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Eterno capitão, Angelo Palombo se tornou uma das maiores bandeiras da Sampdoria

Após a chamada “era de ouro” da Sampdoria, época em que a equipe ganhou todos os títulos de sua história, diversos jogadores passaram pelo lado blucerchiato de Gênova. Contudo, nenhum foi maior que Angelo Palombo. A união entre clube e atleta começou por acaso, teve altos e baixos, como qualquer relacionamento, e muito amor pela camisa. Palombo se tornou sinônimo de Samp e foi idolatrado pela torcida doriana.

Angelo é de Ferentino, município situado na região de Frosinone, famoso pela preservação de sua arquitetura original e por suas belas igrejas. O garoto começou a jogar futebol com apenas 6 anos e, em sua infância, assistia aos jogos do Milan, clube pelo qual cultivava paixão: seu ídolo era o holandês Marco van Basten e a grande inspiração era o meia Demetrio Albertini. Com 12 anos, o menino que adorava ler livros de terror e pescar com o pai ingressou nas categorias de base do clube homônimo da cidade em que nasceu.

Ainda na adolescência, Palombo saiu do setor juvenil do Ferentino e acertou com o Urbania, do Campeonato Nazionale Dilettanti – correspondente à quarta categoria italiana. Na sequência, Angelo disputou a Serie C2 pelo Fano. Em 1999, após duas temporadas como titular nas divisões inferiores, o jovem de 18 anos assinou com a Fiorentina.

Palombo passou dois anos no time Primavera da Viola, e, graças à ótima visão de jogo que tinha, jogava como um regista avançado. Com as boas atuações no time juvenil, o meio-campista foi convocado para a seleção sub-20 italiana e, em 2001, disputou os Jogos Mediterrâneos, quando conquistou a medalha de prata. No mesmo ano, o técnico Roberto Mancini resolveu promovê-lo ao time principal da Fiorentina.

Ao longo da temporada 2001-02, Palombo teve as suas primeiras oportunidades nos campeonatos mais importantes do país: aos 20 anos, o volante debutou numa partida da Coppa Italia, contra o Como, e ante o Venezia, estreou na Serie A. Angelo foi ganhando mais chances nas rodadas finais do campeonato, quando o time de Florença já sucumbia aos sérios problemas financeiros e, com fraco rendimento em campo, já considerava a queda iminente. No final da campanha, com a falência da Fiorentina, o jogador ficou livre para assinar com outra equipe.

Palombo conquistou os únicos títulos da carreira pelas seleções de base da Itália (imago/Ulmer)

Palombo era um dos mais promissores meias italianos da época, mas ficou quase todo o verão de 2002 sem clube. Em meados de agosto, Giuseppe Marotta, que acabara de assumir o cargo de diretor esportivo da Sampdoria, o abordou com uma oferta. O contrato de quatro anos acabou sendo assinado de forma apressada, em um bar situado no aeroporto Malpensa, de Milão, e Angelo logo embarcou para a Ligúria.

Os passos iniciais do jovem na Sampdoria foram pouco usuais e nada indicava que ele ficaria por tantos anos no clube. Contudo, o meia de 21 anos chegava em Gênova para escrever uma bela história: se tornaria o quarto jogador que mais vezes vestiria a camisa blucerchiata, com 459 aparições distribuídas em 15 temporadas.

Em sua primeira campanha pela Sampdoria, Palombo fez dupla no meio-campo com o experiente Sergio Volpi e foi um dos pilares da equipe de Walter Novellino, que garantiu à promoção para Serie A da época seguinte. Nessa temporada, Angelo também marcou o seu primeiro gol pela Samp, com uma potente cabeçada contra o Messina. Disputou também os seus primeiros dérbis contra o Genoa: ganhou os dois jogos e, devido ao seu vigor característico, acabou amarelado em ambos. Com o sucesso na Ligúria, o volante ganhou espaço na seleção sub-21 italiana e se tornou titular absoluto na formação de Claudio Gentile.

Após uma oitava colocação na Serie A 2003-04, na temporada que marcou o retorno dos genoveses à elite, o volante inteligente, físico e de ótima técnica foi chamado por Gentile para a disputa do Europeu Sub-21 de 2004. Fazendo uma trinca de meio-campo com Daniele De Rossi e Marco Donadel, Palombo ajudou a Squadra Azzurra a se sagrar campeã, vencendo a Iugoslávia na final, por 3 a 0. Ainda naquele ano, o jogador blucerchiato também foi convocado para os Jogos Olímpicos de Atenas e faturou o bronze – a Itália perdeu para a Argentina nas semifinais e bateu o Iraque na decisão pelo terceiro lugar.

