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O inesperado sucesso do irlandês Liam Brady na Serie A

Poucos irlandeses fizeram tanto sucesso quanto Liam Brady. O meio-campista marcou época com a camisa o Arsenal, durante a década de 1970, mas foi na Itália que conseguiu um sucesso inesperado fora do futebol britânico. Experiência essa que foi lembrada por Giovanni Trapattoni, que chamou o ex-atleta a fazer parte de sua comissão no comando da seleção irlandesa, nos anos 2000.

Vindo de uma família de futebolistas, Brady quase seguiu para um outro futebol, o futebol gaélico, esporte praticado em sua escola na juventude. Mas, logo aos 15 anos, o jovem nascido em Dublin demonstrou potencial para ingressar nas categorias de base do Arsenal, da Inglaterra. Com um talento raro, Chippy, como era conhecido, debutou no time principal dos Gunners com apenas 17 anos. Habilidade, visão de jogo, força e uma habilidade capaz de se livrar dos adversários eram algumas das características de Brady que impressionaram o treinador Bertie Mee.

Após o sucesso no Arsenal, Brady rumou à Itália para vestir bianconero (Arquivo/Juventus FC)

Um bom começo em Highbury fez com que assumisse a titularidade logo no início da temporada, mas um jogo ruim contra o Tottenham freou o seu desenvolvimento: a partir dali, Brady foi aproveitado com cautela em sua primeira temporada. Com o passar dos anos, o irlandês assumiu o comando do meio-campo e foi um os principais jogadores ao longo de sete temporadas, levando o Arsenal de meras brigas contra o rebaixamento para a disputa de títulos, como o da FA Cup, conquistado em 1979. Por isso, foi eleito o melhor jogador do Campeonato Inglês, em 1979, e fez parte da seleção da temporada por três vezes (1978, 1979 e 1980).

No auge de sua carreira, Brady deixou os torcedores dos Gunners boquiabertos ao decidir trocar o time inglês pela Juventus, clube contra o qual fez uma de suas melhores partidas na Copa dos Campeões. O irlandês foi levado a Turim pelo empresário italiano Gigi Peronace, que se notabilizou por levar atletas que jogavam na Inglaterra para a Bota.

Numa fortíssima equipe da Juventus, Brady foi artilheiro e garçom (Getty)

Brady foi o primeiro estrangeiro contratado pela Juventus após a permissão para contratar jogadores de fora da Itália na Serie A, algo que durou 14 anos, entre 1966 e 1980. O futuro camisa 10, porém, não esperava tamanha recepção ao desembarcar na cidade. “Quando o avião pousou, havia uma massa em preto e branco, com os torcedores me esperando. Era algo que não esperava”, disse.

Assumindo o posto uma vez exercido por Giampiero Boniperti, então presidente da equipe, o meia irlandês estreou contra o Brescia e logo mostrou que era o trequartista de que a equipe precisava, mesmo desconhecendo o estilo de jogo italiano. Em sua primeira temporada, um jogo em especial ficou no coração dos juventinos, quando foi o protagonista em uma vitória contra a Inter. Com oito gols e várias assistências, Brady foi peça fundamental para o scudetto na temporada 1980-81, seu segundo título como profissional.

Gelado: Brady mostrou profissionalismo e deu scudetto à Juventus com pênalti convertido sobre o Catanzaro (PA Images)

“Poderíamos ter tido sete ou oito jogadores que estavam na equipe italiana, mas foi Brady, que trouxe experiência e personalidade para o lado, e seu papel no meio-campo era vital”. A frase de Trapattoni, comandante da Vecchia Signora na oportunidade, demonstrava a reverência do treinador para com o meia. A Juve se notabilizou pela forte defesa, que tinha Dino Zoff, Gaetano Scirea, Sergio Brio, Claudio Gentile e Antonio Cabrini e só sofreu 15 gols. No ataque, porém, era Brady, artilheiro bianconero na temporada, quem decidia.

A temporada seguinte, 1981-82, ia bem para a Juventus, mas o presidente Boniperti comunicou a Brady que seu contrato não seria renovado e que ele poderia sair ao final do campeonato: os clubes só podiam contar com dois estrangeiros e a Velha Senhora já havia concluído as aquisições de Zbigniew Boniek e Michel Platini para o ano seguinte. Saía um jogador importante e chegavam dois meia-atacantes que entrariam de vez para a história juventina.

