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‘Bruxo’ de Roy Hodgson, Ciriaco Sforza fracassou na Inter

Ah, os bruxinhos. Muitos treinadores gostam de indicar atletas de sua confiança para os clubes em que estão iniciando um trabalho – alguém chamou o pofexô Luxemburgo aqui? – por uma série de fatores, incluindo conseguir resultados mais cedo. É uma forma de o profissional poder implantar sua filosofia de trabalho com mais facilidade e se sentir mais confortável na nova casa. O meio-campista suíço Ciriaco Sforza chegou à Inter nessa condição, em meados da década de 1990.

Seu nome não mente: Sforza tem origem italiana. O pai do jogador nasceu na província de Avellino e foi morar na Suíça buscando a sorte como pintor. Foi nos Alpes que Ciriaco nasceu e começou a carreira: aos 16 anos estreou pelo Aarau e, após impressionar, se transferiu ao Grasshopper, um dos maiores clubes do país. Depois de ser campeão nacional e ser eleito o jogador helvético do ano, em 1993, o meia se transferiu para o Kaiserslautern, da Alemanha.

Nesta época, Sforza já era titular da seleção da Suíça, treinada pelo inglês Roy Hodgson. O meia central, então com 23 anos, se destacava pela qualidade no passe e visão de jogo e era tido como um dos melhores em sua posição na Europa – a ponto de ter sido lembrado na eleição da Bola de Ouro da temporada seguinte, a de 1994. Naquele mesmo ano ele liderou os helvéticos na Copa do Mundo, competição em que os rossocrociati impressionaram pela organização na fase de grupos: eliminaram a badalada Colômbia e caíram nas oitavas, frente à Espanha.

Sforza só ficou um ano em Milão (Getty)

O regista teve uma rápida passagem pelo Bayern Munique, mas o ambiente atribulado pelas brigas entre Lothar Matthäus e Jürgen Klinsmann atrapalhou a sua adaptação. Em 1996, após ter vencido a Copa Uefa pelos bávaros e ter disputado a Euro com a Suíça, recebeu o chamado: Hodgson o queria para seu segundo ano na Inter. Seria a primeira pré-temporada do britânico à frente dos nerazzurri, já que ele assumira o bonde andando no ano anterior, e a diretoria quis agradá-lo. Massimo Moratti se mostrou reticente quanto ao preço inicial pedido pelo Bayern (17 bilhões de velhas liras), mas com a redução do valor para 5 bilhões, fechou o negócio por Sforza.

O suíço finalmente chegava à terra de seu pai – em 1991, quase assinou com o Napoli. Pupilo de Hodgson, Sforza logo foi escolhido como titular no centro do meio-campo, mesmo que isso significasse que Paul Ince tivesse de jogar fora de posição, na faixa esquerda do setor – não que isso fosse problema para quem já havia improvisado Roberto Carlos na mesma posição.

O início do playmaker foi promissor: foi o autor de um golaço de canhota na primeira rodada da Serie A, aproveitando escanteio cobrado por Youri Djorkaeff. O gol solitário na vitória sobre a dura Udinese, porém, foi o único no Campeonato Italiano em sua curta passagem pela Pinetina – além destes, fez outros três na Copa Uefa, contra Guingamp e Boavista (2).

A camisa 21 do helvético ficou mais célebre por participação no cinema do que em campo (Ansa)

Ao longo do restante da temporada, o suíço se mostrou fora de sintonia com o grupo interista e não fez o que dele se esperava: organizar as ações de jogo da equipe. Acabou tendo atuações opacas e muitos desentendimentos com Ince – este sim, assumia o papel do suíço. Assim mesmo, a Inter foi terceira colocada no Italiano e vice na Copa Uefa.

Negociado quando a janela de transferências abriu novamente, Sforza voltou ao Kaiserslautern, clube com o qual conquistou uma Bundesliga e de que se tornou ídolo nos quase 10 anos em que lá ficou, distribuídos em três passagens. Também jogou outra vez no Bayern e, como reserva, ganhou mais um título nacional, uma Liga dos Campeões e um Mundial Interclubes. Como treinador, tem desenvolvido nada além de uma carreira medíocre e limitada ao campeonato local.

Na Itália, a lembrança de Sforza em campo é quase nula. No cinema, nem tanto: o suíço é citado no filme “Três homens e uma perna”, do famoso trio cômico Aldo Giovanni e Giacomo – os três são interistas, vale salientar. Em uma cena da película, rodada em 1997, Giacomo está doente no hospital e não tem um pijama para dormir. Por isso, Aldo vai à rua e volta com uma inusitada peça para zoar o amigo, o que acaba gerando o seguinte diálogo:

Giovanni: Nossa, mas até você? Você acha que é necessário ele ter de dormir com a camisa de Sforza?

Aldo: A de Ronaldo tinha acabado!

Como se vê, Sforza não era muito amado pelas bandas da Lombardia.

Ciriaco Sforza
Nascimento: 2 de março de 1970, em Wohlen, Suíça
Posição: meio-campista
Clubes como jogador: Aarau (1989-90), Grasshopper (1990-93), Kaiserslautern (1993-95, 1997-2000 e 2002-06), Bayern Munique (1995-96 e 2000-02) e Inter (1996-97)
Títulos como jogador: Liga dos Campeões (2001), Mundial Interclubes (2001), Copa Uefa (1996), Bundesliga (1998 e 2001) e Campeonato Suíço (1991)
Carreira como técnico: Luzern (2006-08), Grasshopper (2009-12), Wohlen (2014-15) e Thun (2015)
Seleção suíça: 79 jogos e 7 gols

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