Depois de oito rodadas na Serie B italiana, tem se repetido a história da primeira divisão. A tabela começa a tomar forma, embora o cenário ainda esteja em construção, revelando um panorama mais claro das expectativas e realidades de cada clube. A competição é um verdadeiro quebra-cabeça, cheia de peças que se encaixam de maneiras inesperadas, mas com uma marca: após a segunda pausa para a data Fifa, os times vão se encaixando nessa tabela extremamente equilibrada, que sintetiza as disputas mais recentes do torneio. As diferenças de pontuação entre as equipes são mínimas e apenas algumas delas se destacam em relação às demais, de maneira positiva ou negativa.
No topo da tabela, Pisa, Spezia e Sassuolo estão se destacando e liderando a corrida rumo à primeira divisão. Cada um desses times tem seu protagonista nesta temporada. No líder, Mattéo Tramoni brilha com três gols e duas assistências em seis jogos. O segundo colocado conta com Francesco Pio Esposito, o mais jovem dos irmãos Esposito, que já balançou as redes quatro vezes. E o terceiro tem Kristian Thorstvedt, também com quatro tentos, mostrando que o time está empenhado em retornar à elite.
No Pisa, o trabalho de Pippo Inzaghi é evidente desde o primeiro apito do campeonato. O elenco dos toscanos tem se mostrado de qualidade, com destaques como Nicholas Bonfanti, além do já citado Tramoni, mas a ausência do segundo citado na primeira derrota, contra a Juve Stabia, deixou um vazio no time. Contudo, na recente vitória sobre o Cesena, Alexander Lind, que custou 4 milhões de euros, brilhou em sua estreia como titular, mostrando que os nerazzurri têm o que é preciso para permanecer no topo em um campeonato com o nível mais modesto e batalhar por um acesso que não é conquistado há mais de 30 anos.
Já no Spezia, a história é bem diferente em relação à temporada passada, quando o time se viu lutando contra o rebaixamento. Ex-Pisa, Luca D’Angelo foi mantido no comando após salvar o time da Ligúria e o comanda numa campanha de invencibilidade até o momento. Se Sebastiano Esposito brilha pelo Empoli, na elite, Salvatore e Francesco Pio, seus irmãos, se destacam pelos bianconeri. O centroavante, mais novo do trio, com 19 anos, vem superando as expectativas e o seu próprio desempenho anterior: atuou em sete partidas e já marcou mais vezes do que nas 38 rodadas do torneio em 2023-24. A volta de Kouda, que se recupera de lesão, promete dar ainda mais força ao ataque.
Logo atrás, na terceira posição, com quatro pontos a menos que o Pisa, temos o Sassuolo, que certamente é o time mais focado em voltar para a Serie A. Afinal, os neroverdi mantiveram vários jogadores do elenco que disputava a elite. Jogadores como Jeremy Toljan, Josh Doig, Cristian Volpato, Daniel Boloca, Luca Lipani, Pedro Obiang e os recém-chegados Horatiu Moldovan e Matteo Lovato teriam lugar na primeira divisão.
Isso sem falar no já citado Thorstvedt e em Armand Laurienté, nomes cobiçados no mercado, que permaneceram para a disputa da segundona e estão colocando em campo a diferença técnica do plantel emiliano. E, claro, com o retorno de Domenico Berardi, que ficou fora de combate por sete meses, o técnico Fabio Grosso terá a sua disposição mais um talento num grupo já recheado de boas opções. Sem dúvidas, o Sassuolo é o favorito ao título.
Fazendo parte do conjunto das surpresas agradáveis, a Juve Stabia, recém-chegada da Serie C, está lá em cima, na quarta posição, com 14 pontos. Cria da Inter, o centroavante Andrea Adorante, com sua habilidade no jogo aéreo, tem sido crucial para a equipe, que é gerida com inteligência por Guido Pagliuca, que não tem nenhum parentesco com o goleiro da Itália na Copa do Mundo de 1994 e foi o responsável pelo acesso da terceirona. A defesa sólida e o bom desempenho fazem com que as vespas sonhem alto neste momento, ainda que o objetivo seja apenas permanecer na categoria.
Na quinta posição temos o Brescia, time que mais vezes disputou a Serie B (66). Na briga por uma vaga nos playoffs, com 13 pontos, os biancazzurri contam um elenco experiente e que sabe a hora de dar o bote, pincelado por peças como Birkir Bjarnason, e um treinador de relevo – Rolando Maran. Apesar de alguns tropeços pelo caminho, os lombardos sempre entram no campeonato para competirem com força.
O Südtirol, que no ano passado lutou para não cair, retoma os bons momentos que o fizeram lutar pelo acesso em 2022-23, ocupando um dos seis primeiros lugares, com 12 pontos. O time encontrou seu ritmo, conduzido pelos gols de Daniele Casiraghi e pela experiência de nomes como Andrea Masiello, Luca Ceppitelli e Jasmin Kurtic.
