Chegou a hora dele. Após se consolidar como um dos cinco treinadores com trabalho mais interessante na Serie A, Eusebio Di Francesco finalmente foi contratado por um grande time da Itália. Não um clube qualquer, mas um com o qual ele tem intimidade: a Roma, pela qual faturou o scudetto, em 2001. Di Francesco, que teve passagem de quatro anos como jogador e fez parte do estafe técnico romanista, em 2005, foi apresentado nesta quarta (14) e volta a Trigoria com a expectativa de fazer história também no comando dos giallorossi.
Di Francesco será o segundo membro do elenco que conquistou o título italiano de 2000-01 a dirigir a Roma. O primeiro foi Vincenzo Montella, que estava à frente da equipe sub-15 quando foi alçado ao cargo em 2012, de forma interina: a ocasião marcou a estreia do ex-atacante como treinador profissional, e embora ele tenha feito uma boa condução do time, não teve sua permanência confirmada pela diretoria. Di Francesco, que é o 17º ex-jogador giallorosso a voltar ao clube como técnico, se mira em exemplos mais célebres, como os de Fulvio Bernardini e Fabio Capello – justamente o comandante do terceiro e último scudetto romanista.
Porém, até chegar a Trigoria e ter a oportunidade de dirigir um time que disputará a Liga dos Campeões e brigará por títulos, Di Francesco precisou superar muitas dificuldades em divisões inferiores e em clubes pequenos. O pescarês deu início a sua carreira como técnico no Lanciano, equipe do Abruzzo que disputava a terceira divisão, mas durou somente alguns meses por lá.
Em janeiro de 2010, recebeu convite para comandar o Pescara, agremiação de sua cidade natal e à qual dedica seu carinho como torcedor: fez trabalho razoável pelos golfinhos, sendo responsável por tirar o time da Lega Pro e por uma campanha regular na Serie B. No Adriatico, DiFra estabilizou o ambiente e preparou as bases para que Zdenek Zeman conseguisse o acesso para a primeira divisão, no ano seguinte.
Simultaneamente, em 2011-12, Di Francesco teve sua estreia na Serie A, mas só ficou cinco meses à frente de um bagunçado Lecce, que seria rebaixado ao fim da campanha. Algum tempo após a decepção, o técnico aceitou retornar à segundona e encarou o desafio de treinar o ambicioso Sassuolo, que havia debutado na Serie B em 2008, após belo trabalho de Massimiliano Allegri, e batido na trave pelo acesso à elite com Stefano Pioli e Fulvio Pea. Na Emília-Romanha, DiFra deu a guinada em sua carreira.
À frente dos neroverdi, o sucesso foi imediato. A equipe foi a sensação do primeiro turno da Serie B e ficou com o título de campeã de inverno, mas não parou por aí: faturou o título da segundona, o maior de sua história, e conquistou o inédito acesso à elite, em 2013. Di Francesco começou a temporada seguinte no Città del Tricolore, mas foi demitido em janeiro de 2014, após a diretoria avaliar que os resultados não eram bons. Em março, Giorgio Squinzi reconheceu o erro e chamou o técnico de volta.
Nos anos que se seguiram, Eusebio não somente manteve o pequeníssimo Sassuolo na Serie A, mas tirou o máximo de jovens jogadores, como Domenico Berardi, Simone Zaza, Nicola Sansone, Alfred Duncan, Lorenzo Pellegrini e Grégoire Defrel. Ao elevar o nível desses jogadores e montar um time organizado, com futebol propositivo e ideias bem executadas, Di Francesco conseguiu, em 2015-16, um incrível 6º lugar no Italiano e a classificação para a Liga Europa. A última temporada foi mais atribulada, mas foi a sequência do trabalho que lhe deu, merecidamente, a oportunidade de treinar a Roma. No fim, haverá scudetto, como em 2001?
Eusebio, o jogador
Se a trajetória de Di Francesco como treinador foi uma escalada difícil até se aproximar do topo, seu caminho como atleta não foi diferente. Nascido em Pescara e batizado em homenagem ao craque português Eusébio, o novo técnico da Roma teve de ir morar longe de casa para realizar o sonho de ser um futebolista. Em Empoli, na Toscana, DiFra concluiu sua formação nas categorias de base e estreou como profissional, na Serie A 1987-88. Depois disso, pelos próprios azzurri, atuou nas séries B e C1, e se estabeleceu como titular no meio-campo da Lucchese, equipe também toscana e que militava na segundona. Quatro bons anos em Lucca lhe renderam uma transferência para o Piacenza, que havia subido para a Serie A.
