No futebol de hoje, a exigência para que os meias entrem na área adversária para finalizar é cada vez maior. Em alguns contextos do esporte no passado, essa movimentação não era um fator tão relevante, mas alguns jogadores da posição se destacavam exatamente por esse poder de conclusão. Um dos maiores expoentes entre atletas com essas características foi o inglês David Platt, que atuou na Serie A no início dos anos 1990.
Platt chegou às divisões de base do Manchester United aos 16 anos, mas nunca foi utilizado pelo clube. Ao se profissionalizar, foi cedido gratuitamente ao Crewe Alexandra, então na quarta divisão inglesa, e provou, ao longo de quase quatro anos, que os Red Devils haviam cometido um erro crasso. O meia ofensivo empilhou gols e, em janeiro de 1988, acertou com o Aston Villa, então na segunda divisão. Platt ajudou os villains a subirem para a elite e, em novembro de 1989, foi convocado pela primeira vez por Sir Bobby Robson para representar a seleção da Inglaterra. A estreia aconteceu num amistoso contra a Itália.
Após anotar 19 gols no Campeonato Inglês pelo Aston Villa, Platt foi eleito como melhor jogador da competição e acabou confirmado na lista do English Team para a Copa do Mundo de 1990, que foi disputada em solo italiano. O meia ofensivo começou a competição no banco de reservas e entrou em dois jogos da fase de grupos. A partir do mata-mata, se transformou em um dos destaques do Mundial: no duro jogo contra a Bélgica, nas oitavas, entrou na prorrogação e marcou o gol decisivo no penúltimo minuto do tempo extra. Depois, anotou contra Camarões, nas quartas, e na derrota para a Itália na disputa pelo terceiro lugar. A quarta posição é, até hoje, a segunda melhor da Inglaterra no torneio.
No ano seguinte, Platt marcou mais 19 vezes no Campeonato Inglês e voltou ao Belpaese. Em 1991, o meio-campista assinou um contrato com o Bari, que o adquiriu por um valor expressivo: 5,5 milhões de libras esterlinas. David Platt fez valer o investimento e foi o principal jogador dos galletti na Serie A 1991-92, a qual concluiu com 11 gols. Entre os tentos do artilheiro, os principais foram os dois marcados numa vitória sobre a Roma, o que garantiu uma virada no finalzinho sobre o Ascoli e o guardado no clássico contra o Foggia.
Apesar das ótimas atuações de Platt, o time treinado por Zbigniew Boniek, que ainda tinha estrelas como Zvonimir Boban, Robert Jarni e o brasileiro João Paulo acabou rebaixado, com apenas 22 pontos conquistados – cinco a menos que o Genoa, último a escapar da degola. O inglês, claro, havia chamado a atenção de times maiores pelos gols, pela alta performance e pelo senso de liderança: mesmo jovem e novato no país, usou a braçadeira de capitão em algumas oportunidades.
Platt afirmou ter sido procurado por Roberto Mancini, que ainda era jogador e queria que ele fosse ser seu companheiro na Sampdoria, campeã do ano anterior. No entanto, o inglês acabou acertando transferência à Juventus, que havia ficado logo atrás da equipe genovesa. Na Juve, o meia não foi titular, e teve poucos minutos de futebol em um time cheio de estrelas. A temporada acabaria estendendo o período de decepções que começou com a queda do Bari e foi incrementado pela má campanha da Inglaterra na Eurocopa de 1992.
O comandante bianconero, Giovanni Trapattoni, não via o jogador de 26 anos como superior a Andreas Möller e Dino Baggio, no meio-campo. Também não sacaria Antonio Conte para desequilibrar o funcionamento da equipe. Avançar Platt ao ataque, por sua vez, era ainda mais difícil: Roberto Baggio e Gianluca Vialli eram inamovíveis e o tridente era completado por um entre Paolo Di Canio, Fabrizio Ravanelli e Pierluigi Casiraghi.
David Platt estreou na Serie A com bons presságios: marcou o gol que definiu o empate por 2 a 2 com o Genoa, no Marassi. Porém, não decolou. Após a partida da terceira rodada do certame, realizou apenas mais 15 jogos na competição, quase sempre com o objetivo de fazer os colegas descansarem, e anotou outros dois tentos. O inglês colaborou mais intensamente com o título da Copa Uefa. Na fase de 16 avos de final, o confronto com o Panathinaikos se revelou mais complicado do que o previsto e foi definido com um placar agregado de apenas 1 a 0, graças ao único gol que Platt marcou no torneio.