Neste segundo pelotão, a Cremonese aparece com 11 pontos, com a meta clara de voltar à Serie A e o peso dos investimentos de Giovanni Arvedi, magnata da indústria siderúrgica. O time ficou muito perto do acesso na última campanha e, agora, busca novamente a tão sonhada vaga. Embora tenha mostrado uma defesa sólida, precisa ajustar o ataque para deslanchar de vez.
Pensando nisso, os grigiorossi já tentam corrigir o rumo, com a demissão de Giovanni Stroppa e a chegada de Eugenio Corini. Com um acesso e muitas campanhas de playoffs no currículo, o treinador pode extrair mais de nomes como Franco Vázquez, Jari Vandeputte, Cristian Buonaiuto, Manuel De Luca e Marco Nasti.
O Cesena, que subiu recentemente da Serie C, também está na oitava colocação, com 11 pontos. O time tem se destacado não só na segundona, mas também avançou às oitavas da Coppa Italia, eliminando adversários complicados, como o líder Pisa e o Verona, militante na elite. O sonho do grupo comandado por Michele Mignani é se manter na divisão e, quem sabe, alcançar voos ainda maiores.
Tudo depende dos gols do albanês Cristian Shpendi, um dos vice-artilheiros do campeonato, com três gols. Vale destacar ainda que os cavalos marinhos contam com o atacante Sydney van Hooijdonk e o goleiro Jonathan Klinsmann, filhos de Pierre van Hooijdonk e Jürgen Klinsmann, respectivamente nomes importantes para as seleções de Holanda e Alemanha na década de 1990.
O Palermo, com a mesma pontuação (11), também quer retornar à elite do futebol italiano. Mas, apesar das boas expectativas, o time comandado pelo City Football Group enfrenta dificuldades de manter a regularidade: são três vitórias, três derrotas e dois empates até aqui. A defesa precisa de ajustes e o equilíbrio é a chave para chegar à zona de playoffs.
A tendência é de melhora, visto que o técnico é de elite (Alessio Dionisi, ex-Sassuolo), e o elenco tem vários atletas que fardariam na Serie A – a começar pelo trio de goleiros, formado por Salvatore Sirigu, Sebastiano Desplanches e o lesionado Alfred Gomis. Os rosanero ainda têm o artilheiro Matteo Brunori, os defensores Kristoffer Lund, Rayyan Baniya, Fabio Lucioni, Dimitrios Nikolaou, Niccolò Pierozzi, Ionut Nedelcearu e Pietro Ceccaroni, o volante Alexis Blin, os meias Valerio Verre e Filippo Ranocchia, o ponta Federico Di Francesco e o centroavante Thomas Henry. Não falta qualidade.
O mesmo pode ser dito da Salernitana, que foi rebaixada da Serie A. Mesmo tendo reduzido investimentos, porque o presidente Danilo Iervolino pôs a agremiação à venda, permaneceram peças importantes, como Luigi Sepe, Simy e Giulio Maggiore. E chegaram nomes interessantes, como os veteranos Roberto Soriano, Daniele Verde, Ernesto Torregrossa e Gian Marco Ferrari, ou a promessa Franco Tongya. Com 11 pontos, entretanto, a equipe ainda não mostrou o futebol esperado para um retorno rápido à elite. Lanterna da primeira divisão na última temporada, a formação grená, sob a batuta de Giovanni Martusciello, ex-auxiliar de Maurizio Sarri, precisa melhorar o desempenho ofensivo para voltar a sonhar com o acesso.
Vindo da terceirona, o Mantova, também com 11 pontos, quer se manter na segunda divisão e tem feito uma campanha digna até agora, brigando na parte intermediária da tabela. Sem grandes nomes – o destaque é o meia-atacante Mattia Aramu –, o futebol pragmático é a tática para evitar qualquer aproximação da zona de rebaixamento.
Já o tradicionalíssimo e endinheirado Bari, que quase caiu na última temporada, aparece com 10 pontos e deseja escapar do perigo. Afinal, Aurelio De Laurentiis, que também é dono do Napoli, não quer ter problemas com multipropriedade e ser obrigado a vender um de seus ativos. Embora tenha mostrado uma leve melhora, o time, que conta com alguns nomes interessantes, a exemplo de Kevin Lasagna, César Falletti e Ahmad Benali, ainda precisa de mais consistência para afastar os fantasmas da temporada passada.
Um pouco mais abaixo, o Modena do experiente técnico Pierpaolo Bisoli soma 9 pontos e quer alcançar a zona de classificação. Na janela de transferências, o time buscou nomes rodados (Mattia Caldara, Grégoire Defrel e o brasileiro Eric Botteghin, ex-Feyenoord e Ascoli) e outros vindos da elite (Giuseppe Caso e Alessandro Di Pardo) e, no momento, está a apenas dois pontos do G8. Porém, precisa melhorar o aproveitamento nas próximas rodadas, sobretudo se considerarmos que a Reggiana, com a mesma pontuação, se reforçou bem menos e só busca se manter na Serie B. Depois de um começo equilibrado, a Regia parece estar no caminho certo para atingir o seu objetivo.
