Que jeito de matar as saudades da Serie A, hein? Na 18ª rodada, que deu o pontapé inicial a 2020, houve de tudo. Para começar, Lukaku e Ronaldo tiveram atuações fantásticas e conduziram Inter e Juventus a vitórias importantes, que lhes mantêm na liderança compartilhada do campeonato. O fim de semana, com direito a feriado na Itália, ainda teve reestreia de Ibrahimovic no Milan, mais uma goleada da Atalanta e contribuições decisivas de Immobile e Belotti para os triunfos de Lazio e Torino, respectivamente. Confira o resumo da jornada!
Os jogaços
Napoli 1-3 Inter
Gols e assistências: Milik (Callejón); Lukaku, Lukaku (Brozovic) e Martínez
Tops: Lukaku e Martínez (Inter)
Flops: Manolas e Meret (Napoli)
Com o pé direito – ou, no caso de Lukaku, com o esquerdo bem calibrado. A Inter começou 2020 com força e colocou fim a um tabu que durava quase 23 anos: desde 1997 o time nerazzurro não vencia o Napoli no San Paolo por jogos da Serie A. O triunfo, ainda que sobre um rival combalido e desorganizado, foi uma prova de força da equipe de Antonio Conte, que atuava pressionada pelo próprio jejum na Campânia e pelo fato de a Juventus ter vencido antes e ter assumido a liderança isolada provisoriamente. As duas gigantes continuam dividindo a primeira colocação, com 45 pontos. O Napoli é apenas o oitavo colocado.
A vitória começou a ser construída ainda no primeiro tempo, com um inspirado Lukaku. O belga de origem congolesa tem brilhado mais fora de casa e se mostrou uma verdadeira força da natureza aos 14 minutos. Após um erro de Di Lorenzo, que escorregou na intermediária e não dominou uma bola que lhe fora passada, Romelu aproveitou, arrancou por mais de 70 metros, pedalou para cima de Hysaj e finalizou no canto. Aos 33 minutos, o camisa 9 soltou uma bomba de canhota e ainda contou com a falha de Meret para ampliar.
O Napoli parecia entregue até o segundo gol, mas tirou forças de onde não tinha para revidar. Apesar dos muitos erros de Insigne – que quase marcou numa cobrança de falta, no apagar das luzes –, a equipe construiu uma boa jogada, lembrando os tempos de Maurizio Sarri e diminuiu a contagem, com Milik. Não foi suficiente, contudo. Aos 62, Manolas falhou ao cortar cruzamento de Vecino e Martínez, implacável, estufou as redes. Novamente, o Napoli de Gennaro Gattuso tentou sair para o jogo, empilhando atacantes, mas Handanovic estava atento e segurou o triunfo interista.
Juventus 4-0 Cagliari
Gols e assistências: Ronaldo, Ronaldo (pênalti), Higuaín (Ronaldo) e Ronaldo (Douglas Costa)
Tops: Ronaldo e Dybala (Juventus)
Flops: Klavan e Rog (Cagliari)
Até para as lendas existe uma primeira vez. Para Cristiano Ronaldo, o dia dedicado à visita dos três Reis Magos ao Menino Jesus, na tradição cristã, foi também o dia em que ele anotou sua primeira tripletta com a camisa da Juventus na Serie A. E tudo isso no segundo tempo.
Na primeira etapa, o Cagliari esteve à feição do técnico Maran. Os rossoblù amarraram o jogo e conseguiram limitar as ações da Juve, que só levou perigo na bola parada, quando Demiral completou cruzamento e acertou o travessão. Só que alguns jogadores do time sardo voltaram desatentos do intervalo e, no primeiro minuto da etapa final, o muro caiu. Klavan errou o passe para Walukiewicz e Ronaldo aproveitou: roubou a bola, driblou Olsen e abriu o placar.
Dali em diante, a não ser por uma cabeçada de Simeone, que atingiu o travessão, o monólogo bianconero se intensificou e levou a equipe a construir a goleada que lhe mantém empatada com a Inter. O Cagliari teve pouco tempo de reação porque, aos 67 minutos, Dybala saiu driblando os marcadores e só parou quando foi derrubado por Rog: CR7 cobrou e fez 2 a 0. Já na reta final, com a vitória encaminhada e o Cagliari desestimulado, Cristiano teve mais espaço para criar, deu um gol a Higuaín e ainda anotou o terceiro. João Pedro quase anotou o tento de consolação para os casteddu, mas parou na trave. Os sardos também estacionaram: na sexta posição, viram a Atalanta abrir vantagem.
