Extracampo

As promessas italianas que alcançaram todo o seu potencial, mas só no Football Manager

Quem já teve o prazer de passar manhãs, tardes e noites – e, claro, madrugadas – prospectando talentos no game Football Manager sabe o quanto as horas passam em um piscar de olhos quando a tarefa é colocada em prática. E não é para menos, já que o simulador, que, entre 1992 e 2003, se chamava Championship Manager, não só é uma porta de entrada para gamers e adeptos futebolísticos conhecerem inúmeros jogadores ao redor do mundo, como também já acertou em cheio muitas de suas previsões de atletas jovens que se tornaram protagonistas do futebol. Posso dizer a vocês que, no meu caso, descobrir os wonderkids espalhados pela database era – e ainda é – uma das minhas partes favoritas da jogatina.

Entretanto, não dá para acertar sempre. Em um verdadeiro oceano de bons prospectos que surgem ano após ano nas categorias de base globais, muitos alcançam o seu ápice, mas vários ficam bem aquém do esperado. E é deste segundo grupo que vamos falar neste texto.

Separamos sete joias italianas que abrilhantaram os saves de muitos jogadores de FM na década de 2010, mas que alcançaram o máximo do seu potencial apenas no simulador. Confira.

Simone Scuffet

Scuffet, do Cagliari (Getty)

Clube atual: Cagliari
Clubes anteriores: Udinese, Como, Kasimpasa, Spezia, APOEL e Cluj

Quando um goleiro é considerado o “novo Gianluigi Buffon” e, com apenas 17 anos, faz uma grande partida contra a Inter em pleno Giuseppe Meazza, a expectativa só pode ser uma: a de que a Udinese teria em mãos uma verdadeira joia a ser lapidada. Não à toa, o jovem arqueiro Simone Scuffet teve a honraria de, no FM 2015, ser um dos cinco jogadores com maior potencial de evolução na posição. No entanto, quis o destino que o 0 a 0 em Milão, com direito a duas grandes defesas, tenha sido, talvez, o seu grande momento de holofote.

Apesar de terminar a temporada 2013-14 com 18 jogos na meta bianconera e ter entrado na mira do Atlético de Madrid, a jovem promessa perdeu espaço com a chegada do grego Orestis Karnezis, que rapidamente se tornou titular absoluto e um dos pilares da equipe. E, desde então, os rumos de sua trajetória foram bem pouco empolgantes.

Em 2015, Scuffet foi emprestado ao Como, onde ficou por uma temporada e pouco jogou. De volta à Udinese, não teve tantas oportunidades e, depois de alguns anos na reserva, aceitou uma proposta de empréstimo bem alternativa: o prospecto, que passou por todas as seleções de base da Itália, saiu do país para se juntar ao modesto Kasimpasa, da Turquia. Aliás, fora do território italiano, o goleiro também jogou no APOEL, do Chipre, e, antes de chegar ao Cagliari, em 2023, passou pelo Cluj, da Romênia.

Embora seja titular de um clube da Serie A italiana, Scuffet, hoje com 28 anos, passou longe de ter a carreira esperada.

Marco Capuano

Capuano, ex-Frosinone (Getty)

Clube atual: Ternana
Clubes anteriores: Pescara, Cagliari, Crotone e Frosinone

Talvez o menos conhecido da lista – o que diz muito sobre o tamanho da frustração em relação às expectativas que existiam –, o zagueiro Marco Capuano tem o seu espaço garantido no coração de quem jogou FM (o 2013, principalmente). O defensor era uma contratação obrigatória em todo e qualquer save. Pobre do Pescara, que não era capaz de deter o assédio a um dos jogadores com maior potencial do game.

O que tornava o jogador tão especial? Suas qualidades na base falam por si: respeitável solidez defensiva, liderança em campo, maturidade tática e presença física são apenas alguns exemplos. Isso tudo explica, por exemplo, os 18 jogos que fez na seleção italiana sub-21. Nos primeiros anos como profissional, inclusive, era um dos protagonistas de uma geração talentosa que defendia o Pescara, se somando a nomes como Marco Verratti, Ciro Immobile e Lorenzo Insigne.

