Nesta sexta-feira, tem início uma das edições mais inusitadas da história da Serie B. A segundona do futebol italiano não está alheia a novidades e tradicionalmente sempre reserva diversas surpresas ao longo do ano, mas dessa vez os responsáveis pela competição se superaram. Com as falências de Avellino, Bari e Cesena, a Lega Serie B decidiu não dar espaço para novas repescagens, seja para clubes rebaixados para a Serie C na última temporada, seja para aqueles que estavam na terceira divisão e não conseguiram o acesso. Consequentemente, com três equipes a menos, o campeonato terá número ímpar de participantes (19) pela primeira vez em cinco décadas. Ao contrário dos últimos anos, o torneio não terá transmissão para o Brasil.
Mesmo com número ímpar de participantes, não houve maiores mudanças em relação ao formato da competição, que preserva três promoções à Serie A e quatro rebaixamentos à Serie C. O campeonato terá 38 rodadas, sendo que a cada final de semana uma das 19 equipes ficará de folga. A briga no momento é para saber quantos clubes da terceira divisão subirão para a segunda em 2019, mas isso é uma discussão ainda mais complexa, haja visto que a Lega Pro nem mesmo definiu o seu calendário para a temporada. De qualquer forma, a terceirona começará no dia 16 de setembro e terá como uma das novidades a Juventus B, primeiro clube da elite a ter uma segunda equipe nas divisões inferiores.
Como de praxe, os clubes rebaixados da Serie A normalmente são favoritos na segundona seguinte. Não é diferente em 2018-19: Benevento, Crotone e Verona ocupam o grupo de grandes postulantes às três vagas para a elite. Ao lado deles, brigam pelo acesso algumas forças tradicionais, como Palermo, Perugia, Brescia e Pescara.
O Benevento é a equipe da categoria que mais tem chamado atenção no início da temporada. O time da Campânia é treinado por Cristian Bucchi, que esteve no Sassuolo em 2017 e bateu na trave pelo acesso com o Perugia, ao ser eliminado no play-off da temporada anterior justamente para a equipe giallorossa.
Agora, os stregoni agora são capitaneados pelo veterano Maggio, que chegou acompanhado por outro velho conhecido, Nocerino, assim como dos jovens Tello (Juventus), Improta (Genoa), Ricci (Roma) e Roberto Insigne (Parma). Eles se juntam a peças importantes que permaneceram, como o goleiro Puggioni, os defensores Antei, Costa e Letizia e o meia articulador Viola. O ano começou bem para os bruxos: afinal, avançaram para a quarta fase preliminar da Coppa Italia depois de vencerem a Udinese por 2 a 1, em pleno Friuli.
Quem também avançou na copa foi o Crotone, que passou pelo Livorno e enfrentará o Bologna na próxima fase. O time da Calábria é comandado por Giovanni Stroppa, ex-jogador do Milan nos anos 1980 e 1990. Aprendiz de Zdenek Zeman, a quem substituiu sem sucesso no Pescara em 2012 durante a rápida passagem do clube na Serie A, o ex-meia vinha de dois anos de bom trabalho no Foggia e ganhou uma oportunidade numa agremiação de maiores ambições.
O elenco pitagórico manteve 12 atletas utilizados constantemente na última Serie A – inclusive o nigeriano Simy e o sueco Rohdén, que disputaram a Copa do Mundo. Ficaram, ainda, o capitão Cordaz (uma segurança no gol) e os criativos Faraoni, Barberis, Benali, Stoian e Nalini, além do agudo lateral Martella e do centroavante Budimir. O grupo também foi fortalecido com as contratações de Marchizza (Sassuolo), Valietti (Inter), Väisänen (Spal), Molina (Atalanta) e Spinelli (Genoa).
Ao contrário do Crotone, o Verona preservou poucas peças do elenco que disputou a última Serie A e foi com tudo ao mercado, montando o grupo mais mais caro da categoria. O Hellas chama atenção depois de ter contratado Di Carmine (Perugia), Marrone (Juventus), Laribi (Bologna), Ragusa (Sassuolo) e Gustafson (Torino).
