O tempo é fundamental para estabelecer padrões de jogo, aumentar o entendimento coletivo e fortalecer, na cabeça dos atletas, os pedidos do seu treinador. Na quarta rodada do Campeonato Italiano, tal percurso ficou mais nítido e tivemos algumas das atuações mais seguras da temporada, com destaque para Sassuolo, Napoli, Inter e Lazio. Tivemos também equipes que mostram uma evolução dentro do seu desempenho, como Roma e Cagliari.
Por outro lado, a Juventus venceu mais uma, mas outra vez não convenceu. Entre as surpresas, os recém-promovidos Verona e Brescia mostraram, de novo, que chegam com muita capacidade de permanecer na elite. Navegue no player abaixo para ver os melhores momentos das partidas e, em seguida, confira as nossas análises.
Os jogões
Milan 0-2 Inter
Gols e assistências: Brozovic (Sensi) e Lukaku (Barella)
Tops: Brozovic e Godín (Inter); Donnarumma (Milan)
Flops: Conti e Rodríguez (Milan)
O Milan vinha de duas vitórias – mesmo que por 1 a 0 e com dificuldade –, enquanto a Inter tropeçara na Liga dos Campeões no meio de semana. Nesse contexto, a importância e a expectativa pelo Derby Della Madonnina só cresceram durante a semana.
Diante de um San Siro lotado, Giampaolo e Conte protagonizaram um duelo tático, mesmo antes de a partida começar. O treinador do Milan trabalhou um planejamento específico, fazendo o Diavolo defender em 4-3-1-2 e atacar em 4-3-3, visando ter Rafael Leão em campo aberto contra Godín e apostando na velocidade do português, 14 anos mais jovem do que o zagueiro da Inter. Conte, por sua vez, respondeu com D’Ambrosio como titular na ala direita, deixando Candreva no banco e buscando uma ajuda defensiva maior pelos flancos.
O jogo teve algumas alternâncias entre ritmo e postura das equipes, com os dois lados buscando pressionar a saída de bola rival e, dessa maneira, recuperar a posse já em campo ofensivo. Contudo, o trabalho da Inter parece estar num estágio bem mais avançado, embora Lautaro e Lukaku tenham sofrido para estabelecer a ideia de jogo direto de Conte e o primeiro gol tenha nascido da bola parada. O fato é que os nerazzurri foram superiores em 80% da partida, com Godín tendo uma exibição quase perfeita, e Donarrumma precisou se desdobrar para impedir um placar mais dilatado.
Atalanta 2-2 Fiorentina
Gols e assistências: Ilicic (Gómez) e Castagne; Palomino (contra) e Ribéry (Chiesa)
Tops: Ilicic (Atalanta); Chiesa e Ribéry (Fiorentina)
Flops: Zapata (Atalanta) e Boateng (Fiorentina)
Ainda sem poder jogar em Bérgamo, por conta das reformas no Gewiss Stadium, a Atalanta recebeu a Fiorentina no Ennio Tardini, em Parma, naquele que acabou sendo o jogo mais emocionante da quarta rodada. Contudo, antes de falarmos de futebol, temos que outra vez relatar um caso de insultos racistas no Campeonato Italiano. Os ultras da Dea ofenderam o brasileiro Dalbert com injúrias raciais e o árbitro Daniele Orsato chegou a paralisar a partida até que o sistema de som do estádio repreendesse os delinquentes.
Voltando ao que aconteceu na parte esportiva, os técnicos optaram por estratégias diferentes. A Atalanta vinha de uma derrota pesada contra o Dinamo Zagreb, na Liga dos Campeões, e Gasperini considerou ainda o desgaste por uma sequência muito complicada para começar o jogo com Gómez e Ilicic no banco de reservas. Já Montella, que viu sua equipe realizar bons duelos contra Napoli e Juventus e sair sem a vitória em ambos, foi com o que tinha de melhor. Mais uma vez apostou na mobilidade e qualidade de uma dupla de ataque formada por Chiesa e Ribéry.
O primeiro tempo foi marcado por uma falta de acerto muito grande em zona central por parte das duas equipes. Isso acabou favorecendo o jogo da Fiorentina, que se defendeu bem e apostou nas saídas de contra-ataque. O primeiro gol da Viola foi marcado depois que Chiesa finalizou e Palomino jogou contra a própria meta. No segundo tempo, a parceria entre Chiesa e Ribéry rendeu frutos quando o jovem cruzou na medida para o primeiro gol do francês em solo italiano.
