Numa rodada marcada por homenagens ao maestro Ennio Morricone, um dos grandes nomes da música italiana e mundial, responsável por trilhas sonoras marcantes do cinema, nada mais justo do que o Milan se valer dos seus “intocáveis” para ganhar da Juventus. Com Ibrahimovic, Rebic e Kessié em alta, o time rossonero virou sobre a Juventus e colocou mais emoção na disputa pelo título e pelas vagas na Liga Europa. No meio de semana, também tivemos três times em conflito: as equipes que ocupavam as três primeiras posições tropeçaram e uma delas, a Inter, chegou a ser ultrapassada na tabela. Melhor para a Atalanta, que pode fazer história mais uma vez. Confira a análise da jornada.
Milan 4-2 Juventus
Gols e assistências: Ibrahimovic (pênalti), Kessié (Ibrahimovic), Rafael Leão (Rebic) e Rebic (Bonaventura); Rabiot e Ronaldo (Cuadrado)
Tops: Rebic e Kessié (Milan)
Flops: Alex Sandro e Rugani (Juventus)
Do horror ao êxtase – e vice-versa – em apenas cinco minutos: resumidamente, essa foi a história do clássico entre Milan e Juventus, em San Siro. Após um primeiro tempo fraco, a Velha Senhora abriu vantagem de 2 a 0 no início da segunda etapa, mas sofreu uma incrível virada e sucumbiu a um Diavolo em ritmo infernal desde a retomada do campeonato: são 13 pontos em 15 possíveis. Com sua primeira vitória em 15 duelos contra a Juve na Serie A, Pioli fica mais perto de classificar os rossoneri para a Liga Europa.
A Juventus ficou muito perto de abrir uma vantagem de 10 pontos sobre a Lazio quando Rabiot arrancou do campo de defesa, deu uma caneta em Hernandez e disparou sem oposição até finalizar no ângulo de Donnarumma, marcando o seu primeiro pelo clube. Esteve ainda mais próxima seis minutos depois, quando Romagnoli e Kjaer trombaram e não cortaram o longo lançamento de Cuadrado, possibilitando o 26º tento de Ronaldo no campeonato. Mas ainda restavam 37 minutos de jogo mais acréscimos e o Milan foi valente para não se abalar, colocar a bola no chão e explorar pontos fracos juventinos para buscar o resultado positivo.
Logo aos 59 minutos, os rossoneri tiveram pênalti a favor por um toque no braço de Bonucci. O VAR demorou a revisar a jogada e, quando Ibrahimovic estufou as redes, o relógio já marcava 62 giros de ponteiro. Aí o Milan ligou o turbo: aos 66, Kessié – em ótima noite – avançou, tabelou com Ibrahimovic, driblou o capitão da Juve e empatou; aos 67, Rugani errou o bote em Rebic e, só de longe, marcou Rafael Leão, que anotou o terceiro. O zagueiro tentou se redimir com uma cabeçada que foi bem defendida por Donnarumma, mas o fato é que a Velha Senhora se atordoou com a virada. Prova disso foi a lambança de Alex Sandro, que proporcionou o décimo gol de Rebic na temporada e encerrou a noite no Meazza.
Lecce 2-1 Lazio
Gols e assistências: Babacar (Falco) e Lucioni (Saponara); Caicedo
Tops: Calderoni (Lecce) e Strakosha (Lazio)
Flops: Gabriel (Lecce) e Patric (Lazio)
Antes de tropeçar no Milan, a Juventus já havia ganhado um presentão por causa da surpreendente derrota da Lazio para o Lecce – também de virada. Os comandados de Inzaghi desperdiçaram uma rara chance de reduzir a vantagem da líder do campeonato (continuam sete pontos atrás) e ratificaram a má sequência de atuações desde o retorno da Serie A. A parada por causa da covid-19 atrapalhou o time celeste, que estava embalado e não está se adaptando ao novo contexto de disputa do torneio. Em pleno verão italiano, com uma média de três jogos a cada 10 dias e um desgaste muito maior do que o habitual, com menos tempo disponível para recuperação, a Lazio sofre por causa de seu elenco curto.
No Via del Mare, apareceu cedo a sensação de que a equipe visitante teria um dia difícil: com menos de 2 minutos, Mancosu marcou um golaço para o Lecce. A anulação do tento por um toque de mão, sucedida pelo gol de Caicedo, aos 5, iludiu os celestes. É que a vantagem só se consumou por conta do goleiro Gabriel, que cometeu um bisonho erro. Ao longo da partida, o brasileiro alternaria falhas banais com ótimas defesas.
