e 1998), Copa da Alemanha (1996), Supercopa da Alemanha (1987), Serie A (1989), Supercoppa Italiana (1989), Copa Uefa (1991) e Copa do Mundo (1990)
Seleção alemã: 86 jogos e 8 gols

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