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Graeme Souness foi um dos primeiros craques da fase de ouro da Sampdoria

Um dos maiores craques britânicos da história, Graeme Souness também passou pela Itália, como jogador e treinador. O escocês teve como ponto alto da carreira a atuação pelo Liverpool, clube qual venceu quase tudo o que podia, e chegou à Bota para defender a Sampdoria na parte final da carreira. Mesmo assim, entrou para a história do clube, sendo fundamental para a conquista do primeiro título de expressão do time genovês.

Souness cresceu em Edimburgo, onde nasceu. Torcedor do local Hearts e do Rangers, o meia começou a carreira no time do seu bairro, North Merchiston. Aos 15 anos, porém, já tinha contrato profissional com o Tottenham, com o qual chegou a vencer a Copa da Inglaterra juvenil, em 1970.

Pouco aproveitado pelo treinador Bill Nicholson, o jovem foi ousado: disse ao técnico que ele era o melhor jogador do time, algo que não surtiu efeito, já que Souness entrou em campo pelos Spurs apenas uma vez, como substituto em um jogo da Copa Uefa. O forte Tottenham venceria o torneio – e seria vice no ano seguinte –, mas o escocês já havia sido emprestado ao Montréal Olympique, do Canadá, integrante da NASL.

Na liga norte-americana, Souness foi titular, e embora tivesse apenas 19 anos, acabou sendo indicado para o time de melhores da competição. Após o início de carreira atípico para um jogador europeu, o Tottenham não quis aproveitá-lo, e o vendeu ao Middlesbrough por 30 mil libras esterlinas, em 1972.

Foi no Boro que a carreira do meia escocês começou a decolar, sobretudo a partir do ano seguinte, com a chegada do técnico Jack Charlton. Nos cinco anos em que vestiu a camisa vermelha do time de Ayresome Park, Souness ajudou a equipe a ser campeã da segunda divisão inglesa, e levou o Boro de volta à elite após 20 anos. Foi lá que o Middlesbrough permaneceu durante toda a sua passagem, que durou cinco anos e rendeu ao jogador a primeira convocação para a seleção da Escócia. Em janeiro de 1978, Souness atingiu o patamar mais alto da carreira e, em uma venda recorde para o Boro (350 mil libras), acertou com o Liverpool. Além de ser um gigante britânico, o time vermelho ainda era o maioral da Grã-Bretanha na época.

Um dos maiores craques do mundo à época, Souness reforçou a Sampdoria após brilhar pelo Liverpool (Allsport/Getty/Hulton Archive)

Graeme Souness chegou a uma equipe que tinha conquistado três Campeonatos Ingleses e três vices nos últimos seis anos – além de duas Copas dos Campeões. Ele chegou aos Reds juntamente com seu compatriota, Kenny Dalglish, e ambos se tornaram mitos em Anfield. Souness ficou em Merseyside por sete anos, e logo em seu primeiro gol já ficou claro que ele seria ídolo. Em um de seus clássicos voleios de dentro da área, vitimou o rival Manchester United, num 3 a 1 para os scousers.

Com o passar dos anos e com a titularidade garantida, Souness desfilou pelos gramados ingleses e europeus distribuindo assistências, marcando golaços e sendo importantes nas muitas conquistas do Liverpool treinado por Bob Paisley e Joe Fagan. Craque de bola, Souness era dono de passes açucarados e letal nos últimos três quartos do campo. Era conhecido, ainda, por ter um poder de finalização muito acima do normal: chutava forte e com precisão e marcava muitos gols da entrada da área. Sempre aparecendo em momentos decisivos, o escocês – que se tornou capitão a partir de 1982 – levantou três Copas dos Campeões e cinco Campeonatos Ingleses, além de quatro Copas da Liga e três Charity Shield. Aos 31 anos, com 358 jogos e 56 gols pelos Reds, era hora de mudar de ares. E ele iria respirar os ares do Mediterrâneo, na Itália.