O prolífico meia inglês parecia esquecido em Turim – na decisão da Copa Uefa contra o Borussia Dortmund, nem foi relacionado para o banco de reservas. Roberto Mancini, porém, não esquecia de Platt. Em entrevista ao The Independent, em 2011, o ex-jogador revelou que o craque italiano persistiu nas tentativas de levá-lo à Sampdoria, com ligações telefônicas de duas em duas semanas. Platt finalmente cedeu e, em julho de 1993, fechou contrato com os dorianos.
Em Gênova, David Platt voltou a ocupar um papel de protagonismo no futebol. O excelente início de trabalho pelo clube, com quatro gols nas sete primeiras rodadas da Serie A, antecipou o que viria pela frente: o meio-campista foi titular da Samp e teve uma ótima temporada de estreia.
Ao lado de Mancio, de Gianluca Pagliuca, Pietro Vierchowod, Moreno Mannini, Srecko Katanec, Vladimir Jugovic, Attilio Lombardo e do artilheiro Ruud Gullit, Platt ajudou o time a levantar a Coppa Italia. Na competição, o inglês foi decisivo, com gols nas oitavas, contra a Roma, e nas semifinais, diante do Parma. Ademais, a Samp, treinada por Sven-Göran Eriksson, ainda ficou com a terceira posição no Italiano.
Na temporada seguinte, a Samp começou sendo vice-campeã da Supercopa Italiana. Buscando deixar para trás a incapacidade de ajudar a Inglaterra a se classificar para a Copa de 1994, Platt manteve o bom nível pelo clube. Depois dos nove gols na Serie A anterior, voltou a colaborar com uma boa quantidade de bolas na rede: foram oito, incluindo a segunda no dérbi local, contra o Genoa.
Apesar disso, David Platt teve uma despedida relativamente melancólica do clube blucerchiato. O meia não jogou as semifinais da Recopa Uefa e viu das tribunas o Arsenal eliminar a Samp nos pênaltis. Logo ele, um especialista em cobranças penais. Logo ele, que se transferiria para os Gunners ao fim da temporada. O último jogo de Platt pela Sampdoria aconteceu em 28 de maio de 1995, contra a Inter. O inglês acabou expulso por evitar um tento adversário com a mão. O pênalti não foi convertido, mas com um a menos seu time cansou e trocou uma vitória de virada por um empate sofrido no final.
Platt voltou ao futebol inglês para ser importante no Arsenal, então treinado por Bruce Rioch. O meio-campista disputou uma razoável Euro 1996 pelo English Team e continuou sendo utilizado por Arsène Wenger, sucessor do técnico que havia lhe contratado. Platt participou dos dois primeiros títulos da longeva gestão do francês: a FA Cup e a Premier League, em 1998.
Naquele mesmo ano, David teve um curto período de aposentadoria. O inglês voltou à Itália e teve sua primeira experiência como treinador, num trabalho que durou apenas cinco jogos na Sampdoria. A passagem-relâmpago no banco doriano precedeu a ida de Platt para o Nottingham Forest. No tradicional clube de Midlands, ele acumulou as funções de jogador e treinador, algo que era comum no futebol inglês.
Foram dois anos fracos em Nottingham, mas mesmo assim Platt acabou sendo escolhido como técnico da seleção sub-21 da Inglaterra, em 2001. Sem muito sucesso, deixou o cargo em 2004, atuou um tempo como comentarista e, em 2010, se reuniu com Roby Mancini. David foi auxiliar do treinador italiano durante sua boa passagem pelo Manchester City e pode adicionar mais uma Premier League ao currículo. Afinal, a união entre Platt e a Itália sempre foi muito frutífera.
David Andrew Platt
Nascimento: 10 de junho de 1966, em Chadderton, Inglaterra
Posição: meio-campista
Clubes: Crewe Alexandra (1985-88), Aston Villa (1988-91), Bari (1991-92), Juventus (1992-93), Sampdoria (1993-95), Arsenal (1995-98) e Nottingham Forest (1999-2001)
Títulos conquistados: Copa Uefa (1993), Coppa Italia (1994), FA Cup (1998) e Premier League (1998)
Carreira como técnico: Sampdoria (1998-99), Nottingham Forest (1999-2001), Inglaterra sub-21 (2001-04) e Pune City (2015)
Seleção inglesa: 62 jogos e 27 gols