Serie A

Éder abre o jogo sobre sua carreira no futebol italiano

“A única decepção de verdade foi não ter conseguido a classificação para o Mundial”. Protagonista do programa Debate 89,9, da rádio catarinense Cruz de Malta, nessa semana, Éder abriu o jogo sobre a sua carreira no futebol italiano e o desapontamento por não ter conseguido ajudar a Itália a conquistar um lugar na Rússia, naquela que seria a sua única oportunidade de ter disputado uma Copa do Mundo. Aos 31 anos, o jogador ítalo-brasileiro, nascido em Lauro Müller, também destacou o que deseja para a próxima temporada: “você chega em um período que quer se divertir e jogar mais”.

Éder foi presença constante na seleção italiana nos últimos três anos. Chamado pela primeira vez por Antonio Conte em março de 2015, participou de 26 das 33 partidas realizadas desde então, mas penou até conseguir tal relevância. Revelado pelo Criciúma, saiu do Brasil ainda jovem, em 2005, e demorou quase dois anos para estrear no Empoli. Enquanto o time de Luigi Cagni ia bem na Serie A com Francesco Tavano, Luca Saudati, Nicola Pozzi e Sebastian Giovinco, o atacante teve que sair por empréstimo para receber a primeira oportunidade como titular. Isto aconteceu no Frosinone, pela Serie B.

Artilheiro da equipe do Lácio na temporada 2008-09, Éder teve desempenho convincente em um ano e meio pelos canarini e retornou à Toscana. Ainda na segunda divisão, Éder quase duplicou seus gols em 2010, passando de 14 para 27 e terminando como maior marcador do campeonato. Os tentos não foram suficientes para a promoção do Empoli, mas o brasileiro despertou a atenção de grandes clubes da Serie A.

As primeiras passagens na elite, por Brescia e Cesena, não foram frutíferas, mas Éder decidiu descer um degrau e fez uma escolha correta: tirou  Sampdoria da segundona, se destacou na equipe e ganhou espaço na Inter e na seleção italiana. Hoje, o ítalo-brasileiro tem 60 gols em 245 partidas na Serie A e também foi o autor de alguns gols importantes para a seleção italiana, especialmente em 2016, quando deixou sua marca contra Suécia e Bélgica na Euro.

Na entrevista ao Debate 89,9, Éder falou desde o início da carreira até o seu momento atual e o futuro. Repercutimos as partes mais importantes; confira.

O início na Itália

– Eu poderia ter deslanchado muito antes no futebol italiano. O Empoli sempre trancou minha saída, pedia muito dinheiro e no fim a vantagem para eles era me emprestar. Nisso me emprestaram por dois, três anos, até quando pedi para ser vendido. Eu eu não conseguia ir tão bem nos empréstimos, porque jogava em times que tinham subido da Serie B e estavam no primeiro ano na Serie A, então era muito difícil me adaptar. Foi na Sampdoria que eu realmente me senti importante e consegui me afirmar e amadurecer.

Éder e Icardi mantêm amizade desde os tempos de Sampdoria (Getty Images)

Relação com Mauro Icardi

Na época [de Sampdoria] ele nem tinha carteira de motorista e me ligava para eu passar na sua casa e irmos ao treino juntos. Nós formávamos a dupla de ataque quando ele começou a jogar no time principal, e assim que cheguei na Inter, ele já era o capitão e foi o primeiro a me ligar. O que falam dele e essas coisas de redes sociais não têm nada a ver com o que ele realmente é.

As rivalidades em Milão e Gênova

– São clássicos diferentes pelo tamanho da cidade. Em Milão não é tão caloroso quanto em Gênova. Durante a semana, você vai em um restaurante em que o dono é torcedor do Genoa, ele fala uma coisa ou outra para provocar. Milão é uma cidade muito maior, onde você vê muitos turistas e não é a mesma coisa nas ruas. Mas durante o jogo é diferente, porque o estádio em um Milan e Inter é espetacular.