Atalanta 5-0 Parma
Gols e assistências: Gómez (De Roon), Freuler (Gómez), Gosens, Ilicic (Gosens) e Ilicic (Rafael Toloi)
Tops: Ilicic e Gosens (Atalanta)
Flops: Pezzella e Hernani (Parma)
A Atalanta não cansa de presentear os amantes do futebol com atuações memoráveis. Pela segunda vez seguida, a equipe nerazzurra venceu por 5 a 0 na Serie A e chegou à impressionante marca de 48 gols anotados em 18 partidas – média de quase três por rodada. Apenas a fortíssima Juventus de Boniperti, Charles e Sívori, em 1959-60, balançou tanto as redes quanto os orobici em um mesmo número de jornadas do campeonato.
A manita – ou pokerissimo – da Dea foi construída por méritos próprios, sem que o Parma tivesse colaborado para tal, com falhas ou desajustes. A Atalanta construiu o resultado à revelia dos ducali e marcou cinco golaços. O show de Ilicic, Gómez e Gosens teve de tudo: tabelinhas, dribles desconcertantes, intensidade, voleios, cavadinha e finalizações no ângulo. Sepe, coitado, não teve culpa alguma do que ocorreu.
O triunfo atalantino teve como chave o domínio da intermediária. No setor, Gómez, Ilicic e Freuler trocaram passes curtos e não deram chance alguma a Hernani. Gosens, agudo pelo flanco canhoto e às vezes pelo centro, ainda reforçava a pressão. Além de atacar com velocidade, a Atalanta ainda roubava a posse com muita presteza e pegava os adversários desprevenidos. Kulusevski, ex-nerazzurro e destaque do Parma, simplesmente não conseguiu jogar. E, com ele fora de ação, os crociati não resistem.
Olho no lance
Roma 0-2 Torino
Gols e assistências: Belotti (Rincón) e Belotti (pênalti)
Tops: Belotti e Sirigu (Torino)
Flops: Mancini e Dzeko (Roma)
O Olímpico entrou em 2020 possuído por um espírito peralta. É que o que ocorreu no estádio da capital italiana nem de perto representou o placar final do duelo entre Roma e Torino. Os visitantes venceram por uma margem razoável, mas foram dominados pelo time da casa e levaram a melhor por conta de talento individual. De um lado, Sirigu fez excelentes defesas; do outro, Belotti liderou o ataque sozinho e foi implacável.
No meio-campo, porém, o Torino era um deserto de ideias. Rincón e Lukic erraram muito e foram amplamente dominados por Pellegrini, Veretout e Diawara. O camisa 7 romanista, melhor giallorosso em campo, foi aquele que mais levou perigo a Sirigu, mas teve suas finalizações negadas pelo arqueiro. Dzeko, incolor, não incomodou os grenás.
Se um artilheiro esteve ausente, o outro foi um visitante indigesto. Belotti fez tudo o que quis contra Smalling e Mancini, que não mostraram o mesmo nível do restante da campanha. O Galo abriu o placar no finalzinho do primeiro tempo com um balaço no ângulo de Pau López e deu a vitória ao Toro depois de um pênalti esquisito cometido por Smalling. O capitão grená só não marcou mais porque o goleiro espanhol e a trave lhe impediram em duas ocasiões. De qualquer forma, o Torino se aproximou um pouco mais da zona de classificação para a Liga Europa, enquanto a Roma mantém a quarta posição – agora mais distante da Lazio, terceira, e mais perto da Atalanta, quinta, que funga em seu cangote.
Brescia 1-2 Lazio
Gols e assistências: Balotelli (Sabelli); Immobile (pênalti) e Immobile (Caicedo)
Tops: Caicedo e Immobile (Lazio)
Flops: Cistana e Spalek (Brescia)
A Lazio está numa fase tão positiva que nem precisa jogar bem para alcançar uma marca expressiva. Recém-coroada com o título da Supercopa Italiana, a equipe de Simone Inzaghi chegou à nona vitória consecutiva na Serie A pela segunda vez em sua história. Na outra ocasião, o atual técnico era jogador da equipe, então treinada por Sven-Göran Eriksson, em 1998-99.
O roteiro do triunfo da terceira colocada, porém, começou mal. Aos 18 minutos, Balotelli recebeu lançamento e, de canhota, venceu Strakosha para marcar o seu primeiro gol na carreira contra a Lazio. O atacante do Brescia foi o autor do primeiro tento dos anos 2020 e, curiosamente, quando atuava pela Inter, também abriu a contagem dos anos 2010.
