Seleção italiana

No sufoco e no cansaço

Gol salvador de Giovinco classificou a Itália para as semifinais da Copa das Confederações (Reuters)

Na segunda rodada da Copa das Confederações, Recife presenciou uma irreconhecível Itália de Prandelli, mas uma legítima Squadra Azzurra. Fazendo valer o velho clichê de que camisa pesa em momentos decisivos, o manto azzurro pareceu ter inspirado os comandados de Prandelli a buscarem um resultado quase impossível, numa das piores atuações coletivas desde a chegada do ex-treinador da Fiorentina após a Copa do Mundo de 2010.

Posse de bola de apenas 42%, quase 300 passes trocados a menos que na última partida, nove finalizações a menos que o Japão, adversário da vez, menos roubadas de bola e vários outros números que mostram bem a fraca atuação da Nazionale. Apesar disso, bastaram 20 minutos de cochilo japonês e despertar italiano para a partida dessa quarta-feira tomar rumo completamente diferente.

Em condição física longe do ideal e sofrendo com o clima quente e úmido do nordeste brasileiro, a Itália viu um Japão confortável e mais ligado que em relação à estreia. Marcando por pressão, neutralizando as principais peças italianas, trocando passes curtos em velocidade e com verticalidade, o time comandado pelo compatriota Zaccheroni teve o domínio de 75% do jogo, desmontando a equipe de Prandelli, que, sem muitas alternativas, se deu bem nas mudanças após uma escalação esquisita, com Maggio e Aquilani, dominados por Kagawa, Nagatomo e quem mais aparecesse pelo setor direito.

Com 37 minutos do primeiro tempo, os japoneses já estavam com 2 a 0 no placar e finalizado oito vezes contra o gol de Buffon, que fez quatro importantes defesas. Apesar disso, o gol que abriu o placar veio numa marcação questionável do árbitro ao marcar penalidade de Buffon sobre Okazaki, após erro do jovem De Sciglio na recomposição. Sempre na mira de clubes italianos, Honda, o destaque da partida, cobrou bem. Posteriormente, a defesa italiana voltou a cometer erros, quando Chiellini e Montolivo bateram cabeça e Kagawa aproveitou o vacilo acertando bonito chute de esquerda.

A reação italiana começou quando Prandelli, ainda no primeiro tempo, trocou Aquilani por Giovinco. Cansados, os japoneses deram o espaço que faltava aos italianos para buscar o resultado. Após o primeiro chute contra a meta de Kawashima, em cobrança de falta de Pirlo – o principal finalizador italiano, com cinco chutes, o que reflete bem a atuação italiana –, o próprio jogador da Juventus cobrou escanteio na medida para o preciso e forte cabeceio de De Rossi, que fez seu sexto gol na era Prandelli, todos na bola aérea. Aos 41 minutos, a Itália reacendia o jogo.

Logo depois, Giaccherini enfim deu às caras ao aproveitar o passe de Balotelli e acertou a trave japonesa, aos 46, assustando os nipônicos e quase dando o empate à Itália antes do fim do primeiro tempo. Melhor ajustado, o time do Belpaese seguiu com dominando na volta do intervalo. Aos 50, Giaccherini aproveitou o cochilo de Yoshida e tocou para Balotelli, livre, porém Uchida entrou no meio e marcou contra o próprio gol, empatando a partida. Tendo igualado o número de finalizações, o gol da virada veio em novo pênalti mal marcado, agora a favor da Itália, depois que o árbitro viu toque de mão de Hasebe. Na cobrança, Balotelli converteu e chegou ao décimo gol com a seleção principal, tornando-se o jogador mais jovem a chegar a tal marca ao lado do mítico Giuseppe Meazza.

Posteriormente, a Itália ainda chegou a obrigar Kawashima a defender as finalizações de Giovinco e Maggio pouco depois da virada. Porém, o time de Prandelli não voltaria a finalizar mais, até o gol da vitória, aos 86. Até lá, uma longa caminhada sob a pressão nipônica, que em cerca de 40 minutos finalizou mais 12 vezes, acertando a trave de Buffon em três ocasiões e vencendo o goleiro e capitão juventinos mais uma, com Okazaki. Na boa cobrança de falta de Endo, o baixinho se antecipou à Montolivo e subiu alto para cabecear e empatar o jogo aos 69. O Japão quase chegou à virada com Okazaki e Kagawa, que acertaram a trave em duas finalizações em sequência.

