A Lazio ganhou seu primeiro scudetto em 1974 e, de todo o elenco celeste, apenas um jogador era nascido em Roma. Símbolo local, Giancarlo Oddi obteve grande sucesso nos anos 1970, principalmente por se tratar de um defensor, que tinha como dever parar Roberto Boninsegna, Gigi Riva, Pierino Prati e outros históricos artilheiros da Serie A e da seleção vice-campeã mundial no México.
Nascido no bairro de Tufello, periferia na zona norte da cidade, Oddi cresceu jogando futebol nas praças, vielas e campos de seu bairro. Segundo o próprio, jogando na rua ele dava menos prejuízo do que jogando em casa. Com 14 anos já era considerado um jogador promissor, reconhecido pela sua garra e liderança, e no ano seguinte foi federado pela ALMAS Roma.
Ali, o jogador começou a ser melhor aproveitado. Oddi chegou como meia de ligação, foi transformado em líbero e finalmente se destacou como lateral-direito, mesmo com 1,76m e 72kg. Acabou chamando a atenção da Lazio, que lhe ofereceu um teste para sua equipe juvenil.
Oddi não tinha muita técnica, mas compensava com força de vontade, aplicação e disciplina tática. Por essas características, o defensor foi integrado às categorias de base dos biancocelesti na temporada seguinte. Logo após se juntar aos juniores, Giancarlo subiu para o time profissional reserva, que disputava o extinto Campeonato De Martino – destinado às equipes suplentes e à reintegração de jogadores sem ritmo. Ali, foi campeão e conseguiu espaço para estrear pelo elenco principal da Lazio na última rodada da Serie B, em 1968.
Todavia, o futebol naquela época era bastante diferente do atual e os jogadores não eram compensados financeiramente como hoje em dia. Alegando problemas econômicos familiares, o jogador pediu para ser emprestado a algum time do interior do Lácio, numa divisão mais baixa – o que lhe daria a possibilidade de ajudar a família com um segundo emprego, em meio período.
Oddi foi cedido ao Sora, time de cidade homônima próxima a Frosinone, e que na época jogava a Serie D. Fez um bom campeonato e voltou para Roma. Havia ganhado experiência e se sentia pronto para poder ajudar o clube recém-promovido, mas encontrou novos obstáculos. Rino Marchesi e Giuseppe Wilson eram experientes e estavam mais preparados fisicamente, de modo que não deixaram espaço algum para o garoto lacial: Giancarlo jogou apenas três partidas na Serie A 1970-71. O artilheiro Giorgio Chinaglia, ídolo do clube, lhe aconselhou a buscar um time que lhe proporcionasse minutos em campo. Oddi aceitou a sugestão e acabou emprestado para a Massese, que disputaria a segundona.
O defensor teve um ano de destaque e somou 30 aparições pelo modesto time da Toscana, que acabou na lanterna, sendo rebaixado para a Serie C. Oddi retornou à Lazio, agora com 23 anos e com experiência suficiente para poder mostrar o que sabia. Junto com ele, aportava na capital o lendário técnico Tommaso Maestrelli, que finalmente aproveitaria o jovem da base. Segundo Giancarlo, Maestrelli “era tudo na Lazio”. Continuou: “treinador, psicólogo, preparador físico, roupeiro, dirigente, presidente…”
Em seu primeiro ano de reintegração, Oddi jogou apenas uma dezena de partidas. Ainda se adaptava ao estilo do técnico, que tirou a Lazio da Serie B mais uma vez e, em 1972, a colocou de volta no mais alto escalão do futebol da velha bota. Entre 1972 e 1975, Giancarlo conseguiu um dos maiores feitos da história da Lazio. Jogou as 90 partidas que o time disputou na Serie A nessas três temporadas, disputando todos os 8100 minutos possíveis. Nelas, os capitolinos nem pareciam ter vindo da segundona: sempre ficaram entre os quatro primeiros colocados e ainda conquistaram seu primeiro título nacional.
Maestrelli transformou o terzino em stopper – ou seja, o tirou da lateral e o posicionou no centro da zaga. Tommaso via o potencial de Oddi para exercer a função e considerava também a experiência que ele já tinha acumulado jogando mais à frente. Dessa forma, criou um dos únicos defensores de primeira linha da época que sabiam jogar com ambos os pés, com visão de jogo e também com habilidade defensiva suficiente para segurar os incríveis atacantes da época.