O jogo parecia bem encaminhado para os visitantes, mas Gómez e Ilicic vieram a campo e mais uma vez demonstraram toda sua qualidade. Papu achou Josip dentro da pequena área, com um belo passe por elevação, e o esloveno dominou no peito para marcar. Com o 2 a 1 no placar e tendo 10 minutos e mais os acréscimos por jogar, a Dea se lançou ao ataque e conseguiu o empate aos 95 minutos, depois que Castagne acertou um lindo chute da entrada da área – pouco antes, a equipe mandante tivera um gol anulado. A Fiorentina ocupa a lanterna e chega a 18 partidas de Serie A sem vitórias. É a maior sequência negativa do clube desde 1938.
Olho no lance
Bologna 1-2 Roma
Gols e assistências: Sansone (pênalti); Kolarov e Dzeko (Pellegrini)
Tops: Sansone (Bologna) e Dzeko (Roma)
Flops: Tomiyasu (Bologna) e Mkhitaryan (Roma)
Bologna e Roma protagonizaram um dos duelos mais esperados da rodada. Os donos da casa, mesmo diante de toda dificuldade da luta de Mihajlovic contra a leucemia, chegaram à quarta rodada com 7 pontos em 9 disputados. Já os comandados de Paulo Fonseca, mesmo ainda buscando seu melhor nível técnico e físico, não perderam nenhuma vez e vinham de um 4 a 2 contra o Sassuolo.
Dentro de campo, vimos os sistemas táticos espelhados no 4-2-3-1, o que já era esperado. Enquanto o jogo do Bologna é mais baseado na força de transição com Orsolini e Sansone, o da Roma é mais posicional, com Veretout tendo uma responsabilidade muito grande na saída de bola da equipe e Pellegrini trabalhando como um ponta construtor pelo lado direito.
Kolarov marcou o primeiro gol do jogo no início do segundo tempo, em cobrança de falta magistral. Cinco minutos depois, porém, o sérvio cometeu pênalti e permitiu que Sansone igualasse o marcador. O duelo, então, entrou em um ritmo mais acelerado, com as duas equipes trocando chances de gol e demonstrando um nível satisfatório de atuação. Até que, aos 94, Veretout arrancou desde sua intermediária e rolou para Pellegrini, que cruzou na cabeça do mortal Dzeko. O suficiente para a Roma derrubar um rival muito complicado e se manter invicta no campeonato.
Lecce 1-4 Napoli
Gols e assistências: Mancosu (pênalti); Llorente, Insigne (pênalti), Ruiz e Llorente
Tops: Llorente e Ruiz (Napoli)
Flops: Benzar (Lecce) e Ospina (Napoli)
O Lecce é a equipe mais ofensiva entre as recém-promovidas. Tem um entendimento coletivo muito grande sob o comando de Fabio Liverani e, desse modo, realizou uma campanha fantástica na Serie B da temporada passada. Contudo, existe uma diferença muito grande entre jogar assim na segunda divisão e repetir a fórmula na elite do futebol italiano.
Ao receber o Napoli no Via del Mare, nesta quarta rodada, isso ficou claro mais uma vez. Ainda que Liverani tenha tentado modificar um pouco o sistema de sua equipe, atacando no 4-3-3 com Falco e Diego Farias abertos, e defendendo numa espécie de 5-4-1, com o grego Tachtsidis recuando para atuar entre os zagueiros, essas mudanças não foram suficientes para lidar com o ímpeto ofensivo do Napoli.
Ancelotti escalou a equipe no 4-4-2, com uma dupla de ataque muito forte e alta – Llorente e Milik. Os partenopei se utilizaram mais uma vez da esquerda como lado forte, juntando Zielinski, Ghoulam, Elmas e Insigne no setor. Além de povoar essa região, os azzurri trabalharam muito as inversões de jogo, buscando Di Lorenzo pelo lado direito. Com essa movimentação ofensiva, a equipe napolitana acabou minando a resistência defensiva rival e construiu sua goleada sem maiores problemas.
Sassuolo 3-0 Spal
Gols e assistências: Caputo (Defrel), Caputo (Berardi) e Duncan
Tops: Caputo e Duncan (Sassuolo)
Flops: Sala e Tomovic (Spal)
Na partida que abriu o domingo de futebol na Velha Bota, Sassuolo e Spal duelaram no Città del Tricolore. As duas equipes chegaram em momentos diferentes para esse jogo: os neroverdi vinham de derrota para a Roma e os spallini haviam conquistado uma vitória sobre a Lazio.
