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O ‘governador’ Paul Ince deixou sua marca na Inter de Milão

“C’mon Paul Ince, c’mon Paul Ince”! Os cantos que vinham das arquibancadas do San Siro eram de enorme idolatria por um jogador que passou apenas dois anos na Inter. O inglês Paul Ince foi um dos ícones do English Team na década de 1990 e também teve anos de sucesso não só na Itália, mas na Inglaterra, por Manchester United e Liverpool.

Muito antes de desembarcar em Milão, Ince desenvolveu uma carreira importante na Inglaterra. O jogador nasceu no nordeste de Londres e cresceu como torcedor do West Ham, equipe pela qual se profissionalizou, em 1986, e que defendeu por três anos, sempre na parte baixa da tabela. Após o rebaixamento dos Hammers para a segunda divisão, Sir Alex Ferguson levou o volante de 21 anos para o Manchester United, que não conquistava o título inglês há mais de duas décadas.

A equipe treinada por Ferguson tinha nomes como Ryan Giggs, Andrei Kanchelskis, Dennis Irwin, Eric Cantona, Steve Bruce, Nicky Butt, Mark Hughes, Paul Scholes e um David Beckham saindo das categorias de base. Ao lado de tantas estrelas (algumas já consolidadas e outras que se tornariam anos depois), Paul Ince logo se tornou peça fundamental do time legendário que se formava. Volante de muita raça, habilidade, qualidade em passes e finalizações, o inglês era conhecido pelo espírito de liderança e deu a si mesmo o apelido de “The Guv’nor” – ou seja, O Chefe.

Paul Ince ficou seis anos nos Red Devils e conquistou todos os 10 títulos que ganhou por clubes em Old Trafford, com destaque para o bicampeonato inglês em 1993 e 1994 e a Recopa da Uefa, em 1991. Em 1992, The Guv’nor começou a ser convocado para a seleção inglesa, pela qual disputou as Euros de 1996 e 2000, além da Copa do Mundo de 1998.

O inglês foi um dos líderes do time nerazzurro nos anos 1990 (Arquivo/Inter)

Em 1995, Ince já era um dos principais meio-campistas defensivos do futebol europeu. Naquele ano, Massimo Moratti acabara de adquirir a Inter e investiu no inglês como uma das primeiras contratações de sua gestão. Um dos pilares do primeiro elenco morattiano, o ex-jogador do Manchester United foi a mais cara das contratações do mercado nerazzurro, custando cerca de 13 bilhões de liras. Ince, assinou na mesma janela que Roberto Carlos e Javier Zanetti e chegou com mais destaque do que a dupla, por causa da trajetória que tinha construído na Premier League.

Na primeira das duas temporadas na Beneamata, Ince demorou a se adaptar, muito por causa do ambiente atribulado da equipe, mas esteve presente em quase todas as partidas dos nerazzurri, que concluíram a Serie A apenas na 7ª posição.

Depois do primeiro ano de adaptação, o inglês conseguiu superar os percalços e tornou-se fundamental ao time treinado primeiramente pelo compatriota Roy Hodgson e depois por Luciano Castellini. O ótimo volante se tornou um dos jogadores mais queridos pela torcida e deixou boa impressão, chegando a capitanear a Inter em alguns jogos – feito raro na Itália para quem não tem muito tempo de casa.

Além da qualidade técnica, Ince era conhecido também pela vibração e também por marcar gols: ao todo, foram 13, dez deles no seu segundo ano em Milão. Dois deles, de bicicleta, contra Padova e Cagliari, marcaram época. Em 1996-97, ano em que foi tão valioso para o time, a Inter ficou em terceiro lugar na Serie A e com o vice da Copa Uefa.

Ince se destacou por controle que exercia no meio-campo (imago)

Na partida seguinte à final europeia, um acontecimento marcou o final da passagem de The Guv’nor pela Itália. A Inter fazia seu último jogo em casa e a torcida cantou o jogo inteiro pedindo para que Ince não deixasse o clube. No 3 a 1 contra o Napoli, ele marcou um gol contra sem querer, fez outro a favor e foi um mastim no meio-campo. Apesar dos pedidos da torcida, o inglês preferiu retornar à Inglaterra por questões familiares: queria que seu filho Tom, hoje jogador de futebol, fosse criado em seu país natal.

Após deixar a Inter, com quase 30 anos, Paul Ince passou a defender o Liverpool, um dos maiores rivais do Manchester United – até hoje, foi um dos poucos jogadores a terem vestido as duas camisas. O volante ainda passou dois anos em Anfield e defendeu o Middlesbrough por três temporadas na Premier League. Na descendente da carreira, ele também defendeu o Wolverhampton na primeira divisão e em níveis inferiores do futebol inglês, assim como Swindon Town e Macclesfield Town, seu último clube.

Em Macclesfield, The Guv’nor iniciou sua carreira de treinador, a qual ainda não chegou a decolar. Ince ganhou títulos em divisões inferiores pelo Milton Keynes Dons, mas na Premier League teve apenas uma passagem de seis meses pelo Blackburn – uma das mais curtas da história da primeira divisão inglesa, conhecida por trabalhos a longo prazo. Sem clube desde 2014, dificilmente ele terá, como técnico, o mesmo reconhecimento que teve como atleta.

Paul Emerson Carlyle Ince
Nascimento: 21 de outubro de 1967, em Londres, Inglaterra
Posição: meio-campista
Clubes em que atuou: West Ham (1986-89), Manchester United (1989-95), Inter (1995-97), Liverpool (1997-99), Middlesbrough (1999-2002), Wolverhampton (2002-06), Swindon Town (2006) e Macclesfield Town (2007)
Títulos conquistados: Premier League (1993 e 1994), Copa da Inglaterra (1990 e 1994), Copa da Liga Inglesa (1992), Charity Shield (1990, 1993 e 1994), Recopa (1991), Supercopa Europeia (1991) e Torneio da França (1997)
Carreira como treinador: Macclesfield Town (2006-07), Milton Keynes Dons (2007-08 e 2009-10), Blackburn (2008), Notts County (2010-11) e Blackpool (2013-14)
Títulos como treinador: Football League Trophy (2008) e League Two (2008)
Seleção inglesa: 53 jogos e 2 gols

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