Os reforços se unem ao veterano Pazzini, aos rápidos Lee Seung-woo e Ryder Matos, além do sólido zagueiro Caracciolo. Apesar disso, o time treinado por Fabio Grosso, herói italiano em 2006, acabou sendo eliminado precocemente na Coppa Italia: caiu para o Catania, da Serie C.
Entre os clubes que ficaram no meio do caminho na temporada passada, o Palermo continua como um dos postulantes à vaga por causa do dinheiro de Maurizio Zamparini. Mesmo que seu insano presidente tenha diminuído consideravelmente os investimentos (o clube segue à venda, inclusive), o elenco continua quase o mesmo que por quase toda a campanha na última Serie B ficou na segunda posição. Os rosanero perderam a posição depois que Bruno Tedino foi demitido, já que Roberto Stellone, seu sucessor, caiu na tabela e perdeu na final do play-off para o Frosinone.
Tedino, ex-técnico do Pordenone, voltou para a Sicília e com ele chegaram Brignoli (Juventus), Falletti (Bologna), Haas (Atalanta), Lo Faso (Fiorentina) e Puscas (Inter). O elenco do Palermo conta ainda com grande número de opções fiáveis para todas as posições: os destaques são Struna, Rispoli e Aleesami nas laterais; Jajalo e Chochev no meio-campo e o goleador e capitão Nestorovski no comando do ataque.
Quem não poupou investimentos foi o Perugia de Alessandro Nesta, que está tentando a volta para a Serie A desde que chegou na segundona, em 2015. O clube do Renato Curi está longe da elite há 14 anos e depois de ter caído precocemente na copa para o Novara na segunda fase, contratou Gabriel (Milan), Gyömber (Roma), Felicioli (Verona), Verre (Sampdoria) e Han (Cagliari) no final do mercado. Foram as principais contratações de um mercado agressivo, que ainda levou aos grifoni nomes como Leali (Juventus), Moscati (Livorno), Melchiorri (Cagliari) e Vido (Atalanta).
O Brescia, presidido pelo controverso Massimo Cellino, tem investido em sua estrutura. Uma prova disso é que o clube rejeitou propostas dos grandes por Sandro Tonali, meia de 18 anos tratado como novo Andrea Pirlo. A equipe da Lombardia também caiu na copa, diante do Novara, mas tem um time interessante. O grupo é treinado por David Suazo, ex-atacante de Cagliari e Inter, capitaneado pelo veterano Gastaldello e ainda conta com Sabelli (ex-Bari), Romagnoli (ex-Bologna), Tremolada (ex-Inter), Morosini (ex-Genoa) e o vice-artilheiro da última Serie B: Donnarumma (ex-Empoli).
Também na briga por um lugar na Serie A em 2019, o Pescara segue apostando nos jovens e nesta temporada terá uma equipe para ser observada de perto por causa de Gravillon (Benevento), Melegoni (Atalanta), Del Sole (Juventus), Crecco (Lazio), Pepín (Roma), Capone (Atalanta), Antonucci (Roma), Yamga (Chievo) e Monachello (Atalanta). A boa turma é comandada pelo rodado técnico Giuseppe Pillon e pode contar com o apoio dos mais experientes Fiorillo, Fornasier, Campagnaro e Brugman.
Outra candidata a surpresa é a Salernitana, agremiação de propriedade de Claudio Lotito. A torcida grená espera que o trabalho de Stefano Colantuono melhore, já que o elenco ganhou bons reforços. Chegaram Micai (Bari), Perticone (Cesena), Bellomo (Bari), Mazzarani (Catania), Djuric (Bristol), Jallow (Cesena), Vuletich (Rionegro) e, no final da janela, um trio da Lazio: Di Gennaro e os Anderson, André (Santos) e Djavan (ex-Bari). O grupo campano ainda tem jogadores bastante rodados, como Signorelli, Boccalon e o interminável Rosina – sim, aquele, ex-Torino.