O banco: 700 minutos a menos em campo em 2017-18

– O time se saiu bem, ainda mais aqueles que jogam na minha posição. Mas é complicado quando você não joga. O que sempre me carregou para frente é que todo jogador precisa antes de tudo fazer o seu trabalho, de ir para o campo e treinar sempre 100%. Nós somos 25, todo dia treinamos com três goleiros e 22 na linha, mas no campo só entram 11. Às vezes você acha que está melhor que o companheiro, porque treinou bem, só que no final é o treinador que comanda.

Luciano Spalletti e os momentos de dificuldade da equipe

– O Spalletti é um treinador de experiência, que trouxe disciplina e personalidade. Se o cara barra o [Francesco] Totti você já percebe que personalidade ele tem. Ele chegou respeitado, porque vinha de uma boa temporada na Roma, onde brigou com a Juventus até o fim. A sua personalidade foi o que mais ajudou no último ano e no final ele conquistou o objetivo, que era voltar para a Champions. Eu acho que a chave para superar o momento de dificuldade foi quando um jogador que no primeiro turno não estava conseguindo jogar, o Brozovic, teve um final muito bom.

Ser naturalizado faz diferença?

– Nunca tive problemas, mas tem uma diferença no dia a dia dos clubes. Por exemplo, se sou eu no lugar do [Antonio] Candreva, que faz 38 jogos como titular e não marca nenhum gol pela Inter, pode ter certeza que o tratamento seria outro. E às vezes para o Candreva é diferente: ‘tudo bem, ele correu, fez isso e aquilo’.

Embora não tenha jogado muito sob as ordens de Spalletti, Éder tem boa relação com o técnico (LaPresse)

Seleção: o passado

– Foi tudo muito rápido, eu não nunca imaginaria chegar onde cheguei saindo tão cedo aqui de Criciúma. Hoje estar na Inter e ter participado da seleção italiana é um orgulho muito grande. A única decepção de verdade foi não ter conseguido a classificação para o Mundial, porque a gente tinha criado um clima muito bom no grupo com o [Antonio] Conte. No Europeu tivemos um desempenho que ninguém esperava. Fomos muito bem, saímos nas quartas de final para a Alemanha e depois disso houve uma mudança muito grande. Muita gente não entendeu a escolha do treinador [Ventura]. Desde o início muitos jogadores não iam de acordo com ele e isso criou uma situação complicada. Não ter participado de uma Copa do Mundo foi a maior decepção, porque eu acho que era a minha última oportunidade, já que tenho 31 anos.

Seleção: o futuro

– Para mim, seleção é momento, porque se você estiver bem tem a pressão de todos para a convocação. Dependerá do próximo ano, do time, de onde vou estar e se vou jogar. Se estiver bem, acredito que haverá a possibilidade, porque o [Roberto] Mancini me levou para a Inter e queria me levar agora em janeiro para o Zenit, mas a Inter não me liberou. Acho que é possível, porque estarei com 33 anos no Europeu e a seleção italiana tem esse histórico de chamar jogadores mais velhos. Mas depende do meu ano, de como vou estar.

Fica na Inter?

– Eu e o meu empresário vamos sentar com a diretoria e tudo depende do que vão me dizer. Este ano teremos jogos domingo e no meio da semana, então quem sabe tenha mais oportunidade, depende também do que o Spalletti me falar. Se disserem que eu terei poucas chances como no ano passado… Eu acho que, com 31 anos, estou em um momento de jogar e me divertir mais, então depende muito do que a diretoria falar.

Árbitro de vídeo

– Se usado no momento certo, é algo que ajuda muito, mas no final quem tem que decidir é o árbitro. No último jogo contra a Juventus, quando houve muita polêmica, o [Daniele] Orsato [árbitro] falava ‘tem o VAR, mas quem decide sou eu’, e só em lances de muita dúvida ele consultava. Depende muito do árbitro, tem alguns que usam e outros não. E o nosso comportamento muda sim, porque às vezes você espera mais em um lance de dúvida, então perde um pouco a emoção. Mas ajudou bastante.

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