O tempo passa, os maus resultados se acumulam e a Itália não empolga – até parece que piora. Uma geração que já descrevemos aqui como recheada de bons valores, candidata a boas campanhas na Euro 2020 e na Copa do Mundo de 2022, não consegue evoluir. Tal estagnação produz partidas vexatórias, como a da 2ª rodada da Liga das Nações contra Portugal. Em um ano, a Nazionale somou apenas três vitórias – contra Israel, Albânia e Arábia Saudita.
Considerando a grande quantidade de opções que tinha no grupo convocado, Mancini optou por fazer uma mudança radical, o que fez com que a Itália entrasse em campo numa partida competitiva sem um jogado sequer da Juventus pela primeira vez em 20 anos. Insatisfeito com o mostrado diante da Polônia, o técnico trocou nove peças para encarar Portugal: apenas Donnarumma e Jorginho foram mantidos. Mancio também deixou o 4-3-3 de lado e apostou num 4-4-2, com Chiesa e Bonaventura pelas pontas e Zaza e Immobile no ataque. O centroavante da Lazio, inclusive, foi o capitão azzurro.
O início da partida prometia bons augúrios, já que Caldara e Romagnoli estreavam juntos no centro da defesa italiana. Os dois, no entanto, acabaram expostos pela falta de velocidade de Criscito diante de Pizzi e pelo fato de Lazzari não conseguir conter os inúmeros avanços de Bruma pelo seu setor. O lateral foi o primeiro jogador da Spal a entrar em campo pela seleção italiana desde Alberto Fontanesi, em 1952, e claramente sentiu a nova realidade. E olha que Portugal nem contava com Cristiano Ronaldo, que pediu para não ser convocado.
Jorginho e Cristante jamais chegaram perto de vencer o duelo com Rúben Neves e William Carvalho no centro do campo, o que deu a Portugal o domínio da bola e do território. Dessa forma, somente a Seleção das Quinas atacou em todo o confronto. A única oportunidade que a Itália teve aconteceu aos 78, quando Zaza cabeceou para fora.
Após algum equilíbrio e estudo, os portugueses foram para cima a partir dos 30 minutos. Antes do fim da etapa inicial, os mandantes tiveram três chances claríssimas. Primeiro, Donnarumma saiu mal do gol num cruzamento e deixou sua meta desprotegida – por sorte, Romagnoli fez ótima leitura do lance e salvou o gol português com um corte em cima da linha. Na sequência, Mário Rui deixou Lazzari na saudade e cruzou rasteiro, mas a bola tocou em Cristante e ganhou efeito, tocando no travessão. Por fim, após a arbitragem não assinalar pênalti de Criscito em Pizzi, William Carvalho arriscou de fora da área e levou perigo.
A hegemonia se traduziu em gol logo na volta do intervalo. Aos 48, Bruma fez jogada pelo lado direito da defesa italiana, costurou e tocou para o meio da área, onde André Silva estava para aproveitar e vencer seu ex-companheiro Donnarumma. Pouco depois, o goleiro do Milan fez uma linda defesa, num chute cheio de efeito de Bernardo Silva. Até o final do jogo, Gigio ainda foi importante para manter a Itália viva, defendendo finalizações de Pizzi e Renato Sanches. A Nazionale até tentou fazer pressão no final, mas não conseguiu incomodar de verdade e saiu de Lisboa com a terceira derrota em três jogos na capital portuguesa.
O resultado prejudica (e muito) as pretensões da Itália no Grupo 3 da Liga A da Uefa Nations League. Afinal, os azzurri só têm mais dois jogos pela frente e um ponto na bagagem. Apesar disso, o que mais deve ser levado em conta é o quão ruim foi a atuação nesta segunda: comparável às dos piores momentos com Gian Piero Ventura.
Mancini testou todas as suas opções ofensivas nos dois jogos e só Chiesa foi positivo. O único gol italiano saiu de pênalti, graças a Jorginho, que também não teve grandes momentos na data Fifa. O ítalo-brasileiro não conseguiu fazer a bola circular e não mostrou sintonia com Cristante, que perdeu bolas a granel no meio-campo. A bem da verdade, só Chiesa e Donnarumma tiveram provas acima da média desejada contra polacos e portugueses.
Não restam dúvidas de que o jovem grupo italiano que entrou em campo nesta segunda sentiu falta de referências. Mancini imaginou que Immobile e Jorginho poderiam fazer esse papel, mas os dois passaram longe disso. Erro de avaliação do treinador. Roby terá um trabalho duro pela frente, mas não lhe falta qualidade em mãos: esta boa geração italiana tem jogadores capazes de fazer a diferença nos clubes.
Falta formar um time competitivo e cascudo, focado e ciente de suas potencialidades. Caso contrário, esta geração terá destino similar ao daquela que o próprio Mancio integrou, na segunda metade da década de 1980 e em todos os anos 1990: talentosa, mas que não justificou isso em títulos. Aquela seleção, no entanto, tinha monstros sagrados do futebol e foi terceira colocada na Copa de 1990 e vice em 1994. A Nazionale atual pode não ser tão imponente quanto aquela, mas corre o risco de ficar taxada, injustamente, como uma das piores da história azzurra.
Portugal 1-0 Itália
Portugal: Rui Patrício; João Cancelo, Pepe, Rúben Dias, Mário Rui; William Carvalho (Oliveira), Rúben Neves; Bruma (Gelson Martins), Bernardo Silva, Pizzi (Renato Sanches); André Silva. Técnico: Fernando Santos.
Itália: Donnarumma; Lazzari, Caldara, Romagnoli, Criscito (Emerson Palmieri); Chiesa, Jorginho, Cristante (Belotti), Bonaventura; Zaza, Immobile (Berardi). Técnico: Roberto Mancini.
Local: Estádio da Luz, Lisboa (Portugal).
Árbitro: William Collum (Escócia).
Gol: André Silva (47).
O que seria necessário fazer? Sinceramente eu nem imagino