De Zerbi manteve o 4-3-3 já marcante de seu trabalho e incorporou apenas uma novidade em termos de posicionamento: Defrel atuou centralizado e Caputo jogou aberto na esquerda. Semplici também manteve o 3-5-2 habitual dos estensi, mas deixou Igor no banco, passou D’Alessandro para a ala esquerda e apostou em Gabriel Strefezza pelo lado direito.
O jogo foi bem disputado, em termos de alternância de ritmo e postura, até os 25 minutos do primeiro tempo, quando Caputo abriu o placar para os mandantes após uma jogada coletiva maravilhosa. Depois do 1 a 0, o Sassuolo atingiu um nível muito alto de confiança e a Spal, por sua vez, viu sua intensidade cair. Caputo anotou sua doppieta nos minutos finais do primeiro tempo, após passe de peito do Berardi, e Duncan fechou a conta no segundo tempo, após mais uma participação de Berardi.
Os outros jogos
Juventus 2-1 Verona
Gols e assistências: Ramsey (Ronaldo) e Ronaldo (pênalti); Miguel Veloso
Tops: Ronaldo (Juventus) e Miguel Veloso (Verona)
Flops: Demiral (Juventus) e Günter (Verona)
No Allianz Stadium, tivemos mais uma partida decepcionante da Vecchia Signora e mais uma atuação sólida do Hellas. Sarri rodou o elenco, colocando Buffon, Demiral, Ramsey e Bentancur na equipe titular, e manteve a ideia do 4-4-2 utilizado contra o Atlético de Madrid, com Cuadrado e Matuidi abertos nos flancos. O Hellas atuou no 3-4-2-1 que vem sendo característico desse começo de trabalho do Juric e sentiu falta de Stepinski, suspenso e Bessa, lesionado.
O jogo não foi ruim, com boas chances para os dois lados. A Juventus contou com uma boa exibição de Ramsey na faixa central e um bom suporte ofensivo com Alex Sandro no lado esquerdo. Contudo, a transição defensiva da equipe de Sarri foi caótica e o Hellas trabalhou bem em cima da fraqueza dos bianconeri.
Miguel Veloso esteve muito bem e, inclusive marcou um tremendo golaço. Amrabat foi importante por seu trabalho defensivo, Zaccagni foi outra vez o pulmão dos contra-ataques da equipe, mas no fim valeu ter Cristiano Ronaldo. O português, com uma assistência e um gol de pênalti, decidiu o duelo. O Verona saiu derrotado, mas com o alento de ter incomodado a octacampeã.
Sampdoria 1-0 Torino
Gols e assistências: Gabbiadini
Tops: Depaoli e Gabbiadini (Sampdoria)
Flops: Meïté e Aina (Torino)
No Marassi, Sampdoria e Torino fizeram uma partida em que concentração e controle emocional foram testados em grande intensidade – e as equipes falharam. Os blucerchiati vinham de três derrotas em três jogos, com nove gols sofridos e apenas um marcado. Já os granata, que começaram o campeonato com duas vitórias, acabaram perdendo do Lecce na rodada anterior.
A falta de concentração e de controle emocional acabou interferindo muito no nível da partida. O time de Di Francesco, mesmo jogando novamente com uma linha de cinco defensores, ainda ofereceu mais espaços do que deveria – muito por erros de posicionamento e falta de comunicação. Já os comandados de Mazzarri, embora tenham feito um jogo seguro defensivamente, mais uma vez sofreram para atacar o adversário e ficaram muito dependentes dos cruzamentos laterais. O jogo acabou sendo definido num erro individual do Lyanco: o brasileiro teve a bola roubada por Gabbiadini, que saiu cara a cara com Sirigu e marcou o segundo gol de sua equipe no campeonato.
Di Francesco e toda a Sampdoria ganham um respiro na tabela, mas não terão a tranquilidade de uma semana cheia para trabalhar. No meio de semana, encaram a Fiorentina, em Florença, e recebem a Inter na sequência. Já o Torino precisa melhorar sua construção ofensiva, mas terá de acertar muita coisa na conversa, pois já recebe o Milan na quinta rodada e viaja até Parma logo depois.