Ao lado de Francis, também proveniente do futebol inglês, Brady formou um dos primeiros grandes times da Samp (BT Sports Photography/Getty)

Brady ainda brilharia mais em campos italianos. Porém, antes de sair, já ciente de que não permaneceria no Piemonte, mostrou extremo profissionalismo e pediu para bater um pênalti na última rodada, contra o Catanzaro: aquela cobrança, convertida a 15 minutos do fim do jogo, daria a vitória por 1 a 0 e o bicampeonato à Juve, que teve somente um ponto de vantagem sobre a Fiorentina. Novamente com o titulo em mãos, Brady deixou Turim após 57 jogos e teve como destino a Sampdoria, clube pelo qual jogaria nas duas temporadas seguintes.

Recém-promovido à elite, o clube genovês vivia um momento de ambições altas, devido aos investimentos do presidente Paolo Mantovani. Entre as apostas do cartola estavam também o atacante inglês Trevor Francis e o jovem trequartista Roberto Mancini: todos corresponderam às responsabilidades e Brady teve seu nome cantado em coro nas partidas no Luigi Ferraris. Na temporada de estreia do irlandês, os blucherchiati conseguiram a 6ª colocação na Serie A; enquanto no segundo ano em Gênova, o meia marcou quatro gols e ajudou o time a alcançar a 7ª posição. Era o início do período de ouro da Samp.

O meia também passou pela Inter, em equipe que bateu na trave em questão de títulos (imago/Colorsport)

De traído a “traidor”, Brady assinou, na temporada 1984-85 com a Inter para substituir Evaristo Beccalossi como o criador de jogadas para a dupla de ataque nerazzurra, formada por Alessandro Altobelli e Karl-Heinz Rummenigge. Brady não fez o mesmo sucesso de antes, mas ainda assim anotou cinco gols em seu primeiro ano na Lombardia, ajudando a equipe a ser terceira colocada na Serie A e semifinalista da Coppa Italia e da Copa Uefa.

Em seu segundo ano na Inter, Chippy teve participação discreta e só anotou gols cobrando pênaltis – foram seis –, mas novamente viu sua equipe alcançar as semifinais da Copa Uefa, nas quais a Inter voltou a cair para o Real Madrid. Sua última aventura na Itália aconteceu no modesto Ascoli, no qual disputou apenas meia temporada, antes de retornar à Inglaterra para defender as cores do West Ham.

Embora tenha obtido números razoáveis pela Inter, o irlandês não teve em Milão o mesmo sucesso que atingiu em Turim (Allsport)

Com a camisa do time londrino, Brady viveu as maiores decepções da carreira. Primeiro, ficou de fora da Euro 1988 por conta de uma lesão – seria a única competição internacional em nível de seleções que Brady poderia disputar, já que se aposentou antes da Copa do Mundo de 1990. Além disso, o irlandês também foi rebaixado com o clube.

Chippy se aposentou ao final da temporada 1989-90, mas voltou ao futebol dois anos para se aventurar como treinador do Celtic. Na Escócia ele viveu momentos frustrantes, e não conseguiu formar uma equipe à altura da grandeza do clube, muito em função da crise financeira que viviam os alviverdes.

Brady chegou a capitanear o Ascoli no curto período em que atuou pelo clube marquesão (Getty)

O ex-meia ainda seria treinador do Brighton & Hove Albion e coordenador das categorias de base do Arsenal até abandonar o futebol. Mas, 12 anos depois, aceitou o convite de Trapattoni e foi assistente técnico na seleção irlandesa entre 2008 e 2010.

Atualmente, além de fazer aparições como comentarista numa emissora de TV da Irlanda, o ex-jogador também é embaixador do Arsenal no desenvolvimento de jovens jogadores. Quem sabe ele não encontre um novo Liam Brady nas academias do clube inglês…

Liam Brady
Nascimento: 13 de fevereiro de 1956, em Dublin, Irlanda
Posição: meio-campista
Clubes como jogador: Arsenal (1973-80), Juventus (1980-82), Sampdoria (1982-84), Inter (1984-86), Ascoli (1986-87), West Ham (1987-90)
Títulos como jogador: FA Cup (1979), Serie A (1980-81 e 1981-82)
Clubes como treinador: Celtic (1991-93) e Brighton & Hove Albion (1993-95)
Seleção irlandesa: 72 jogos e 9 gols

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