O meia canhoto chegou para reforçar o time e rapidamente se estabeleceu como um dos pilares dos biancorossi no biênio que passou por lá, juntamente ao goleiro Massimo Taibi – sem falar no regista Eugenio Corini e nos centroavantes Nicola Caccia e Pasquale Luiso, seus companheiros durante um ano. Em duas temporadas, Di Francesco só desfalcou a equipe em uma partida da Serie A e sua consistência foi fundamental para que os papaveri obtivessem a salvezza em ambas as oportunidades.
No final de 1996-97, Eusebio recebeu a primeira convocação para a seleção italiana, mas declinou a participação no Torneio da França para auxiliar seu time no spareggio, jogo-desempate que definiria o futuro do Piace na Serie A. Com a participação de Di Francesco, o Piacenza derrotou o Cagliari e ficou na elite. Ao final da temporada, com todas as credenciais positivas possíveis para sua carreira, o meia de 28 anos trocou os lobos da Emília-Romanha pela Loba giallorossa e viveu o grande momento da carreira.
Entre 1997 e 2001, DiFra dividiu o vestiário com estrelas e bandeiras como Francesco Totti, Gabriel Batistuta, Vincenzo Montella, Damiano Tommasi e Aldair. Nas duas primeiras temporadas, sob o comando de Zeman, foi titular da equipe, que concluiu a Serie A na 4ª e na 5ª posições, respectivamente, e caiu nas quartas de final da Copa Uefa de 1998-99. Na temporada de estreia de Capello na Cidade Eterna, Di Francesco também foi titular e ajudou sua equipe a a ficar com a 6ª colocação do Italiano e a novamente ir até as fases eliminatórias da Coppa Italia e da Copa Uefa. Neste período, fez parte dos planos de Cesare Maldini e Dino Zoff na Nazionale azzurra, mas não se firmou.
A temporada 2000-01 seria a última de Eusebio em Roma e poderia ter sido amarga, uma vez que ele entrou em campo somente em cinco oportunidades. Pior, só fez uma partida como titular, na penúltima rodada, contra o Napoli. Apesar disso, o jogador de quase 32 anos pode comemorar a sua única conquista como jogador profissional – e logo a maior que podia. Com gols de Totti, Montella e Batigol contra o Parma, no último fim de semana da competição, a Roma conquistava seu terceiro scudetto. Um caminho que Di Francesco, com 129 partidas e 16 gols pelo clube, ajudou a consolidar.
De saída da Roma, Eusebio Di Francesco retornou ao Piacenza, que estava em decadência. Fez duas temporadas com os lupi na Serie A, mas na última delas não conseguiu evitar o rebaixamento. Acabou fechando contrato com o Ancona, que também disputaria a elite, mas em janeiro de 2004 trocou a barca furada dos marquesãos – que, com pouquíssimos pontos, voltaria para a segundona naquele campeonato – pelo Perugia.
Os peruginos também cairiam para a Serie B, mas Di Francesco permaneceu para disputar a segunda divisão em 2004-05. Os biancorossi ficaram com 74 pontos na competição, empatados com Empoli e Torino, mas por critérios de desempate tiveram de jogar os play-offs de acesso. Não conseguiram superar o Toro e ficariam na segundona, mas as más condições financeiras do clube o levariam à falência.
Após este fim atribulado, Di Francesco decidiu se aposentar, com quase 35 anos, e recebeu convite para voltar à Roma. Na ocasião, o ex-jogador ocupou o cargo de team manager, fazendo a ponte entre os atletas e a diretoria. Parece que, de quando em quando, a Cidade Eterna entra no caminho de Eusebio. O destino lhe chama.
Eusebio Luca Di Francesco
Nascimento: 8 de setembro de 1969, em Pescara, Itália
Posição: meio-campista
Clubes como jogador: Empoli (1987-91), Lucchese (1991-95), Piacenza (1995-97 e 2001-03), Roma (1997-2001), Ancona (2003-04) e Perugia (2004-05)
Títulos como jogador: Serie A (2001)
Carreira como treinador: Lanciano (2008-09), Pescara (2009-11), Lecce (2011), Sassuolo (2012-14 e 2014-17) e Roma (2017-atual)
Títulos como treinador: Serie B (2013)
Seleção italiana: 13 jogos e um gol