Serie A

2ª rodada: os vendedores de emoções

Agosto é mês de calor na Itália, mas de jogos geralmente mornos. No entanto, a 2ª rodada da Serie A foi repleta de golaços e de times que foram buscar resultados positivos de forma arrebatadora. O que dizer das pinturas de Pastore e Antenucci? Ou do belo voleio de Pjanic, do golpe de caratê de Bonaventura, da patada de Milenkovic, do show da Fiorentina e da construção da jogada do gol de Mertens? Ou da virada do Napoli, dos empates heróicos conquistados por Torino e Sassuolo e do thriller protagonizado por Roma e Atalanta? Dissemos muito, na verdade. Confira no resumo do fim de semana!

Napoli 3-2 Milan
Zielinski (Callejón), Zielinski e Mertens (Allan) | Bonaventura (Borini), Calabria (Suso)

Tops: Zielinski (Napoli) e Suso (Milan) | Flops: Hamsík (Napoli) e Biglia (Milan)

Dos postulantes ao título e à Liga dos Campeões, o Napoli certamente é o que tem o calendário mais ingrato nas oito primeiras rodadas. As más atuações e os tropeços na pré-temporada indicavam que este percurso inicial seria ainda mais tortuoso, mas a equipe de Carlo Ancelotti vai tirando os desafios de letra. Com viradas sobre Lazio e Milan, os azzurri são um dos três times que têm 100% de aproveitamento até então. Por sua vez, os milanistas deixaram boas impressões apenas na etapa inicial de seu jogo de estreia.

Durante a maior parte do jogo, o Napoli se ressentiu da péssima atuação de Hamsík, e ameaçou apenas com infiltrações de Allan, chutes de fora da área e chegadas de Insigne. Sem dar mostras de uma ideia de jogo, a equipe da casa viu o Milan marcar duas vezes em jogadas parecidas: lançamento, ajeitada para quem vinha de trás e finalização de primeira. Foi assim que, sempre com a participação de Suso, Bonaventura fez um golaço e Calabria ampliou. Higuaín, porém, apareceu pouco: em sua primeira visita ao San Paolo como jogador do Milan, batalhou com os marcadores e trabalhou pelo time, mas não teve muitas oportunidades de finalizar.

A diferença no placar mudou os ânimos do jogo. Mesmo com Gattuso se esgoelando no banco, o Milan relaxou e começou a afrouxar a marcação na intermediária, permitindo diversas chegadas do Napoli. Em duas delas, Zielinski finalizou e empatou – poderia até ter feito um terceiro, na melhor oportunidade, mas bateu para fora. Com o empate, Ancelotti mexeu no time e foi em busca da virada num 4-2-4. Bakayoko e Bonaventura mantiveram o mesmo ritmo de antes (tal qual Biglia, já sacado) e deram metros para que Diawara acionasse Allan, que se infiltrou na área e só ajeitou para Mertens virar. O Napoli continua disperso no início das partidas, mas vai até as últimas consequências para buscar o resultado positivo.

Juventus 2-0 Lazio
Pjanic e Mandzukic

Tops: Pjanic e Chiellini (Juventus) | Flops: Milinkovic-Savic e Parolo (Lazio)

Embora tenha vencido em Turim no ano passado, a Lazio tem, diante da Juventus, uma das maiores freguesias recentes na Serie A: nos últimos 28 jogos, são 21 triunfos juventinos e apenas um dos celestes. Perante a uma de suas clientes mais fiéis, a Juve chegou a 100% de aproveitamento em duas rodadas pela sétima vez em oito campeonatos e divide a liderança. O único a não manter uma média acachapante foi Cristiano Ronaldo: ele havia marcado em todas as vezes em que visitou o Allianz Stadium pelo Real Madrid, mas na estreia pela equipe bianconera, passou em branco.

A verdade é que o brasileiro Wallace fez uma marcação quase impecável sobre o craque português, que levou mais perigo quando caiu pelas pontas – numa dessas jogadas, arriscou de fora da área e obrigou Strakosha a fazer uma defesaça. Na única vez em que o ex-zagueiro do Monaco cochilou, CR7 acabou furando na pequena área por causa de um leve desvio do goleiro albanês. Na sobra, Mandzukic anotou o segundo.

