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Como Clarence Seedorf virou um dos gringos mais identificados com o Milan

Um jogador daqueles que deixam saudades, não apenas pelo que foi em campo, como também por sua liderança fora dele. Clarence Seedorf era habilidoso como Andrea Pirlo, raçudo como Gennaro Gattuso e talentoso como Kaká… Com um pouco de cada uma dessas habilidades, somados à sua inteligência, formou um dos melhores meios de campo da Europa em meados da última década. O holandês foi um dos jogadores mais esclarecidos de sua geração, capaz de ser o braço direito de qualquer treinador. E, unindo todas essas características, também se tornou um dos esportistas mais vencedores de sua geração. Seedorf é o único a ter vencido a Liga dos Campeões por três clubes diferentes, por exemplo.

Nascido no Suriname, Clarence Clyde Seedorf é neto de um escravo, que herdou o sobrenome de seu antigo dono, um senhor de terras alemão. Apesar de ter vivido seus primeiros anos na ex-colônia holandesa, Clarence e sua família se mudaram logo para a Holanda. Em Amsterdã, ele começou sua carreira no Ajax do início da década de 1990, e se tornou o mais novo jogador a vestir a camisa dos Godenzonen, aos 16 anos e e 242 dias.

Em um time que fez história com grandes jogadores e com a conquista da Liga dos Campeões da Europa em 1995, Seedorf também escreveu grandes páginas de sua própria carreira. Logo após estrear, ganhou um posto entre os titulares, e no terceiro ano pela equipe da capital da Holanda, já era uma peça-chave para Louis van Gaal – isso com apenas 18 anos. Não demorou para que ele fosse convocado para a seleção, saltando uma categoria: constantemente convocado para a seleção sub-18, só fez um jogo pela sub-21 e depois passou a ser figura constante da Oranje.

Ainda jovem, Seedorf teve curta passagem pela Sampdoria: um entreposto entre dois gigantes, Ajax e Real Madrid (Allsport)

O sucesso rendeu à Seedorf a chance de jogar no futebol italiano, sendo uma das principais aquisições da Sampdoria, para a temporada 1995-96. Em Gênova, o meia holandês se juntaria a alguns grandes nomes do futebol mundial, como Walter Zenga, Sinisa Mihajlovic e Roberto Mancini, além de outras boas peças, como Moreno Mannini, Riccardo Ferri, Alberico Evani, Christian Karembeu e Enrico Chiesa. O time era treinado por Sven-Göran Eriksson, mas não fez uma grande campanha, apesar dos nomes, e muito por causa do alto nível de competição da Serie A naquela época – obteve a oitava colocação. Pelos blucherchiati, Seedorf participou de 34 jogos e marcou quatro gols, o principal deles em uma vitória por 3 a 0 contra a Juventus, em pleno Delle Alpi.

O bom futebol apresentado, de muita técnica e qualidade, chamou a atenção de Fabio Capello, então treinador do Milan e futuro treinador do Real Madrid – não que Seedorf precisasse de apresentações, devido ao que já tinha feito pelo Ajax. Capello aportou na capital espanhola e um de seus primeiros pedidos foi justamente o holandês, que por algum motivo estava em uma equipe de meio de tabela na Itália, após ser cobiçado por meia Europa.

Seedorf chegou respaldado – ganhando, inclusive a camisa 10 – e foi um dos pilares da equipe campeã espanhola em 1996-97 e europeia na temporada seguinte – já com Jupp Heynckes no comando, pois Capello havia voltado para o Milan. O título da principal competições de clubes do mundo encerrou um incômodo jejum do Real Madrid, que não levantava a taça mais desejada do continente havia 32 anos. No clube merengue, Seedorf marcou o que foi, para muitos, o mais belo gol de sua carreira, num petardo da intermediária, contra o Atlético de Madrid.

Vestindo o azul e preto da Inter, Seedorf jogou fora de posição e fez amizade com Ronaldo (Allsport)

Em um ano e meio, o impaciente e controverso presidente Lorenzo Sanz trocou de técnico três vezes – Guus Hiddink, John Toshack e Vicente Del Bosque –, o que comprometeu o desempenho do Real Madrid e, consequentemente, de Seedorf. Em dezembro de 1999, o holandês foi negociado com a Internazionale, tornando-se a terceira contratação mais cara da história dos nerazzurri, atrás apenas de Christian Vieri e Ronaldo, naquele momento – depois, Hernán Crespo e Geoffrey Kondogbia o ultrapassaram.