Incansável, Palombo ficou conhecido pela dedicação em campo (imago/Hoch Zwei/GN)

A terceira temporada de Palombo pela Sampdoria ficou marcada pela classificação do time para um torneio continental: o sólido time de Novellino alcançou uma célebre quinta colocação na Serie A e se classificou para a Copa Uefa – ficou a apenas dois pontos da vaga direta na Champions League. Palombo foi o jogador que mais vezes entrou em campo naquela campanha e foi um dos mais consistentes integrantes daquela equipe de vocação defensiva.

No ano seguinte, embora a Samp tenha decepcionado e caído na fase de grupos da Copa Uefa, Palombo pode celebrar o seu primeiro gol na Serie A – e justamente contra a Fiorentina, sua antiga equipe. Não foi qualquer tento, aliás: Angelo emendou uma magnífica bicicleta e abriu o placar no jogo em que os blucerchiati venceram por 3 a 1. O time, contudo, terminou a temporada 2005-06 apenas na 12ª posição.

Por conta do senso de posicionamento acima da média, da boa saída de bola e da habilidade em lançamentos longos, o combativo Palombo chegou até a ser utilizado como zagueiro por Novellino em algumas ocasiões. Em 2006-07, última temporada do técnico no Marassi, Angelo disputou incríveis 43 partidas e contribuiu fortemente para que os dorianos chegassem às semifinais da Coppa Italia – e a mais uma Serie A tranquila, terminada no meio da tabela.

Em evidência no futebol local, Palombo (então com 25 anos) era um dos nomes fortes para integrar o ciclo da seleção italiana após o tetracampeonato da Squadra Azzurra, em 2006. Roberto Donadoni assumiu a Nazionale, substituindo o vitorioso Marcello Lippi, e chamou Angelo – e mais três jogadores da Sampdoria – logo em sua primeira convocação. A estreia do volante blucerchiato ocorreu contra a Croácia, em partida disputada em Livorno.

O capitão da Sampdoria participou de alguns dos melhores – e piores – momentos recentes da história blucerchiata (Getty)

Em 2007, a contratação do técnico Walter Mazzarri pela Sampdoria modificou a hierarquia no elenco. Volpi deixou de ser titular e, com isso, perdeu a braçadeira de capitão. Palombo já era um natural líder no gramado e, com enorme entusiasmo, assumiu o posto de capitão da equipe. Então, além de organizar o jogo como poucos no campeonato, com finíssimo toque de bola, e participar da fase ofensiva com chutes de longa distância potentes e precisos, Angelo ganhou uma nova atribuição no elenco doriano.

O volante ajudou a Samp a ser sexta colocada na Serie A 2007-08 e, consequentemente, garantir mais uma vaga na Copa Uefa. Na temporada seguinte, apesar de ter ficado quase quatro meses afastado por causa de duas lesões musculares na coxa, o capitão contribuiu para que a equipe genovesa fosse vice-campeã da Coppa Italia. No campeonato, concluído no meio da tabela, Palombo anotou uma doppietta contra o Napoli, se valendo de seus fortes chutes em cobranças de falta.

De contrato renovado, o capitão recebeu o técnico Luigi Delneri de braços abertos em 2009-10 e manteve o protagonismo naquela que seria uma temporada dos sonhos. Ao lado de Antonio Cassano e Giampaolo Pazzini, o volante comandou a equipe na campanha que culminou na quarta colocação do campeonato e numa inédita classificação para a Liga dos Campeões. Nessa Serie A, Palombo marcou dois gols – sendo ambos chutes de longa distância.

Àquela altura, Angelo já era um nome frequente nas listas de Lippi na seleção. O treinador, que retornara à seleção após o fracasso de Donadoni na Euro 2008 – para a qual Palombo não foi convocado –, utilizou o volante principalmente durante o ano de 2009, em amistosos e partidas das eliminatórias para o Mundial. O doriano foi chamado para disputar a Copa da Confederações de 2009 e a Copa do Mundo de 2010, mas não saiu do banco em nenhuma dessas competições.

O volante teve a chance de vestir a camisa da Inter por alguns meses, mas não impressionou (imago/Gribaudi/IPA)

O vexame em solo sul-africano não foi o único que Palombo viveu naquele período. De volta à Sampdoria, o volante viu uma temporada que tinha tudo para ser a dos seus sonhos, por causa da disputa da Liga dos Campeões, se transformar tragicamente na mais dura de sua carreira. Inclusive, terminaria em lágrimas.

Delneri foi para a Juventus e o clube genovês contratou Domenico Di Carlo para ocupar o seu lugar. Os playoffs da Champions League anteciparam o que vinha pela frente: a Samp caiu para o Werder Bremen e foi relegada à disputa da Liga Europa. No segundo maior torneio continental, não passou da fase de grupos. Na Coppa Italia, foi eliminada pelo Milan nas quartas de final. O pior de tudo aconteceu na Serie A, contudo.

