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Os espectros políticos da Serie A

No Brasil não é comum que jogadores se posicionem politicamente. Na Itália, a maioria prefere não se envolver com o assunto, mas política não é exatamente um tabu. Em tempos de eleições gerais no Brasil, trazemos aqui uma lista de atletas da Serie A que já expressaram sua orientação, à direita, ao centro e à esquerda.

Por ordem alfabética, começamos com o centro. O mais conhecido jogador a adotar este espectro é Gianni Rivera, bandeira do Milan nos anos 1960 e 1970. O Golden Boy foi filiado à Democracia Cristã por anos, exercendo cargos no parlamento, e também fez parte da aliança de centro-esquerda do Ulivo, que se tornaria o Partido Democrático. Carlo Nervo, ex-jogador do Bologna, também pode ser inserido nessa linhagem. Embora tenha sido filiado à Lega Nord, de direita, ele costurou um governo de coalizão com a esquerda em Solagna, no Vêneto, quando foi prefeito da cidade.

Entre aqueles que preferem a direita, temos Alessandro Altobelli e Giovanni Galli, campeões mundiais em 1982, que chegaram a ter carreira política. O ex-goleiro, por sinal, foi derrotado em eleição para prefeito de Florença por Matteo Renzi, que depois se tornou primeiro-ministro. Além deles, podemos citar Fabio Capello (que se declarou fiel a Silvio Berlusconi diversas vezes), Marco Materazzi e os irmãos Fabio e Paolo Cannavaro, que até fizeram campanha para um candidato direitista à prefeitura de Nápoles.

Mais discretos, Daniele De Rossi e Gigi Buffon também são tidos como simpatizantes da direita – o goleiro negou inúmeras vezes ter admiração pelo fascismo, mas nunca desmentiu apreciar alguns elementos geralmente ligados à direita democrática; saiba mais aqui. Giorgio Chinaglia e Paolo Di Canio, dois ídolos da Lazio, por sua vez, nunca esconderam seu amor por Benito Mussolini. Tal qual Christian Abbiati, ex-goleiro do Milan, que já declarou gostar de “conceitos do fascismo”. Já Alberto Aquilani coleciona bustos do ex-ditador italiano – diz serem presentes de um tio. O meia também já afirmou que “imigrantes são um problema”.

Do outro lado do espectro político, a lista de esquerdistas também é extensa. Ela começa com os irmãos Alessandro e Cristiano Lucarelli, que começaram na militância desde cedo, por causa do pai – estivador em Livorno. Outro “filho da classe operária” é o ex-atacante Riccardo Zampagna, que saiu do chão de fábrica para fazer carreira no futebol italiano e em seu time de coração. Os três são, até hoje, membros das organizadas “vermelhas” de Livorno e Ternana, respectivamente.

George Weah se tornou presidente da Libéria (EFE)

Outros conhecidos atletas e ex-atletas esquerdistas são Massimo Mauro – que foi parlamentar na Itália –, Marco Tardelli (campeão em 1982), Damiano Tommasi (atual presidente da Associação Italiana de Jogadores), Fabrizio Miccoli, Renzo Ulivieri e Paolo Sollier – alguns anos atrás falamos sobre este último, pioneiro na mistura entre esporte e política; clique aqui para saber mais. Em atividade, temos também o meia Luca Mora, ex-capitão da Spal e atualmente no Spezia: canhoto dentro e fora do campo, faz doutorado em filosofia e se inspira nos jovens hegelianos.

Fora da Itália, dois jogadores que já passaram pelo país e fizeram carreira sólida na política são ex-milanistas: George Weah e Kakha Kaladze, filiados a partidos centristas. Enquanto o atacante foi senador da Libéria e atualmente é o presidente do país, o duro zagueirão foi Ministro da Energia e Vice-Primeiro-Ministro da Geórgia entre 2012 e 2017 e, desde o ano passado. é prefeito da capital, Tblisi.

Na Turquia, Hakan Sükür também foi eleito como parlamentar – por um partido conservador –, mas acabou tendo de fugir do país depois que Recep Tayyip Erdogan deu um autogolpe e quis prender opositores. Na Argentina, Julio Cruz se ligou a Mauricio Macri e tentou se eleger, sem sucesso, prefeito de Santiago del Estero. Na centro-esquerda social-democrata desde 1998, Andriy Shevchenko também não obteve muito sucesso pessoal na Ucrânia.

Por fim, um caso curioso. Em entrevista ao jornal La Repubblica, o francês Vikash Dhorasoo declarou que, nos tempos de Milan, precisava ler o diário “escondido”. O motivo? O jornal, considerado de centro-esquerda, fazia duras críticas a Berlusconi, então dono do clube.

Este artigo foi enviado em setembro para os assinantes da Calciopédia Pro. Clique aqui para conhecer o serviço.

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