Àquele momento, que sacramentou a vitória, a Juve já estava sentada confortavelmente na vantagem. Desde o início do jogo, dominava e chegava com facilidade, mesmo sem forçar: primeiro com Bernardeschi e depois com Khedira, que acertou a trave. O meio-campo estava totalmente dominado pelos bianconeri, na figura de Pjanic – que mal foi desafiado por Milinkovic-Savic, Parolo e Luis Alberto. Melhor em campo, o bósnio foi também o autor do primeiro gol. Totalmente livre de marcação, aproveitou um rebote para emendar um belo voleio.

Inter 2-2 Torino
Perisic (Icardi) e De Vrij (Politano) | Belotti (Falque) e Meïté

Tops: Politano (Inter) e Meïté (Torino) | Flops: Handanovic (Inter) e Moretti (Torino)

Ano após ano, a maior anti-Inter é a própria Inter: a equipe nerazzurra constrói e destrói resultados com a mesma eficácia, não importa quanto se reforce no mercado. Nos últimos anos, o Torino tem protagonizado jogos muito duros contra a Beneamata e dessa vez não foi diferente. Ao menos no segundo tempo, quando os grenás foram buscar uma desvantagem de dois gols, que os nerazzurri construíram com facilidade na etapa inicial.

Em relação à derrota para o Sassuolo, Spalletti escalou um time mais próximo do que deve ser o titular na temporada, mas com três zagueiros – o que liberou Vrsaljko e Asamoah pelas alas. A estratégia vinha dando certo, sobretudo porque os jogadores de frente puderam circular e confundir a defesa adversária. Icardi saiu da área e passou para Perisic fazer o primeiro gol e o mesmo ocorreu em outros momentos. O segundo gol saiu após levantamento de Politano na área, desviado por De Vrij.

Após o intervalo, tudo desmoronou. Falque começou a aparecer para o jogo, Meïté dominou o meio-campo, Ljajic aterrorizou a zaga interista e Handanovic… bem, falhou clamorosamente. Primeiro, quando saiu atabalhoado e facilitou que Belotti aproveitasse o belo lançamento de Falque. Na sequência, caiu atrasado e não pegou o chute desviado de Meïté. O suficiente para já provocar a primeira crise do lado azul e preto de Milão.

Roma 3-3 Atalanta
Pastore (Ünder), Florenzi e Manolas (Pastore) | Castagne, Rigoni (Zapata) e Rigoni (Pasalic)

Tops: Zapata e Rigoni (Atalanta) | Flops: Fazio e Cristante (Roma)

O patrão enlouqueceu no fechamento da rodada! Num dos melhores jogos do final de semana, Roma e Atalanta confirmaram sua vocação ofensiva e protagonizaram emoções do primeiro ao último minuto, sem qualquer exagero. Afinal, Pastore marcou um golaço absurdo já no primeiro lance e, na reta final, o goleiro Gollini foi providencial contra Schick e evitou a virada dos romanistas para 4 a 3. Embora tenha permitido o empate, porém, a equipe mista atalantina deixou ótimas impressões, ao contrário do time da Cidade Eterna.

O gol de letra de Pastore deu o tom de espetáculo que se seguiria dali em diante. Um show protagonizado por Zapata e Rigoni, porém. A dupla de ataque da Atalanta simplesmente destruiu a defesa romana até o gongo soar – ou o juiz apitar, no caso. O atacante colombiano não perdeu um duelo sequer e foi vital para o os dois primeiros gols, que saíram entre os 19 e os 22 minutos. No de Castagne, acertou a trave e observou o belga aproveitar o rebote; no primeiro de Rigoni, ganhou de Manolas e colocou na medida para o colega. Rigoni ainda deu um chute seco para ampliar aos 38 e mandar um furioso Di Francesco para o intervalo. O treinador respondeu ao sacar Cristante e Pellegrini para colocar Nzonzi e Kluivert, o que equilibrou a partida. Florenzi diminuiu aos 60 e, aos 82, Manolas garantiu o empate, após uma cobrança de falta.

Fiorentina 6-1 Chievo
Milenkovic, Gerson, Benassi (Simeone), Chiesa (Gerson), Benassi (Biraghi) e Simeone (Eysseric) | Tomovic (Birsa)

Tops: Gerson e Benassi (Fiorentina) | Flops: Jaroszynski e Rossettini (Chievo)

Em sua estreia nesta Serie A, o time mais jovem da competição deu uma lição a um dos mais velhos – ao lado de Parma e Juventus. A Fiorentina mandou a campo um onze inicial em que os mais velhos eram os zagueiros Vitor Hugo e Pezzella, de 27 anos e seu sangue novo se impôs sobre os veteranos do Chievo especialmente no segundo tempo, no qual a equipe viola ampliou o placar de 2 a 0 na etapa inicial para incríveis 6 a 1. Um dos grandes destaques da partida foi o brasileiro Gerson, que já mostrou entrosamento com Chiesa, Edimilson Fernandes, Benassi e Simeone.