Sem Luis Alberto, suspenso, os laziali não tiveram tanta criatividade no decorrer da partida, ainda que Lazzari e Correa buscassem suprir a ausência do espanhol. Contudo, numa jogada trabalhada no fim da etapa inicial, Caicedo ficou cara a cara com o goleiro Joronen e foi puxado por Cistana: o jovem zagueiro preferiu trocar um gol certo pelo pênalti e por sua expulsão. Immobile converteu a cobrança e transformou o jogo num duelo de ataque contra defesa. O Brescia, por sua vez, truncava o jogo, que acabou com oito cartões amarelos. Quando o empate parecia seguro, porém, Caicedo e Immobile foram novamente decisivos: o equatoriano usou o corpo, protegeu a bola e rolou para o italiano virar a partida, nos acréscimos.
Milan 0-0 Sampdoria
Tops: Donnarumma (Milan) e Chabot (Sampdoria)
Flops: Suso (Milan) e Gabbiadini (Sampdoria)
Nem Ibrahimovic salvou o Milan nesta segunda. O craque sueco voltou a vestir a camisa rossonera num jogo oficial depois de quase oito anos e teve bons minutos em campo, mas não conseguiu tirar o zero do placar – ou fazer seus companheiros tirarem, já que foi um verdadeiro regista ofensivo, atuando como pivô. Na verdade, foi a Sampdoria que ficou mais perto de ficar com os três pontos em San Siro.
O Milan foi mais perigoso no primeiro tempo, quando deixou a Samp em afã em algumas ocasiões. Nas melhores delas, Suso não foi fatal como em outros tempos e deixou a desejar. Quem também não esteve à altura foi Gabbiadini, que conseguiu perder três oportunidades claríssimas de gol: em duas parou em Donnarumma; na outra chegou a driblar o goleiro, mas finalizou para fora. O pontinho, porém, foi valioso para a Sampdoria, que se mantém fora da zona de rebaixamento. O Diavolo, por sua vez, continua em 11º.
Bologna 1-1 Fiorentina
Gols e assistências: Orsolini; Benassi
Tops: Orsolini (Bologna) e Lirola (Fiorentina)
Flops: Bani (Bologna) e Vlahovic (Fiorentina)
O Dia de Reis, feriadão na Itália, começou animado por um clássico bastante igual, em diversos aspectos. O Dérbi dos Apeninos teve equipes se atacando com vigor, goleiros poloneses em destaque e dois dos mais bonitos tentos marcados nesta rodada. Giuseppe Iachini ficou muito perto de conquistar a vitória logo em sua estreia pela Fiorentina, mas o time de Sinisa Mihajlovic encarnou o espírito do treinador e foi valente até o último suspiro. Com isso, o Bologna terminou a jornada na 10ª colocação, cinco pontos e cinco posições a mais que a viola.
Em boa parte do confronto, quem trabalhou mais foi Skorupski, goleiro do Bologna. O ex-jogador da Roma foi importante duas vezes contra Chiesa – sobretudo na segunda ocasião, cara a cara, quando o jogo ficou franco e o italiano poderia ter ampliado o placar para a Fiorentina. É que, aos 27 minutos, Benassi havia acertado um chute dificílimo, sem deixar a bola cair, e marcado o primeiro da tarde. O meia sempre se mostrou útil à equipe toscana e não ficou claro porque Montella pouco o utilizou em 2019-20.
No segundo tempo, em especial, o Bologna partiu para o ataque com mais força, ganhando peso ofensivo com Santander e Skov Olsen. Dragowski fez duas defesas importantes e ia garantindo o triunfo do seu time. Contudo, aos 93 minutos, o time da casa teve uma falta quase na linha de fundo, cometida por Pezzella sobre Santander. Para Orsolini, porém, não teve erro: o ponta felsineo mandou um balaço nas redes e deixou tudo igual com um lindo gol.
Os outros jogos
Spal 0-2 Verona
Gols e assistências: Pazzini (Lazovic) e Stepinski
Tops: Lazovic e Rrhamani (Verona)
Flops: Tomovic e Igor (Spal)
Os números dizem que, ao menos sob um aspecto, este é o melhor Verona desde o que foi campeão italiano, em 1985. É que, pela primeira vez desde o seu histórico (e único) scudetto, o Hellas conseguiu vencer três partidas como visitante num primeiro turno da Serie A. Obviamente, disputar a taça e até mesmo uma vaga em competições europeias está fora de questão, mas a manutenção de tal desempenho será suficiente para que o time de Juric permaneça na elite com sobras.