Ao lado de Wilson, fez uma dupla defensiva distinta e feroz, com 16 tentos sofridos em trinta partidas. Chamou atenção de todos os times do norte, que tentaram contratar o defensor, sem sucesso. Junto a Luciano Re Cecconi, Vincenzo D’Amico, Chinaglia e outros, fez parte da memorável esquadra ganhadora do primeiro scudetto da Lazio, em 1974. Oddi chegou a ser convocado para a seleção italiana, mas nunca entrou em campo. Tudo bem: havia tempo e tudo indicava que o ano seguinte seria glorioso. Contudo, aconteceu o inesperado.
O técnico foi diagnosticado com câncer no fígado, o time não conseguiu continuar brigando pelo título e tudo desmoronou rapidamente. Uma temporada triste e que resultou em erros claros da diretoria. Oddi e Mario Frustalupi foram vendidos para o Cesena, em troca de Paolo Ammoniaci e Francesco Brignani, escolha de Giulio Corsini treinador recém-contratado – e que durou apenas sete rodadas. À beira da morte, Maestrelli voltou ao comando e salvou a Lazio do rebaixamento.
Longe da capital e dos bastidores atribulados e trágicos da Lazio, Oddi fazia história no Cesena. Desde sua estreia, o duradouro astro continuou colecionando grandes feitos e foi o líder de aparições na temporada pelo seu novo clube. Isso ocorreu por seis vezes consecutivas e, se somarmos com o áureo triênio na capital, foram quase dez anos seguidos ocupando um posto pertencente, em geral, aos goleiros.
Em sua primeira temporada na Romanha, Oddi colaborou com uma façanha. O Cesena treinado por Giuseppe Marchioro conseguiu uma histórica classificação para a Copa Uefa através da sexta colocação no campeonato – a melhor do clube na Serie A até hoje. No mesmo ano, ele e Frustalupi quase foram envolvidos num insólito caso: antes do confronto com o Cesena, diretores da Lazio se encontraram com os dois para saldar dívidas antigas e chegaram a ser denunciados por tentativa de manipulação de resultados. A procuradoria, porém, concluiu que a reunião tinha mesmo a finalidade declarada, sem oferecer qualquer prejuízo esportivo.
Ao total, Giancarlo ficou oito anos no time bianconero, colecionando rebaixamentos para a Serie B (três) e uma promoção à elite – no total, disputou cinco temporadas na segundona e três na elite. Tufello, porém, nunca saiu de seu coração. De modo que, em 1983, depois de um duro rebaixamento pelos cavalos marinhos, Oddi voltou para Roma, agora para jogar no Lodigiani, na Serie C2. Aos 35 anos, o defensor fez 24 partidas e concluiu sua carreira como jogador profissional, com mais de 350 jogos e, incrivelmente, nenhum gol.
No mesmo ano, Oddi se tornou auxiliar técnico da Lazio – e interino por algumas partidas, em 1985. Sustentou a posição no estafe celeste por uma década e, depois, ficou mais sete anos como treinador das equipes juvenis. Finalizando sua trajetória em 2002, após um ano de volta ao cargo de auxiliar do time principal, somando incríveis 24 anos na equipe da capital, como jogador e técnico.
Em 2003, o ex-jogador teve uma breve passagem como auxiliar técnico no Tianjin Teda, da China, e depois foi interino do Legnano, na quarta divisão. Depois disso, foi assistente de Giuseppe Papadopulo em Palermo, Lecce, Bologna e Torino, antes de treinar equipes amadoras romanas. Hoje é comentarista esportivo na Radiosei, rádio feita especialmente para os torcedores da Lazio, clube que tanto ama, se identifica e no final das contas, representou com mais louvor.
Giancarlo Oddi
Nascimento: 23 de Julho, 1948, em Roma, Itália
Posição: zagueiro e lateral-direito
Clubes como jogador: ALMAS (1966-67), Lazio (1967-68, 1969-70 e 1971-75), Sora (1968-69), Massese (1970-71), Cesena (1975-83) e Lodigiani (1983-84)
Títulos como jogador: Campeonato De Martino (1968) e Serie A (1974)
Clubes como treinador: Lazio (1985), Legnano (2005), Montecelio (2013), Fonte Nuova (2014) e Palestrina (2015)