Jogadores

Giampaolo Pazzini brilhou por times médios, mas não deslanchou em gigantes

Você provavelmente deve se lembrar de algum jogador que matou a pau em times de menor expressão, mas não correspondeu em equipes grandes. Giampaolo Pazzini, “Il Pazzo”, foi um desses casos. O atacante conquistou as torcidas de Fiorentina, Sampdoria e Hellas Verona, porém deixou a desejar na Inter e no Milan, em um período em que ambos os clubes passavam por época de vacas magras. Centroavante ao pé da letra, ele se consagrou como um excelente cobrador de pênaltis e criou uma icônica comemoração por causa de Luca Toni.

Pazzini nasceu em Pescia, município localizado na Toscana. Ele não demorou a seguir os passos do pai, Romano, e do irmão Patrizio no mundo da bola, uma vez que eles eram atacantes. Em 1999, o garoto se mudou para Bérgamo, entrou para as divisões de base da Atalanta e passou a morar num abrigo para garotos de outras regiões. Na Primavera nerazzurra, fez uma parceria de sucesso com seu amigo Riccardo Montolivo. Foi de Pazzo o passe para o primeiro gol de Monto na categoria, aliás. Nos profissionais, subiram juntos, como titulares, e acabaram sendo “shippados”: a sua união era chamada de Pazzolivo.

Enquanto isso, Pazzini ganhava destaque nas seleções de base da Itália. Ele jogou em todas as equipes juvenis dos azzurrini e atingiu seu auge no Europeu Sub-19, em que venceu marcando gol na final contra Portugal. Também deixou sua marca na inauguração do novo Wembley, com uma tripletta contra a Inglaterra sub-21. O amistoso terminou em 3 a 3, e o bomber recebeu de presente a bola da partida autografada por todos os jogadores.

Na primeira temporada pela Atalanta, Pazzini marcou nove gols em 39 jogos da Serie B e, pelo estilo oportunista e de eficiência na grande área, chamou a atenção de alguns times da Serie A, categoria para a qual levou o time orobico. Continuou seis meses em nerazzurro, até ser contratado pela Fiorentina, que pagou 6,5 milhões de euros por ele em janeiro de 2005. Em sua meia temporada de estreia, marcou três gols – um deles num empate inesperado contra a Juventus em 3 a 3 – e ajudou os gigliati a se salvarem do rebaixamento. Foi na Viola onde Pazzo começou a fazer sua célebre comemoração, levando a mão à boca com dois dedos apontados aos olhos. A explicação tem a ver com a comemoração de Luca Toni, seu colega de time à época.

Pazzini foi um dos muitos jogadores relevantes que saíram da base da Atalanta (AFP/Getty)

“A minha comemoração nasceu em Florença, quando jogava na Fiorentina com Luca Toni”, afirmou Pazzini. “Ele fazia sempre o gesto de orelha, a qualquer hora do dia, no almoço e no jantar. [O gesto] Significava: ‘Ei, você pode nos ouvir?’ E assim, em contraposição, nasceu a minha, cujo significado era: ‘Ei, você pode nos ver?’, só para rir. É uma coisa que gosto, por isso continuo a comemorar assim”, explicou.

Com a opção de Cesare Prandelli por um esquema com um só atacante, Toni, Pazzini acabou com pouco espaço entre os titulares, mas ainda assim foi eleito, em janeiro 2006, o melhor jovem da Serie A pela AIC, a Associação Italiana de Jogadores. Pazzo também deixou seus gols: em dois anos, foram 12 nas poucas partidas como titular, o que lhe rendeu a expectativa de ser o herdeiro natural de Toni. Sem o camisa 30, negociado com o Bayern de Munique, o jovem artilheiro assumiu a titularidade e participou diretamente de mais de 20% dos gols da Fiorentina no campeonato, mas viu seu espaço diminuir com a contratação de Alberto Gilardino, em 2008.

Depois da chegada do ex-milanista, Pazzini só começou três partidas como titular até dezembro e, após 136 jogos e 33 gols pelo clube florentino, acabou negociado com a Sampdoria, que pagou 9 milhões de euros para tê-lo como parceiro de Antonio Cassano no ataque blucerchiato. Fantantonio lhe recomendou a camisa 10, Pazzini aceitou. Em seus dez primeiros jogos pelo campeonato, fez oito gols.

Em Florença, Pazzini precisou lidar com fortes concorrentes e não chegou a se firmar como titular absoluto (New Press/Getty)

Logo no primeiro semestre como referência ofensiva doriana, mostrou grande entrosamento com Cassano e marcou contra Juventus, Milan, Inter e Roma. Também guardou três gols na Coppa Italia, em uma campanha que levou a equipe genovesa à final, perdida nos pênaltis para a Lazio. De qualquer forma, os primeiros seis meses do Pazzo conquistaram os torcedores.

