Serie A

Enrico Chiesa: “Brasil e Argentina têm algo a mais”

Enrico Chiesa comemorando um dos 45 gols que marcou com a camisa do Parma

(Matéria postada no Blog Melhor Futebol do Mundo, do Yahoo! Esporte Interativo)

Quem jogou o saudoso Elifoot 98 com certeza se lembra de Enrico Chiesa, mas o italiano não era bom só no mundo dos games. Ótimo atacante, Chiesa rodou bastante pela Velha Bota, mas gravou seu nome na história do futebol italiano fazendo parte de um mágico Parma, no final da década de 90. Atualmente, o ex-atacante treina uma equipe da base da Sampdoria e cedeu uma entrevista falando sobre Balotelli, Copa do Mundo, Parma e muito mais.

O Balotelli divide muitas opiniões. Alguns acham que ele é um top player, outros não acreditam muito no seu potencial. Você acha que ele tem capacidade para ser o protagonista de uma Copa do Mundo?

Balotelli é um jogador de grande potencial, muito forte, mas que por enquanto ainda não sabe se expressar da melhor maneira. Creio que ele pode ser um dos protagonistas no Brasil.

Falando do coletivo, acha que a Itália tem condições de chegar a uma final no Maracanã? Falta alguma coisa para o time de Prandelli?

A Itália tem tudo para disputar um belo Mundial. Experiência, força e qualidade fazem parte desse grupo. Entretanto, chegar a final é muito difícil, o caminho é longo, duro e esconde muitas armadilhas. Também acredito que Brasil e Argentina, além de terem a vantagem de jogar na América do Sul, têm algo a mais que os outros.

Uma vez o Gigi Riva disse que você era uma mistura dele mesmo com Paolo Rossi. O que dizer desse elogio?

Foi um grande prazer. Riva e Rossi fizeram história no futebol italiano e ser comparado a eles me enche de orgulho.

A Itália é conhecida por ter grandes defensores. Quem foi o zagueiro que mais te causou problemas?

Joguei com dois grandes defensores: Vierchowod, na Sampdoria, e Cannavaro, no Parma. Creio que são os melhores dos últimos 30 anos, juntos com Paolo Maldini e Nesta. Quando tive eles como adversários eles dificultaram muito a minha vida, mas nunca deixei de marcar meus gols…

E quem foi o melhor jogador brasileiro com quem você já jogou ou que enfrentou?

Ronaldo foi um atacante formidável e um dos melhores do mundo.

Qual foi o gol mais bonito que você já fez?

Eu fiz muitos gols e alguns foram belíssimos, mas não sei dizer um em particular.

(Aqui peço licença para dar minha opinião e mostrar um gol que Chiesa poderia ter escolhido)

Quem eram os seus ídolos quando você era garoto?

Meu ídolo era Marco Van Basten. Mas, uma vez que eu entrei na categoria de base da Sampdoria, aprendi muito sobre Gianluca Vialli e Roberto Mancini, uma dupla dos sonhos. Com o ‘Mancio’ ainda tive o prazer de jogar uma das melhores temporadas da minha carreira.

Se não tivesse sido prejudicado com os problemas da Parmalat você acha que o Parma poderia ter chegado a um título da Liga dos Campeões?

Isso eu não digo. Mas eramos uma equipe muito forte, com os melhores jogadores daquela época: Buffon, Cannavaro, Thuram, Boghossian, Verón, eu e Crespo. Vencemos coisas na Itália e na Europa, mas foi um pecado não vencermos um scudetto ou uma Liga dos Campeões.

Por que você acha que aquele time do Parma do qual você fez parte era tão especial? O que ele tinha de diferente que você não viu em outros lugares em que passou?

O Parma foi uma belíssima aventura na minha vida. De início eramos um time modesto, com pouca pressão. Ficávamos em uma cidade tranquila e que além de ter uma qualidade de vida altíssima respirava e vivia futebol. Era isso que deixava o ambiente especial.

Além de ter passado por um periodo financeiro complicado no Parma, você vivenciou o mesmo na Fiorentina. Que aprendizado você acha que os clubes italianos tiveram com essa esse período de fragilidade econômica? Acha que o país corre um novo risco de recessão no futebol?

É verdade, tanto em Parma quanto em Firenze passamos por momentos difíceis. Ultimamente não temos visto esse tipo de situação na Itália, pelo menos não na Serie A. Espero que o futebol se recupere, embora não seja fácil visto a crise que está afetando todos os setores do nosso país.

Quando você chegou no Siena o clube era bem mais modesto e você fez parte das primeiras participações do clube na Serie A. Qual foi a sensação de participar desse momento especial do clube? Foi um choque muito grande? Afinal de contas você estava acostumado a jogar em clubes de investimento bem maior.

O Siena foi uma outra fase muito importante na minha carreira e na minha vida. Já com uma certa idade e também depois de algumas lesões, consegui me sentir jovem de novo em alvinegro e me senti muito bem lá.

Você treina o time Primavera (sub-19) da Sampdoria. Têm alguns jovens em quem você já vislumbra um jogador capaz de fazer história pela seleção italiana principal? Quem são eles? (da Sampdoria ou de um time adversário).

Seria injusto falar um só, temos muitos bravos rapazes que me enchem de satisfação. A minha Sampdoria é uma equipe que está me acompanhando e estamos conseguindo coisas importantes, mas sempre em nível de grupo.

O ex-atacante é homenageado na comemoração do centenário do Parma.

Quem foi o principal treinador que você teve? Alguém em quem você se espelhe nessa nova função.

Tenho muitos exemplos: de Boskov, que me acolheu quando eu era jovem e me colocou no time principal da Samp, a Eriksson. Sem esquecer Simoni e Ancelotti, que são pessoas fora de série e grandes mestres em campo.

Como tem sido treinar jogadores tão jovens? Quais são as principais deficiências de atletas tão imaturos? E quais os principais conselhos que você dá aos seus jogadores?

O que interessa para mim é que os jovens se desenvolvam. Os resultados, nesta fase, não me interessam tanto. É claro que vencer aumenta a consciência e confiança em sua própria capacidade, mas, aos 18 anos, a vitória não deve ser uma obsessão. É preciso fazer com que os rapazes entendam que futebol é divertimento e que com muito empenho eles podem se tornar profissionais.

Você vem ao Brasil para a Copa do Mundo? 

Vou assistir pela TV, embora ter respirado a atmosfera do Mundial de 1998, na França, tenha sido algo fantástico e que nunca me esquecerei. Entre junho e julho vou ter uns poucos dias de férias e depois volto ao trabalho para me preparar para a próxima temporada. Um treinador nunca deve ficar parado.

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