Em um campeonato marcado pelos altos e baixos e alternâncias na tabela, não faltou emoção até o último minuto da última rodada da Serie B. Duas equipes conhecidas de quem acompanha a Serie A, o Empoli e o Parma, já carimbaram o retorno à elite do futebol italiano e consagraram histórias fantásticas de superação.
Depois de um primeiro turno instável, o Empoli apostou em um treinador sem grandes trabalhos no currículo e que havia passado os últimos 12 anos como auxiliar técnico da Roma, com uma breve passagem pela equipe principal como interino em 2013. O resultado: os azzurri simplesmente atropelaram na segunda metade da competição e terminaram o torneio com o título e uma incrível invencibilidade de 28 rodadas. Já o Parma ressurge das cinzas após decretar falência em 2015, recomeçar da quarta divisão e conquistar três acessos seguidos em três anos.
No entanto, o acesso que poderia sair com mais tranquilidade só foi sacramentado com doses cavalares de sofrimento no derradeiro jogo da equipe emiliana. Mas a emoção ainda está longe de acabar na segundona. Frosinone, Palermo, Venezia, Bari, Cittadella e Perugia estão classificados para disputar o play-off pela terceira e última vaga na Serie A. Na parte de baixo da tabela também não faltou disputa até o final. Os rivais Novara e Pro Vercelli foram rebaixados e vão jogar a Serie C, ao lado da Ternana. Virtus Entella e Ascoli ainda disputam um mata-mata pela sobrevivência.
Histórico
Dizem que o segundo colocado é o primeiro dos últimos. Porém, para o Parma, o vice-campeonato da Serie B valeu como um título – tanto que vamos começar falando sobre essa incrível história. Se céu e inferno existem, os torcedores do clube gialloblù estiveram bem próximos dos dois lugares nos últimos anos. Depois de terminarem na sexta colocação na Serie A em 2013-14 e conseguirem um lugar na Europa League, os ducali foram impedidos de jogarem a competição continental por não atenderem aos requisitos legais da Uefa. Era o presságio da grave crise financeira que culminaria com a última posição na temporada seguinte e a inevitável falência.
O tradicional clube da Emília-Romanha, tricampeão da Coppa Italia, bicampeão da Copa Uefa (atual Europa League) e vice-campeão da Serie A na década de 1990, teve de recomeçar do inferno da Serie D, a quarta divisão do futebol italiano, que conta com equipes semiprofissionais. Com grande apoio da torcida, o capitão Alessandro Lucarelli não abandonou o time pelo qual atua desde 2008 e em que se tornou o jogador com mais partidas na história (331).
Depois do título invicto da Serie D na temporada 2015-16, o Parma não teve vida fácil na terceira divisão, mas venceu um cansativo play-off com outros 27 times para chegar na segundona. Sempre sob o comando do jovem técnico Roberto D’Aversa, de 43 anos, os crociati chegaram à Serie B como um dos favoritos para brigar na parte de cima da tabela, mesmo com orçamento inferior a Palermo e Frosinone. Depois de um início complicado, com apenas uma vitória entre as terceira e nona rodadas, o time de D’Aversa reagiu e chegou até a ocupar a liderança no início de dezembro do ano passado. No entanto, a instabilidade foi a marca principal durante a campanha. Uma nova queda de rendimento entre o final de 2017 e o início de 2018 fez o Parma a até sair da zona de classificação ao play-off em fevereiro.
Como praticamente todos os rivais também não conseguiam manter uma regularidade, o Parma não se distanciou das primeiras colocações, mas os resultados ruins chegaram a fazer D’Aversa balançar no cargo. Porém, a derrota para a Virtus Entella, que brigava contra o rebaixamento, fez o elenco acordar e emendar uma sequência de 19 pontos conquistados em 21 disputados entre a 32ª e a 37ª rodada, mas as derrotas na reta final para Pro Vercelli e Cesena, outros adversários da parte inferior da classificação, voltaram a acender um sinal de desconfiança no estádio Ennio Tardini.
Os parmenses chegaram à última rodada na terceira colocação, um ponto atrás do Frosinone e precisando ganhar do Spezia, além de torcer por um tropeço dos adversários contra o Foggia. Os três pontos diante das águias vieram com um triunfo tranquilo por 2 a 0. Na outra partida, jogando em casa, os frusinati ganhavam dos satanelli por 2 a 1 até aos 44 minutos do segundo tempo, quando o atacante Roberto Floriano recebeu um lançamento nas costas da marcação e encobriu o goleiro para deixar tudo igual para o Foggia.
