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Com show de Baggio, a Juventus derrotou o PSG antes de conquistar a Copa Uefa de 1993

Sob o comando de Giovanni Trapattoni, a Juventus foi um verdadeiro rolo compressor na Itália – e fora dela também. Antes de o espanhol Unai Emery se tornar o “mister Europa League”, Trap também alcançou o feito de conquistar a Copa Uefa, antecessora da competição, três vezes, sendo duas pela Velha Senhora e uma pela Inter. Na última delas, em 1993, bateu o Dortmund na decisão. Mas, antes dos alemães, a equipe bianconera encontrou o Paris Saint-Germain nas semifinais.

Ainda que estivesse longe de ser a potência que é nos tempos atuais, o PSG da década de 1990 também tinha uma ajudinha financeira. O Canal + era um dos responsáveis por investimentos do time, que contava com os brasileiros Ricardo Gomes e Valdo, além de nomes conhecidos do futebol mundial, especialmente no ataque. O francês David Ginola, que teria seus primeiros grandes momentos no antes de rumar para a Premier League, e a grande estrela da equipe, um tal de George Weah.

Antes de ser ídolo do Milan, Weah marcou contra a Juventus na Copa Uefa (Arquivo/PSG)

Antes de sua passagem impecável pelo Milan, onde se sagrou o primeiro africano a ser eleito melhor do mundo, Weah liderava o ataque com todas as qualidades que um craque poderia ter. Nas fases anteriores, foi decisivo para a campanha do Paris até as semifinais: marcou em ambas as mãos contra o PAOK na primeira eliminatória; fez os dois gols que eliminaram o Napoli na fase seguinte e abriu o placar na remontada sobre o Real Madrid nas quartas de final.

A Juve não contava com seu goleiro titular para ajudar na missão de segurar Weah e companhia. Angelo Peruzzi, lesionado, não participou de nenhum dos dois duelos e quem assumiu a meta foi Michelangelo Rampulla, que estrearia em competições europeias. Na defesa, Giancarlo Marocchi e Moreno Torricelli se juntavam ao alemão Jürgen Kohler e o brasileiro Júlio César. Dino Baggio, Antonio Conte e o inglês David Platt davam sustentação no meio-campo para que os homens de frente pudessem brilhar.

Dispensando apresentações, Roberto Baggio vestia a 10 da Vecchia Signora e era o maestro da equipe – não à toa, em 1993, seria eleito o melhor do mundo pela Fifa e pela revista France Football. Mais à frente, duas lendas: Fabrizio Ravanelli fazia dupla com Gianluca Vialli, até então artilheiro do elenco. Juntos, somavam seis gols na competição até ali. Com esses tentos e mais alguns outros, a Juventus bateu Anorthosis Famagusta, Panathinaikos, Sigma Olomouc e Benfica. Diferentemente do que foi o passeio sobre os portugueses no Delle Alpi, os bianconeri não encontraram vida fácil contra o PSG, treinado pelo português Artur Jorge.

Em Turim, Valdo tentou comandar os parisienses, mas a Juventus teve respostas afiadas (Arquivo/PSG)

Quem saiu na frente foram os visitantes, justamente com uma excelente ação de sua dupla de ataque. Ginola recebeu, aos 22 minutos, de costas para a defesa bianconera. O selecionável francês teve tempo de girar e caminhar quando viu Weah fazendo a infiltração como uma bala. Torricelli, desatento, deu condição e o liberiano saiu na cara do gol graças a um passe primoroso. Imóvel após a finalização do adversário, Rampulla ficou apenas reclamando de impedimento na jogada enquanto a rede balançava.

Apesar da vantagem, a defesa do PSG passou o jogo brincando com o perigo. Ainda antes do 1 a 0, deu chance de bandeja à adversária, através de um recuo mal feito que caiu nos pés de Ravanelli – de frente para a baliza, o italiano desperdiçou. Mais tarde, um lançamento longo de Kohler ficou pipocando na entrada da área e, por muito pouco, Dino Baggio não teve sucesso ao encobrir Bernard Lama. O goleiro ficou parado depois de tirar de qualquer jeito a bola de sua área e ainda deu sorte de o chute resvalar duas vezes na trave, o que quase levou Antoine Kombouaré a marcar contra.

Apagado na etapa inicial, Robi Baggio voltou mais aceso nos últimos 45 minutos, pronto para fazer a diferença e aproveitar os erros defensivos dos parisienses. Na primeira oportunidade mais clara da Juventus, recebeu de seu xará e bateu cruzado, tirando tinta da trave. Aos 54, a equipe fez uma excelente triangulação com Ravanelli fazendo o pivô e o craque chegando batendo. A pancada, meio de voleio, dessa vez morreu no cantinho. O empate aprofundou a pressão dos donos da casa.

