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Fabrizio Romano, o fenômeno do mercado de transferências

A Itália possui vários jornalistas especializados em mercado de transferências. O mais famoso deles é, notavelmente, Gianluca Di Marzio. No entanto, um jovem repórter ascendeu em termos de credibilidade e popularidade nos últimos anos, a ponto de se tornar uma das principais referências de calciomercato na Europa. Trata-se de Fabrizio Romano, o homem do “here we go”.

Muito ativo nas redes sociais, o jornalista italiano tem 27 anos e é oriundo de Nápoles, sul da Bota. Após se formar no ensino médio, em 2011, ele começou o curso de Ciências da Comunicação Política e Social, na Università Cattolica del Sacro Cuore. Três anos depois, deixou a faculdade. Romano, contudo, começou a dar seus primeiros passos no mundo do jornalismo esportivo bem antes de se formar.

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Segundo seu perfil no LinkedIn, Fabrizio teve sua primeira oportunidade da carreira no TuttoMercatoWeb, onde atuou como redator entre julho de 2010 e meados do ano seguinte. Em seguida, permaneceu quatro meses na redação do Calciomercato, também exercendo a função de redator. A partir de 2012 a trajetória de Romano deslanchou de vez.

Em março daquele ano, ele entrou para a equipe de Di Marzio no site que leva o nome do veterano jornalista, acompanhando especialmente o mercado de transferências. Em paralelo ao seu novo trampo, Romano aceitou o desafio de ser comentarista de futebol no programa “Il Campionato dei Campioni”, da Odeon TV.

Sempre antenado, Romano costuma conseguir “furos” do mercado da bola (Bleacher Report)

Na medida em que se destacava na imprensa esportiva italiana, o napolitano ganhava mais visibilidade e prestígio. Não à toa, foi contratado pela rádio Retesport, na qual permaneceu por dois anos, e, depois, se tornou colaborador do Fox Sports por cinco meses. Um currículo expressivo para um jovem que ainda nem havia se formado na faculdade. Mas o cenário ficaria ainda melhor para Fabrizio.

A carreira de Romano deu uma boa alavancada em 2013. Isso porque o jornalista se tornou setorista da Inter no portal Goal e passou a integrar o time responsável pelo mercado de transferências da Sky Sport, edição italiana. Enquanto galgava degraus importantes no mercado jornalístico na Itália, o repórter criava laços com várias fontes, que o ajudariam a catapultar sua carreira através de informações preciosas sobre transações futebolísticas.

Em seu primeiro dia na Sky, uma fonte ligada ao atacante Mauro Icardi – cultivada desde o período em que o jogador atuava na base do Barcelona – lhe confidenciou que o argentino, à época na Sampdoria, reforçaria a Inter. “Ainda me recordo do telefonema: ‘A Juve continua me ligando sem parar, mas Icardi será a última grande contratação de Massimo Moratti [ex-presidente da Inter]”, disse-me”, contou Romano, em entrevista à edição italiana do Transfermarkt.

Às vezes, esse trabalho é um pouco como ir pescar: alguns dias são próspero, outros, magros
Fabrizio Romano, em entrevista ao Transfermarkt

Engana-se quem pensa que Fabrizio é apenas um jornalista. Em julho de 2015, ele fundou o SOS Fanta, fantasy game de futebol italiano, com conteúdos que aliam o esporte ao foco em quem joga o “fantacalcio”. Fabrizio também é diretor do SOS Fanta, cujo aplicativo soma, segundo a Play Store, mais de 100 mil downloads.

Ainda em 2015, as boas relações com as fontes de jogadores levaram Romano de volta à sua antiga casa, o Calciomercato, mas desta vez para exercer a função de colunista diário sobre mercado de transferências. No mesmo período, também passou a escrever sobre as novidades do mercado no conceituado jornal britânico The Guardian. Por acumular muitos trabalhos, o repórter precisaria abrir mão de algum trampo. E foi o ocorreu em 2016, quando ele deixou a Goal.

De 2018 a 2020, a credibilidade e a popularidade de Romano cresceram de forma assombrosa nas redes sociais, sobretudo no Twitter e no Instagram – embora não receba atualizações desde setembro de 2019, sua página no Facebook conta com mais de 19 mil curtidas. Há aproximadamente um ano, ele tinha cerca de 500 mil seguidores no Twitter. Até o fechamento desta matéria, o número mais que dobrou: 1,2 milhão. No Instagram, quase 805 mil contas seguem o napolitano.