Só que todo o entusiasmo não saiu do universo virtual. Tendo sido o Cagliari o clube de maior destaque da sua carreira, o zagueiro até ultrapassou os 100 jogos na Serie A (105), mas foi a segundona italiana a competição que mais adicionou partidas ao seu currículo (178). Atualmente, joga no terceiro escalão do país, defendendo as cores da Ternana.

José Mauri

Mauri, ex-Milan (Getty)

Clube atual: Cosenza
Clubes anteriores: Parma, Milan, Empoli, Talleres, Sporting Kansas City e Sarmiento

O mês de março de 2015 terminou de forma extremamente dolorosa para os torcedores do Parma. Após anos lutando contra dívidas milionárias, o outrora glorioso clube da região da Emília-Romanha decretara a sua falência, tendo que recomeçar na quarta divisão da Itália.

Diante de tal cenário, daria para pensar em alguma notícia positiva? Bom, para o futuro da Itália (ou da Argentina), sim, já que, em meio ao caos, os gialloblù apresentavam ao mundo o ítalo-argentino José Mauri. Baixinho, forte e bastante técnico, o garoto nasceu em terras hermanas, na cidade de Realicó, mas era presença nas categorias de base italianas. Meia central de muita qualidade, era disputado não só pelas duas seleções, como também por diversos times europeus.

No FM, seu auge em termos de potencial foi em 2016 – defendendo o Milan –, quando ostentou um dos melhores futuros – se não o melhor – entre os meias italianos daquela edição. Só que a sua prometida evolução não passou de uma ilusão.

Sem destaque em Milão, saiu do clube sem deixar saudades e, em 2019, teve a primeira oportunidade em sua terra natal, onde atuou pelo Talleres, mas também sem empolgar. Hoje, está na Serie B italiana. Na competição, defende o Cosenza.

Lorenzo Crisetig

Crisetig, ex-Crotone (Getty)

Clube atual: Padova
Clubes anteriores: Inter, Spezia, Crotone, Cagliari, Bologna, Frosinone, Benevento, Mirandés e Reggina

Quando o FM 2013 foi lançado, um jovem meio-campista italiano do Spezia era considerado, em alguns sites especializados em elencar promessas do jogo, um dos três primeiros volantes de maior potencial do game: Lorenzo Crisetig. Para efeito de curiosidade, os outros dois eram o espanhol Oriol Romeu, à época no Chelsea, e o mexicano Diego Reyes que, veja só, também fazia parte do elenco do Spezia – por empréstimo, assim como o companheiro italiano de volância.

Bom defensor e dono de uma exímia visão de jogo, o “miúdo maravilha” (quem nunca jogou FM em português de Portugal que atire a primeira pedra) revelado na base da Inter tinha potencial para se tornar o dono da meiuca da Squadra Azzurra nos anos seguintes. A empolgação era tanta que, quando tinha 16 anos, se tornou o jogador mais novo até então a defender a seleção sub-21.

Apesar de todo o hype de seus anos como promessa, Crisetig nunca cumpriu as expectativas a ele atribuídas. Não à toa, sua carreira conta com mais do que o dobro de jogos pela Serie B (177) em relação à elite (81). Hoje, aos 31 anos, sua realidade está ainda mais abaixo: joga pelo Padova, na terceirona italiana.

Stefano Sturaro

Sturaro, ex-Juventus (Getty)

Clube atual: Catania
Clubes anteriores: Genoa, Modena, Juventus, Sporting, Verona e Fatih Karagümrük

Imagine você ser um meio-campista e chegar a um clube que conta com os seguintes nomes para sua posição: Andrea Pirlo, Arturo Vidal, Paul Pogba e Claudio Marchisio. Olhando para o copo meio vazio, o sentimento de “como eu vou jogar?” deve ser bem real. Mas por outro lado, pense no potencial de desenvolvimento e aprendizado existente ao dividir a cancha com estes jogadores.

Quando Stefano Sturaro trocou o Genoa pela Juventus, na temporada 2014-15, ele conseguiu bons minutos em campo, saindo do banco ou cobrindo lesões. No total, foram 30 partidas, nas quais ele demonstrou um nível estável e confiável de jogo. Promessa que se consolidava, o volante chegou às listas de esperanças do FM e, ainda mais importante, alcançou a seleção principal da Itália. Além de um amistoso, defendeu os azzurri em três partidas da Eurocopa 2016.