Outro time para se observar é o Venezia, que bateu na trave do acesso neste ano com Pippo Inzaghi e agora é comandado por Stefano Vecchi, treinador multicampeão com o sub-19 da Inter, e que tem como proprietário o ambicioso empresário americano Joe Tacopina. O destaque do time é o atacante Zigoni, filho de Gianfranco Zigoni, ex-atacante de Juventus e Verona. Também no Vêneto, vale observar o Cittadella, treinado por Roberto Venturato há quatro temporadas. A equipe grená tem mostrado grande capacidade para se reinventar depois de negociar suas revelações. As deste ano foram o zagueiro Varnier e o atacante Kouamé, que se mudaram para Atalanta e Genoa.
Também pode fazer bom papel a Cremonese de Andrea Mandorlini, que contratou Terranova (Sassuolo), Del Fabro (Cagliari), Migliore (Genoa), Greco (Roma) e Emmers (Inter). O time grigiorosso tem ainda os brasileiros Claiton e Paulinho, que fizeram carreira no futebol da Bota. Paulinho é aquele mesmo atacante revelado pelo Juventude no início dos anos 2000 e que passou com muito sucesso pelo Livorno em seus anos de Serie A.
Longe da disputa por ter que começar o campeonato com oito pontos de punição por causa dos seus problemas administrativos, o Foggia não poupou esforços depois de ter perdido o treinador Stroppa e trouxe diversos jogadores de clubes da Serie A. O substituto Gianluca Grassadonia recebeu Bizzarri (Udinese), Rizzo (Bologna), Carraro (Atalanta), Galano (Parma), Iemmello (Sassuolo) e Gori (Fiorentina). O Foggia também tirou o brasileiro Lucas Chiaretti do Cittadella e deu várias opções à equipe comandada pelo criativo Kragl e o goleador Mazzeo.
Por fim, o Spezia ambiciona deixar para trás seguidas frustrações. A equipe da Ligúria não consegue superar o play-off desde que voltou para a Serie B em 2012, mas segue investindo no sonho. O veterano Pasquale Marino é o treinador e conta com outros nomes experientes no elenco, como Terzi, Mora e o rodadíssimo Granoche. A equipe não renovou com Gilardino, mas fechou com Lamanna (Genoa), Capradossi (Genoa), Galabinov (Genoa) e Sveinn Gudjohnsen (Breidablik), filho daquele mesmo ex-atacante islandês de Chelsea e Barcelona.
Enquanto Carpi e Ascoli devem fazer figuração na categoria, os clubes que subiram da Serie C chamam atenção. Destaque para o Livorno, que contou com a volta do ídolo Cristiano Lucarelli, agora como treinador, e terá Dainelli (Chievo), Albertazzi (Verona), Fazzi (Cesena), Diamanti (ex-Bologna), Giannetti (Cagliari) e Kozák (ex-Lazio). Neste elenco cheio de experiência, outros destaques são os meias Valiani e Luci. No ataque, o jovem brasileiro Murilo Mendes sonha com voos mais altos após seguidas ótimas atuações na terceirona.
Quem também está de volta à segunda divisão é o Lecce, que disputou a competição pela última vez em 2010 – em 2012, a equipe apuliana foi rebaixada da Serie A diretamente para a Lega Pro por envolvimento no escândalo Calcioscommesse. O grupo salentino é treinado por Fabio Liverani, ex-regista de Lazio, Fiorentina e Palermo, e trouxe Venuti (Fiorentina), Falco (Bologna), Pettinari (ex-Roma) e Palombi (Lazio).
Por sua vez, o Padova conta com Pulzetti (ex-Bologna), Capelli (ex-Atalanta), Pinzi (ex-Udinese), Della Rocca (ex-Bologna), Clemenza (Juventus) e Bonazzoli (Inter). Já o modesto Cosenza, longe da segundona há 15 anos, garantiu a permanência do destaque Tutino (Napoli) e também levou Garritano (Inter) e Maniero (Pescara) para a cidade conhecida como Atenas da Calábria. Este trio deve lutar com unhas e dentes pela permanência.
Dessa vez chegou a hora da Venezia