As boas atuações do camisa 10 blucerchiato o credenciaram à seleção italiana principal. Na estreia, entrou no segundo tempo da partida contra Montenegro, valendo pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2010, e deixou a sua marca. Debute com o pé direito pela Squadra Azzurra. Poucos dias depois, no entanto, o bomber acabou expulso aos três minutos de jogo ante a Irlanda e acabou não sendo chamado por Marcello Lippi para a Copa das Confederações de 2009.

Na temporada 2009-10, na qual jogou com uma máscara em várias partidas, em virtude de uma lesão na face, o toscano aumentou o nível e fez 19 gols, inclusive o que decidiu a vaga na Liga dos Campeões para a Samp, na última rodada, contra o Napoli. Naquela mesma campanha, a equipe treinada por Luigi Delneri chegou a liderar a Serie A de forma isolada pela primeira vez desde 1990-91, campeonato em que ficou com o scudetto. Não à toa, Pazzini e Cassano acabaram comparados a Gianluca Vialli e Roberto Mancini, os gêmeos do gol.

Os gêmeos do gol: Pazzini e Cassano levaram a Sampdoria de Delneri para a Champions League (Getty)

Um dos melhores jogadores da Samp, o centroavante acabou convocado para Copa do Mundo de 2010. À época, era o atacante que chegava em melhor fase à África do Sul. Entretanto, Lippi deu pouco espaço aos jovens, apostou na envelhecida base campeã de 2006 e viu os italianos fazerem uma campanha pífia no Mundial. Não passaram da fase de grupos e Pazzini jogou apenas uma partida – contra a Nova Zelândia, pela segunda rodada da fase inicial.

De volta a Gênova, Pazzo tinha a missão de ajudar a Sampdoria a passar dos playoffs da Liga dos Campeões. Porém, o time italiano não conseguiu bater o Werder Bremen, ainda que o camisa 10 tenha marcado três gols, somando os confrontos de ida e volta. Assim, os dorianos tiveram que se contentar com a Liga Europa, competição em que fizeram péssima campanha – apenas uma vitória em seis duelos – e não se qualificaram ao mata-mata.

Em janeiro de 2011, Pazzini se deparou com o maior desafio de sua carreira: jogar pela Inter. Para contar com o toscano, a Beneamata desembolsou 12 milhões de euros e mandou o francês Jonathan Biabiany à Sampdoria. Pazzo chegava a um time estrelado que havia ganhado inúmeros títulos nos anos anteriores. Em Milão, ele teria que brigar por posição com Samuel Eto’o e Diego Milito. Ao mesmo tempo, já era querido pelos torcedores por conta da doppietta que anotou pela Samp contra a Roma, num dos jogos da reta final da Serie A 2009-10: a virada doriana sacramentou a derrota dos capitolinos e possibilitou a ultrapassagem da Beneamata, que garantiria a Tríplice Coroa dias depois.

Pazzini viveu bons momentos em seu início pela Inter, mas acabou negociado após uma temporada negativa (AFP/Getty)

Sem se importar com a concorrência, Pazzini teve um início fulminante pela Inter. Em sua estreia contra o Palermo, saiu do banco no intervalo, anotou uma doppietta e sofreu pênalti, convertido por Eto’o: a nova contratação interista foi o nome da vitória nerazzurra por 3 a 2, no Giuseppe Meazza, pela Serie A. De janeiro a maio daquele ano, o camisa 7 entrou em campo 20 vezes, marcou 11 gols, deu duas assistências e comemorou seu único título como jogador profissional: a Coppa Italia. A Inter bateu o Palermo por 3 a 1, em Roma, e levou o troféu.

Na temporada 2011-12, as coisas começaram a desandar para a Inter, impactando diretamente no rendimento da equipe. O recém-chegado Gian Piero Gasperini mudou o sistema tático do time, abdicando do 4-3-1-2 e adotando o 3-4-3. Não funcionou, e a diretoria interista optou por demiti-lo após a quinta rodada da Serie A. Depois da saída do treinador, Pazzini recuperou o espaço no time – Eto’o já havia deixado o clube –, mas não balançou as redes como de costume. Encerrou a temporada com 40 partidas (somando todas as competições), oito gols e cinco assistências. De qualquer forma, o contexto conturbado da agremiação, que teve três técnicos durante a época 2011-12, não ajudou nenhum jogador do elenco.

O mau momento na Inter fez Pazzini perder espaço na seleção italiana. O centroavante, inclusive, não foi lembrado por Prandelli para a Eurocopa de 2012, competição em que os italianos chegaram à decisão do torneio. Passada a Euro, o toscano seria convocado apenas mais uma vez para representar a Nazionale. Com a camisa azzurra, foram 25 jogos e quatro gols.