O time romano também colecionou erros, principalmente com Patric: ele se descuidou na marcação e permitiu o empate de Babacar; depois cometeu um pênalti que Mancosu desperdiçou. Acerbi também estava numa (rara) noite ruim e vacilou no lance da virada, cravada por Lucioni. Dali para frente, o Lecce passou a ser mais pressionado pela Lazio, confiava nas defesas de Gabriel e só incomodava em contra-ataques. Até Patric voltar a fazer bobagem: mordeu Donati, acabou expulso e ajudou a garantir a vitória de Liverani e companhia, que deixaram a zona de descenso. Um resultado muito importante para a briga pela permanência na elite.
Verona 2-2 Inter
Gols e assistências: Lazovic (Dimarco) e Miguel Veloso (Rrahmani); Candreva e Dimarco (contra)
Tops: Miguel Veloso (Verona) e Lukaku (Inter)
Flops: Amrabat (Verona) e Skriniar (Inter)
“O Verona conseguiu empatar um jogo que parecia perdido e conquistou um ponto que o mantém vivo na briga por Liga Europa”. “A Inter está invicta contra o Hellas na Serie A desde 1992”. É possível tentar fazer leituras positivas desse resultado para vênetos e lombardos, mas é inegável que a paridade foi muito ruim para as duas equipes. Os butei ficam mais distantes do Milan – são seis pontos agora –, ao passo em que a Beneamata continua longe da Juve (1o pontos) e caiu para a quarta posição.
O primeiro tempo da Inter beirou a atuação num filme de terror. Como um zumbi, Skriniar não teve agilidade para combater Lazovic, que passou facilmente pelo eslovaco e abriu o placar aos 2 minutos. Na etapa inicial, o Verona ainda acertou a trave com Miguel Veloso e tirou tinta da trave com Dimarco. Lukaku era uma das poucas notas positivas dos nerazzurri, pois efetuava excelente trabalho de pivô no comando do ataque e, sozinho, criava chances para o time de Milão.
No início do segundo tempo, o belga fez uma dessas jogadas, acertou a trave e Candreva empatou. Seis minutos depois, aos 55, o ala interista cruzou para a área e contou com o desvio em Dimarco para virar o placar. A Beneamata tentou cozinhar o jogo para levar o resultado positivo para Milão, mas sofreu o segundo gol aos 86, por conta da falta de combatividade de Borja Valero: o espanhol simplesmente esqueceu de marcar Veloso, que recebeu passe na entrada da área e bateu Handanovic. Mais uma vez, a discrepância entre o time titular e os reservas levam o time de Conte ao naufrágio: a Inter já desperdiçou 20 pontos por sofrer empate ou viradas quando tinha a vantagem no placar.
Atalanta 2-0 Sampdoria
Gols e assistências: Rafael Toloi (Malinovskyi) e Muriel
Tops: Rafael Toloi e Gómez (Atalanta)
Flops: Murru e Bereszynki (Sampdoria)
Quem diria que a Atalanta poderia sonhar com um inédito scudetto? Hoje, após nove vitórias consecutivas, a equipe bergamasca é dona da terceira colocação e está a dois pontos da Lazio, vice-líder, e a nove da Juventus. Logo a Velha Senhora, a qual encara na próxima rodada, podendo apimentar o campeonato. A busca por uma inédita segunda posição é mais factível para a Dea, mas por acaso dá para duvidar dos comandados de Gasperini?
Contra a Sampdoria, os nerazzurri não tiveram a melhor de suas atuações. Apesar da classe de Gómez, faltou inspiração e criatividade ante o sistema defensivo doriano, bem montado por Ranieri. No primeiro tempo, a única chance de furar o ferrolho veio com um lançamento longo de Papu para Zapata, mas o colombiano finalizou em cima de Audero – assim como Hateboer, pouco depois.
A Atalanta só conseguiu destravar a partida em cobranças de escanteio: a primeira vez, aos 75 minutos, depois que Malinovskyi cruzou com efeito e Rafael Toloi abriu o placar. A outra, aos 85, ocorreu quando Muriel aproveitou o corte da zaga blucerchiata e finalizou com categoria, no canto de Audero. O camisa 9 já tem 17 gols no campeonato, sendo sete em 2020 – período em que teve apenas duas chances como titular. Vindo do banco, Lucho muda jogos.