Nos períodos de abertura de janela de transferências, Fabrizio permanece ainda mais grudado ao celular e conectado às redes sociais. Isso porque o jornalista entra em contato com várias fontes, busca informações com dirigentes, agentes e advogados de jogadores, circula entre os principais hotéis de Milão através de possíveis novidades do mercado… É uma rotina frenética, relatada em detalhes no vídeo abaixo, produzido pelo Bleacher Report.

Neste momento de pandemia de covid-19, Fabrizio e todos outros especialistas em transferências precisam se adaptar ao cenário. Afinal, em condições normais, eles se movimentam por vários locais de Milão atrás de notícias sobre o calciomercato. “Será difícil também para nós, jornalistas, mudar o estilo de vida. Aqui, na Itália, o mercado de transferências é algo especial”, frisou Romano, na entrevista ao Transfermarkt.

“Nos meses mais quentes das negociações, vivemos praticamente na rua, sob quaisquer condições climáticas, na esperança de interceptar algum furo. É uma condição de que eu gosto muito. Permite que você construa contatos e tenha um mapa dos locais onde os negócios são realizados, seja em um restaurante, escritório ou hotel. Sem esquecer o fator sorte, aquele quando você está no lugar certo no momento certo. Sempre digo que, neste trabalho, você nunca deve tomar nada como garantido: qualquer um pode te dar a dica de que você precisa”, explicou o repórter.

Para Fabrizio, a pandemia restringirá o alcance de novidades sobre transferências. “Não conseguir replicar essa rotina será uma limitação, pois um bom número de notícias é coletado ao acaso. Você terá que se acostumar a ter interações virtuais, a distância. Contarão as relações humanas construídas ao longo do tempo, que, a meu ver, são verdadeiramente o centro do mercado. Ter uma boa rede de contatos para cultivar no dia a dia e saber gerir notícias tornam-se ferramentas essenciais para o futuro do meu trabalho, que realmente não tem horários”, salientou.

A Sky Sport é uma das emissoras para a qual Romano trabalha (Reprodução/Instagram)

De todo modo, apesar das limitações impostas pelo novo coronavírus, Romano possui uma extensa rede de fontes, o que o faz sair na frente de vários colegas em relação a transações. Quando o meia português Bruno Fernandes acertou com o Manchester United, em janeiro deste ano, o jornalista recebeu o aval de uma fonte para anunciar a conclusão do negócio. E o mesmo ocorre com várias outras tratativas.

Se você está em grupos de WhatsApp cujo assunto principal é futebol, provavelmente já viu alguém compartilhar tuítes de Fabrizio sobre transferências. Talvez você mesmo já tenha espalhado em seus grupos alguma informação do repórter italiano. Hoje, Romano se tornou uma referência de credibilidade entre os fãs de futebol, embora algumas negociações reportadas por ele não tenham sido finalizadas – para ficar nas mais recentes, o atacante Olivier Giroud na Inter, o lateral-esquerdo Antonee Robinson no Milan e a troca dos laterais Mattia De Sciglio (Juventus) e Layvin Kurzawa (Paris Saint-Germain).

Qual torcedor de time europeu não fica na expectativa quando o jornalista solta um tuíte com “here we go” sobre a contratação de um grande jogador? Porém, como surgiu a ideia de tornar essas três palavras o seu bordão? De acordo com o napolitano, não foi algo planejado.

“Sempre amei as redes sociais, mas nunca pensei em criar um ‘brand’, até porque não sou um tipo de slogan; prefiro uma outra forma de comunicação. Nasceu por acaso: eu escrevi no final de um tuíte e, a partir daquele momento, todos começaram a me perguntar se essa ou aquela negociação era ‘here we go’. Foi uma coisa que deixou meus leitores felizes e eu decidi mantê-la, sempre dando a importância que merece: use somente quando é possível, sempre levando em consideração as inúmeras variáveis de mercado”, elucidou.

Atualmente, Romano leva suas novidades de mercado para cinco veículos de comunicação: Sky Sport Italia, Calciomercato, The Guardian, 433 e CBS – ele entrou para a equipe do 433 e da CBS em 2020. Embora exerça uma profissão cujos princípios implicam em não ser foco da história, o italiano virou uma celebridade “extracampo” no mundo do futebol, a ponto de ser questionado na rua por torcedores sedentos por notícias do mercado da bola. Fabrizio despontou como uma promessa do jornalismo esportivo e, aos 27 anos, se tornou um fenômeno das transferências. Romano, a criatura, superou Di Marzio, o criador.

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