No Milan, o Pazzo teve trajetória complicada por uma lesão no joelho (Getty)

Em agosto de 2012, Pazzini virou a casaca: trocou a Inter pelo Milan, em negociação que levou Cassano, seu companheiro de ataque na Sampdoria, à Beneamata. No Diavolo, Pazzo reencontrou Montolivo, amigo nos tempos de Atalanta e Fiorentina. Assim, a dupla Pazzolivo estava junta novamente. A missão de Pazzini no Milan era ingrata: substituir Zlatan Ibrahimovic, vendido ao Paris Saint-Germain. O clube não possuía muito dinheiro em caixa, então a solução encontrada por Silvio Berlusconi e Adriano Galliani foi apostar em um centroavante não tão caro.

Logo na segunda rodada da liga, Pazzini anotou uma tripletta contra o Bologna, no Renato Dall’Ara, e até animou os torcedores. Contudo, o bomber passou em branco nos oito jogos seguintes e o Milan chegou a ocupar a 15ª colocação. Pazzo teve um rendimento bem discreto em sua primeira temporada como milanista: 37 partidas, 16 gols e duas assistências. De qualquer modo, ajudou o clube a se classificar para a Liga dos Campeões.

Em maio de 2013, ele foi submetido a uma operação no joelho direito e perdeu quase todo o primeiro turno da temporada 2013-14. Não recuperou o bom nível, sofreu com lesões e deixou o Milan no verão de 2015. No penúltimo jogo pelo Diavolo, sentiu o gostinho de usar a braçadeira de capitão e marcar, de pênalti, seu centésimo gol em partidas da Serie A.

Já veterano, o centroavante tentou reerguer sua carreira no Verona (imago)

Aos 31 anos, Pazzini tinha duas propostas na mesa: uma do Galatasaray e outra do Hellas Verona. Segundo a Gazzetta dello Sport, a oferta dos turcos era melhor financeiramente, mas Pazzo não quis se mudar à Turquia e, assim, assinou contrato com os gialloblù por cinco anos. Em Verona, o toscano reencontrou Toni, seu colega de ataque nos tempos de Fiorentina.

A expectativa era a de que Pazzini pudesse permanecer 100% fisicamente e voltar a marcar regularmente, visto que, nos últimos dois campeonatos, ele havia anotado apenas seis gols. Porém, nada disso ocorreu em sua primeira temporada com os butei. Sofreu com contusões novamente, balançou as redes somente seis vezes em 31 jogos e viu o Hellas Verona cair à Serie B com várias rodadas de antecedência.

Na segundona, contudo, Pazzini viveu uma temporada magnífica. Agora capitão da equipe, já que Toni pendurara as chuteiras, guardou 23 gols em 35 jogos, terminando como artilheiro da Serie B. Os tentos do toscano foram essenciais para a promoção do Verona à elite. Para se ter uma ideia, ele guardou uma doppietta em quatro partidas seguidas.

Em cinco temporadas pelo Hellas, Pazzini ganhou a faixa de capitão e o respeito da torcida (Getty)

O Hellas encontrou muitas dificuldades com o nível dos outros times na Serie A 2017-18. Pazzini, embora fosse o capitão, perdeu o status de titular da equipe. Assim, em janeiro de 2018, o centroavante rumou à Espanha para sua primeira experiência profissional longe da Itália. Emprestado, ele defendeu o Levante até junho daquele ano. Caiu nas graças da torcida logo no primeiro jogo, porque entrou na reta final da partida contra o Real Madrid e marcou o gol de empate, chapando a bola no canto esquerdo de Keylor Navas. Seria o único gol dele pelo time valenciano.

Pazzini retornou ao Belpaese e disputou mais duas temporadas pelo Hellas: rendeu bem na Serie B e foi uma das notas positivas de uma campanha conturbada, mas que terminou com o acesso dos mastini à elite, e novamente não teve um desempenho fulgurante na primeira divisão. Assim, decidiu não renovar com o Verona, em agosto de 2020.

Três meses depois, aos 36 anos, o atacante anunciou sua aposentadoria dos gramados, em um vídeo no Instagram. Ele pendurou as chuteiras com um ótimo aproveitamento em cobranças de pênaltis: marcou 35 de 39 em toda a sua carreira. Na Serie A, os números são ainda melhores: converteu 23 de 24 penalidades. No campeonato, inclusive, Pazzini marcou respeitáveis 115 gols e, mesmo sem atingir o potencial esperado no início da carreira, figura na lista dos 100 maiores artilheiros da história da primeira divisão.

Giampaolo Pazzini
Nascimento: 2 de agosto de 1984, em Pescia, Itália
Posição: atacante
Clubes: Atalanta (2003-05), Fiorentina (2005-09), Sampdoria (2009-11), Inter (2011-12), Milan (2012-15), Verona (2015-17 e 2018-20) e Levante (2017-18)
Títulos: Europeu Sub-19 (2003) e Coppa Italia (2011)
Seleção italiana: 25 jogos e quatro gols

Compartilhe!

Deixe um comentário