Roma 2-1 Parma
Gols e assistências: Mkhitaryan (Bruno Peres) e Veretout (Mkhitaryan); Kucka (pênalti)
Tops: Mkhitaryan e Pellegrini (Roma)
Flops: Pezzella e Kulusevski (Parma)
Depois de três derrotas consecutivas, a Roma de Paulo Fonseca voltou a vencer num momento importante e respondeu ao crescimento do Milan ao manter a quinta posição – que dá vaga na fase de grupos da próxima Liga Europa. Apesar de ter jogado com desfalques na defesa (precisou improvisar Cristante no setor) e de ter saído atrás do Parma no Olímpico, a equipe giallorossa nunca deu a impressão de que tropeçaria contra os crociati, cada vez mais desmotivados pela queda de rendimento demonstrada na retomada do campeonato.
O brilhareco do Parma ocorreu antes dos 10 minutos. Iacoponi descolou lançamento para Cornelius nas costas de Cristante e o romanista acabou derrubando o dinamarquês na área, causando o pênalti convertido por Kucka. Mas a Roma conseguiu estabelecer o controle do jogo graças às linhas de passes entre Pellegrini, Mkhitaryan e Veretout, e chegou ao gol com o armeno, após uma bobeada de Pezzella. Os donos da casa poderiam ter anotado outra vez no primeiro tempo, mas Pellegrini acertou a trave e Ibañez errou uma cabeçada simples.
Veretout foi o responsável por virar o placar aos 57, com uma bomba de fora da área, e a Roma só não goleou porque errou demais na concretização de suas jogadas. O garoto Villar mostrou imaturidade ao perder duas chances claríssimas, cara a cara com Sepe, sem marcação e com a bola repousando no gramado – uma delas, a menos de dois metros do goleiro. No apagar das luzes, Mancini também teve oportunidade de marcar, mas o arqueiro parmense fez uma ótima defesa.
Bologna 1-2 Sassuolo
Gols e assistências: Barrow; Berardi (Müldür) e Haraslín
Tops: Chiriches e Berardi (Sassuolo)
Flops: Denswil e Orsolini (Bologna)
No Dall’Ara, o Sassuolo levou a melhor no confronto direto emiliano e ultrapassou o Bologna na tabela. A equipe treinada por De Zerbi assumiu a oitava posição, com 43 pontos, e se tornou a maior adversária do Milan e da Roma por uma das duas últimas vagas disponíveis para a Liga Europa. O Bologna, com 41, continua vivo nessa disputa, mas tem chances reduzidas.
O time de Mihajlovic começou bem em sua casa e ficou perto de marcar duas vezes: acertou o travessão, em belo chute de Palacio, e viu Chiriches travar Bani de forma providencial, na cara do gol. A sorte, porém, parecia com o Sassuolo, que abriria o placar graças a um petardo de Berardi, num raro tento de perna direita. No segundo tempo, os neroverdi ampliariam após uma cochilada de Denswil. O holandês errou um bote em Defrel e, na sequência do lance, se descuidou de Haraslín, que aproveitou o rebote de Skorupski para fazer 2 a 0. Já no final, o Bologna diminuiu com Barrow. O gambiano não evitou a derrota, mas marcou pela quarta rodada consecutiva e chegou a sete tentos em 12 partidas pelos felsinei.
Fiorentina 0-0 Cagliari
Tops: Dragowski (Fiorentina) e Cragno (Cagliari)
Flops: Chiesa (Fiorentina) e João Pedro (Cagliari)
O movimentado empate por 0 a 0 na quarta-feira não foi nada bom para o Cagliari: com a combinação de resultados da 31ª rodada, o time da Sardenha ficou nove pontos atrás do Milan e se vê muito distante da briga por uma vaga na Liga Europa. Além da desvantagem, o time de Zenga tem outros três concorrentes em melhor situação. Por sua vez, a Fiorentina está oito pontos acima da zona de rebaixamento.
Mais motivado, o Cagliari foi melhor durante os 90 minutos, ainda que tenha havido equilíbrio na quantidade de chances claras para cada equipe. Os sardos tiveram um gol anulado por impedimento milimétrico de Simeone e fizeram Dragowski trabalhar em duas finalizações de Nández, de dentro da área. Do outro lado, Cragno só pode torcer quando o chute de Duncan tocou em sua trave, mas também mostrou serviço ante Ribéry, Cutrone e o estreante Kouamé.