Decepção descomunal em Frosinone e uma festa emocionante do Parma, que chegou aos mesmos 72 pontos do adversário, mas contou com vantagem no confronto direto. Pela primeira vez na história do futebol italiano um time conquistou três acessos seguidos para chegar à Serie A. Em apenas quatro anos, o Parma saiu do céu para o inferno e escalou degrau por degrau para retornar ao paraíso.
Reinvenção azzurra
A última temporada foi especialmente humilhante para o Empoli. Depois de abrir quase dez pontos para a zona de descenso, os azzurri foram desintegrando na reta final do Campeonato Italiano e acabaram rebaixados após serem ultrapassados na última rodada pelo caçula Crotone, que venceu apenas três jogos nas 29 primeiras rodadas. Para a Serie B, a diretoria do clube toscano resolveu fazer uma revolução no elenco, com custo menor do que os principais favoritos, e apostar no técnico Vincenzo Vivarini, que dirigiu o modesto Latina no ano anterior.
O início da campanha foi cheio de altos e baixos. Nos momentos decisivos, quando tinham a chance de assumir a ponta, os empolesi acabaram fraquejando no final de 2017. Mesmo sem sair da cola dos primeiros colocados, Vivarini foi sacado e a diretoria do Empoli resolveu fazer uma nova aposta. Desde 2005 como assistente técnico da Roma, com uma breve passagem como interino na equipe principal em 2013, Aurelio Andreazzoli aceitou o desafio a partir da 20ª rodada e, desde então, os azzurri não perderam mais. O grande destaque ficou com a parte ofensiva, com 88 gols marcados, apenas dois a menos do que o Pescara da temporada 2011-12, que revelou jogadores como Ciro Immobile, Lorenzo Insigne e Marco Veratti.
Em uma temporada marcada pela instabilidade dos times da parte de cima da tabela, a regularidade no segundo turno foi fundamental para o time de Andreazzoli decolar e garantir o título da Serie B com tranquilidade. O Empoli teve os dois principais artilheiros da competição: o experiente Francesco Caputo, com 26 gols, e Alfredo Donnarumma, que foi às redes em 23 ocasiões. Além deles, o capitão Manuel Pasqual, de 36 anos, teve papel fundamental para comandar o quarto elenco mais jovem da Serie B, com média de 25,7 anos.
Play-off
Festa e comemoração para Empoli e Parma. Mas ainda tem bola para rolar e muita emoção pela frente no play-off que vai definir o terceiro e último acesso à Serie A. A disputa com tempero especial envolve equipes tradicionais, três campeões do mundo que buscam um lugar ao sol como treinadores, uma equipe com o orgulho ferido e um candidato a azarão.
Depois de uma surpreendente e inédita promoção à primeira divisão em 2015, o Frosinone não resistiu muito tempo na elite e caiu na temporada seguinte. O clube da região do Lácio aproveitou a passagem pela Serie A para se estruturar. Mesmo com o rebaixamento, os leões mantiveram a base do elenco na Serie B e brigaram novamente para subir. No entanto, os frusinati terminaram com os mesmos 74 pontos do Verona e perderam a vaga direta por conta dos critérios de desempate. No play-off, os leoni terminaram eliminados e ficaram só no “quase”.
Nesta temporada, o Frosinone manteve novamente grande parte do elenco e inaugurou o seu novo estádio, o Benito Stirpe, com capacidade para 16 mil pessoas – em casa, perdeu apenas duas vezes, para Empoli e Perugia. Os leões começaram o campeonato como um dos favoritos e o início de campanha, com quatro vitórias e um empate, animou o torcedor gialloblù. No entanto, uma segunda metade de campeonato recheada de tropeços impediu uma classificação com mais tranquilidade.
Mesmo assim, os canarini chegaram à última rodada na vice-liderança. No entanto, a tragédia do ano anterior se repetiu. Depois do frustrante empate com o Foggia sofrido aos 44 minutos do segundo tempo, o Frosinone terminou com os mesmos 72 pontos do vice-líder Parma, mas perdeu a vaga direta na Serie A no confronto direto. Com o orgulho ferido, os leões tentam não repetir o fiasco no play-off e garantir sua segunda participação na principal divisão em toda a história.
Entretanto, o Frosinone terá adversários que prometem dar trabalho no mata-mata. Um deles é o Palermo, principal favorito ao retorno à Serie A antes do início da temporada, mas que sucumbiu à falta de organização dentro e fora dos gramados. Conhecido como “triturador de treinadores”, o dono da equipe siciliana, Maurizio Zamparini, resolveu apostar no técnico Bruno Tedino, destaque da Serie C com boas campanhas com o modesto Pordenone.