A equipe teve um péssimo começo de temporada e entrou em parafuso a partir de janeiro, quando vendeu Cassano e Pazzini para Milan e Inter, respectivamente. Alberto Cavasin substituiu Di Carlo e não conseguiu fazer a Samp reagir: no último jogo do time no Marassi, uma derrota contra o Palermo selou o rebaixamento. Palombo já havia se tornado uma bandeira do clube e, ao final desse jogo, ganhou ainda mais respeito da torcida. O capitão foi até a arquibancada sul do Marassi e, aos prantos, pediu perdão aos torcedores pelo descenso.

No final daquela trágica campanha, Palombo reforçou o amor que tinha pelo clube e afirmou que gostaria de encerrar sua carreira na Sampdoria. Inclusive, rejeitou propostas e optou por defender a equipe na Serie B. “Depois de uma temporada como a que acabou de terminar, receber ofertas importantes, mesmo do ponto de vista econômico, foi motivo de orgulho. Agradeço a quem se apresentou, mas jamais pensei, nem por um momento, em deixar a Sampdoria”, declarou ao Corriere Mercantile, antigo jornal de Gênova.

Em sua segunda passagem pela Samp, Palombo se destacou como volante e zagueiro (Getty)

Palombo até começou a temporada 2011-12 na Sampdoria, mas seus esforços foram colocados em segundo plano pela diretoria em janeiro de 2012. Por causa de seu alto salário, o meia foi praticamente escorraçado pela diretoria e acabou indo para a Inter, por empréstimo. Em Milão, vestiu a mesma camisa de número 17 que o acompanhava na carreira, mas quase não entrou em campo: atuou em apenas três jogos, sendo que não venceu nenhum deles, e retornou a Gênova em julho.

Porém, a volta do capitão não foi tão positiva: a Sampdoria disputaria a Serie A novamente, mas queria vendê-lo. Por decisão da diretoria, o jogador foi afastado do elenco principal, então comandado por Ciro Ferrara. O intuito era forçá-lo a aceitar propostas de outros clubes, mas Palombo prontamente recusou as ofertas de Torino, Udinese, Bologna e Rubin Kazan. Angelo também se negou a assinar a rescisão contratual.

Depois de tanto bater o pé para permanecer em Gênova, Palombo foi reintegrado ao elenco em meados de setembro e renovou o contrato com o clube – aceitando condições que aliviaram as finanças dos blucerchiati. Após recuperar o condicionamento físico, o jogador entrou em campo pela primeira vez na temporada 2012-13 em janeiro, já sob as ordens de Delio Rossi. Por escolha própria, numa tentativa de fazer a inteligência tática compensar o avançar da idade, o veterano começou a jogar como zagueiro central, numa linha defensiva com mais dois colegas. E foi bem na função.

Considerando a sua segunda passagem pela Sampdoria, Palombo viveu o seu melhor momento em 2014-15 – justamente quando recuperou definitivamente a faixa de capitão, que havia perdido na ida para a Inter. Sob o comando de Sinisa Mihajlovic, a equipe também teve a sua temporada mais positiva após o retorno à primeira divisão. Na campanha, concluída com a sétima posição da Serie A e vaga na Liga Europa, Angelo se dividiu entre zagueiro e meio-campista, atuando em 36 das 38 rodadas.

As duas temporadas seguintes seriam as últimas de Palombo como profissional. Nelas, ele pouco pisaria no gramado: sofrendo de uma recorrente lombalgia, poucas vezes esteve bem fisicamente para ser utilizado e só realizou 13 partidas no período. Com 35 anos, resolveu se aposentar e fez o seu último jogo na derradeira rodada da Serie A 2016-17, contra o Napoli, diante da torcida bluerchiata no Marassi. Em seguida, foi anunciado como auxiliar técnico da Sampdoria – cargo que ocupou em duas ocasiões, entre 2017 e 2022 e em 2022-23. Angelo também é diplomado pela escola de Coverciano e pode exercer a função de treinador, se preciso. Nessa função, comandou a equipe sub-17 doriana, em 2022.

Angelo Palombo
Nascimento: 25 de setembro de 1981, em Ferentino, Itália
Posição: volante e zagueiro
Clubes: Urbania (1997-98), Fano (1998-99), Fiorentina (1999-2002), Sampdoria (2002-12 e 2012-17) e Inter (2012)
Títulos: Europeu Sub-21 (2004) e Bronze Olímpico (2004)
Seleção italiana: 22 jogos

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