Prandelli havia mexido mais duas vezes, promovendo as entradas de Abate e Marchisio nos lugares de Maggio, mal pela direita, e Giaccherini, bem apenas nos 20 minutos de domínio italiano. Quando parecia que a Itália, totalmente pregada em campo, ia ceder aos japoneses, De Rossi deu passe em profundidade para Marchisio nas costas de Nagatomo e o camisa 8 passou para Giovinco, livre na pequena área, decretar a vitória que assegurou a Squadra Azzurra nas semifinais da Copa das Confederações, feito inédito para a Nazionale – esta é somente a segunda participação italiana na competição criada pela FIFA em 1992; em 2009, na África do Sul, a seleção acabou caindo na fase de grupos que também contava com o Brasil, ficando atrás do Estados Unidos.

Apesar do baixo rendimento na partida, especialmente na parte coletiva, num confuso 4-3-2-1 com Aquilani, que na fase defensiva virava 4-4-1-1, alguns merecem destaque individual. Certamente não são Prandelli, que dessa vez armou o time, e Aquilani, que recompunha mal a linha de marcação. O 4-4-1-1 foi desastroso, porque aumentava ainda mais o espaço para Okazaki, Honda e Kagawa aproveitarem, já que as duas linhas não tinham compactação, principalmente pelos zagueiros (muito confusos nessa quarta) estarem muito “afundados” no setor. 

Quem foi bem foi De Rossi, que vem de temporadas muito fracas pela Roma. Em campo, ele lembrou um pouco o jogador que esteve em Polônia e Ucrânia na Euro 2012 e foi o principal nome italiano na partida, dando ao menos um pouco de equilíbrio no meio de campo. Apesar de estar poucos minutos em campo, Marchisio entrou bem, deu o passe para o gol da vitória e pede por um lugar de volta ao time titular – provavelmente, voltará ao time no lugar de De Rossi, que estará suspenso contra o Brasil. Autor do quarto gol, Giovinco também entrou bem e pode vir a ser uma opção para Prandelli no próximo jogo.

Em contrapartida, muitos caíram de desempenho. A começar por Chiellini, que apesar de ter tido o maior número de desarmes e afastadas de bola (juntamente a De Sciglio), se posicionou mal e não lembrou o zagueiro firme e de boa leitura da Juventus. É a mesma situação de Barzagli, que também jogou mal contra os mexicanos. Pirlo foi quem mais tocou na bola entre os azzurri, e o que mais finalizou, porém criou poucas condições para seus companheiros finalizarem. Assim como Montolivo, muito bem contra o México, mas pouco participativo contra o Japão, mesmo com espaço para jogar. Balotelli tocou apenas 30 vezes na partida, cometeu três faltas, finalizou em apenas três oportunidades e pouco utilizou o pivô, mas compreende-se que o atacante foi pouco acionado.

De qualquer forma, ficou claro que a preparação física não foi ideal e o time sentiu bastante isto em Recife. Com a classificação encaminhada, a Nazionale enfrentará os anfitriões comandados por Felipão na terceira rodada no calor de Salvador no sábado, talvez pensando na liderança e em escapar da Espanha (caso estes confirmem o favoritismo), mas principalmente pensando na questão física nas semifinais – que serão realizadas na próxima semana, nos dias 26 e 27. Caso seja líder, a Itália jogará em Belo Horizonte, com clima mais ameno, diferentemente de Fortaleza, local da semifinal caso os italianos sejam vice-líderes do grupo.

Veja os sete gols da partida aqui.


Ficha Técnica
COPA DAS CONFEDERAÇÕES – ITÁLIA 4×3 JAPÃO
Estádio: Arena Pernambuco, Recife (PE)
Data/Hora: 19/06/2013 – 19h (de Brasília)
Árbitro: Diego Abal (ARG)
Cartões Amarelos: Buffon, De Rossi (suspenso) (ITA), Hasebe, Konno (JAP)
Gols: Honda (21’), Kagawa (33’), De Rossi (41’), Uchida (contra, 50’), Balotelli (52’), Okazaki (69’), Giovinco (86’)
Itália (4-3-2-1): Buffon; Maggio (Abate), Barzagli, Chiellini, De Sciglio; De Rossi, Pirlo, Montolivo; Aquilani (Giovinco), Giaccherini (Marchisio); Balotelli. Técnico: Cesare Prandelli.
Japão (4-2-3-1): Kawashima; Uchida (Hiroki Sakai), Yoshida, Konno, Nagatomo; Hasebe (Nakamura), Endo; Okazaki, Honda, Kagawa; Maeda (Havenaar). Técnico: Alberto Zaccheroni.

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