Enquanto Marcello Lippi foi o treinador da Beneamata, sua presença no time era frequente. Isso, no entanto, durou apenas de janeiro de 2000 até a primeira rodada da temporada 2000-01, quando o técnico – em constante atrito com a direção – foi demitido. A troca no comando, primeiro a cargo de Marco Tardelli e  depois de Héctor Cúper, reduziu a frequência do meia nos jogos dos nerazzurri.

Mesmo assim, em sua última temporada pela Inter, Seedorf marcou dois golaços – o último deles, similar ao marcado no clássico de Madrid. Contra a Juventus, anotou uma doppietta com chutaços de fora da área, e empatou o jogo em 2 a 2 já nos acréscimos. A conquista do ponto foi bastante comemorada, pois a Inter se mantinha como líder isolada e se aproximava do scudetto – no entanto, a equipe deixou a taça escapar na última rodada, no fatídico 5 de maio de 2002. Foi uma das perdas de títulos mais incríveis do futebol italiano e mais traumáticas para os torcedores interistas.

Seedorf chegou ao Milan após troca com a Inter e se deu bem no lado rossonero da capital da Lombardia (Getty)

Ao final da temporada 2001-02, Seedorf foi envolvido em uma das tantas trocas ridículas feitas pela Inter naquele período: o negócio levou Francesco Coco (!) ao lado azul e preto de Milão e o holandês acabou se transferindo ao Milan. À época, a transação parecia boa para todos, pois Coco era um talento da base rossonera e o holandês, que jogou fora de posição (aberto pela esquerda) em toda a sua passagem pela Inter, poderia colocar sua carreira nos eixos pelo Diavolo.

Embora acumulasse sucessos em sua carreira, Seedorf chegou contestado em Milanello por causa do que explicamos acima. No entanto, sob o comando de Carlo Ancelotti, foi peça importantíssima no esquema ao lado de Pirlo e Gattuso e não demorou muito tempo para que torcida e diretoria tivessem certeza de quem havia ganhado com a troca com a rival. Atuando mais centralizado, como interno de meio-campo (na direita ou na esquerda de uma linha de três jogadores) ou como trequartista, encostando nos atacantes, o holandês destacava-se pela regularidade, pela qualidade no passe e pelo senso de posicionamento. Seedorf também era elogiado pela participação no sistema defensivo, já que sua contribuição na marcação foi fundamental para as conquistas dos rossoneri.

O meia que chegou contestado logo ganhou uma vaga de titular com Don Carletto e se sagrou campeão da Liga dos Campeões na primeira temporada – vencendo seu terceiro título da competição e alcançando uma marca ainda inigualada, a de único vencedor do torneio por três equipes diferentes. Foi apenas o começo de uma história que durou 10 temporadas, e que teve Seedorf como titular em nove delas – apenas na última, 2011-12, quando tinha 36 anos incompletos, ele não foi protagonista.

Formando meio-campo estrelado, o neerlandês logo se tornou ídolo de um Milan vencedor (AFP/Getty)

Com o Diavolo, o holandês venceu ainda outra Liga dos Campeões, sendo considerado o melhor meio-campista da temporada 2006-07 no futebol europeu. Não à toa, já que fez gols importantes nas quartas de final contra o Bayern de Munique e na semifinal contra o Manchester United – Seedorf fez 10 gols naquela temporada, seu maior número em solo europeu. O meia venceu tudo o que disputou com a camisa rossonera: Serie A, Coppa Italia, Supercopa Italiana e Europeia e ainda um Mundial de Clubes da Fifa, totalizando 10 conquistas com a camisa vermelha e preta.

Os dez anos como titular do Milan fizeram Seedorf atingir uma honraria: ele se tornou o estrangeiro (não-italiano) com o maior número de jogos com a camisa do clube (432) e superou Nils Liedholm, um dos maiores ídolos da história rossonera, que jogou 394 vezes pelo Milan. Já em seus últimos anos de clube, o holandês ganhou o segundo scudetto, mas também conviveu com os períodos de vacas magras, desdobrando-se em campo, sendo a referência solitária em um time pobre e pouco vitorioso. Ao final da temporada 2011-12, sua passagem por Milão como jogador havia acabado.

