Polivalente, coringa, raçudo, dedicado e profissional: assim podemos descrever Simone Padoin. Capaz de atuar em diversas funções no meio-campo e pelos dois lados do gramado, Pado assumia não ser um primor em habilidade e sempre soube entender seu espaço nos times que defendeu. Sua flexibilidade sempre foi elogiada pelos treinadores e, por conta dela, foi muito querido pela torcida da Juventus, que chegou a lhe atribuir o título de lorde e lhe imaginar vencendo a Bola de Ouro. Ao menos em montagens.
Nascido em Gemona del Friuli, na província de Údine, Simone sempre foi um torcedor fanático da Udinese. Quando veio ao mundo, em 1984, a cidade mais importante da região vivia um momento esplendoroso, pois Zico vestia a 10 bianconera. Padoin ainda era muito pequeno para entender o que estava acontecendo, mas foi capturado pela paixão e, com o passar do tempo, decidiu e tornar jogador de futebol. Aos 15 anos, depois de ser notado por olheiros da Atalanta em uma escolinha local, rumou a Bérgamo.
Padoin começou treinando como meia, mas aos poucos foi sendo testado como lateral ou ala – portanto, sua polivalência vem de longa data. Ainda na base da Atalanta, reconhecida por revelar muito talentos, conquistou os seus primeiros títulos: em 2003, faturou a Coppa Italia Primavera e, com a seleção italiana, a Euro Sub-19. Depois das taças, foi vendido em copropriedade ao Vicenza, onde estrearia profissionalmente.
O clube vêneto almejava retornar à Serie A, que disputara pela última vez em 2000-01. No entanto, no período em que Pado lá esteve, o Vicenza nunca brigou pelo acesso. Pelo contrário, o time frequentou a metade inferior da tabela e se esforçou muito para não cair. Muitos dos bons jogadores que vestiram a camisa dos lanerossi nestes anos tiveram dificuldade de entregar um bom futebol, mas Simone se sobressaiu. Atuando como meia ou lateral, principalmente pela esquerda, Padoin foi um dos pilares da equipe vicentina até 2007, somando 133 aparições.
Por conta de sua boa sequência pelos biancorossi, no mesmo ano foi convocado para representar a Itália na Euro Sub-21. Aquela geração, que ainda tinha nomes como Giorgio Chiellini, Alberto Aquilani, Riccardo Montolivo, Giampaolo Pazzini e Giuseppe Rossi, fez apenas o básico: embora não tenha ido longe no torneio continental, classificou o país para os Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008. Após defender os azzurrini, Pado retornou à Atalanta, que disputava a Serie A – pouco depois, o clube readquiriu a totalidade do passe do atleta.
Em Bérgamo, Padoin mostrou serviço quase que de imediato. Escalado principalmente como meia pela esquerda no 4-4-2 de Luigi Delneri, mas também atuando centralizado ou no lado oposto, o vêneto somou 31 aparições e três gols na boa campanha da Atalanta, nona colocada da Serie A 2007-08. Após ganhar a confiança irrestrita do treinador, na temporada seguinte recebeu ainda mais minutos em campo e foi o atleta mais utilizado pela Dea, participando de 37 jogos – e acrescentando mais três tentos à sua conta. Os nerazzurri voltaram a superar a expectativas e terminaram o campeonato na 11ª posição, longe da zona de rebaixamento.
Na temporada 2009-10, Delneri se transferiu para a Sampdoria e a Atalanta optou por contratar Angelo Gregucci, que salvara o Vicenza do rebaixamento em três ocasiões. A troca não deveria ser traumática para Pado, já que ele e o novo técnico se conheciam bem. No entanto, a Dea caiu de rendimento e, não obstante a luta de Simone, passou a brigar para não ser rebaixada. A diretoria resolveu mudar o comando da equipe duas vezes, mas nem Antonio Conte nem Bortolo Mutti deram jeito: os nerazzurri amargaram o descenso para a Serie B.
Padoin foi um os jogadores que se safaram da raiva da torcida, pelo bom nível apresentado, e no verão de 2010 foi convidado pela Juventus para participar de um turnê de amistosos pelos Estados Unidos – sem vínculo com o clube de Turim, mediante aval da Atalanta. Apesar do primeiro contato com a Velha Senhora, o friulano permaneceu na Lombardia e ajudou a Dea a voltar à elite, gabaritada pelo título da Serie B.
No segundo escalão, o volante manteve uma alta média de jogos. Mesmo com uma lesão no menisco, atuou 34 vezes e foi um dos destaques do time, ao lado do goleiro Andrea Consigli, do lateral-esquerdo Gianpaolo Bellini, dos meias Giacomo Bonaventura e Cristiano Doni, e do atacante Simone Tiribocchi.
Pela importância que tinha no elenco e por sua regularidade, o friulano era cotado como futuro capitão da Atalanta – deveria assumir a braçadeira depois das aposentadorias de Bellini e Doni. O técnico Stefano Colantuono confiava nisso e manteve Padoin como pilar do meio-campo nerazzurro, com a versatilidade que lhe era cara. No fim de janeiro de 2012, porém, Simone alçou voos próprios: Conte pediu sua contratação para a diretoria da Juventus.
Após 162 partidas e 12 gols, Padoin se tornou um novo jogador da Velha Senhora, que desembolsou 5 milhões de euros para acertar um contrato de quatro anos e meio com o polivalente atleta. Simone estreou em 8 de fevereiro, na vitória por 2 a 1 contra o Milan, pela ida das semifinais da Coppa Italia. Entrou em campo como titular, o que se repetiria apenas outras 47 vezes com a camisa bianconera – ou seja, em cerca de 45% de suas 106 aparições pelo time.