O show começou aos 8 minutos, com um golaço de fora da área do sérvio Milenkovic, que começa a temporada sendo utilizado como lateral direito. O Chievo até equilibrou as ações, mas antes do intervalo Gerson aproveitou um bate-rebate para fazer  2 a 0. Daí em diante, o jogador emprestado pela Roma começou a dar as cartas de forma mais decisiva no meio-campo e participou das jogadas dos gols de Benassi e Chiesa. Logo após sua substituição, o Chievo diminuiu com Tomovic, ex-jogador da casa – na comemoração, homenageou o ex-companheiro Astori e foi aplaudido pela torcida. Ainda houve tempo para que Benassi anotasse mais um e para Simeone coroar a ótima partida com um gol de centroavante puro. O Cholito ainda pode celebrar com os pais e sua irmãzinha, que estavam no estádio Artemio Franchi.

Udinese 1-0 Sampdoria
De Paul (Fofana)

Tops: Fofana e Machís (Udinese) | Flops: Jankto e Ramírez (Sampdoria)

Nenhum time mostrou tanta evolução da primeira para a segunda rodada quanto a Udinese. Os friulanos, apesar do empate diante do Parma, praticamente só ameaçaram com a velocidade de Machís, mas mudaram da água para o vinho jogando em casa. A vitória sobre a Sampdoria foi construída com autoridade no primeiro tempo, embora nos momentos finais a equipe da casa tenha levado alguns sustos.

Tudo de bom que aconteceu no jogo para a Udinese saiu dos pés de Fofana, que ganhou mais liberdade do técnico Velázquez. O marfinense pode circular por todo o campo e, assim, chegou na entrada da área para finalizar e dar o último passe, o que costuma fazer bem. Foi assim que saiu o gol de De Paul, que voltou a vitimar a Sampdoria – já havia marcado no ano passado. A Samp só apareceu no segundo tempo, com um chute de Defrel que acertou a trave, mas principalmente após Saponara substituir Ramírez e começar a dialogar mais com Linetty. Apesar disso, foi pouco e, considerando a temporada anterior, o time somou quatro derrotas seguidas por jogos do campeonato.

Spal 1-0 Parma
Antenucci (Lazzari)

Tops: Lazzari e Antenucci (Spal) | Flops: Ceravolo e Gobbi (Parma)

Não acorde o torcedor da Spal: deixe-o sonhar. Os spallini têm o melhor início de Serie A de sua história, com duas vitórias em dois jogos, igualando a marca estabelecida em 1959-60, quando ficaram com o sétimo lugar. No entanto, o momento é ainda mais impactante, visto que a equipe venceu dois clássicos e nem mesmo atuou em casa.

A Spal havia vencido o Bologna no Renato Dall’Ara e voltou a atuar no mesmo estádio, dessa vez como mandante, contra o Parma – seu estádio, o Paolo Mazza, passa por obras de modernização. No entanto, da mesma forma que bateu os rossoblù, passou pelos crociati: com um golaço. Se na semana passada Kurtic guardou um foguete de longa distância, dessa vez Antenucci deu uma de Zidane e acertou um voleio magnífico, sem chances para Sepe. A bola saiu dos pés de Lazzari, ala que foi o melhor em campo e que foi capaz de acelerar uma partida disputada em ritmo muito baixo. Pelo Parma, Inglese e Gervinho até tentaram fazer o mesmo no fim da partida, mas Ceravolo perdeu a melhor das oportunidades criadas.

Genoa 2-1 Empoli
Piatek (Criscito) e Kouamé (Criscito) | Mráz (Di Lorenzo)

Tops: Criscito e Piatek (Genoa) | Flops: Silvestre e Caputo (Empoli)

Para o primeiro jogo no estádio Luigi Ferraris após o colapso da ponte Morandi, a torcida do Genoa prometeu não cantar durante 43 minutos – um para cada vítima fatal do desastre. A promessa foi cumprida, mas os torcedores não ficaram mudos: afinal, os dois gols da boa vitória da equipe saíram em apenas 18 minutos de bola rolando. Os dois tiveram a participação decisiva de Criscito, capitão e ícone da equipe, que passou pela ponte 10 minutos antes de ela desabar.