Casado com Luviana, uma brasileira, e apaixonado pelo Rio de Janeiro, Seedorf escolheu o Botafogo para encerrar sua carreira. Em quase dois anos pelo Glorioso colocou seu nome na riquíssima história do clube, tornando-se um dos grandes ídolos dos tempos recentes para os torcedores da equipe da Estrela Solitária. Venceu um Campeonato Carioca, guiou o time em uma bela campanha no Brasileirão e ainda ajudou a classificar o Botafogo para a Copa Libertadores.

Ao longo de uma década inteira, o craque holandês foi protagonista do gigante rossonero (AFP/Getty)

Foi aí que o telefone tocou. Era Adriano Galliani, a pedido de Silvio Berlusconi. Massimiliano Allegri estava mal no comando do Milan e para a diretoria rossonera, Seedorf seria a solução. Então, em janeiro de 2014, o camisa 10 botafoguense abandonou o futebol para ser técnico do rossonero, mesmo tendo futebol para entrar em campo – que o diga a torcida do Fogão, que viu o clube ser rebaixado para a Série B meses após sua saída.

O holandês diz não se arrepender de não ter disputado a Libertadores, mas queria ter feito um trabalho melhor com a camisa da seleção do seu país. Ele disputou uma Copa do Mundo, a de 1998, e três Euros (1996, 2000 e 2004), mas não conseguiu fazer a Holanda se classificar para a Copa de 2002 e acabou sendo relegado por Marco van Basten entre 2004 e 2006. Não jogou o Mundial de 2006 e renunciou à Euro 2008.

Após se aposentar, Seedorf teve pouco tempo de trabalho como técnico do Milan. Foi muito criticado publicamente por Berlusconi e foi taxado de arrogante por gente dos bastidores do futebol. Toda sua história no clube foi deixada de lado e após míseros seis meses no comando, o holandês, fritado pela diretoria, foi demitido, mesmo tendo feito um time medíocre fazer bons jogos. Apesar de alguns rumores, Seedorf ainda não recebeu uma nova função como treinador e ainda está sob contrato com o Milan – o clube não quis pagar a multa pela rescisão.

Seedorf poderia ter encerrado carreira no Milan, mas preferiu realizar um sonho e rumou ao Brasil (Getty)

Além de ter conquistado a Liga dos Campeões por três clubes diferentes (Ajax, Real Madrid e Milan), também foi um dos poucos que conseguiu Supercopas nacionais em três países diferentes. Seedorf é o terceiro jogador que mais atuou em competições europeias (163 jogos), atrás apenas de Xavi (173) e Paolo Maldini (174) e está no seleto clube dos 22 profissionais com mais de 1000 partidas oficiais disputadas – tem 1016.

Fora dos campos, ganhou prêmios de estado, como o de Comendador da Ordem Honorária da Estrela Amarela, em Paramaribo, e o de Cavaleiro da Ordem de Orange-Nassau, dado pela Coroa holandesa. Nada mais apropriado para um jogador e um ser humano de tamanha classe.

Clarence Clyde Seedorf
Nascimento: 1 de abril de 1976, em Paramaribo, Suriname
Posição: meio-campista
Clubes como jogador: Ajax (1992-95), Sampdoria (1995-96), Real Madrid (1996-2000), Inter (2000-02), Milan (2002-12) e Botafogo (2012-14)
Clubes como treinador: Milan (2014)
Títulos conquistados: Campeonato Holandês (1994 e 1995), Campeonato Espanhol (1997), Serie A (2004 e 2011), Copa da Holanda (1993), Coppa Italia (2003), Supercopa da Holanda (1993 e 1994), Supercopa da Espanha (1997), Supercopa Italiana (2004 e 2011), Campeonato Carioca (2013), Champions League (1995, 1998, 2003 e 2007), Copa Intercontinental (1998), Supercopa Uefa (2003 e 2007) e Mundial de Clubes (2007)
Seleção holandesa: 87 jogos e 11 gols

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3 comentários

  • pessoal do quattrotratti, muito bom este site de vcs, foi indicação do gian oddi da espn, que no ar passou algumas informaçoes sobre o campeonato italiano usando informaçoes do site de vcs, sou torcedor do milan desde aquela temporada se nao me engano 95-96 em que o milan foi campeao invicto, com george weah comendo a bola…continuem com o trabalho de vcs que é sensacional!!!

    EDNEI AMARAL
    COLOMBO-PR

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