Logo abaixo da dupla, coladinha na zona de playout, a Sampdoria é a grande decepção da Serie B até o momento. Após a queda nos playoffs na última temporada e um início ruim, a equipe doriana protagonizou a primeira troca de técnico do certame, ainda na terceira rodada, com a saída de Andrea Pirlo e a chegada de Andrea Sottil. No momento, a equipe acumula apenas 8 pontos, e ainda flerta com a briga contra o rebaixamento.
Apesar das dificuldades, a Sampdoria avançou para as oitavas de final da Coppa Italia, onde enfrentará a Roma, após eliminar dois times da Serie A: o Como e o Genoa, seu arquirrival, nos pênaltis. Tais resultados mostram que os blucerchiati podem render muito mais, pelo elenco que têm. Contam com gente como o goleiro Marco Silvestri, os laterais Bartosz Bereszynski, Antonio Barreca, Lorenzo Venuti, Fabio Depaoli e Davide Veroli, o zagueiro Simone Romagnoli e os atacantes Fabio Borini, Gennaro Tutino e Massimo Coda. Este último, aliás, é um mestre na segundona. Com 131 gols, é o maior artilheiro em atividade da categoria e o quarto no geral, a apenas quatro de Stefan Schwoch, o líder no quesito.
Inaugurando a zona de playout, o Catanzaro, com os mesmos 8 pontos, repete o ciclo da adversária. O time da Calábria teve uma boa campanha na última temporada, mas, assim como a Samp, falhou nos playoffs. As águias do sul buscam dar fim à irregularidade e iniciar a correção de rumo, mas sofrem com muitas perdas, a começar por Vincenzo Vivarini, atualmente técnico do Frosinone. Também deixaram o elenco agora comandado por Fabio Caserta nomes como Vandeputte (Cremonese), Veroli (Sampdoria), Giuseppe Ambrosino (Frosinone), Andrea Olivieri (Bari), Luca D’Andrea, Andrea Ghion e Kevin Miranda (os três para o Sassuolo). Assim, a responsabilidade ficou nos colos do ídolo Pietro Iemmello e do brasileiro Matias Antonini.
Na parte mais baixa da tabela, a Carrarese, com 7 pontos, comemorará demais se permanecer na categoria. Afinal, proveniente da Serie C, a equipe gialloblù não disputava a segundona desde 1948. Os marmiferi começaram a temporada de forma modesta e precisam melhorar se quiserem evitar a queda. O elenco e o treinador, contudo, têm pouca experiência. No plantel, destaque para o meia-atacante Filippo Falco, conhecido como “Messi do Salento”, e para o defensor Hjörtur Hermannsson, da seleção islandesa. O time da Toscana ainda buscou promessas, como Gabriele Guarino, Samuel Giovane e Stiven Shpendi.
Abrindo a zona de rebaixamento, o Cittadella, com os mesmos 7 pontos, segue com o seu projeto de dar oportunidades a jogadores pouco badalados e, principalmente, a italianos – o único estrangeiro do elenco é Elhan Kastrati, terceiro goleiro da Albânia na Euro 2024. A duras penas, o plano vem funcionado e o time já escapou do rebaixamento em anos anteriores. Porém, os percalços atuais são grandes, considerando que os grenás têm o pior ataque da competição, com apenas cinco gols marcados até o momento. O cenário negativo gerou uma mudança radical: Edoardo Gorini, desde 2014 no clube, sendo sete anos como auxiliar e quase três e meio como treinador, acabou demitido.
Logo abaixo, na penúltima posição, com míseros 6 pontos, figura outra grande decepção do campeonato: o Frosinone, rebaixado da Serie A na última temporada. O rendimento negativo se explica pela revolução no elenco, que disputou a elite com uma penca de atletas emprestados e que não permaneceram em 2024-25. Com um plantel bem inferior ao que Eusebio Di Francesco teve em mãos, Vivarini sofre para dar sua cara ao time, que tem uma das piores defesas do torneio, com 14 gols sofridos. E isso com peças como Ilario Monterisi, Anthony Oyono e o brasileiro Mateus Lusuardi, remanescentes da época anterior, e o rodado Davide Biraschi.
A rigor, o Frosinone é o time de pior desempenho na Serie B, visto que o lanterna Cosenza foi punido com a perda de quatro pontos por atraso no pagamento de impostos – tem 5 e, em campo, somou 9. Na última posição, os lobos têm vivido perigosamente nas temporadas mais recentes e terminaram a competição da 15ª posição para baixo em quatro das derradeiras cinco, sendo que só em 2023-24 evitaram tal sina. A equipe do volante brasileiro Charlys está em uma situação complicada e precisa reagir rapidamente para evitar a queda para a terceirona. Assim, apostam todas as suas fichas no técnico Massimiliano Alvini, que já comandou a Cremonese na elite.