Uma primorosa cobrança de falta de Baggio marcou o confronto entre Juventus e PSG (Getty)

Na sequência, Kohler quase marcou de longa distância. Seu remate foi desviado no caminho e praticamente tirou Lama da jogada. O arqueiro foi exigido na sequência: Paolo Di Canio recebeu pela direita, ficou cara a cara e parou na defesa do goleiro adversário. O PSG estava esperto nos contra-ataques, especialmente com Ginola e Weah, mas faltou capricho nas conclusões. A punição veio da maneira mais cruel possível.

Nos acréscimos da segunda etapa, Vialli foi dominar uma bola no chuveirinho e acabou derrubado na entrada da área. Em dos lances mais marcantes de sua trajetória na Juventus, Roberto Baggio, em jogada ensaiada, bateu a falta direto. Com precisão, a bola entrou justamente no ângulo, por cima da barreira. Batida impecável, indefensável, e que garantiu o triunfo no confronto de ida para os bianconeri.

Duas semanas depois, a partida de volta, no Parc des Princes, foi um verdadeiro suplício para a Juventus. Empurrado por sua calorosa torcida, o Paris Saint-Germain pressionou durante os 90 minutos e fez Rampulla trabalhar bastante. Aquele jogo, aliás, foi o melhor da carreira do arqueiro.

Autor de três gols nas semifinais, Robi Baggio foi o grande nome da Velha Senhora no confronto com o PSG (Arquivo/Juventus FC/Getty)

O goleiro da Juve começou a repelir o bombardeiro parisiense ao defender, com os pés, um chute à queima-roupa de Vincent Guérin. Ainda no primeiro tempo, uma jogada iniciada por Valdo terminou com uma “tacada de bilhar” de Weah e numa elástica intervenção de Rampulla – definida pelo próprio como a principal defesa de sua trajetória. Na etapa inicial, o siciliano também foi fundamental ao espalmar uma cabeçada de Paul Le Guen.

Perto da metade do segundo tempo, a torcida do PSG ficou ensandecida quando Weah recebeu lindo passe de Guérin e caiu na área. No entanto, Massimo Carrera fez um desarme primoroso, tocando apenas a bola e deixando o liberiano na saudade. O camisa 9 ainda tentou de cabeça, após jogada insinuante e cruzamento de Ginola, mas mandou para fora.

Aos 77 minutos, viria o castigo da Juventus. A equipe italiana teve uma falta na entrada da área e decidiu colocar em prática uma jogada ensaiada, que pegou a defesa do PSG desprevenida. A bola foi levantada para Platt, que ajeitou para Vialli arrematar girando. Baggio entrou na trajetória da finalização e, de biquinho, desviou para as redes. Valente, o time da casa até tentou reagir, com Ginola, Weah e Ricardo Gomes, mas não conseguiu. Com mais uma vitória, a Velha Senhora estava a dois passos da glória europeia.

Juventus 2-1 Paris Saint-Germain

Juventus: Rampulla; Torricelli, Kohler, Júlio César, Marocchi (Di Canio); Conte, D. Baggio, Platt; R. Baggio; Ravanelli, Vialli. Técnico: Giovanni Trapattoni.
Paris Saint-Germain: Lama; Kombouaré, Ricardo Gomes, Colleter; Valdo, Germain, Fournier, Le Guen, Guérin; Ginola, Weah. Técnico: Artur Jorge.
Gols: R. Baggio (54’ e 90’); Weah (23’)
Árbitro: Antonio Martín Navarrete (Espanha)
Local e data: estádio Delle Alpi, Turim, em 6 de abril de 1993

Paris Saint-Germain 0-1 Juventus

Paris Saint-Germain: Lama; Kombouaré, Ricardo Gomes, Roche, Colleter (Germain); Valdo, Fournier (Simba), Le Guen, Guérin; Ginola, Weah. Técnico: Artur Jorge.
Juventus: Rampulla; Torricelli, Carrera, Júlio César, De Marchi; Platt, Galia, Marocchi; R. Baggio (Di Canio), Möller (Casiraghi); Vialli. Técnico: Giovanni Trapattoni.
Gol: R. Baggio (77’)
Árbitro: Jaap Uilenberg (Países Baixos)
Local e data: estádio Parc des Princes, Paris, em 22 de abril de 1993

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