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O que esperar de Conte no Chelsea?

Depois de muita especulação e conversa, enfim Chelsea e Antonio Conte chegaram a um acordo que fará do italiano o treinador do clube inglês a partir da próxima temporada. Será a primeira experiência do comissário técnico da seleção italiana no exterior e a quinta vez que um italiano estará no comando técnico dos Blues, depois de Gianluca Vialli, Claudio Ranieri, Carlo Ancelotti e Roberto Di Matteo – destes, somente Ranieri não conquistou títulos. Então, o que esperar do técnico nascido em Lecce à frente de um dos clubes mais ricos do mundo?

À primeira vista, é interessante notar que o Chelsea anunciou Conte como “first team head coach”, que, basicamente, é o treinador clássico do time principal que vemos no futebol. Portanto, diferente do “manager”, função muito designada no futebol inglês para treinadores que acumulam funções de diretor responsável por toda administração do clube juntamente a um diretor executivo, presidente e dono do clube. Não será o caso do ex-treinador da Juventus.

Para Conte, que recentemente falou da frustração do trabalho em futebol de seleção, enfim haverá uma nova oportunidade de experiência diária com seus jogadores, de comandar os treinos, estudar os adversários e se preparar para as partidas a cada semana. Também um novo desafio, longe do Belpaese, numa cultura que não conhece e com um idioma que não domina. Claro que somente após cumprir seus compromissos com a FIGC, depois da Euro na França. Para o Chelsea, será um momento de reformulação, depois de uma temporada de franca baixa, em que o clube não conseguiu defender o título inglês de 2014-15.

A ver se Conte, enquanto “first team head coach”, e não “manager”, terá de fato liberdade para buscar jogadores, ou pelo menos sugerir e observar nomes para que o empresário russo Roman Abramovich invista o seu rico dinheirinho. Embora tenha tido papel importante na reconstrução da Juventus, recomendando alguns jogadores, o treinador italiano nem sempre foi atendido, o que resultou na briga com a diretoria e sua respectiva saída, em maio de 2014.

A bagagem

Em Turim, depois de dominar o Campeonato Italiano, faltou dar o salto em competições continentais, e, segundo o próprio treinador, lhe faltavam jogadores para ter sucesso na Europa. Um exemplo disso foi a não contratação de Cuadrado: foi um desejo de Conte, que não foi atendido porque o colombiano, coincidentemente, foi para o Chelsea – e nessa temporada foi emprestado justamente para a Juventus. O ponta cafetero permitiria mudar o sistema do time, preso ao consolidado 3-5-2 – o que acontece agora com Allegri.

Mas antes de consolidar o 3-5-2 na Juve e de praticamente todos os técnicos da Itália seguirem-no, influenciando até mesmo treinadores de outros países (inclusive na Inglaterra), Conte foi de outra escola. Em suas experiências por Arezzo, Bari, Atalanta e Siena, seguiu os passos de Antonio Toma e Gian Piero Ventura – hoje treinador do Torino -, famosos pelo 4-2-4 ofensivo instituído no Pisa. Antonio observou muito os times antes de substituir o próprio Ventura no Bari e ter Toma como seu assistente. No Siena, utilizou o mesmo sistema ofensivo que levou o clube de volta para a Serie A, assim como fizera com os biancorossi.

De volta à Juventus, tentou seguir seu método, mas teve que se adaptar ao elenco da Velha Senhora. Primeiro, para desfrutar melhor de Vidal e Marchisio sem prejudicar o veterano Pirlo, utilizou o 4-3-3 na maior parte da primeira temporada, aproveitando toda a energia do chileno e a versatilidade do italiano, dando movimentação e ritmo junto à regência do ex-milanista e gols com infiltrações nos espaços criados pelos pontas e pelo centroavante.

Na defesa, porém, Chiellini tinha que jogar na lateral esquerda, compensando as ultrapassagens Lichtsteiner no outro lado. Sem dispor de muitos pontas, Conte viu contra a Udinese outra forma de jogar, se adaptando ao sistema do adversário e seguindo o 3-5-2 pelo restante da temporada – consequentemente, também pelo resto de sua passagem em Turim, com variações de esquema durante alguns jogos.