A vitória genovesa teve também a participação decisiva de dois dos melhores reforços da equipe, que têm características complementares para o ataque. Mais fixo, o polonês Piatek foi capaz de concluir de primeira, como se tivesse um taco de bilhar em seu pé, o cruzamento de Criscito. Com liberdade total para circular, Kouamé caiu nas costas da defesa para receber do camisa 4 e fuzilar o goleiro Terracciano com um chute em diagonal. Com a vantagem, o Genoa continuou a dominar territorialmente, mas viu o Empoli criar as melhores chances dali em diante. O esloveno Zajc chegou a acertar a trave duas vezes – numa delas, o veterano Marchetti fez uma defesa parcial importantíssima –, mas o gol saiu apenas quando não havia mais tempo para a reação: foi do eslovaco Mráz, um estreante para ficar de olho no resto da competição.

Cagliari 2-2 Sassuolo
Pavoletti (Padoin) e Pavoletti (Bradaric) | Berardi (Sensi) e Boateng (pênalti)

Tops: Pavoletti (Milan) e Berardi (Sassuolo) | Flops: Romagna (Cagliari) e Marlon (Sassuolo)

Na Sardenha, Cagliari e Sassuolo conservaram duas máximas: o fato de os neroverdi sempre marcarem em visitas à ilha e o enorme equilíbrio no confronto. Em nove jogos, são duas vitórias para cada lado e cinco empates. Outros eventos corriqueiros (mas dignos de nota) foram os dois gols de cabeça de Pavoletti, letal no fundamento, e a lei do ex cumprida pelo centroavante. No entanto, dois erros defensivos levaram ao empate conquistado pelo Sassuolo aos 98 minutos.

Pavoloso marcou o primeiro logo aos 10 minutos e, pouco depois, perdeu a chance de ampliar – novamente pelo alto. O Sassuolo empatou numa jogada de contra-ataque, na qual Berardi ganhou na corrida de Klavan e marcou seu segundo gol no campeonato: na última temporada, o calabrês havia precisado de 21 partidas para anotar a mesma quantidade. Pavoletti, no entanto, colocou o Cagliari em vantagem ao ganhar de Marlon numa cobrança de escanteio e cabecear violentamente, sem chances para Consigli. O brasileiro foi expulso por acúmulo de cartões e iria sair como vilão, mas o adversário Romagna salvou a sua pele. O zagueiro rossoblù interceptou a trajetória da bola com o braço, no minuto final, e o VAR ajudou a assinalar a penalidade. Seguro na cobrança, Boateng deu o quarto ponto ao time emiliano. O Cagliari continua sem vencer.

Frosinone 0-0 Bologna

Tops: Sportiello (Frosinone) e Danilo (Bologna) | Flops: Ciano (Frosinone) e Dzemaili (Bologna)

Se resolvêssemos fazer uma lista das coisas mais deprimentes do mundo, certamente colocaríamos nela um empate por 0 a 0 entre Frosinone e Bologna, num jogo disputado a portões fechados e em campo neutro. Foi exatamente o que aconteceu neste final de semana. Os frusinati foram punidos porque funcionários do clube arremessaram, insistentemente, bolas extras em campo no jogo decisivo para o acesso à elite, contra o Palermo. Assim, tiveram de mandar o jogo no Olímpico de Turim.

Num jogo tão frio quanto o clima das arquibancadas, as duas equipes mostraram porquê ainda não marcaram um gol sequer em duas rodadas. Com imensa falta de criatividade e pouco desejo de vencer, Frosinone e Bologna parecem ter assinado um pacto de não agressão que durou 90 minutos. Os bolonheses foram levemente melhores, mas Dzemaili e Poli perderam oportunidades cara a cara com Sportiello.

Seleção da rodada
Sirigu (Torino); Lazzari (Spal), Milenkovic (Fiorentina), Chiellini (Juventus), Criscito (Genoa); Zielinski (Napoli), Benassi (Fiorentina), Gerson (Fiorentina); Rigoni (Atalanta); Zapata (Atalanta), Pavoletti (Cagliari). Técnico: Stefano Pioli (Fiorentina).

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