Neste domingo, os mastini venceram, com autoridade, um rival direto na briga pela permanência. Muito desatenta desde os primeiros minutos, a Spal não foi páreo para um Verona que fugiu de suas características e foi bastante ousado no ataque. O zagueiro Rrhamani, por exemplo, teve duas oportunidades claríssimas, mas foi negado por duas defesaças de Berisha.
Pazzini também perdeu um gol feito, mas já havia deixado o seu quando desperdiçou a oportunidade. O veterano, que só havia atuado 44 minutos no campeonato, até então, aproveitou o espaço nas costas de Igor para completar, de cabeça, o belo cruzamento de Lazovic. O ala sérvio também participou do segundo gol do Hellas: após ótima jogada e chute forte, Berisha deu rebote e Stepinski rebateu. Com o resultado, o Verona continua tranquilo no meio da tabela, enquanto a Spal voltou para a lanterna da Serie A.
Genoa 2-1 Sassuolo
Gols e assistências: Criscito (pênalti) e Pandev; Obiang (Locatelli)
Tops: Pandev (Genoa) e Locatelli (Sassuolo)
Flops: Pajac (Genoa) e Caputo (Sassuolo)
Na estreia do técnico Davide Nicola, o Genoa voltou a vencer pela primeira vez desde a 9ª rodada e deixou a última posição. O ex-zagueiro, que fez carreira com a camisa rossoblù, abordou a partida de maneira positiva e soube limitar o perigoso sistema ofensivo do Sassuolo. Berardi e Caputo acabaram participando pouco do jogo e não puderam aproveitar as chances criadas por Djuricic, Locatelli e Obiang, que estiveram bastante ativos no Marassi.
O Genoa também teve o retorno do goleiro Perin, que relegou o ótimo Radu ao banco de reservas – o arqueiro, de propriedade da Inter, deve acabar negociado. O ex-capitão dos grifoni logo fez uma boa defesa numa cabeçada de Traorè, mas pouco pode fazer quando o chute de Obiang desviou na defesa e lhe enganou. Antes disso, o volante equato-guineense havia cometido pênalti sobre Sanabria. O contato foi muito leve, mas o árbitro Irrati assinalou e Criscito não perdoou.
Os donos da casa poderiam ter ampliado ainda no primeiro tempo, mas Consigli foi muito bem ao fazer duas defesas difíceis em finalizações consecutivas de Sturaro. Na etapa final, o Sassuolo foi da alegria ao desespero. Primeiro, viu o gol de Djuricic ser anulado por conta de um leve toque de mão do sérvio num bate-rebate. Pouco depois, o Genoa armou um contra-ataque rápido, que acabou com um gol estranhíssimo de Pandev, após dividida com o goleiro Consigli. Os neroverdi, contudo, reclamaram de uma falta sobre Berardi no início da jogada. De tão irritados com a arbitragem, os jogadores nem deram entrevistas ao fim da partida.
Lecce 0-1 Udinese
Gols e assistências: De Paul
Tops: Babacar (Lecce) e De Paul (Udinese)
Flops: Falco (Lecce) e Lasagna (Udinese)
Em mais um dos duelos diretos pela permanência na elite, o Lecce começou 2020 do mesmo jeito que terminou o ano passado: sem vencer em casa pela Serie A. A Udinese aproveitou a zica dos salentinos em seus próprios domínios e descolou três pontos importantíssimos para sua caminhada. Afinal, fica sete pontos acima da zona de rebaixamento, deixando os apulianos para trás, um pontinho à frente do Z3.
O Lecce fez um bom primeiro tempo e chegou a ficar muito perto do gol quando Babacar acertou um petardo no travessão e, no rebote, Mancosu obrigou Musso a fazer uma defesa cinematográfica. Contudo, o ímpeto giallorosso foi caindo e o da Udinese aumentou com o passar dos minutos.
Embalada por Fofana, Mandragora e De Paul, a equipe friulana teve um gol bem anulado e encurralou os donos da casa com uma blitz incômoda, mas que não frutificava. Aos 87, porém, a sorte sorriu para os bianconeri: uma boa jogada criada acabou rebatida por Lucioni sobre De Paul, que se preparava para chutar. Gol sem querer também vale e a viagem para Údine ficou mais tranquila para os zebrette.
Seleção da rodada
Donnarumma (Milan); Rrhamani (Verona), Palomino (Atalanta), Chabot (Sampdoria); Lazovic (Verona), Ilicic (Atalanta), Gómez (Atalanta), Gosens (Atalanta); Lukaku (Inter), Belotti (Torino), Ronaldo (Juventus). Técnico: Gian Piero Gasperini (Atalanta).