Surpreendentemente, aquele craque de tantos títulos assinou contrato com uma equipe que ainda não tinha um título sequer em sua história. Em um caso em que muitos poderiam dizer que o jogador era maior do que o clube, Souness fechou com a Sampdoria, por cerca de 650 mil libras esterlinas. O meia chegou à Itália com um objetivo claro: após a saída do irlandês Liam Brady, seria a referência técnica de uma equipe ambiciosa e que projetava um futuro brilhante – que se cumpriu. Àquela época, o escocês faria uma dupla de britânicos com o atacante Trevor Francis, contratado em 1982. Como companheiros, Souness teve jogadores que marcaram época vestindo blucerchiato, como Ivano Bordon, Pietro Vierchowod, Moreno Mannini, Gianluca Vialli e Roberto Mancini.

A contratação de um jogador tão estrelado e cobiçado fazia parte de um planejamento iniciado cinco anos antes. Em 1979, Paolo Mantovani, um ex-negociador de petróleo e ex-assessor de imprensa do clube, adquiriu a Sampdoria na Serie B e foi o responsável por elevar a Sampdoria em cenário nacional. Em 1982, a equipe voltou à elite, e na década seguinte, conquistou todos os títulos de sua história, até então – um scudetto, quatro Copas da Itália e uma Recopa. Souness foi uma das primeiras contratações de peso de Mantovani e participou da conquista do primeiro título doriano, conquistado logo em sua temporada de estreia.

Coincidentemente, o experiente escocês já tivera breve contato com a Itália meses antes de aportar em Gênova. Na conquista de seu último título europeu com o Liverpool, havia castigado a Roma na final da Copa dos Campeões de 1984, marcando um golaço de pênalti, e, aos 31 anos aparecia novamente para aterrorizar a equipe romana, campeã nacional dois anos antes. Em alta, genoveses e romanos lutavam na parte mais alta da tabela, e com dois times muito fortes e técnicos, protagonizaram jogos muito disputados, naquele que era o mais forte campeonato europeu à época.

Souness passou dois anos na Samp e ajudou a equipe a ser campeã da Coppa Italia, em 1985 (imago)

Nos dois anos em que atuou na equipe do estádio Marassi, Souness marcou oito gols em 56 partidas pela Serie A, um deles contra a Roma que castigara, este, na primeira temporada. Em 1984-85, o escocês anotou cinco tentos: além do gol feito sobre os giallorossi, fez contra Cremonese, em sua estreia, Torino, Juventus e Milan. Ao lado de Francis, Mancini e Vialli, o debutante Souness liderou o time na conquista da primeira Coppa Italia doriana, na qual marcou um decisivo gol na partida de ida na final contra o Milan.

No ano seguinte, o meia ajudou a equipe a chegar novamente às finais da competição, mas não pode jogar as decisões contra a Roma, que aconteciam já durante a Copa do Mundo de 1986 – algo impensável hoje. Do México, onde estava defendendo a seleção da Escócia pelo terceiro mundial consecutivo, Souness viu sua Samp vencer a partida de ida, por 2 a 1, e perder a de volta por 2 a 0, graças a um gol de Toninho Cerezo (cortado do Mundial) nos últimos minutos. Se Souness estivesse em campo, talvez a história fosse outra – talvez Cerezo, contratado pela Samp pouco depois, talvez não pudesse fazer história no Marassi, também. Apesar da falta de título em 1985-86, as bases estavam lançadas para um futuro mais glorioso.

Após a Copa do Mundo, a passagem do camisa 8 pela Itália se encerrou. A vida efervescente fora dos gramados – que combinava com seu futebol vistoso – lhe rendeu o apelido de Charlie Champagne em terras italianas. Souness, porém, voltaria a sua terra natal, onde acumularia as funções de técnico e jogador pelo Glasgow Rangers. Em Ibrox, ele conquistou sete títulos antes de se aposentar e desenvolver carreira apenas como treinador.

Souness teve sucesso como técnico na Escócia em uma fase em que times ingleses estavam banidos de competições da Uefa por causa da Tragédia de Heysel. Com isso, para poder atuar em torneios continentais, alguns jogadores britânicos de ponta acabavam indo jogar na Escócia – casos de Trevor Francis e Ray Wilkins (ex-Milan), por exemplo. Foi uma das poucas vezes em que clubes escoceses puderam competir de igual para igual com gigantes ingleses. A aprovação pelos Rangers abriu novamente as portas do Liverpool para Souness. Como treinador, ele substituiu Dalglish, mas nunca chegou perto de ter o mesmo sucesso dos tempos em que atuava pelo time. Perdido em escolhas táticas e técnicas ruins e sem controle do vestiário, deixou o cargo após três anos – dois antes do previsto.