O técnico de Lecce viu na defesa a três a melhor forma de usufruir do trio formado por Barzagli, Bonucci e Chiellini, que defendiam muito bem a área atuando como trio e avançavam o jogo juventino com a bola. Entre os três defensores, quem ditava o ritmo era Bonucci, ocasionalmente fazendo lançamentos longos, juntamente com Pirlo por dentro, enquanto os zagueiros laterais sempre criavam linhas de passes e funcionavam como outra forma de fazer a bola chegar no último terço, com passes diretos, sem passar pelos meio-campistas – estes entravam na área compensando o movimento dos atacantes. Os alas, por sua vez, garantiam a amplitude e profundidade que Conte sempre cobrava no 4-2-4, se desmarcando para receberem passes longos e enfiadas de bola em áreas descobertas pela marcação adversária.

Sua Juve era conhecida pela solidez defensiva e podia tranquilamente defender em bloco baixo e garantir vida tranquila para Buffon, assim como ter versatilidade com a posse de bola, podendo reter a pelota por um momento e acelerar em seguida no terço final – algo não muito diferente do que já executava no seu 4-2-4. Um jogo à italiana adaptado ao futebol da década de 2010. Com Asamoah na ala esquerda, ainda permitia defender com duas linhas de quatro, de acordo com o adversário: a partir da chegada do ganês o time de Conte deu aulas de como fazer as diagonais defensivas – a basculação. Allegri também aproveitou isso, com Pogba, Evra, Barzagli e Cuadrado.

Depois, no comando da seleção da Itália, Conte não fez muita questão de mudar de sistema, enquanto pode contar com o trio Barzagli, Bonucci e Chiellini. Dessa forma, o treinador acabava aproveitando o entrosamento e disponibilidade dos outros jogadores a jogar assim, com um módulo de jogo já consolidado e sem pouco tempo para treinar durante as datas Fifa. Sem o trio, mostrou versatilidade para mudar o esquema tático – sem alterar o modelo de jogo, contudo. 4-3-3, 4-2-4 e 3-4-3 foram algumas das soluções utilizadas pelo treinador, que hoje faz questão de não se ater a um esquema tático. Conte sabe que isso, na verdade, não tem grande importância, desde que o time tenha estratégia e modelo de jogo bem assimilados e versatilidade para adaptar a outros contextos.

Na Premier League, com seu ritmo e intensidade frenéticos, Conte enfrentará algo com o que não estava acostumado na Serie A e no futebol da seleção, ambos com jogo mais pausado, técnico e defensivo. Interessante pensar no que Conte planeja fazer, em como aproveitará o elenco e, especialmente, como se adaptará ao futebol inglês.

Ainda é cedo para saber quais jogadores permanecerão no Chelsea e quais o italiano levará para Londres. De qualquer forma, as especulações dão conta de que Conte beberá da fonte da Serie A: Pogba e Bonucci (Juventus), Nainggolan e Rüdiger (Roma) e Higuaín (Napoli) são alguns dos nomes ligados ao novo Chelsea.

É bom lembrar que a contratação de Conte acontece contemporaneamente à chegada de Pep Guardiola ao Manchester City: o catalão foi o treinador que mais mudou o futebol nesta década e também nunca trabalhou no país britânico. Os dois se juntarão a treinadores experientes no contexto inglês como Arsène Wenger, do Arsenal, e, provavelmente, José Mourinho, apalavrado com o Manchester United. Também a alguns novos nomes que parecem bem adaptados, como Mauricio Pochettino, do Tottenham, e Jürgen Klopp, do Liverpool. Sem falar que, com Conte, mais outro time inglês “parla italiano”: o surpreendente Leicester, com Ranieri, e o modesto Swansea, com Francesco Guidolin, também têm técnicos azzurri.

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2 comentários

  • Conte deveria tentar o pentacampeonato mundial em 2018. Ele dirige uma das 3 seleções mais vitoriosas do mundo. Mas vai pagar um preço muito alto na Euro, pois, faltando 2 meses, ainda não tem definido o time que estreará na competição. Por exemplo: quem é o ataque italiano? Nem conte sabe (pois ainda está fazendo testes), se bem que eu entraria com Pelle e Eder. Mas nunca se pode subestimar a dona de 4 títulos mundiais, muito embora, infelizmente, não creio muito que vá papar o scudetto continentale.

  • Apenas complementando: depois da saída de Conte, gostaria muito de ver Fábio Capello no comando da Azzurra, fazendo sucesso como fez no Milan e na Roma. Mas creio que Massimo Alegri assumirá a seleção da Bota.

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