A segunda rodada da fase de grupos da Liga dos Campeões começou com roteiros diametralmente opostos para as equipes italianas. Enquanto a Juventus venceu o Bayer Leverkusen, sabendo planejar a partida e utilizando toda a sua experiência em noites europeias para controlar a equipe alemã e sair do Allianz Stadium com um 3 a 0 na bagagem, a Atalanta teve ímpeto ofensivo, criou muitas chances, mas acabou derrotada no San Siro. Depois da queda por 2 a 1, a equipe viu o sonho da classificação se complicar.
Em Turim, a Juventus recebeu o Bayer Leverkusen para um duelo em que tinha amplo favoritismo. Por outro lado, precisava lidar com uma equipe jovem, muito aguerrida e que atua com bastante agressividade. Sabendo disso, Sarri planejou o jogo com muita cautela, manteve o 4-3-1-2 que deu muito certo nas últimas rodadas do Campeonato Italiano e viu seu time ocupar muito bem o centro do campo e fazer um primeiro tempo inteligente.
Os bianconeri entregaram o controle da posse de bola para os alemães, que tentaram eleger a esquerda como lado forte: para tanto, contaram uma participação muito ativa do lateral brasileiro Wendel e de Demirbay, que atuou desse lado como um ponta construtor. Apesar de ter a bola, a equipe de Peter Bosz não conseguiu tirar nada de muito efetivo de seus pés.
Sem espaço para correr e lidando com uma pressão muito forte da Juventus a cada jogador encarregado de ter a posse de bola, o Leverkusen se viu sem alternativas ofensivas e foi perdendo confiança ao longos dos 45 minutos iniciais. Aos 17 minutos de jogo, Higuaín recebeu um presente de Tah, que tentou cortar a bola e deixou na medida para o argentino bater com qualidade e marcar o primeiro gol da Juventus. Além do gol, Pipita foi muito importante para a Juventus no primeiro tempo: fez bem o trabalho de pivô, recebeu ligação direta e soube criar espaços para Khedira atacar.
Se o primeiro tempo foi muito marcado pela falta de ritmo e por um jogo controlado pela Juventus através dos poucos espaços oferecidos à equipe rival – numa atuação com muita cara de Allegri –, a segunda etapa teve outro desenrolar. Nela, vimos uma Juve que assumiu o controle da posse de bola e soube trabalhar a construção ofensiva desde o campo de defesa, com Pjanic tendo total responsabilidade em organizar o jogo e Cuadrado aparecendo como excelente opção pelo lado direito. Aos 61 minutos, Higuaín tabelou com Cristiano Ronaldo, recebeu em profundidade do português e rolou para trás. Cristiano não conseguiu finalizar, mas Bernardeschi acompanhou a jogada e estufou a rede para o segundo gol da Velha Senhora.
Depois do 2 a 0, Sarri trocou Khedira por Bentancur, Bernardeschi por Ramsey e Higuaín por Dybala: renovou o fôlego de sua equipe e conseguiu manter a boa intensidade para pressionar o Leverkusen no campo de ataque. Cristiano Ronaldo fez um jogo de poucos acertos técnicos e perdeu ao menos três boas oportunidades de marcar o terceiro gol – em duas delas, com cruzamentos vindos da direita por parte de Cuadrado.
Mas CR7 não é de desistir fácil e insistiu até os minutos finais, quando foi premiado com um bonito passe de Dybala. O craque saiu cara a cara com Hrádecky e bateu rasteiro para dar números finais ao duelo e poder comemorar de forma mais saborosa um novo recorde: com 112 triunfos, Ronaldo superou Iker Casillas e se tornou o jogador que mais partidas venceu na Champions League.
A vitória segura foi o retrato de uma equipe com enorme lastro competitivo e que tem tudo para disputar o título dessa Liga dos Campeões. No momento, a Juventus lidera o Grupo D, com 4 pontos e vantagem sobre o Atlético de Madrid nos critérios de desempate – Lokomotiv Moscou, com 3, e Leverkusen, zerado, completam a chave. Nesse momento, o foco da Vecchia Signora já está direcionado totalmente ao Derby d’Italia, contra a Inter, que acontece no próximo domingo.
Amargor nerazzurro
Depois do desastre que foi sua estreia na Liga dos Campeões, uma Atalanta em busca de reabilitação recebeu o Shakhtar Donetsk no San Siro – e viu a sua torcida viajar de Bérgamo para invadir o estádio de Milão, sua casa na competição. Gasperini escalou a Dea no 3-4-1-2 de sempre, com Pasalic formando a dupla de volantes com De Roon e contando com Gómez, Ilicic e Zapata avançados. Ao optar por Pasalic na linha de volantes e não mais à frente, jogando como um articulador, o treinador já deixava clara sua ideia de agredir a equipe ucraniana e buscar a vitória – mais do que necessária, após o 4 a 0 sofrido ante o Dinamo Zagreb.