Só que os anos se passaram e o que era uma estabilidade positiva logo se revelou ser um potencial que não tinha mais para onde se desenvolver. Embora tenha ficado na Juventus por mais alguns anos – o que incluiu um empréstimo ao Sporting, de Portugal –, Sturaro deixou de empolgar e se tornou um jogador comum. Tão comum que não foi mais lembrado pela seleção após o torneio europeu.

Hoje, aos 31 anos, defende o tradicional, mas modesto Catania, na Serie C italiana. Mesmo com todas as temporadas como uma opção constante na Juventus, é um jogador que deixou aquele sentimento de que “poderia ter sido maior”.

Fabio Borini

Borini, ex-Roma (Getty)

Clube atual: Sampdoria
Clubes anteriores: Chelsea, Swansea, Parma, Roma, Liverpool, Sunderland, Milan, Verona e Fatih Karagümrük

Dá para dizer que um ponta que jogou em clubes como Chelsea, Roma, Liverpool e Milan, e que até mesmo esteve no grupo italiano de uma Eurocopa – mesmo que não tenha entrado em campo na edição de 2012, na qual os azzurri ficaram com o vice –, flopou? No caso de Fabio Borini, dá.

Dono de um bom posicionamento, driblador e forte, a promessa, que chegou às listas de bons prospectos do FM em 2012, também tem, infelizmente, uma fragilidade que o levou a sofrer diversas lesões ao longo da carreira. Inclusive, na atual temporada, estreou na Coppa Italia, jogando 68 minutos na vitória da Sampdoria contra o Como, nos pênaltis, mas não atuou em nenhuma das quatro rodadas da Serie B por conta de mais uma contusão em sua trajetória.

Embora não tenha sido tão aclamado no jogo quanto outros nomes presentes nesta lista, o atacante, que hoje tem 33 anos, era dono de um potencial que fez com que vários times grandes tivessem a esperança de contar com o atleta em sua plena forma, tanto física quanto tecnicamente. Mas as coisas não aconteceram.

Diante do histórico de problemas físicos, somente em 2022-23, já com mais de 30 anos, o ponta conseguiu uma temporada de destaque. Pelo Fatih Karagümrük, teve 20 gols e nove assistências em 30 jogos pela Süper Lig, a primeira divisão da Turquia. A fase estava tão boa que, em apenas nove minutos em campo pela copa local, também balançou as redes.

Federico Macheda

Macheda, ex-Manchester United (Getty)

Clube atual: Asteras Tripolis
Clubes anteriores: Manchester United, Sampdoria, Queens Park Rangers, Stuttgart, Doncaster Rovers, Birmingham, Cardiff City, Nottingham Forest, Novara, Panathinaikos, Ankaragücü e APOEL

Para quem não viveu a “Era Federico Macheda”, é até difícil explicar o tamanho da expectativa que existia no garoto. Saído do time juvenil da Lazio para o Manchester United, o jovem centroavante teve o começo dos sonhos sob o comando do lendário Sir Alex Ferguson. Em abril de 2009, com apenas 18 anos, marcou dois gols em duas rodadas seguidas – contra Aston Villa e Sunderland – que foram decisivos para ajudar o clube a conquistar a Premier League daquela temporada.

Rápido, habilidoso e dono de uma ótima finalização, Macheda tinha tudo para ser uma estrela, o que incluía a falta de papas na língua – como em 2010, ao dizer à Gazzetta dello Sport que Wayne Rooney era uma pessoa boa, mas “vulgar”.

Todavia, o atacante das seleções de base italianas, joia dos FM 2011 e 2012, não conseguiu repetir o destaque dos seus primeiros passos como profissional e se tornou um andarilho da bola.

Hoje, com 33 anos, ficou sem clube desde que deixou o Ankarugücü, da Turquia, e só após o encerramento da janela voltou à Grécia, fechado com o Asteras Tripolis. Com quase 400 jogos na carreira profissional (387), sequer chegou ao centésimo gol – fez 94.

E para você, qual foi o grande “craque” italiano do FM que brilhou muito por lá, mas pouco nos gramados reais?

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