O escocês, então, foi viver uma aventura na Turquia. Pelo Galatasaray, levantou dois títulos, mas é mais lembrado por ter incitado protestos em Istambul: após vencer o clássico contra o Fenerbahçe na partida de volta da final da copa turca, ele fincou uma bandeira com o amarelo e o vermelho do clube no centro do gramado do Sükrü Saracoglü, estádio do Fener. O gesto foi encarado pelos torcedores do Galatasaray como similar ao do herói Ulubatli Hasan, que foi assassinado quando fincava e defendia uma bandeira do Império Otomano na Conquista de Constantinopla, em 1453. Exageros épicos à parte, a torcida do Fenerbahçe ficou irada e foi uma noite de muita confusão em Istambul.

Em Gênova, Souness formou dupla britânica com Francis (Allsport)

Dali para frente, a carreira de Souness como comandante técnico degringolou de vez. De saída, ele acertou com o Southampton, e foi protagonista de um vexame: foi enganado por telefone por uma pessoa que se dizia George Weah. O falsário indicava seu suposto primo, um senegalês chamado Ali Dia, visto que os Saints precisavam de um atacante. Sem testes, confiando no que dizia o colega de faculdade do senegalês e falso Weah (“ele jogou no Paris Saint-Germain e várias vezes pela seleção do seu país”), Souness acertou um contrato de um mês com Dia. O jogador substituiu Matt Le Tissier, estrela do time que saiu lesionado, e protagonizou momentos vexaminosos, o que o fizeram ser substituído para nunca mais jogar outra vez.

Após deixar o Southampton, em 1997, Souness treinou o Torino por um breve período na Serie B, ao lado de Giancarlo Camolese. Logo se demitiu e passou dois anos amargos em Portugal, no comando do Benfica. Criou uma colônia britânica de jogadores que nunca deram certo, recusou a contratação de Deco e caiu em 1999 – levando junto todos os seus bruxinhos. Depois disso, encontrou uma boa geração de jogadores no Blackburn Rovers e permaneceu no clube por quatro temporadas, antes de passar um ano e meio horrendo no Newcastle. Depois de mais um fracasso, se aposentou também da carreira de técnico, com apenas 53 anos.

Com pouco sucesso montando equipes, Souness se tornou comentarista, como muitos ex-jogadores de futebol – e volta e meia é acusado por José Mourinho, técnico do Chelsea, de ser passional pelo Liverpool. O escocês tentou comprar o Wolverhampton, sem sucesso, e volta e meia tem sua volta como treinador cogitada, embora não considere a hipótese. Preservar uma imagem que já foi tão chamuscada é importante. Afinal, é bem melhor lembrar do Souness que foi um craque em campo do que daquele comandante meia-boca.

Graeme James Souness
Nascimento: 6 de maio de 1953, em Edimburgo, Escócia
Posição: meio-campista
Clubes em que atuou: Tottenham (1970-72), Montréal Olympique (1972), Middlesbrough (1972-78), Liverpool (1978-84), Sampdoria (1984-86) e Rangers (1986-91)
Títulos como jogador: Copa dos Campeões (1978, 1980 e 1984), Campeonato Inglês (1979, 1980, 1982, 1983 e 1984), Copa da Liga Inglesa (1981, 1982, 1983 e 1984), Charity Shield (1979, 1980 e 1982), Coppa Italia (1985), Campeonato Escocês (1987, 1989 e 1990), Copa da Liga Escocesa (1987, 1988, 1989 e 1991) e Segunda Divisão Inglesa (1974)
Carreira como treinador: Rangers (1986-91), Liverpool (1991-94), Galatasaray (1995-96), Southampton (1996-97), Torino (1997), Benfica (1997-99), Blackburn (2000-04) e Newcastle (2004-06)
Títulos como treinador: Campeonato Escocês (1987, 1989 e 1990), Copa da Liga Escocesa (1987, 1988, 1989 e 1991), Copa da Inglaterra (1992), Copa da Turquia (1996), Supercopa da Turquia (1996) e Copa da Liga Inglesa (2002)
Seleção escocesa: 54 jogos e quatro gols

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