Pado estava ciente de que esta seria a sua função na Juventus: ser uma peça de rotação do elenco, indo a campo quando os titulares precisassem descansar. Ter esta consciência foi fundamental para que o friulano se tornasse um dos jogadores mais queridos para os torcedores. Admirado pelo perfil discreto, pela dedicação total e pelo espírito de sacrifício nas poucas oportunidades que tinha, virou “Lord Padoin” para a torcida bianconera. Para os mais supersticiosos, a sua chegada havia sido o real motivo de a equipe ter iniciado a sua hegemonia nacional. Simone ganhou status de talismã.
Na temporada de debute em Turim, Pado entrou em campo apenas sete vezes, com um tento marcado na goleada por 5 a 0 sobre a Fiorentina, na Toscana. O jogador também foi vice-campeão da Coppa Italia e, dias depois, comemorou o seu primeiro scudetto.
Nos dois anos seguintes, Padoin deu a vida nos treinamentos, à espera de mais oportunidades, mas continuou a ser pouco utilizado por Conte – em geral, como ala pela direita ou volante. Nos 2088 minutos em que esteve em campo, conquistou mais quatro títulos (duas Supercopas Italianas e dois scudetti) e deu a sua contribuição para que a Juventus alcançasse o recorde de pontos numa única edição da Serie A. A Velha Senhora pode alcançar os 102 porque, na antepenúltima rodada, Pado aproveitou assistência de letra de Paul Pogba e marcou o gol da vitória por 1 a 0 sobre a Atalanta, sua antiga equipe.
Em 2014, Conte trocou a Juventus pela seleção italiana e Massimiliano Allegri surgiu como seu sucessor. Para Padoin, a chegada do novo técnico, adepto de frequente rodízio no onze inicial, significaria mais minutos em campo e a frequente escalação como lateral-esquerdo. Antes disso, porém, Simone receberia dois cartões vermelhos pela Serie A e perderia o pênalti decisivo na derrota para o Napoli na Supercopa Italiana. Nada que abalasse a sua trajetória, contudo: na temporada da dobradinha nacional e do vice da Champions League, o talismã foi responsável por quatro assistências.
O final da temporada 2015-16 marcaria o encerramento do contrato de Padoin, mas o vínculo foi renovado por mais um ano. Ainda assim, aquela seria a campanha de despedida do talismã. Em seu canto do cisne em Turim, o friulano faturou todos os títulos nacionais disputados (Supercopa, copa e Serie A) e ainda anotou um golzinho, no triunfo por 4 a 0 no Palermo, em abril de 2016.
Lorde Padoin foi um dos grandes homenageados pela torcida após a entrega do troféu da Serie A 2015-16, no Allianz Stadium, e também mereceu palavras afetuosas no comunicado de sua transferência ao Cagliari – que o adquiriu por apenas 600 mil euros. Aos 32 anos, o pentacampeão italiano voltava a emprestar a sua versatilidade a um time que brigava na metade inferior da tabela.
De volta à elite após um ano na Serie B, da qual retornou com o título, o Cagliari fez algumas boas contratações para a temporada: além de Pado, chegavam mais peças experientes, como Mauricio Isla, Marco Borriello e Bruno Alves, enquanto Nicolò Barella se firmaria após empréstimo ao Como. Na Sardenha, Simone se desdobrou em campo. Espécie de factótum, foi ala e lateral pelos dois flancos do gramado, jogou como volante e meia mais solto, e até mesmo atuou na ponta-direita.
Diferentemente da época de Juventus, Padoin era frequentemente escalado entre os titulares – em 2017-18, inclusive, atuou em 37 partidas da Serie A e somou 3117 minutos. Tendo destaque com a camisa rossoblù, Simone viveu três anos de regularidade pelo Cagliari, nos quais contribuiu com a permanência na primeira divisão. Na segunda temporada pelos casteddu, Pado viu a salvação ser garantida apenas na derradeira rodada, com uma vitória sobre a Atalanta.
Ao fim do contrato com o clube da Sardenha, pelo qual fez 101 partidas, o jogador de 35 anos rumou ao Ascoli, na Serie B. Titular absoluto, Pado chegou até a ostentar a faixa de capitão bianconera e ajudou a equipe marquesã a se salvar do rebaixamento em 2019-20. Simone permaneceu no time para a temporada seguinte, mas decidiu rescindir o seu contrato com a agremiação depois da primeira rodada da segundona de 2020-21. O friulano ainda estava bem fisicamente e tinha bastante lenha para queimar, mas anunciou a sua aposentadoria poucas semanas depois.
Nos meses seguintes, Padoin repousou bastante e aproveitou a companhia da esposa Valentina e dos três filhos. No entanto, não ficou parado: fez cursos na área de gestão esportiva e, em julho de 2021, foi anunciado como membro da comissão técnica da Juventus no retorno de Allegri. O lorde voltou para o lugar em que, de maneira discreta, contribuiu para que as estrelas brilhassem. Acostumado a essa condição, exerce o mesmo ofício nos bastidores.
Simone Padoin
Nascimento: 18 de março de 1984, em Gemona del Friuli, Itália
Posição: meio-campista e lateral
Clubes: Vicenza (2003-07), Atalanta (2007-2012), Juventus (2012-16), Cagliari (2016-19) e Ascoli (2019-20)
Títulos: Coppa Italia Primavera (2003), Euro Sub-19 (2003), Serie B (2011), Serie A (2012, 2013, 2014, 2015 e 2016) Supercopa Italiana (2012, 2013 e 2015) e Coppa Italia (2015 e 2016)