Zamparini não está acostumado a dar muito tempo aos técnicos, mas até manteve Tedino por bastante tempo no cargo, a despeito das péssimas atuações ofensivas e falta de resultados. Mesmo com o segundo menor número de derrotas de toda a competição (sete), os rosanero não conseguiram emendar uma sequência de três vitórias durante toda a temporada.
Os muitos empates acabaram atrapalhando os planos dos palermitanos. Tedino acabou demitido na 39ª rodada após uma derrota acachapante de 3 a 0 para o Venezia. O substituto é Roberto Stellone, técnico do acesso com o Frosinone em 2015. Zamparini, no entanto, tem grande contribuição para o péssimo desempenho. O dirigente cansou de gerar instabilidades, reafirmando o seu desejo de negociar o clube.
A operação até chegou a ser dada certa antes do início do campeonato. O comprador seria o ex-jogador de basquete e apresentador de TV Paul Baccaglini, mas o negócio foi por água abaixo meses depois. Zamparini também disse no meio da temporada que, caso não aparecesse um comprador, o Palermo corria risco de falir. Com tamanha pressão, o time joga todas as fichas no play-off para salvar, não apenas a temporada, mas o futuro do clube.
Outra curiosidade do play-off vem dos bancos de reservas. O Venezia quer repetir os feitos de Spal e Benevento, que subiram direto para a Serie A logo na primeira temporada na Serie B. Para isso, o tradicional time do Vêneto aposta na mesma receita de Bari e Perugia: um treinador que foi campeão da Copa do Mundo de 2006 dentro de campo. No lado dos arancioneroverdi, Pippo Inzaghi completa a segunda temporada no comando técnico e virou ídolo dos veneziani. Já pelos baresi o comando técnico é responsabilidade do ex-lateral Fabio Grosso, que vive a sua primeira experiência à frente de um time principal, depois de passar quatro anos nas categorias de base da Juventus.
Outro clube tradicional que vai brigar pelo acesso será o Perugia. Segundo melhor ataque do torneio com 67 gols, os grifoni, porém, vêm em má fase, com somente um triunfo nos últimos nove compromissos. Um início de campanha decepcionante fez o técnico Federico Giunti ser demitido na 11ª rodada. A partir de então, assumiu a equipe Roberto Breda. Com o novo comandante, os biancorossi conseguiram sete vitórias e um empate entre 17 de fevereiro e 3 abril, mas o péssimo desempenho na reta final fez a diretoria demitir Breda na última rodada. Para o play-off quem assume o Perugia com a missão de surpreender é o ex-zagueiro Alessandro Nesta, companheiro de Grosso e Inzaghi na Squadra Azzurra.
Por falar em surpresa, outra campanha digna de aplausos é do pequeno Cittadella, que chega ao play-off pela segunda temporada seguida mesmo com o nono elenco mais pobre da Serie B. Mérito para o técnico Roberto Venturato, que assumiu a missão ainda na Serie C, em 2015. Aliás, a confiança nos treinadores tem sido uma marca registrada do Citta. Venturato é apenas o quarto “professor” a passar pelo clube nos últimos 22 anos: os outros são Ezio Glerean, entre 1996 e 2002; Rolando Maran, de 2002 a 2005; e Claudio Foscarini, que ficou uma década inteira, entre 2005 e 2015.
Os confrontos começam no próximo dia 3 de junho. Por causa de uma punição por problemas financeiros, o Bari perdeu posições na tabela e visita o Cittadella, enquanto o Venezia encara o Perugia em casa. Os mandantes têm a vantagem do empate. O vencedor do primeiro confronto enfrenta o Frosinone, enquanto o ganhador do segundo duelo pega o Palermo nas semifinais do play-off.
Rebaixamento
Depois de seis temporadas heroicas se segurando com sérios problemas na Serie B, a Ternana não resistiu e terminou o campeonato segurando a lanterna. Apesar de ter marcado mais gols do que Palermo, Venezia, Bari e Cittadella, as feras sofreram 77 e vão disputar a Serie C na segunda metade de 2018 ao lado dos rivais Novara e Pro Vercelli. O quarto rebaixado será conhecido após a definição do play-out entre Virtus Entella e Ascoli. No primeiro jogo, em Chiavari, empate sem gols. A volta acontece na próxima quinta-feira (31), em Ascoli Piceno.