O Shakhtar, porém, também precisava pontuar após levar 3 a 0 do Manchester City. O time ucraniano está em início de trabalho, já que Luís Castro assumiu o comando do clube dois meses atrás, depois que Paulo Fonseca foi contratado pela Roma. O português escalou sua equipe no 4-1-4-1, buscando ter bastante equilíbrio no meio-campo e conseguir fugir da pressão da Atalanta na saída de bola. Como de costume, tivemos muitos brasileiros jogando pela equipe de Donetsk e cinco deles foram titulares – Ismaily, Alan Patrick, Taison, Marlos e Júnior Moraes; os dois últimos, naturalizados ucranianos.
O jogo começou com a Atalanta assumindo o controle da posse de bola, buscando pressionar alto e marcar com encaixes individuais. Zapata incomodava Matviyenko, Gómez repetia a pressão em Stepanenko e os alas (Hateboer e Castagne) ficavam encarregados de não deixar que a bola chegasse até Taison e Marlos. Com esse bom trabalho defensivo, a Dea sufocou a saída de bola do Shakhtar, recuperou muitas vezes a posse da pelota em campo ofensivo e criou chances para marcar o primeiro gol antes dos 20 minutos de jogo. A melhor delas aconteceu aos 16 minutos, quando Ilicic foi derrubado por Kryvtsov dentro da área e o arbitro assinalou a penalidade. O esloveno mesmo cobrou e Pyatov defendeu; no rebote a bola sobrou para Hateboer, que bateu para fora.
Ter perdido uma chance tão clara de gol acabou causando uma desconcentração nos atletas da Dea, que perdeu intensidade. A equipe da casa deixou que os ucranianos colocassem a bola no chão e conseguissem somar saídas para o campo ofensivo. Contudo, quando o controle do jogo parecia mudar de mãos, Hateboer recebeu a bola pelo lado direito e achou um bom cruzamento para o centro da área. Zapata apareceu muito bem e contou com uma saída um tanto confusa de Pyatov para, de cabeça, mandar a bola para o fundo da rede.
Com a desvantagem no marcador, o Shakhtar subiu a intensidade do seu jogo, buscou soluções para os problemas que tinha saída de bola e cresceu no jogo. Alan Patrick recuou para oferecer uma sustentação na criação ofensiva da equipe pelo lado esquerdo e Taison e Marlos passaram a trocar de lado, confundindo o sistema defensivo nerazurro e melhorando a produção ofensiva de sua equipe.
Aos 41 minutos do primeiro tempo, o Shakhtar encontrou a jogada que tanto buscava. Isso aconteceu quando Alan Patrick efetuou um bonito passe para Júnior Moraes, que atacou as costas de Palomino e saiu frente a frente com Gollini. O centroavante ucraniano-brasileiro teve calma e categoria para driblar o goleiro italiano e empatar a partida.
O segundo tempo não teve duas fases bem desenhadas, como o primeiro. Tivemos um jogo de “trocação” mais franca, com a Atalanta mantendo o seu ímpeto ofensivo, mas sem conseguir a mesma eficácia na pressão alta que exercia. Já o Shakhtar teve maior tranquilidade para sair jogando e a boa qualidade técnica de suas peças ofensivas apareceu. Com isso, o jogo ficou muito aberto e as duas equipes criaram chances para marcar.
A Dea chegou firme com Castagne, após bom pivô de Zapata, ficou muito perto do gol com o próprio bomber colombiano num bom cruzamento de Hateboer, e teve sua chance final, com Gómez – que conseguiu deixar dois defensores pelo caminho, mas acabou chutando com pouca força e facilitou a vida de Pyatov. Já o Shakhtar criou suas melhores oportunidades com Taison, que atacou com qualidade os espaços deixados por Hateboer em suas subidas ao ataque, e acabou marcando aos 97, com Solomon, num contragolpe fulminante.
Com mais uma derrota, a Atalanta viu suas chances de classificação para as oitavas de final ficarem bem reduzidas. Agora, a equipe de Gasperini terá que lutar muito até mesmo por uma vaga na Liga Europa. Os bergamascos, zerados, têm 3 pontos a menos que Dinamo Zagreb e Shakhtar, saldo de -5 e ainda enfrentam o Manchester City duas vezes nas próximas rodadas.