Genoa 1-2 Napoli
Gols e assistências: Goldaniga (Schöne); Mertens (Insigne) e Lozano (Ruiz)
Tops: Perin (Genoa) e Elmas (Napoli)
Flops: Biraschi (Genoa) e Maksimovic (Napoli)
Sem objetivos nesta Serie A, o Napoli vai atrapalhando as missões dos outros clubes no campeonato. Após bater a Roma no fim de semana, o time de Gattuso viajou até a Ligúria e empurrou o Genoa para a zona de rebaixamento. Enquanto os azzurri ocupam a sexta posição, com 51 pontos, os rossoblù estão em 18º, com 27 – um a menos que o Lecce.
O primeiro tempo foi movimentado. O Napoli incomodou bastante com Elmas, que teve um gol anulado por toque de mão de Manolas e obrigou Perin a fazer ótima defesa numa puxeta. O macedônio também foi o responsável por acionar Mertens num lance em que o belga chutou cruzado e o goleiro genoano espalmou. Dries e Mattia teriam novo duelo aos 45, mas dessa vez o napolitano levou a melhor e abriu o placar. O Genoa chegou a acertar a trave com Cassata e empatou pouco depois do intervalo, com bonita cabeçada de Goldaniga, mas foi só. O ritmo caiu na segunda etapa e o Napoli viria a matar o jogo com Lozano: o mexicano recebeu lançamento de Ruiz, ganhou de Biraschi e finalizou por baixo de Perin.
Torino 3-1 Brescia
Gols e assistências: Mateju (contra), Belotti e Zaza; Torregrossa
Tops: Verdi e Belotti (Torino)
Flops: Mateju e Spalek (Brescia)
Parecia que a sorte estava jogando contra o Torino e a favor do Brescia no Piemonte. No primeiro tempo, Belotti teve um gol anulado e Verdi acertou o travessão com um belo chute. Verdi, aliás, criava bastante, mas nada de a bola entrar. Os brescianos é que a fariam cruzar a linha primeiro, num lance absolutamente fortuito. Bjarnason tentou inverter o jogo, mas seu lançamento explodiu em Meïté e acabou acionando a corrida de Torregrossa, que deu uma cavadinha e venceu Sirigu. O capitão dos lombardos teve uma oportunidade de ampliar poucos minutos antes do intervalo, mas cabeceou para fora. Ali, a maré virou.
Aos 48 minutos, o Torino empatou com um gol similar ao do Brescia. Verdi recebeu dentro da área e tentou chutar; a bola ia longe, mas bateu nas costas de Mateju e enganou Joronen. A virada veio em outra finalização de Verdi que foi desviada pela defesa: essa sobrou para Belotti empurrar para as redes pela quinta rodada consecutiva. Com a vantagem, o Toro aproveitou o baque sofrido pelo rival para controlar o jogo e ainda fez o terceiro no finalzinho, com Zaza. A vitória deixa os granata com 34 pontos, sete acima da zona de rebaixamento, onde o Brescia se encontra, com 21.
Spal 0-3 Udinese
Gols e assistências: De Paul, Okaka e Lasagna (Fofana)
Tops: De Paul e Fofana (Udinese)
Flops: Bonifazi e Vicari (Spal)
A Udinese não precisou fazer um grande esforço para construir um placar elástico sobre a Spal, cada vez mais afundada na lanterna e destinada ao retorno à Serie B após três anos seguidos na elite. Enquanto os spallini começam a se resignar com sua condição, os friulanos estão mais próximos de se garantirem na elite: com 35 pontos, a equipe tem oito pontos de vantagem para a zona de rebaixamento.
O triunfo dos bianconeri foi construído no primeiro tempo, numa estratégia de dominação do meio-campo com Walace, Fofana e De Paul, além da pressão de Lasagna e Okaka na saída de bola. Os gols da Udinese surgiram após duas bolas espirradas, que foram muito bem aproveitadas. Na segunda etapa, sem correr qualquer risco real de ser vazada, a equipe visitante matou o jogo num contra-ataque puxado por Fofana e finalizado por Lasagna. O atacante anotou seu quinto gol nos quatro últimos jogos – o mesmo número de tentos anotados nos 37 compromissos anteriores. Renascido.
Seleção da rodada
Cragno (Cagliari); Rafael Toloi (Atalanta), Rrahmani (Verona), Chiriches (Sassuolo); Verdi (Torino), Mkhitaryan (Roma), Kessié (Milan), De Paul (Udinese), Calderoni (Lecce); Ibrahimovic (Milan), Rebic (Milan). Técnico: Stefano Pioli (Milan).