Lazio 2-0 Parma
Gols e assistências: Immobile (Luis Alberto) e Marusic (Milinkovic-Savic)
Tops: Luis Alberto e Milinkovic-Savic (Lazio)
Flops: Gervinho e Iacoponi (Parma)
A Lazio vinha de duas derrotas seguidas na temporada, contra Spal e Cluj, mas entrou em campo muito concentrada, ciente do que precisava fazer. Assim, diante do Parma, acabou protagonizando sua exibição mais dominante da temporada, até esse momento.
Os comandados de Inzaghi jogaram com uma intensidade incrível desde os primeiros minutos: ficaram com a posse de bola, trocaram muitos passes em campo ofensivo e trabalharam muito bem a dinâmica entre Milinkovic-Savic e Luis Alberto no centro do gramado. O Parma tentava responder com a velocidade de Gervinho, mas o trabalho defensivo de Lucas Leiva e Acerbi foi impecável.
Os gols foram construídos de maneira natural. Primeiro, com a parceria Luis Alberto e Immobile voltando a brilhar. Depois, Milinkovic-Savic descolou um passe sensacional para Marusic marcar o segundo gol dos laziale. O Parma jamais conseguiu entrar no jogo e o placar só não foi mais dilatado graças à boa partida de Sepe, que impediu ao menos três chances claras de se transformarem em gol – duas nos pés de Correa, que fez um bom jogo.
Cagliari 3-1 Genoa
Gols e assistências: Simeone (Ionita), Zapata (contra) e João Pedro; Kouamé (Sanabria)
Tops: Nández e João Pedro (Cagliari)
Flops: Criscito e Zapata (Genoa)
Na Sardegna Arena, o Cagliari recebeu o Genoa na sexta-feira, no jogo que abriu a quarta rodada do campeonato. Ainda sem poder contar com Nainggolan, Maran manteve o 4-3-1-2 como sistema de jogo de sua equipe e apostou mais uma vez em Cigarini como primeiro homem de meio-campo. Andreazzoli também manteve o 3-4-1-2 das primeiras rodadas, mas rodou suas peças, pensando na rodada do meio de semana.
O Genoa começou a partida jogando melhor, tomando controle das ações e utilizando muitos os flancos do campo para agredir o Cagliari. Contudo, depois desse ímpeto inicial, os donos da casa mapearam bem a movimentação ofensiva dos rivais, pegaram o controle da partida para si e não largaram mais.
Simeone abriu o placar, em bonita cabeçada, no primeiro minuto do segundo tempo. Kouamé conseguiu tirar o gol do empate da cartola aos 83, mas a igualdade no placar durou muito pouco. No minuto seguinte, Zapata marcou contra sua própria meta e três minutos depois, o colombiano protagonizou uma oatacoada: com o Genoa completamente lançado ao ataque e desarrumado na defesa, se chocou com um companheiro e permitiu que João Pedro saísse cara a cara com Radu para dar números finais ao duelo.
Udinese 0-1 Brescia
Gols e assistências: Rômulo
Tops: Tonali e Chancellor (Brescia)
Flops: De Maio e Fofana (Udinese)
No primeiro jogo do sábado, Udinese e Brescia se enfrentaram na Dacia Arena, num duelo que colocou frente a frente uma Udinese que sofreu bastante para se manter na primeira divisão na temporada passada e um Brescia recém-promovido. Sem poder contar com De Paul, expulso contra a Inter, Tudor mudou o sistema de sua equipe e trocou o 3-5-2 pelo 3-4-2-1. Por sua vez, Corini manteve o mesmo 4-3-1-2 que o Brescia vem utilizando em toda a competição.
O jogo não foi bom. As duas equipes sofreram para se organizar ofensivamente, somaram poucos mecanismos de saída de bola e tiveram problemas para serem efetivos no terço final do campo. Contudo, dentro deste cenário muito igual e de poucos acertos, brilhou mais uma vez o talento de Tonali.
O jovem volante do Brescia foi a cabeça que pensou diferente entre as 22 em campo. Sandro foi protagonista das melhores ações da partida, soube como achar os companheiros em situações favoráveis e sustentou o jogo da sua equipe. O brasileiro Rômulo marcou o gol que deu uma importante vitória ao Brescia. Afinal, a equipe jogou fora de casa e bateu um possível rival direto na luta contra o rebaixamento.
Seleção da rodada
Donnarumma (Milan); Godín (Inter), Acerbi (Lazio), Skriniar (Inter); Nández (Cagliari), Brozovic (Inter), Tonali (Brescia), Duncan (Sassuolo), Luis Alberto (Lazio); Llorente (Napoli), Caputo (Sassuolo). Técnico: Antonio Conte (Inter).